Quinta-feira da terceira semana
COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO
- APROPRIAÇÃO DA ENCARNAÇÃO AO ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo virá sobre ti (Lc 1,35).
I. A formação do corpo de Cristo, que foi
realizada pela virtude divina, é convenientemente atribuída ao Espírito Santo,
embora seja comum a toda a Trindade.
Isso se harmoniza com a Encarnação do Verbo;
porque assim como nossa palavra, concebida na mente, permanece invisível, mas
se torna perceptível externamente pela voz, da mesma forma que o Verbo de Deus,
de acordo com a geração eterna, existe invisivelmente no coração do Pai, e
tornou-se visível para nós pela Encarnação. Onde a Encarnação do Verbo de Deus
é como a expressão vocal de nosso verbo mental. E a expressão vocal de nossa fala interior é
feita por nossa expiração, de que forma a voz do nosso verbo, portanto, é
precisamente dito que o Espírito Santo formou o corpo do Filho de Deus.
Essa forma de falar também é conveniente para
sugerir qual é a causa motor da Encarnação do Verbo. Essa causa não poderia ser
outra senão o amor de Deus ao homem, cuja natureza ele queria unir na unidade
da pessoa; e como em Deus, o Espírito Santo é aquele que procede por meio do
amor, segue que é conveniente atribuir a obra da Encarnação ao Espírito Santo.
Também é comum na Sagrada Escritura atribuir toda a graça ao Espírito Santo,
porque todo dom gratuito parece vir do amor do doador; e como nenhuma graça
maior foi dada ao homem do que a do união com Deus na pessoa, é
convenientemente atribuída esta ao Espírito Santo. (Contra os gentios, lib. IV,
cap 45).
II. Em cada ação que executa um efeito
criado, resplandece alguma apropriação às pessoas divinas, como na Encarnação,
segundo São João Damasceno, a bondade, a sabedoria e o poder de Deus se
destacam; a bondade, porque Deus não desprezou a fraqueza de sua criatura; o
poder, porque unia coisas infinitamente distantes; sabedoria, porque ele
encontrou a maneira mais conveniente de fazer o que parecia impossível. Porém,
cada operação é mais adequada a uma pessoa, dependendo do atributo dessa pessoa
se torne mais óbvio.
Agora, quando um presente é mais impróprio e
ultrapassa o mérito da criatura, mais ele manifestará a graça e a bondade de
Deus. E tal é a obra da Encarnação, por isso se apropria ao Espírito Santo, que
é o princípio da graça.
É verdade que o poder é atribuído ao Pai, mas
devemos alertar que mesmo quando o poder brilha na Encarnação, ainda mais a
bondade brilha nela; pois o poder está em ação, enquanto a bondade está no fim,
e o fim é a causa das causas; para qual deste a denominação deve ser tomada
principalmente. (3, Dist., 4, q único, A. 1)
(Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI
SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar,
OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)
MEDITAÇÕES PARA OS DIAS DA NOVENA
DE NATAL
2º Dia
Hostiam et oblationem noluisti; corpus
autem aptasti mihi. Não queremos hóstia nem oblação; mas me formastes um corpo (Hb
10,5). Considera a grande amargura de que o coração de Jesus devia sentir-se penetrado
e oprimido no seio de Maria, no momento em que seu Pai lhe colocou ante os
olhos a longa série de desprezos, dores a agonias, que teria de sofrer durante
sua vida para livrar os homens de seus males. Eis como o profeta faz falar a
Jesus: Desde a manhã o Senhor abriu-me o ouvido. Desde o primeiro
instante de minha conceição, meu Pai me fez conhecer a sua vontade que eu
levasse uma vida de penas, para ser depois imolado na cruz. E eu não
contradigo...; entreguei meu corpo aos que me batiam. Tudo aceitei para a
vossa salvação, almas queridas, desde então abandonei meu corpo aos flagelos,
aos cravos e à morte. Tudo quanto Jesus Cristo teria de sofrer durante sua vida e na sua paixão pairou ante o seu espírito desde o seio de sua Mãe, e Ele o
aceitou com amor; mas para resignar-se a esse sacrifício e para vencer a
repugnância natural dos sentidos, ó Deus! que angústia e que opressão não
sofreu o coração inocente de Jesus! Ele sabia de antemão o que devia sofrer
ficando encerrado nove meses na escura prisão do seio de Maria; sabia a que
humilhação e penas devia sujeitar-se nascendo numa fria gruta que servia de
abrigo aos animais, e passando depois trinta anos na oficina dum pobre
artífice; sabia que os homens o tratariam como a um ignorante, um escravo, um
sedutor, um criminoso digno de morte e da morte mais infame e mais dolorosa que
se possa infligir aos celerados.
