No decorrer do século passado a imprensa desfrutou de um poder jamais visto, motivando o jornalista católico Carlos de Laet ter afirmado que ela detinha o quarto poder da república. Esta afirmação se referia ao Brasil, mas reflete uma situação mundial inconteste. Alguns aspectos deste poder merecem menção especial nos dias dia hoje porque já mostram um declínio considerável.
Não nos referimos ao poder financeiro, sempre nas mãos dos macro capitalistas internacionais, os
magnatas das financeiras bancárias e das companhias de petróleo. É claro que os proprietários das empresas midiáticas possuem um poder financeiro enorme, alguns de capital influência econômica. Referimonos, não ao poder econômico, mas ao poder de influência na opinião pública, maior e mais poderoso do que todo o dinheiro do mundo, pois com ele se pode arrasar com um homem público, derrubar um governo ou elevar outro ao poder político. Este poder da mídia foi bastante para elevar Fidel Castro, Che Guevara e Mao Tse Tung ao topo da popularidade, assim como levar à execração pública tantos líderes mundiais, como o primeiro ministro inglês Profumo (na década de 60) e o presidente americano Nixon (nos anos 70). Recentemente, deveu-se
muito ao poder midiático a elevação do topo do poder político mundial a Barack Obama e à execração pública de Bush.
Mas parece que este poder está perdendo força. Obama já não consegue mais manter sua popularidade, artificial e midiática, descendo sempre mais seu índice de aceitação entre os americanos. No mesmo período de governo, Bush tinha mais aceitação, lembram-se?
Embora as tubas da publicidade gratuita não deixem de incensar Obama, juntamente com sua esposa, não conseguem mais manter sua popularidade como o faziam alguns anos atrás. Em outros países este poder de influência da opinião pública vem paulatinamente perdendo força nos órgãos de imprensa, falada escrita e televisiva.
Um dos reflexos da queda do poder da imprensa mundial pode-se medir na perca de leitores dos jornais e da queda do índice de audiência dos canais de TV. Alguns afirmam que é a concorrência da internet. Outros que é certa apatia que as populações vêm aos poucos se manifestando por alguns assuntos de natureza política ou ideológica. De um modo ou de outro, a credibilidade da mídia só tende a cair. Foi-se o tempo em que se dizia: tal coisa tem tudo para ser verdadeiro porque está escrito em tal jornal ou foi publicado em tal reportagem, etc.
No Brasil, podemos confirmar isto por dois fatos: enquanto que no caso Collor (ocorrido em 1992)
o alarido da imprensa foi suficiente para derrubá-lo do poder, nos últimos casos de denúncias clamorosas contra políticos atuais (como o de Sarney) não conseguem movê-los um milímetro de seus postos.
A revista “Veja” publicou uma reportagem (29 de abril de 2009) em que mostra algo disso. O tema principal da matéria é a iminente queda do império financeiro do jornal The New York Times , mas contém outros dados de outros órgãos de imprensa e a perca de sua credibilidade pública. Num gráfico, à página 92, consta o declínio da credibilidade da imprensa apenas nos Estados Unidos, apurado entre três grandes jornais, mas sintomático de um panorama geral. Lá consta que o “The Wall Street Journal” tinha um índice de credibilidade de 45% no ano 2000, descendo hoje para apenas 25%; o “Usa Today” tinha 23% e caiu para 16%; já o “The New York Times” caiu pouco, apenas de 21% para 18%, de 2004 para 2008. Mereceria um levantamento da mídia em todos os outros países, mas aí a revista iria expor uma ferida que não convém até para ela mesma: a queda da credibilidade mundial de órgãos de imprensa. Num outro gráfico é mostrada a queda de leitores de 6 dos 10 maiores jornais americanos (onde apenas 2 tiveram aumento substanciais, e outros 2 muito irrisórios): o “Daily News” chegou a perder 43% de seus leitores no período que vai de 1990 a 2008; no mesmo período o “Chicago Tribune”, perdeu 29%; o “The Angeles Times” 36%, o “The Washington Post” 22%, o “The New York Times” 11%, e o “Newsday” teve a maior perca, com 47% de queda.
