Quarta-feira da segunda semana
I. A noite passou e o dia se aproximou. Ou
seja, todo o tempo da vida presente é como uma noite por causa da escuridão da
ignorância que tornam a vida presente dolorosa. Em vez disso, o dia é como o
estado da beatitude; pela clareza de Deus que ilumina os santos. Também pode
ser entendido que o estado de pecado é como uma noite por causa da escuridão da
culpa, mencionada no Salmo (81, 5): “Não sabiam, nem entendiam, andam nas
trevas”; enquanto o dia é o estado da graça, por causa da luz da inteligência
espiritual possuída pelos justos, mas falta aos ímpios: A luz nasce para os
justos (Salmo 96, 11).
Também pode ser interpretado que a noite é o
tempo que precedeu a encarnação de Cristo, pois ainda não havia se manifestado
senão sob uma sombra. Em vez disso, desde a Encarnação de Cristo é dia, pelo
brilho poderoso do sol espiritual no mundo. Em suma, pode ser entendido como o
tempo da graça de Cristo, pois, se bem chegou de acordo com a sucessão dos
tempos, diz-se, porém, que vem a nós pela fé e devoção. O Senhor está perto
(Filipe 4, 5). Isso também pode ser aplicado aos que começam a sair dos
pecados, e aqueles que estão se aproximando do dia da Graça.
II. A honestidade da vida é necessária.
1º) Para remover os vícios: vamos descartar
as obras das trevas. Ao afastar-se a noite, as obras da noite devem cessar.
Elas são chamadas de pecados, obras das trevas, porque lhes falta a luz da
razão, que deve iluminar as ações humanas; porque eles ocorrem na escuridão, e
porque por eles o homem é conduzido às trevas, como diz São Mateus: Lance-o nas
trevas exteriores (22, 13).
2ª) Para adquirir as virtudes. Como se
dissesse: Posto que chegou o dia, vamos pegar o que é conveniente para o dia,
colocar as armas de luz, ou seja, as virtudes que se chamam de armas porque nos
defendem, e são ditas armas de luz, porque são fortificadas e aperfeiçoadas
pela luz da razão, porque requerem o exame da luz, porque outros são iluminados
por obras de virtudes: desta forma, deve sua luz brilhar diante dos homens (Mt
4:16).
3ª) É exortado a praticar e aproveitar as
virtudes, quando diz: “Caminhemos como de dia, honestamente”. Duas coisas
parecem concordar ao dia. Em primeiro lugar, honestidade; porque durante o dia
cada um tenta comportar-se de forma a parecer honesto na frente dos outros, mas
não assim à noite: segundo, o homem anda durante o dia, mas não durante a
noite. Portanto, São João diz: Mas se ele anda à noite, tropeça (11, 10).
Portanto, como é dia, é preciso caminhar, ou seja, progredir do bom para o
melhor; pelo qual São João diz: “Ande enquanto você tem luz” (Jo 12, 35). (Rom.
XIII)
AFETOS E SÚPLICAS DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO
- Iniquitates eorum ipse portabit. Ele tomará sobre si as suas
iniqüidades (Is 53,11)
Meu amado Jesus, eu que vos
ofendi não sou digno de vossas graças; mas pelo mérito da pena que sofrestes e oferecestes
a Deus vendo todos os meus pecados e satisfazendo por mim à justiça divina,
comunicai-me uma parte da luz com que conhecestes então a sua malícia, e do
horror que deles sentistes. Ó meu amável Salvador, é pois verdade que a cada
momento da vossa vida, mesmo desde o seio de vossa Mãe, fui o algoz do vosso
coração, e um algoz mais cruel do que todos os que vos crucificaram! E esse
suplício eu o renovei e aumentei
sempre que vos ofendi! Senhor, morrestes para salvar-me; mas a vossa morte não
basta para a minha salvação, se de meu lado não tenho verdadeiro arrependimento
das ofensas que vos fiz, e se as não detesto sobre todas as coisas. Mas mesmo
essa contrição devo esperar de vós. Vós a concedeis a quem a pede; eu vo-la
peço pelo mérito de tudo o que sofrestes sobre a terra; dai-me dor dos meus
pecados, e uma dor proporcionada à minha malícia. Meu Jesus, ajudai-me a fazer
esse ato de contrição, que agora quero fazer. — Padre eterno, Bem infinito e
supremo, eu miserável verme da terra tive a audácia de ultrajar-vos e de desprezar vossa graça; detesto
e abomino sobre todas as coisas as injúrias que vos tenho feito; arrependo-me
de todo o meu coração, menos por haver assim merecido o inferno do que por
haver ofendido a vossa infinita bondade. Pelos méritos de Jesus Cristo espero
de vós o perdão, e com o perdão a graça de amar-vos. Amo-vos, ó Deus digno de
amor infinito, e quero repetir sem cessar: Amo-vos, amo-vos, amo-vos. E como
vos dizia Santa Catarina de Gênova, vossa fiel serva, quando se ajoelhava diante
do Crucifixo, também eu vos digo agora prostrado aos vossos pés: “Senhor, não
mais pecados, não mais pecados!” — Ah! não mereceis ser ofendido, meu Jesus,
mereceis unicamente ser amado. Meu Redentor, ajudai-me. Maria, minha Mãe,
assisti-me; outra coisa não vos peço senão a graça de amar a Deus o resto da
minha vida.
(“Encarnação,
Nascimento e Infância de Jesus Cristo” - Santo
Afonso Maria de Ligório - Doutor da Igreja e Fundador da Congregação
Redentorista - Tradução do Pe. OSCAR DAS CHAGAS AZEREDO, C.Ss.R. - Edição Pdf -
Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 142/143)
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