domingo, 27 de setembro de 2020

O ARCANJO SÃO MIGUEL

 


 

Nome que vem do hebraico, “mika’el”, quer dizer, “Quem como Deus”. Quando Deus revelou aos Anjos no Céu os Planos da Encarnação do Verbo e da Redenção, houve a grande revolta comandada pelo Anjo mais brilhante e bonito que havia, Lúcifer. O brado de revolta foi este: “non servian!” , quer dizer, “Não servirei!”. “Mas como? Logo eu, um Anjo tão formoso, tão poderoso e brilhante, ter que servir a seres humanos, mesmo na pessoa do Filho?” Assim deve ter imaginado Lúcifer em seu estado de revolta. Mas um outro Anjo logo bradou: “Quis ut Deus?”, isto é, quem como Deus? Este Anjo foi São Miguel, logo assumindo a função de Chefe da Milícia Celeste porque passou a comandar os Anjos bons para expulsar Lúcifer do céu. Travou-se então grande batalha, vencendo-a os Anjos fiéis a Deus que logo foram premiados com a Graça da presença divina e a posse da eterna Bem-aventurança. Os gregos, por causa disso, o chamam de “Archistrátegus”, isto é Generalíssimo.

São Tomás de Aquino acha que São Miguel será o Anjo que no fim do mundo há de combater o Anticristo, como fez com Lúcifer. Foi ele desde o início o protetor e defensor do povo eleito, tendo acompanhado-o desde a saída do Egito até a terra prometida. Foi São Miguel quem abençoou a herança de Abraão (Gên 22, 17), contendo o cutelo que ia cair sobre Isaac (Gen 22, 11-14); apareceu a Moisés na sarça ardente (Ex 3, 2); levou a Jesus o cálice que O confortou no Horto das Oliveiras (Lc 22, 43) e foi também quem por algumas vezes libertou São Pedro da prisão.

É ele o Protetor da Igreja e de todos os fiéis, a quem protege de modo especial contra os ataque dos demônios. São Miguel é invocado especialmente na hora da morte, pois neste momento é dado a Lúcifer empreender todos os esforços para perder a alma. Se a pessoa morre na graça de Deus, São Miguel é o Anjo encarregado por Deus de levar a alma para o céu. Por isto ele é chamado, na Igreja, por “Praepositus paradisi”, quer dizer, guarda do Paraíso, acrescido da sentença: “Constitui te Principem super omnes animas suscipiendas” – Eu te constituí Príncipe de todas as almas a serem redimidas. Antigamente, na Missa de encomendação dos defuntos se rezava: “Signifer Sanctus Michael representet eas in lucem sanctam” – Ó Porta-estandarte São Miguel, conduzi-as à luz santa.

São Miguel era também o protetor do povo eleito, conforme fala claramente Daniel (Dan 12, 1). Uma das mais antigas referências ao “Príncipe do exército do Senhor” como protetor do povo eleito encontra-se no Livro de Josué:

“Ora, estando Josué nos arredores da cidade de Jericó, levantou os olhos, e viu diante de si um  homem em pé, que tinha uma espada desembainhada, e foi ter com ele e disse-lhe: Tu és dos nossos, ou dos inimigos? E ele respondeu: Não; mas sou o príncipe do exército do Senhor, e agora venho. Josué prostrou-se com o rosto por terra. E, adorando-o, disse: Que diz o meu Senhor ao seu servo? Tira, lhe disse ele, o calçado de teus pés, porque o lugar em que estás, é Sant.o.  E Josué fez como lhe tinha sido mandado” (Josué 5, 13-16). A partir daquele momento,  sentiu-se vivamente a intervenção de São Miguel nos episódios em que os hebreus ganhavam milagrosamente as guerras, inclusive o cerco feito logo depois contra a cidade de Jericó.

 Porém, com a apostasia dos judeus São Miguel passou a ser o Anjo Custódio da Igreja e de toda a Cristandade. Como citamos acima, no livro de Daniel aparece a disputa entre  São Miguel, Anjo Custódio de Israel, e o Anjo protetor dos persas. Segundo São Jerônimo, este último desejava que os judeus permanecessem na Pérsia para mais dilatarem o conhecimento de Deus, enquanto que São Miguel defendia perante Deus a volta dos judeus para a Palestina a fim de que o templo do Senhor fosse restaurado mais depressa. Esta disputa espiritual entre os dois Anjos durou vinte e um dias.

São Pio X, sabedor do poder que tem São Miguel, ordenou que se rezasse a oração abaixo sempre ao final da Missa:

 “São Miguel, Arcanjo, protegei-nos no combate; cobri-nos com vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos, e vós, Príncipe da Milícia Celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas”.