O tema principal tratado pela revista, como vimos, é a queda financeira, justificada em parte pela
falta de patrocínio decorrente da crise econômica. Diz lá que o problema atinge jornais pelo mundo a fora: “a recessão mundial, que reduz os gastos com publicidade, e o avanço da internet, que suga anúncios, sobretudo os pequenos e rentáveis classificados...”. Limitar a situação de queda da imprensa apenas ao problema da concorrência financeira é simplificar demais o problema, ou então tentar esconder um outro de natureza mais preponderante que é o de sua credibilidade.
No contexto da reportagem é mencionado outros jornais que fecharam suas portas, mas não se diz a principal razão. O “Rocky Mountain News”, de Denver, no Colorado, faliu após 150 anos de atividade; também deixaram de circular o “Cincinnati Post”. Já outros são citados em situação préfalimentar, com pedidos de concordata como o “Philadelphia Inquirer” (tido como um dos vinte maiores jornais americanos) e o “Tribune Company”. Outros de menor porte que deixaram de circular: o “Seattle PostIntellingencer”, e o “Christian Science Monitor”. São citados também alguns jornais de menor porte que estão à beira da falência.
A revista lamenta o fechamento de um jornal da seguinte forma:
“O fechamento de um jornal é o fim de um negócio como outro qualquer. Mas, quando o jornal é o símbolo e um dos últimos redutos do bom jornalismo, não importa quanto isso custe, como é o caso do “Times”, morrem mais coisas com ele. Morrem uma cultural e uma visão generosa do mundo.
Morre um estilo de vida romântico, aventureiro, despojado e corajoso que, como em nenhum outro ramo de negócios, une funcionários, consumidores e acionistas em um objetivo comum e maior do que os interesses particulares de cada um deles...”
No entanto, o problema é de uma natureza mais ampla. Os jornais deixaram de “sentir” a opinião
pública, deixaram de ser o reflexo do que pensam os homens, e passaram a ser o impulsionadores, os inculcadores de pensamentos e opiniões. Deixaram de só informar para também formar, mas formar de uma maneira até contrária aos ideais de seus leitores. Deslocandose assim da opinião pública, deixando de ser o reflexo do que pensam as pessoas, os jornais (e a mídia de modo geral) não conseguem mascarar completamente seus objetivos ocultos e escusos e assim, paulatinamente, seus leitores (ouvintes ou telespectadores) vão se distanciando deles e lhe dando menos crédito.
Culpar a internet pelo declínio dos jornais é uma maneira de esconder o fato acima. Pois a própria
“Veja” reconhece que a internet também não tem quase nenhuma credibilidade, embora seja muito usada. Um exemplo: o site do “Times” tem 20 milhões de usuários, talvez o maior do mundo, mas, em média, seus visitantes ficam no site apenas 35 minutos por mês, ou seja pouco mais de 1 minuto por dia, tempo muito exíguo para alguém ler e acompanhar as notícias ou dados por ele divulgados.
Vêse, portanto, que o próprio público alvo não dá credibilidade ao site, por ser também um público muito artificial e sem profundidade, como geralmente é o público da internet.
Quanto ao nosso Brasil, não sei se há pesquisas sobre o declínio dos jornais em nosso país. Mas o
fato é que diminuiu consideravelmente a quantidade de jornais (ou de leitores dos existentes) nas capitais e grandes cidades, concomitante com o acréscimo de canas de TV e de rádios FM. Quer dizer, há uma tendência a se divulgar mais a mídia superficial, representada pela TV, internet, rádios, etc., em detrimento da imprensa escrita, o que pode ser reflexo da falta de credibilidade do público para este setor.
Quanto à mídia eletrônica, representada pela TV e pela internet, que poder de influência possui sobre o público? Vejamos, primeiramente, a internet.