Nosso amantíssimo Redentor
aceitou tudo isso a cada instante; e assim, a cada instante sofreu em conjunto
todos os tormentos e todos os opróbrios que o aguardavam até a sua morte. O
próprio conhecimento de sua dignidade divina lhe fazia sofrer mais
profundamente as injúrias que deveria receber dos hoje, e nunca as perdia de vista. A minha ignomínia está todo o dia
diante de mim, dissera pelo profeta; e por isso entendia sobretudo aquela
confusão que devia provar um dia vendo-se despojado de suas vestes, flagelado,
suspenso por três cravos de ferro e assim terminar a vida no meio dos desprezos
e maldições desses mesmos homens pelos quais morria: Foi obediente até a
morte, até a morte da cruz. E por que? para salvar a nós pecadores
miseráveis e ingratos.
Afetos e Súplicas.
Ah! meu amado Redentor, quanto
vos custou desde a vossa entrada neste mundo o livrar-me do abismo em que me
lançaram os meus pecados! Para me libertardes da escravidão do demônio, ao qual
me vendi voluntariamente entregando-me ao pecado, quisestes ser tratado como o
pior dos escravos; e eu, sabendo isso, contristei muitas vezes o vosso
amabilíssimo coração, que tanto me amou! Mas já que vós, que sois inocente e que sois o meu
Deus, aceitastes por meu amor uma vida e uma morte tão penosas, aceito por
vosso amor, ó meu Jesus, todas as penas que me vierem de vossas mãos. Eu as
aceito e abraço porque me vêm dessas mãos traspassadas um dia para me livrarem do inferno que tantas vezes mereci. O amor que me testemunhares, ó
meu Redentor, prontificando-vos a sofrer assim por mim, obriga-me deveras a
resignar-me por vós a todos os sofrimentos, a todos os desprezos. Senhor, pelos
vossos méritos, dai-me o vosso santo amor; o vosso amor tornar-me-á doce e
amáveis todas as dores e todas as ignomínias. Amo-vos sobre todas as coisas, amo-vos de todo o meu coração, amo-vos mais do
que a mim mesmo. Mas no decorrer de toda a vossa vida destes-me tantas e tão
grandes provas de vosso amor, e eu ingrato, após tantos anos de existência, que
prova de amor vos tenho dado até agora? Fazei, pois, ó meu Deus, que nos anos
que me restam de vida eu vos dê qualquer prova do meu amor. Não ousaria, no dia
do juízo, aparecer diante de vós, pobre como sou atualmente e sem nada haver feito
por amor de vós. Mas que posso fazer sem a vossa graça? só posso pedir me
ajudeis, e mesmo essa oração é um efeito da vossa graça. Meu Jesus, socorrei-me
pelos méritos das vossas dores e do sangue que derramastes por mim.
Santíssima Virgem Maria,
recomendai-me a vosso divino Filho, conjuro-vos pelo amor que lhe tendes:
considerai que sou uma das ovelhas pelas quais vosso Filho deu a vida.
(SANTO
AFONSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” –
Edição Pdf Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs.
160/161)
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