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sábado, 15 de junho de 2024

SENSO CRÍTICO - A FALTA DE SENSO CRÍTICO FAZ DO HOMEM MODERNO UM AUTÔMATO IDEOLÓGICO E COMPORTAMENTAL

 




 

1.    O que é a Crítica. Segundo a filosofia tradicional crítica são as ideias contrárias a um pensamento, expostas para elucidar questões ainda em dúvida, etc.

2.    Foi no período da Escolástica que mais se praticou a crítica, muito utilizada nos debates. O expositor de uma tese pedia a seus ouvintes, alunos ou não, para criar grupos de críticos contrários àquele pensamento a fim de comprovar seus argumentos também baseado em ideias opostas. São Tomás de Aquino foi exímio nisso: inclusive sua mais famosa obra, a Suma Teológica, é toda ela feita com base nesse sistema, onde coloca todas as ideias dos que são favoráveis em confronto com os que são contrários aos temas expostos, pondo no final a conclusão de tudo.

3.    No entanto, o que se vê hoje é uma completa deturpação do verdadeiro sentido da crítica, vista mais como algo partido de quem condena a tese ou a destrói, sem aquele caráter de esclarecer o debate que antes havia na Escolástica. Criticar, hoje, é menosprezar, caluniar, detratar e destruir o pensamento contrário. Há também a chamada “crítica construtiva”, usada em geral para enaltecer aquilo que se está criticando, sem levar em conta o que se lhe opõe, ou, menosprezando tudo o que é contrário.

4.    Como criticar a mídia aquele para quem a mesma se dirige: a) jornais e TVs, - expondo seus erros de omissão ou de técnica midiática que visa pregar ideologias através, principalmente, da “acupuntura social” (causar impacto para deixar nas mentes a aceitação de ideias) – de modo geral, eles nem aceitam que existam críticos oficiais de seus trabalhos (como é o caso de “ombudsman”,[1] quase inexistente, inclusive não há nenhum para as TVs e rádios); b) cinemas – a tendência influenciadora dos filmes é pior e mais difícil de se criticar do que a da mídia convencional, pois eles criam ambiente propício a aceitação de tudo o que mostram a seus assistentes, sem qualquer crítica, a não ser de alguns aspectos como a “crítica construtiva”, feita somente por seus admiradores. Um exemplo: um filme sobre a vida de São Pio de Pietrelcina, põe em destaque apenas o fato dele ter sido assediado, durante anos, pelo demônio, mas não mostra a quantidade de vezes em que os Santos Anjos lhe deram auxílio. Deu-me a impressão, apesar da origem bem católica da peça, de que se escondia nesse fato algo como mostrar o poder demoníaco, embora sendo vencido pela graça divina. A minha crítica consistiu em considerar que não lembraram de mostrar o outro lado muito importante na vida daquele santo que foi a presença angélica.

5.    A crítica da moda. Inexiste uma crítica oficial para denunciar seus aspectos maléficos: só usam a crítica construtiva através de seus propagandistas. Quer dizer: não é uma crítica completa e eficaz, pois esconde um lado de seus efeitos nas pessoas, o pior deles. Em geral, as críticas elogiosas só destacam aspectos artísticos e da elegância, nada dos aspectos morais são mencionados.

6.    A falta de senso crítico religioso leva as pessoas ao relativismo, isto é, a considerar que todas as religiões são boas e levam a Deus. Isso conduz todos ao chamado sincretismo religioso, cuja primeira experiência ocorreu ainda no Antigo Testamento quando 10 tribos de Israel resolveram se isolar e fundar sua “religião”, ainda o reinado de Salomão (daí surgindo os samaritanos). Um católico que está prestes a aderir ao protestantismo ou qualquer outra religião, se tivesse senso crítico veria de imediato quanto há de falso naquelas que não são a verdadeira, isto é, a católica. E, nesse particular, podemos ter certeza que a crítica seria auxiliada pela graça divina.

7.    Para alguns, criticar é condenar, enquanto que para outros é apenas elogiar. De modo geral, as pessoas não compreendem que se deve usar o senso crítico para testar, para contrapor com ideias contrárias aquela em análise, tomando-se o cuidado de examinar se tais críticas são devidas e oportunas, no todo ou no particular, tirando assim conclusões. Nessa parte é muito importante o nosso discernimento dos espíritos, o qual Deus concede a todos seus filhos fiéis a fim de entenderem onde está o Mal e o Bem.

