quarta-feira, 22 de novembro de 2017

MEDALHA QUE REPRESENTA NOSSA SENHORA CALCANDO A SERPENTE AOS SEUS PÉS




(COMENTÁRIOS DE DR. PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA SOBRE A SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA)

Os senhores conhecem bem o fato - em vários "Santos do Dia" de anos anteriores, por mim comentado - de que Nossa Senhora, nas primeiras décadas do século passado, apareceu a uma santa religiosa, hoje canonizada pela Igreja, Santa Catarina Labouré, em um convento de Paris, da Rue du Bac. É uma religiosa das Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo. E várias vezes, durante a noite, um anjo sob a forma de criança, conduziu essa religiosa à capela do convento, que estava, entretanto, fechada por várias portas, trancadas a chave, intransponíveis, etc. Conduziu essa religiosa até a capela aonde Nossa Senhora se encontrava sentada em uma cadeira que até hoje se conserva ali. E lhe dirigiu a palavra, comunicou-lhe várias coisas e, sobretudo, lhe comunicou esta devoção à Medalha Milagrosa.
Essa medalha representa Nossa Senhora das Graças, quer dizer, Nossa Senhora calcando aos pés uma serpente. É a Imaculada Conceição, que calcou aos pés a Serpente infernal, de acordo com o que está dito na Sagrada Escritura. E com as mãos abertas e, delas, partindo feixes de luz resplandecentes.
A invocação de Nossa Senhora das Graças quer dizer Nossa Senhora que tem em suas mãos todas as graças, porque Ela é depositária de todos os tesouros de Deus. Mas quer dizer também Nossa Senhora dadivosa, misericordiosa, que quer dar todas as graças e que por isso tem as mãos abertas, Ela deseja dar tudo. Ela é a Mãe de Misericórdia, Ela quer tocar todas as almas, Ela quer inundá-las de benefícios.
Ela quer encher o mundo inteiro das manifestações soberanas e celestes de Sua bondade e de Seu poder! E determinou que as pessoas que trouxessem essa medalha - que tem, então, no seu aspecto principal Nossa Senhora e os dizeres: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”. E com as outras características que acabo de declarar, determinou que essas pessoas fossem especialmente protegidas pela Providência Divina e que recebessem d’Ela graças enormes, especialmente no que diz respeito à boa morte.
É celebre o fato de que a grande maioria das pessoas que morrem usando essa medalhinha, ainda que sejam atéias ou muito afastadas de Deus, pelo uso dessa medalhinha acabam se entregando a Nosso Senhor, se arrependendo à última hora pelos rogos onipotentes de Maria.
É compreensível - e é disso que quero tratar, porque se revela aí um traço muito bonito da Sabedoria divina - que Nossa Senhora queira ligar esta devoção a Ela enquanto Rainha e Mãe de todas as graças, com um grande número de graças. É compreensível. É compreensível também que tenha dito: “Quem usar uma medalha com a minha efígie e com esses dizeres, recomenda-se a Mim mais especialmente e eu, por causa disto, ajudarei a essa pessoa”.
Mas Nossa Senhora põe uma lei. Ela indicou tudo: indicou a forma ovalada da medalha, indicou umas iniciais com o nome d’Ela etc., para serem usadas no verso da medalha. Ela indicou uma porção de pormenores a que a medalha tem que se conformar para verdadeiramente corresponder às suas exigências. A tal ponto que em grande número de rosários, no entroncamento dos dois braços do rosário existe a Medalha Milagrosa. E quando se oscula o terço, quando há nele a Medalha Milagrosa, é de bom alvitre oscular a medalha e o terço, não só o terço.
Muitas vezes, por exemplo, na parte de cima, colocam rosas; um bispo conhecido disse que o simples fato de serem colocadas rosas em relevo, de maneira a tirar o caráter ovalado da medalha, faz com que ela não corresponda às exigências de Nossa Senhora. É essa caracteristicamente a medalha. Se nessa face houvesse, em saliência, rosas, poderia já não corresponder à devoção e poderia, portanto, já não merecer as graças que foram prometidas por Nossa Senhora nessa ocasião. Por quê? Porque a medalha era ovalada. Isso não quer dizer o seguinte: Nossa Senhora não dará nenhuma graça! Medalha, qualquer que seja sua forma, é um objeto de piedade. Mas isso quer dizer apenas que não tem as garantias daquela promessa.
Podemos perguntar por que Nossa Senhora foi tão estrita na definição, no estabelecimento de todas essas condições. E alguém poderia perguntar o seguinte: isso não será uma mesquinharia e não está abaixo das grandezas de Nossa Senhora querer ser obedecida em tais ninharias? Não seria muito mais sapiencial que Nossa Senhora abrisse mão disto e que não exigisse minudências, minúcias tão exatas como estas?
Nós devíamos ver na própria minúcia uma manifestação de sabedoria, porque Nossa Senhora não faz nada  que não seja perfeito. Então, devemos nos perguntar qual é a razão dessa minúcia, porque essa minúcia deve ter uma razão. E a razão, evidentemente, é de adestrar em nós duas virtudes: em primeiro lugar, a virtude da fé e, em segundo lugar, a virtude da obediência.
