COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO
- A NECESSIDADE DE ENCARNAÇÃO PARA OFERECER SATISFAÇÃO SUFICIENTE PARA O PECAD
I. De duas maneiras, uma satisfação pode ser considerada
suficiente:
1ª) Perfeitamente, porque é condigno, devido a uma certa
adequação, para compensar a culpa cometida e, portanto, a satisfação que um
simples homem deu pelo pecado não poderia ser suficiente, porque toda a
natureza humana foi corrompida pelo pecado, nem o bem de uma pessoa, e mesmo de
muitos, poderiam equivalentemente compensar os danos de toda a natureza; além
disso, o pecado cometido contra Deus é de alguma forma infinito pela razão da
infinita majestade de Deus ofendido, pois a ofensa é ainda mais grave quanto
maior aquele contra quem o crime é cometido. Portanto foi necessário para uma
satisfação condigna que o ato do que satisfaça tenha eficácia infinita, como é
o ato daquele que é Deus e Homem.
2º) A satisfação do homem pode ser suficiente de maneira imperfeita,
ou seja, conforme a aceitação de quem se contenta com ela, embora não seja
condigna e, portanto, a satisfação de um simples homem pode ser suficiente; e
uma vez que tudo imperfeito pressupõe algo perfeito que o sustenta, segue-se
que toda satisfação de um mero homem recebe sua eficácia da satisfação de
Cristo. (3, q. I, a. II, ad 2um)
II. A Encarnação oferece a certeza do perdão do pecado.
Assim como o homem se dispõe à bem-aventurança pelas virtudes, da
mesma forma, ele se distancia dela por causa dos pecados; pecado, contrário à
virtude, é um impedimento para a bem-aventurança, não apenas porque introduz
uma desordem na alma, na medida em que a remove da ordem do fim devido; mas
também porque ofende a Deus, de quem espera o prêmio de bem-aventurança; e,
além disso, o homem tendo conhecimento desta ofensa, perde através do pecado, a
esperança de se aproximar de Deus, o que é necessário para obter felicidade.
Portanto, é necessário que a raça humana, cheia de pecados, obtenha
algum remédio contra os pecados; mas este remédio só pode ser dado por Deus;
que pode não apenas mover a vontade do homem em direção ao bem, para
restaurá-lo para a ordem adequada, mas também pode perdoar a ofensa cometida
contra Ele; pois a ofensa só pode ser perdoada por aquele contra quem é
cometida. Além disso, para que o homem seja liberto da consciência da ofensa
passada, é necessário ter certeza da remissão da ofensa pelo mesmo Deus; uma
certeza que não pode ser confirmada, se Deus não o certificar.
Portanto, foi conveniente e útil para a raça humana, para alcançar
a bem-aventurança que Deus se fizesse homem, para que desse modo obtivesse de
Deus o perdão dos pecados e tenha a certeza desse perdão pelo o homem Deus.
(Contra os gentios, lib. 4, cap. 54)
AFETOS E SÚPLICAS DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO
- Ubi venit
plenitudo temporis, misit Deus Filium suum. Quando se completaram os tempos, Deus enviou o seu Filho (Gl 4,4)
Ó Verbo divino feito homem por
mim, embora vos veja tão humilhado e feito criança no seio de Maria,
confesso-vos e reconheço-vos por meu Senhor e Rei, mas Rei de amor. Meu caro
Salvador, já que viestes a este mundo revestir-vos da nossa miserável carne
para reinar sobre os nossos corações, ah! vinde estabelecer o vosso reino
também no meu coração sujeito outrora ao domínio dos vossos inimigos, mas que
agora é vosso, como espero; quero que seja ele sempre vosso e que vós sejais de
hoje em diante o seu único Senhor: Reinai no meio de vossos inimigos. Os
outros reis reinam pela força das armas; vós ao contrários vindes reinar pela
força do amor, por isso não vindes com pompas reais, não vindes revestido de
púrpura e ouro, ornado de cetro e coroa nem rodeado de exércitos de soldados.
Nascestes num estábulo, pobre, abandonado e fostes colocado num presépio sobre
um pouco de palha, porque assim quisestes começar a reinar sobre os corações.
Ah! meu Rei Infante, como pude revoltar-me tantas vezes contra vós, e viver
tanto tempo na vossa inimizade, na privação da vossa graça, quando vós para
obrigar-me a amar-vos depusestes a vossa majestade divina e vos humilhastes
tanto que tomastes a forma duma criança numa gruta, depois a dum operário numa
oficina, e, enfim, a dum condenado na cruz? Oh! Feliz de mim se agora que saí,
como espero, da escravidão de Lúcifer, me deixar dominar sempre por vós e por
vosso amor!
Minha amada Soberana, Maria, vós haveis de obter-me a graça de ser
fiel a esse Rei querido de minha alma. (págs. 127/128)
(“Encarnação,
Nascimento e Infância de Jesus Cristo” - Santo
Afonso Maria de Ligório - Doutor da Igreja e Fundador da Congregação
Redentorista - Tradução do Pe. OSCAR DAS CHAGAS AZEREDO, C.Ss.R.
Edição Pdf - Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 127/128)
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