8.    A crítica aos fariseus no Evangelho não foi nesse sentido de testar, mas uma crítica condenatória, é como se fosse uma sentença e não apenas uma crítica. Se usarmos hoje esse método de crítica condenatória, como Jesus usou contra os fariseus, dirão que é falta de caridade. Pode-se dizer, então, que pode haver uma crítica condenatória, esta muita usada na maioria das vezes de uma forma superficial. Então, antes desta, conclusiva e condenatória, devemos exercer a anterior, apenas de análise a fim de exararmos o nosso juízo com retidão.

9.    O menosprezo aos adversários também pode se manifestar em críticas, sendo este muitas vezes injusto e calunioso por ser oriundo de um mau juízo. Esse tipo de crítica é muito comum hoje em dia, e visto como a crítica correta, quando na verdade não é. Se vejo algo que considero errado, minha primeira crítica é interior, é de análise e de juízo próprio. Somente após comprovar se minha crítica era ou não correta é que posso exprimi-la para alguém ou grupo de pessoais.

10. A aceitação geral do romantismo, seja nas artes cênicas, seja na literatura ou até na música, dá-se, em geral, pela falta se senso crítico da população – a qual, por causa disso, não nota as insinuações postas nos trabalhos da área: a) no romantismo literário, situações e casos em que as tramas exageram os sentimentos humanos para causar impacto (vejam o exemplo do romance Romeu e Julieta, de Shakespeare), sem transmitir nenhuma lição de moral, de respeito, ou de bom comportamento, apenas para causar sensação emotiva; b) nas músicas, geralmente usam letras exageradas para representar o sentimento humano do amor, com termos absurdos, por exemplo, chamando a namorada de deusa por causa da beleza, etc.; c) nos filmes, teatros e novelas – juntam o literário e música num só enredo cheio de impressões sentimentais e impactantes, muitas vezes ocultando fatores morais muito mais importantes, mas deixando o expectador com a ideia de uma utopia, de algo fenomenal e irreal, mas que possa encher sua alma de alucinações e ideias de falsa felicidade ou de tragédia. Assistir alguma peça cinematográfica com senso crítico nos faz perceber o que o autor da peça escondeu em sua técnica de nos envolver mentalmente. Por exemplo, nos antigos filmes de faroeste havia não somente romantismo, mas pregação aberta da violência e, por último, até mesmo do vício de fumar, o qual tornou-se maior depois do surgimento destes filmes. Como as mulheres, em geral, não aderiam ao vício, inventaram o uso da piteira, passando a ser uma coisa elegante e até romântica: com isso muitas mulheres passaram a usar cigarros com piteiras. Depois vieram os filmes de violência policial e da nudez completa, isso na década de 60 em diante, todos eles baseados em enredos românticos e de alguma arte para atrair os seus assistentes, mas insinuando a liberalidade sexual, muitos com uma sensualidade total e promíscua.

11. Quanto à internet e as propaladas redes sociais, tornou-se um método mais eficaz de tornar o homem um autômato ideológico e comportamental. Sem qualquer crítica ou objeção as pessoas são tentadas a “seguir” determinados programas ou pessoas, sendo chamadas a opinar ou mesmo produzir postagens a respeito daquilo que divulgam. As pessoas, nessas redes, sentem-se importantes, como participantes de um processo ou de uma ação qualquer, e nisso querem manifestar seu comportamento sem pensar no que fazem. Foi daí que surgiu uma “moda”, que os psicólogos chamam de “autistas consentidos”, isto é, pessoas que vivem um mundo interior, mais do que exterior e real, de uma forma consentida, eles querem viver assim. E de tal forma vivem essa realidade interior que muitas vezes lhe dão mais importância do que a vida real, fora de suas mentes. Já houve vários crimes cometidos por causa da força que tem nas mentes essa vida mais virtual do que real. Veja nossa postagem sobre o tema nesse link


https://quodlibeta.blogspot.com/2023/01/o-papel-das-redes-sociais-virtuais-numa.html




[1] Jornalista contratado pela própria empresa para criticar o trabalho dos colegas com base na opinião do leitor, segundo eles. Pelo que me consta, só a “Folha de São Paulo” possui ombudsman – os demais são menos hipócritas.