A virtude da fé quer dizer crermos firmemente que Ela quis que isso fosse assim. Crermos na sua revelação na íntegra e crermos que houve uma manifestação da Sua vontade, uma autêntica manifestação de Sua vontade. Ela indicou também esses pormenores e um resquício da virtude da obediência no seguinte: Ela é a Rainha e tem o direito de mandar aquilo que Ela quiser; e a menor das vontades d’Ela nos deve ser muito preciosa.
Não só muito preciosa - porque vem de uma autoridade excelsa,  Ela é a Mãe de Deus e Rainha do universo - mas muito preciosa porque tudo quanto Ela quer é perfeito e nossa vontade deve unir-se muito à vontade d’Ela. Devemos dizer: “minha Mãe, Vós o quisestes assim, e porque Vós o quisestes assim, eu quero assim, porque eu quero o que Vós quereis. Eu não só faço o que Vós quereis que eu faça, mas eu quero que Vós queirais que eu queira, e como vós quereis que eu queira isto, que eu tenha essa medalha assim, e com essas minúcias para gozar de tais graças, eu me conformo humildemente à Vossa vontade soberana. Eu amo este gesto pelo qual Vós quereis exercer sobre mim a Vossa realeza e eu, por causa disso, me dobro; eu executo o que Vós quereis, reconhecendo que não sou senão uma criança nas Vossas mãos, que eu não sou senão um filho e um escravo nas Vossas mãos e que devo fazer tudo aquilo que Vós quereis”.
Para os senhores compreenderem bem como este ato de obediência, assim, é grande, eu tenho lido livros de vida espiritual que dizem que naquele fruto cuja ingestão era proibida a Adão e Eva no Paraíso, naquela proibição de comerem o fruto daquela árvore, não havia outra coisa senão um ato de vontade de Deus. A fruta não tinha nada de nocivo ao homem. Se não fosse uma proibição de Deus, os homens poderiam comer daquela fruta. Era uma coisa na aparência tão insignificante querer comer uma fruta, mas aquela ordem versando sobre uma coisa tão insignificante devia ser obedecida. Porque Deus é Senhor, porque Deus é nosso Pai.
E nós devíamos fazer a vontade d’Ele, porque Ele é Rei e porque é nosso Pai cheio de bondade e só pode querer um coisa boa. E foi por causa de um ponto tão pequeno em que não houve obediência, que houve a catástrofe do pecado original e todas as conseqüências que vieram depois.
Isto é, meus caros, uma lição magnífica de anti-liberalismo. O revolucionário, o liberal, de bom grado - quando ele é assim, meio disfarçado, meio moderado - pensa o seguinte: “e daí? É linha geral da vontade de Nossa Senhora, eu faço. Mas nas minúcias, eu não creio que Nossa Senhora queira me obrigar à minúcia! Nas minúcias faço como entendo eu”. Ou então: “por que Nossa Senhora exigiu as minúcias tais, eu não estou de acordo que Nossa Senhora exija minúcias tais? Eu acho contra a minha dignidade obedecer em coisinhas assim. Eu vou fazer o que entender”.
Isso é liberalismo puro e desagrada a Deus. Nossa Senhora, quando recebeu a mensagem angélica de que seria a Mãe de Deus, teve como resposta um ato de obediência: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a Sua palavra”. O que quer dizer isso? Significa obedecer! Quer dizer, dobrar a nossa vontade na hora de receber as maiores honras ou de executar as maiores ordens, como nas menores, porque Deus tem o direito de ser obedecido em toda linha!
Nesse sentido a Medalha Milagrosa é, de algum modo, a festa da santa obediência. E temos uma boa ocasião de pedir a Nossa Senhora que nos dê o espírito de obediência, por exemplo, no que diz respeito à prática dos Mandamentos. Obedecer aos Mandamentos inteiros, inclusive em matéria que possa significar a mínima falta, a mínima imperfeição, por amor à vontade de Deus. Por amor à vontade da Igreja católica que tem seus mandamentos e tem poder de ditar os seus mandamentos. Por isso a gente obedece meticulosamente, inclusive nas menores coisas.
Eu termino com uma comparação. Os senhores sabem que a Igreja, nos áureos tempos - para Ela todos os tempos são áureos e, portanto, o espírito d’Ela nunca muda - tinha uma liturgia muito meticulosa. E na Missa e nos outros atos de culto, Ela determinava aos padres os mínimos gestos que deviam fazer. Os senhores acham que um padre que relaxasse um pouco aquele gesto e fizesse aquilo meio trocado, seria um bom padre? Todo mundo diria não! Por quê? Porque a Igreja deve ser obedecida pelos seus ministros até nas pequenas coisas! Aí nós sentimos ao vivo a importância da obediência até nas pequenas coisas.
Que nossa vida seja assim também! Obediente até nas pequenas coisas. Obediente a Deus Nosso Senhor, a Nossa Senhora, que é nossa Medianeira junto a Ele; à santa Igreja Católica que é nossa medianeira junto a Nossa Senhora e junto a Deus e àqueles que a obediência colocou para nos corrigir.
Portanto, também às pequenas autoridades de nosso Grupo. Quando mandarem fazer alguma pequena coisa, obedecer, fazer como mandaram. Por quê? Porque nós devemos amar toda forma de autoridade, em todas as suas manifestações e, de bom grado, com a flexibilidade de alma sermos obedientes a essa autoridade. Isto é um dos aspectos contra-revolucionários e anti-liberais que se depreende da devoção à Medalha Milagrosa.

("Conferência", 26 de novembro de 1970)




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