Segunda-feira da terceira semana
COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO
Mostra-se que isso foi muito conveniente:
1º) Por parte da união. Porque as coisas vêm
juntas convenientemente quando são semelhantes; e de certa forma uma certa
semelhança comum é observada entre a pessoa do Filho, que é o Verbo de Deus, e
todas as criaturas; porque o verbo, do artista, ou seja, seu conceito, é a
semelhança exemplar de todas as criaturas. E o Verbo de Deus, em seu conceito
eterno, é a semelhança exemplar de cada criatura. Portanto, bem como pela
participação desta semelhança hão sido criadas as criaturas em suas próprias
espécies, ainda que mutáveis, da mesma forma, pela união do Verbo à criatura,
não participada, mas pessoal, foi conveniente reparar a criatura em ordem à
perfeição eterna e imutável; porque o artista repara sua obra, se se deteriora,
pela mesma forma artística que concebeu ao criá-la.
Também se prova a semelhança especial da
união com a natureza humana, porque o Verbo é o conceito de Sabedoria eterna, a
partir da qual deriva toda a sabedoria humana; daí o progresso do homem na
sabedoria, que é sua própria perfeição como racional, é medida por sua
participação no Verbo de Deus, conforme o discípulo é instruído ao receber a
palavra do professor. É por isso que é lido no livro Eclesiástico (1, 5): “A
fonte de sabedoria é o Verbo de Deus nas alturas”. Então, pois foi conveniente,
para a perfeição consumada do homem, que o Verbo de Deus estivesse pessoalmente
unido à natureza humana.
2º) A razão desta conveniência pode ser
retirada da finalidade da união hipostática, que é a salvação daqueles que
foram predestinados à herança celestial, a qual pertence unicamente aos filhos,
segundo a Epístola aos Romanos (8, 17): “E, se filhos, também herdeiros”. Pelo
qual foi conveniente para aquele que é um Filho natural comunicar aos homens
uma imagem de sua filiação por adoção divina, como diz o apóstolo: “Porque
aqueles a quem ele conheceu em sua presciência, estes também predestinou a
serem fatos conforme a imagem de seu Filho” (8, 29).
3º) Outro motivo de conveniência também pode
ser obtido pelo pecado do primeiro homem, a quem a encarnação veio remediar. O
primeiro homem pecou ao ambicionar a ciência, como o provam as palavras da
serpente, prometendo ao homem a ciência do bem e do mal. Era, portanto,
conveniente que fosse conduzido a Deus pelo Verbo, a verdadeira sabedoria,
aquele que se afastou d’Ele pelo apetite desordenado da ciência. (3ª parte., Q.
III, a VIII)
“PREPARAI O CAMINHO DO SENHOR”
E tudo isto, de
acordo com a história e a letra, cumpriu-se precisamente quando João Batista
pregou a vinda do Salvador de Deus no deserto do Jordão; onde a salvação de
Deus se deixou ver. Pois Cristo e sua glória se puseram de manifesto para todos
quando, uma vez batizado, abriram-se os céus e o Espírito Santo desceu em forma
de pomba e pousou sobre Ele enquanto se ouvia a voz do Pai que dava testemunho de
seu Filho: Este é meu Filho, muito amado; escutai-o.
Tudo isto se dizia
porque Deus havia de apresentar-se no deserto, sempre impraticável e
inacessível. Se tratava, com efeito, de todas as gentes privadas do
conhecimento de Deus, com as quais não puderam entrar em contato os justos de
Deus e os profetas.
Por este motivo,
aquela voz manda preparar um caminho para a Palavra de Deus, assim como aplanar
seus obstáculos e asperezas, para que quando venha nosso Deus possa caminhar
sem dificuldade. Preparai um caminho ao Senhor: trata-se da pregação evangélica
e da nova consolação com o desejo de que a salvação de Deus chegue ao
conhecimento de todos os homens.
Sobe a um monte
elevado, arauto de Sião; levanta forte a voz, arauto de Jerusalém. Estas
expressões dos antigos profetas encaixam muito bem e se referem com
oportunidade aos evangelistas: elas anunciam a vinda de Deus para os homens
depois de se haver falado da voz que clama no deserto. Pois a profecia de João
Batista segue coerentemente a menção dos evangelistas.
Qual é esta Sião
senão aquela mesma que antes se chamava Jerusalém? E ela mesma era aquele monte
que a Escritura se refere quando disse: O monte Sião onde puseste tua morada; e
o Apóstolo: Haveis vos acercado ao monte Sião. Acaso desta forma se estará
aludindo ao coro apostólico, escolhido dentre o primitivo povo da circuncisão?
E esta Sião e
Jerusalém é a que recebeu a salvação de Deus, a mesma que por sua vez se ergue
sublime sobre o monte de Deus, quer dizer, sobre seu Verbo unigénito: a qual
Deus manda que, uma vez elevada ao sublime cume, anuncie a palavra da salvação.
Quem é que evangeliza senão o coro apostólico? E que é evangelizar? Pregar a
todos os homens, e em primeiro lugar às cidades de Judá, que Cristo veio à
terra.
(Dos comentários de Eusébio de Cesaréia, bispo,
sobre o livro de Isaías, cap. 40, PG. 24, 366-367)
AFETOS E SÚPLICAS DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO
- Haurietis aquas in gaudio de fontibus Salvatoris.
Vós
tirareis com gosto águas das fontes do Salvador (Is 12,3)
Ó doce e caro Salvador meu,
quanto vos devo! quanto me tendes obrigado a amar-vos, já que por mim fizestes
o que não faria um servo para o seu senhor nem um filho para seu pai! Se pois
me tendes amado mais do que qualquer outro, é justo que vos ame mais do que
todos os outros. Quisera morrer de dor, quando penso que tanto padecestes por mim, que levastes o amor a
aceitar a morte mais cruel e mais ignominiosa que possa um homem sofrer, e que
eu tantas vezes tenho desprezado a vossa amizade. Quantas vezes me perdoastes e eu tornei a desprezar-vos! Mas
os vossos méritos são a minha esperança. Agora prefiro a vossa graça a todos os
reinos da terra. Amo-vos, e por amor de vós aceito qualquer espécie de pena e
de morte. Se sou indigno de morrer pela mão dos algozes para glória vossa,
aceito ao menos de coração a morte que me destinastes; aceito-a da maneira e no
tempo que haveis determinado.
Maria, minha Mãe, obtende-me
a graça de passar toda a minha vida e de morrer no amor de Jesus.
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