quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (XI)

 



Quarta-feira da segunda semana

 COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 - REMOÇÃO DA NOITE

 A noite passou e o dia se aproximou. Descartemos, pois, as obras das trevas, e vistamos as armas da luz. Vamos caminhar, como de dia, honestamente (Rom., XIII, 12).

I. A noite passou e o dia se aproximou. Ou seja, todo o tempo da vida presente é como uma noite por causa da escuridão da ignorância que tornam a vida presente dolorosa. Em vez disso, o dia é como o estado da beatitude; pela clareza de Deus que ilumina os santos. Também pode ser entendido que o estado de pecado é como uma noite por causa da escuridão da culpa, mencionada no Salmo (81, 5): “Não sabiam, nem entendiam, andam nas trevas”; enquanto o dia é o estado da graça, por causa da luz da inteligência espiritual possuída pelos justos, mas falta aos ímpios: A luz nasce para os justos (Salmo 96, 11).

Também pode ser interpretado que a noite é o tempo que precedeu a encarnação de Cristo, pois ainda não havia se manifestado senão sob uma sombra. Em vez disso, desde a Encarnação de Cristo é dia, pelo brilho poderoso do sol espiritual no mundo. Em suma, pode ser entendido como o tempo da graça de Cristo, pois, se bem chegou de acordo com a sucessão dos tempos, diz-se, porém, que vem a nós pela fé e devoção. O Senhor está perto (Filipe 4, 5). Isso também pode ser aplicado aos que começam a sair dos pecados, e aqueles que estão se aproximando do dia da Graça.

II. A honestidade da vida é necessária.

1º) Para remover os vícios: vamos descartar as obras das trevas. Ao afastar-se a noite, as obras da noite devem cessar. Elas são chamadas de pecados, obras das trevas, porque lhes falta a luz da razão, que deve iluminar as ações humanas; porque eles ocorrem na escuridão, e porque por eles o homem é conduzido às trevas, como diz São Mateus: Lance-o nas trevas exteriores (22, 13).

2ª) Para adquirir as virtudes. Como se dissesse: Posto que chegou o dia, vamos pegar o que é conveniente para o dia, colocar as armas de luz, ou seja, as virtudes que se chamam de armas porque nos defendem, e são ditas armas de luz, porque são fortificadas e aperfeiçoadas pela luz da razão, porque requerem o exame da luz, porque outros são iluminados por obras de virtudes: desta forma, deve sua luz brilhar diante dos homens (Mt 4:16).

3ª) É exortado a praticar e aproveitar as virtudes, quando diz: “Caminhemos como de dia, honestamente”. Duas coisas parecem concordar ao dia. Em primeiro lugar, honestidade; porque durante o dia cada um tenta comportar-se de forma a parecer honesto na frente dos outros, mas não assim à noite: segundo, o homem anda durante o dia, mas não durante a noite. Portanto, São João diz: Mas se ele anda à noite, tropeça (11, 10). Portanto, como é dia, é preciso caminhar, ou seja, progredir do bom para o melhor; pelo qual São João diz: “Ande enquanto você tem luz” (Jo 12, 35). (Rom. XIII)

  (Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 

AFETOS E SÚPLICAS DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

- Iniquitates eorum ipse portabit. Ele tomará sobre si as suas iniqüidades (Is 53,11)

Meu amado Jesus, eu que vos ofendi não sou digno de vossas graças; mas pelo mérito da pena que sofrestes e oferecestes a Deus vendo todos os meus pecados e satisfazendo por mim à justiça divina, comunicai-me uma parte da luz com que conhecestes então a sua malícia, e do horror que deles sentistes. Ó meu amável Salvador, é pois verdade que a cada momento da vossa vida, mesmo desde o seio de vossa Mãe, fui o algoz do vosso coração, e um algoz mais cruel do que todos os que vos crucificaram! E esse suplício eu o renovei  e aumentei sempre que vos ofendi! Senhor, morrestes para salvar-me; mas a vossa morte não basta para a minha salvação, se de meu lado não tenho verdadeiro arrependimento das ofensas que vos fiz, e se as não detesto sobre todas as coisas. Mas mesmo essa contrição devo esperar de vós. Vós a concedeis a quem a pede; eu vo-la peço pelo mérito de tudo o que sofrestes sobre a terra; dai-me dor dos meus pecados, e uma dor proporcionada à minha malícia. Meu Jesus, ajudai-me a fazer esse ato de contrição, que agora quero fazer. — Padre eterno, Bem infinito e supremo, eu miserável verme da terra tive a audácia de ultrajar-vos e de desprezar vossa graça; detesto e abomino sobre todas as coisas as injúrias que vos tenho feito; arrependo-me de todo o meu coração, menos por haver assim merecido o inferno do que por haver ofendido a vossa infinita bondade. Pelos méritos de Jesus Cristo espero de vós o perdão, e com o perdão a graça de amar-vos. Amo-vos, ó Deus digno de amor infinito, e quero repetir sem cessar: Amo-vos, amo-vos, amo-vos. E como vos dizia Santa Catarina de Gênova, vossa fiel serva, quando se ajoelhava diante do Crucifixo, também eu vos digo agora prostrado aos vossos pés: “Senhor, não mais pecados, não mais pecados!” — Ah! não mereceis ser ofendido, meu Jesus, mereceis unicamente ser amado. Meu Redentor, ajudai-me. Maria, minha Mãe, assisti-me; outra coisa não vos peço senão a graça de amar a Deus o resto da minha vida. 

 

(“Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo” - Santo Afonso Maria de Ligório - Doutor da Igreja e Fundador da Congregação Redentorista - Tradução do Pe. OSCAR DAS CHAGAS AZEREDO, C.Ss.R. - Edição Pdf - Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 142/143)

 


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