O Arcanjo São Miguel por diversas vezes tem aparecido para socorrer os seus devotos. Um dos mais notáveis exemplos foi o que prestou à França, através de Santa Joana D’Arc, a quem São Miguel transmitiu a sublime missão de defender a Filha Primogênita da Igreja contra a invasão inglesa. O Arcanjo fazia-se ouvir à jovem donzela e para ela transmitia suas instruções de como proceder, terminando por convencer os nobres e o rei e, finalmente, vencer os inimigos externos.

A própria santa conta como foram as aparições do Anjo:

“Quando eu tinha mais ou menos 13 anos, ouvi a voz de Deus que veio para ajudar-me a me governar. Na primeira vez, tive medo. E veio essa voz, no verão, no jardim de meu pai, por volta do meio-dia (...).  (...) Depois que eu ouvi essa voz três vezes, percebi que era a voz de um Anjo (...). “...Na primeira vez, tive dúvidas se era São Miguel que vinha a mim, e nessa primeira vez tive muito medo. E eu o vi, depois, muitas vezes, até saber que era São Miguel... Antes de tudo, ele me dizia que era uma boa menina e que Deus me ajudaria. Entre outras coisas, disse-me para eu vir em socorro do rei da França... O Anjo me falava da piedade que existia no reino da França”.( “Joana D’Arc a Mulher Forte” – de Régine Pernoud, Ed.Paulinas, pp. 21/22.)

O estandarte dos exércitos de Carlos Magno trazia a imagem de São Miguel, com a divisa: “Ecce Michael, Princeps Magnus. Venit in adjutorium mihi”, que quer dizer: “Eis que Miguel, o Grande Príncipe, acode em meu socorro”. Esta divisa e a imagem comemoravam uma vitória alcançada pelos saxões graças ao Arcanjo: o rei da Gália tendo-o invocado, apareceu-lhe São Miguel durante a batalha montado num cavalo branco e sustentando um estandarte azul florido de lírios de ouro. Durante a Idade Média, São Miguel era sempre escolhido como padroeiro das Ordens de Cavalaria.

Com o mesmo aspecto de guerreiro terrível e esplendente, apareceu São Miguel ao lado de Santo Antonio de Lisboa, quando este enfrentou o tirano Ezzelino da Romano a fim de o repreender pelas atrocidades e crimes que perpetrava. Também foi São Miguel que apareceu sobre o castelo de Sant’ Angelo cantando o “regina coeli”, cujo episódio, que contamos acima, foi narrado pelo próprio Papa São Gregório Magno.

 Um outro prodígio operado por São Miguel nos remonta ao século V, quando o Arcanjo apareceu por três vezes no monte Gargano. Um rico senhor da cidade de Siponte, na Itália, perdera um de seus touros e passou a procurá-lo pelo monte Gargano. Indo com seus homens até o pico do monte encontram o animal ajoelhado numa caverna inacessível aos homens. Tentando tirar o animal da caverna e não o conseguindo, o exasperado fazendeiro resolveu matar o touro e começou e desferir-lhe flechadas. Mas as flechas voltam-se, antes de atingir o alvo, e ferem o arqueiro.  A notícia do fato foi logo se espalhada pela cidade, indo chegar aos ouvidos do bispo, São Lourenço Maiorano.

Era necessário esclarecer o misterioso caso. Assim, o santo bispo ordenou que se fizessem penitências e orações públicas. Ao terceiro dia, aparece ao mesmo bispo o vulto de um nobre cavaleiro todo envolto em clarões celestes. Dizendo-se ser São Miguel, assim falou: “Sou eu o autor do prodígio da caverna. De futuro ela será o meu santuário na terra”.

Decorrido algum tempo, Siponte foi assediada por um exército invasor. A cidade já estava para se render, mas o bispo São Lourenço Maiorano pede e obtém uma trégua de três dias. Neste período, pediu à população para fazer preces públicas e penitências. Ao terceiro dia, o Arcanjo São Miguel lhes aparece reanimando-os a coragem e assegurando-lhes brilhante vitória sobre os inimigos. No outro dia, os sitiados fizeram uma surtida para tentar furar o cerco, quando subitamente viram o mar enfurecido e o ar escurecer-se e encher-se de raios que eram fuzilados contra o exército inimigo. Os invasores de Siponte, que eram pagãos, fugiram apavorados e foram dizimados pelos cristãos.

Logo após, São Lourenço organizou brilhante procissão em direção da gruta de São Miguel, acompanhada por mais sete bispos, pelo clero e por todo o povo da localidade. O objetivo era consagrar a gruta, mas São Miguel já o havia advertido antes que ela já havia sido consagrada pelo próprio Arcanjo.