O poder formativo da internet
Aos poucos foi se formando um grande público aficcionado pela internet, talvez o maior do mundo na atualidade. Mas este público não tem profundidade, não se move a não ser rasteiramente por impulsos momentâneos e sem substância. Isto porque o sistema está cheio de erros e permissividades que prejudicam a formação de uma sadia opinião pública. Como é muito fácil e até corriqueiro se assumir falsas identidades na rede, nem todas as matérias circuladas são facilmente aceitas como verdadeiras. A cultura popular da internet quase não tem nenhuma credibilidade nos meios acadêmicos e científicos. Um dos exemplos é a Wikipédia, enciclopédia feita com intuitos democráticos, cujos verbetes são criados pelos usuários (embora sob “censura” de uma equipe de especialistas) e não aceita como critério sério de pesquisa. Na internet a pirataria corre solta, pondo em xeque até mesmo o critério de direitos autorais em muitos países. E também corre solta a impunidade perante calúnias e difamações anônimas. Parece até que o youtube foi criado com único objetivo de difamar, caluniar, propagar escândalos e deixar o autor anônimo.
É claro que se pode tirar algum proveito da internet. Há blogs e sites sérios, há boas bibliotecas virtuais que ajudam a estudantes e professores em níveis até acadêmicos. Mas este público é pequeno ainda perante a grande massa de ignorantes que acessam a rede apenas para jogar, namorar, conversar bobagens e espalhar fofocas, intrigas e calúnias. Outros até mesmo para fins criminosos.
De certo modo tem razão o exempresário britânico da área de tecnologia, Andrew Keen, ao publicar um livro que acusa a internet de promover o que denominou de “ditadura da
ignorância” (traduzido em português pela editora Jorge Zahar como “O Culto do Amador”). Ele
também culpa a rede pela queda na circulação de grandes jornais. Mas o principal enfoque do autor está na parte ética do sistema, onde se permite facilmente o plágio, a calúnia, a boataria irresponsável e a pirataria.
Nosso comentário, porém, prende-se a outro lado da questão. Que poder de influência tem a internet perante a opinião pública? Muito irrisório, este poder consegue difamar a honra de alguma personalidade (o youtube está aí pra isso), propagar boatos assustadores (é comum a veiculação de fatos que causam comoção em espíritos desprevenidos e incautos, como são quase todos os que usam do sistema), espalhar notícias que possam causar impacto imediato, mas tudo isso não é formativo e nem durável. Nota-se, por exemplo, que organizações que usam a internet para fins elogiáveis e tentam formar sadias correntes de opinião não têm o mesmo êxito que tinham antigamente os sistemas que se utilizavam, por exemplo, da abordagem pessoal e da propaganda direta ao público. De modo geral, o uso da internet serve acessoriamente para auxiliar a propagação de produtos, de idéias, partidos ou seja lá o que for, mas não é ainda o meio mais eficiente.
De outro lado, a tão almejada propagação do uso da internet tem se tornado difícil em países como o Brasil. Nos EUA tornou-se massivo este uso por causa da riqueza daquela nação, onde os custos de acesso são mais baratos e fáceis. Aqui no Brasil é diferente. O acesso à internet via PC doméstico ainda é algo complicado, somente a classe média e alta têm acesso massivo a ela. Porque aqui os custos ainda são altos e proibitivos para as classes mais humildes. O custo mais alto é o da compra do equipamento. O outro, de manter o acesso à internet, vai depender de uma linha telefônica via modem que o usuário possa pagar, e este custo onera o orçamento de 90% das pessoas da classe pobre. Tem as lan house, é verdade, mas também de custo ainda proibitivo. Poucos podem pagar 3 ou 4 reais por uma hora de acesso, e se o fazem é esporadicamente.