quarta-feira, 9 de setembro de 2020

CRÍTICA DE ONTEM E DE HOJE

 


Crítica – Palavra de origem grega, “chritike”. Os filósofos antigos, especialmente os da Escolástica medieval, quando discutiam um tema qualquer escolhiam um ou vários do mesmo grupo a fim de fazerem críticas ao principal tema com as idéias contrárias, fazendo assim com que fossem discutidos os aspectos prós e contra. A crítica surgiu, assim, ,da necessidade de enriquecer o estudo com a oposição de idéias contrárias. A dialética, já desde o tempo dos gregos antes de Cristo, era uma forma de exercer tal crítica. Hoje, a definição de crítica ficou completamente modificada de sua finalidade, transformou-se numa arte de julgar, tanto obras literárias quanto de outras culturas, apreciação escrita ou verbal destas obras. Sendo a arte de julgar, tornou-se com o tempo numa censura, até mesmo numa condenação da obra ou personagem. Fazer crítica, hoje, é censurar e condenar autor literário ou manifestação de qualquer arte, até mesmo com maledicência. Não era este o objeto principal da crítica, mas apenas opor idéias contrárias  ao tema abordado a fim de enriquecer o trabalho numa discussão livre. São Tomás de Aquino foi um dos mestres no uso da crítica, pois todas as suas obras são recheadas de contraposição de idéias contrárias ao tema principal, havendo, no final uma conclusão dele, o chamado “conclusio” da Escolástica.

Quem desviou o verdadeiro sentido da crítica foi Immanuel Kent, dando a ela um sentido distorcido de sua original finalidade.  A partir deste filósofo é que a crítica passou a ser um julgamento e não a simples exposição de idéias contrárias. Vejam como os filósofos modernos vêem a crítica:

“No sentido antigo, é a parte da lógica que trata do julgamento. Hoje, exame de um fato, de uma obra de arte, de um comportamento com o intento de fazer um julgamento de apreciação, que pode ser lógico, estético, moral etc. Num sentido mais restrito, o termo implica um julgamento desfavorável. O adjetivo apresenta o mesmo sentido duplo: se é aconselhável exercer o seu espírito crítico (mesmo que seja apenas para filosofar...) a fim de nada admitir sem exame, não é aconselhável desenvolvê-lo no sentido de uma sensibilidade exclusiva aos defeitos. Mas qualifica também o que constitui uma crise ou se refere a ela estar num estado crítico.  Análise e avaliação desencadeadas por defeitos de alguma espécie. A crítica é uma parte normal da pesquisa em todos os campos. Mas seu papel não deveria ser exagerado, pois não é criativa: ela pode apenas melhorar ou eliminar. De fato, antes que um item seja submetido a uma análise crítica é preciso que tenha sido trazido à existência. E, se julgado defeituoso, deve ser reparado ou substituído em vez de ser protegido por inverificáveis.  (DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993. - BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)”

De forma semelhante aos  críticos há também os comentadores da Sagrada Escritura, que, no caso, apenas explicitam comentando as partes mais difíceis de serem entendidas pelo leitor comum.  Trata-se de mestres que explanam ou comentam passagens da Bíblia. Destacam-se entre eles, Orígenes, São João Crisóstomo, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, etc. Lutero não foi comentador, mas crítico no mal sentido, pois achou-se possuidor do poder de julgar e não de esclarecer dúvidas.

Tais comentadores também são chamados de exegetas, isto é, aqueles que fazem a Exegese (do grego ξήγησις de ἐξηγεῖσθαι "levar para fora") é uma interpretação ou explicação crítica de um texto, particularmente de um texto religioso. O termo foi tradicionalmente usado para a exegese da Sagrada Escritura, mas, no uso moderno, "exegese bíblica" é usado para dar mais especificidade, a fim de distingui-lo de qualquer outra explicação crítica mais ampla de qualquer tipo de texto. O termo é também utilizado naqueles que fazem comentários de textos filosóficos ou de direito.

A exegese inclui uma ampla gama de disciplinas críticas: crítica textual é a investigação da história e das origens de um texto, podendo incluir o estudo dos antecedentes históricos e culturais do autor, do texto ou de seu público original. Outras análises incluem a classificação do tipo de gênero literário presente nos textos, podendo até mesmo ser uma espécie de análise de características gramaticais e sintáticas no texto propriamente dito.