Foi construído um Santuário no cimo do monte Gargano, sendo instituída inicialmente a festa de São Miguel no dia 8 de maio, dia da primeira aparição. Numerosas foram as peregrinações ao Monte Gargano. Papas, imperadores, príncipes, cavaleiros e santos visitaram o Santuário do Arcanjo. Os Cruzados, a caminho da Terra Santa, faziam do Santuário lugar de passagem habitual e quase obrigatória. Lá iam, entoando salmos para implorar do Príncipe das Milícias celestes a audácia e a coragem de que necessitavam. Reboavam pelo vale seus brados guerreiros: “São Miguel! São Miguel! Deus o quer!”

O Santuário tornou-se um dos locais mais venerados do mundo católico, dando ocasião a que se divulgasse em todo o orbe a devoção ao Arcanjo. Assim, foram construídas igrejas dedicadas a São Miguel em várias partes do mundo, como ao longo do Bósforo, na França (o famoso Monte São Miguel), na Alemanha e na Inglaterra. A bandeira do Império, na Alemanha, a que se levava na frente das batalhas, tinha estampada a imagem de São Miguel.

Lemos no “Livro das Semelhanças”, de Santo Anselmo, que, estando a morrer um religioso do seu Mosteiro, foi este terrivelmente assaltado pelo demônio, o qual o argüia primeiro pelos pecados que ele cometera antes do batismo, sacramento que o monge recebera já em idade avançada. O pobre homem não sabia o que responder, e, quando estava muito perturbado, apareceu São Miguel em seu auxílio respondendo que todos os pecados cometidos antes do batismo haviam sido perdoados por ocasião daquele sacramento.

O espírito mau acusou então o monge de vários pecados cometidos depois do batismo. O Arcanjo novamente responde que essas faltas tinham sido apagadas na confissão geral feita por ocasião da profissão religiosa do moribundo, e que este devia confiar na misericórdia divina. Satanás alegou por fim contra ele as muitas faltas e negligências da sua vida subseqüentes à profissão religiosa. São Miguel declarou que todos os pecados lhe haviam sido perdoados, porque os confessara e satisfizera por eles com boas obras e, especialmente, com a obediência, e que, se algum resto tinha ficado, estava agora expiando por meio do sofrimento naquela doença.

Depois desta última resposta o demônio partiu dali cheio de confusão e o bom religioso, cheio de esperança e confiança, rendeu suavemente a alma a Deus.

 

Alguns títulos com que é invocado São Miguel

Por tudo o que é perante Deus, e pelo que fez e faz por Sua maior glória, São Miguel é invocado com os seguintes títulos na Ladainha que se reza pedindo seus auxílios: poderosíssimo Príncipe dos exércitos do Senhor; Porta-Estandarte da Santíssima Trindade; Guardião do Paraíso; Guia e consolador do povo israelita; Esplendor e fortaleza da Igreja Militante; Honra e alegria da Igreja Triunfante; Luz dos Anjos; Baluarte dos ortodoxos; Força dos que combatem sob o estandarte da cruz; Luz e confiança das almas no último momento da vida; Socorro certíssimo; Nosso auxílio em todas as adversidades; Arauto da sentença eterna; Consolador das almas que estão no Purgatório; A Quem o Senhor incumbiu de receber as almas depois da morte; Nosso Príncipe e Advogado por ocasião do Juízo, e muitos outros títulos com que os cristãos O invocam.

O Arcanjo São Miguel é também invocado como Profeta, Guerreiro e Exorcista. Como Profeta porque foi o primeiro dos que recebeu luzes divinas para prever os acontecimentos futuros e prevenir os demais Anjos, conclamando-os para expulsar os anjos rebeldes. Como Guerreiro porque foi o primeiro a empunhar o gládio contra a revolta dos demônios, cheio de ímpeto, de força juguladora  e de santa tenacidade, o mais forte no choque, o decisivo no vergar o adversário, o supremamente tenaz no resistir a todas as seduções, furores e ciladas de Lúcifer. E, finalmente, como Exorcista porque foi o primeiro a conseguir graças suficientes de Deus para expulsar os demônios onde quer que esteja ou exerça a sua ação. Dotou-o Deus daquele poder invencível que aniquila as investidas e ardis do demônio, tornando-o tão impotente e tão desprezível, quanto é infame e odioso.

Embora tendo sido criado como Arcanjo, São Miguel ascendeu aos tronos dos Serafins e Querubins, sendo um dos Sete Espíritos supremos que assistem sempre na presença do Altíssimo (Apoc. 4, 5).

 

 

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