E lá nos EUA, onde a internet é mais usada no mundo, o público não é tão facilmente manipulado
pela rede. Quando um vídeo é projetado pela internet, em alguns casos, ele pode ser visto por centenas e até milhões (rarissimamente) de pessoas, que foram levados a vêlo
mais por curiosidade ou qualquer outro fator. Mas daí a ter uma ação baseada neste vídeo é outra coisa. No tempo do Ronald Reagen (há mais de vinte anos) a primeira dama daquele país veiculou um vídeo contrário ao aborto pela internet e surtiu forte efeito na redução do aborto naquele país. Hoje, porém, são centenas ou milhares os vídeos semelhantes sem que produza o efeito desejado. Quer dizer, estamos perante um público apático e de pouca vitalidade social, pois vivem fechados em sua vida eletrônica e têm pouca participação na vida pública. Como diz um sociólogo espanhol da atualidade: são autistas consentidos.
E a TV?
É, talvez, o recurso midiátio de maior poder de influência na opinião pública. Apesar de vir perdendo audiência, ainda mantém forte impacto sobre as pessoas. Mesmo assim não é o mesmo de vinte anos atrás. Vem também decaindo. Uma reportagem de TV feita há pouco mais de 15 anos atrás foi suficiente para despertar uma onda de violência nos Estados Unidos: nela se mostrava a violência policial contra os negros e toda uma comunidade negra se levantou fazendo saques e destruição. Não faz muitos dias que se veiculou reportagem semelhante, mas não surtiu o mesmo efeito da outra. Por que? Porque a TV não tem mais o poder de influência que tinha antes. É certo que ainda é muito preponderante: consegue macular honras de pessoas decentes, derubar certos políticos ou homens públicos de seus cargos, mover a população contra algum objetivo que acreditam ser do bem comum, mas não da mesma forma e com a mesma eficiência de alguns atrás atrás. Conseguem ainda elevar personalidades medíocres ao topo da popularidade, como fizeram com um travesti em Salvador até elegê-lo vereador da cidade. Em Ruanda, um canal de TV foi o principal responsável por incentivar o genocídio ocorrido naquele país anos atrás. Será que teria o mesmo efeito se o fizesse hoje?
De outro lado, a TV está sendo vista como o veículo mais ambicionado por grupos evangélicos, que tomam conta de grande parte do horário de alguns canais (alguns possuem suas próprias Tvs), e facilmente fazem ver no público que a chicana da fé religiosa e a esperteza tornam-se
o lugar-comum, o cotidiano da TV moderna. E com isso a TV vai perdendo mais credibilidade. Falta seriedade em seus programas, a baixaria continua solta e sem freios. Propagam-se
amiúde a imoralidade, a sensualidade e a violência sem freios. Por causa disso, não surtem efeitos desejados suas campanhas ditas moralizadoras. Se a TV faz um movimento contra as drogas (normalmente feita apenas de reportagens mostrando como funciona o sistema do tráfico) não surte qualquer efeito de combate às mesmas, pelo contrário aumenta consideravelmente o seu uso; qualquer campanha dessas que a TV faz, constata-se a nulidade de seu efeito na sociedade. Recentemente, a TV Globo fez uma série de reportagens mostrando o lado criminoso do fundador da religião chamada de Universal. Assim como ocorreu há mais de 15 anos atrás (um rumoroso ataque da mídia contra Edy Macedo, mostrando seus crimes, processos na justiça, etc.), novamente nada aconteceu contra o acusado. Apesar de testemunhas e provas contundentes contra o mesmo, a mídia não conseguiu derrubá-lo do topo de seu poder. É claro que hoje ele já detém também o poder midiático, com TVs e jornais, e o usa contra seus concorrentes, tendo feito ataques contra jornais e canais de TV. Mas quando a mídia laica tinha mais poder há pouco mais de 15 anos atrás também nada conseguiu contra ele. Dizem que seu dinheiro está comprando autoridades, promotores, juízes, etc. Mas não nos referimos ao poder do dinheiro e sim ao poder de influência da opinião pública. Seria perante esta que a mídia
deveria derrubar o trono do fundador da Universal. Isto é, se ainda tivesse o mesmo poder que
detinha há alguns anos atrás.
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