Quinta-Feira da Semana do Natal
1ª) Pela infusão da graça; pela qual todo
mundo que tem a graça santificante torna-se filho de Deus: “E porque vós sois
filhos, Deus enviou aos seus corações o Espírito de seu Filho” (Gal 4, 6).
2º) Nos assimilamos a Deus pela perfeição das
obras, pois quem faz obras de justiça é filho, como diz o Evangelho: “Amai
vossos inimigos ... para que vocês sejam filhos de seu Pai que está nos os
céus” (Mt 5, 44-45).
3º) Também nos assimilamos a Deus, alcançando
a glória; e em quanto à alma pelo “lumen gloriae”: “Quando ele aparecer,
seremos semelhantes a ele”(1 Jo 3, 2); e quanto ao corpo: “ reformará nosso
corpo abatido” (Fil 3:21). Portanto, dessas duas maneiras é dito na Epístola
aos Romanos: “Esperando a adoção de filhos de Deus” (8, 23).
Mas se pelo poder de se tornarem filhos de
Deus se entende a perfeição das obras e realização da glória, não há
dificuldade alguma, porque quando se diz: “Deu-lhes poder” (Jo 1,12),
entende-se poder da graça, pelo qual o homem pode fazer obras de perfeição e alcançar
a glória. Mas se se entende da infusão da graça, “deu-lhes o poder de ser
feitos filhos de Deus”, porque Ele lhes deu o poder de receber graça, e isso de
duas maneiras:
1º) Preparando a graça e oferecendo-a aos
homens; assim como se diz quem faz um livro e o oferece a alguém para que o
leia, dando a este a faculdade de ler.
2º) Movendo o livre arbítrio do homem para
que ele consinta em receber a graça. É por isso que Jeremias diz: “Voltemo-nos,
Senhor, para Ti” (movendo nossa vontade de te amar), e voltaremos (Lam 5, 21).
E isso se chama movimento interior, do qual diz São Paulo (Rom 8:30): “E aos
que chamou” (estimulando internamente a vontade de consentir na graça), estes
também justificou infundindo-lhes a graça”.
Mas visto que por esta graça o homem tem o
poder de se preservar na filiação divina, pode-se dizer em outro sentido: Ele
os deu, isto é, para aqueles que receber, o poder de se tornarem filhos de
Deus, isto é, pela graça, através que pode ser preservado na filiação divina. O
mesmo Evangelista diz em outro lugar: “Todo aquele que é nascido de Deus não
peca, mas que a graça de Deus (pela qual somos regenerados, como filhos de
Deus) o preserva” (1 Jo 3, 9).
Assim, lhes deu poder para se tornarem filhos
de Deus, pela graça santificando, pela perfeição das obras, pela obtenção da
glória; tudo isso preparando, agindo e preservando a graça. (In Joan., I)
O Senhor veio e se
manifestou numa verdadeira condição humana que o sustentava, sendo por sua vez
esta sua humanidade sustentada por Ele, e, mediante a obediência na árvore da
cruz, levou a cabo a expiação da desobediência cometida noutra árvore, ao mesmo
tempo que liquidava as consequências daquela sedução com a qual havia sido
vilmente enganada a virgem Eva, já destinada a um homem, graças à verdade que o
Anjo anunciou à Virgem Maria, prometida também a um homem.
Pois, da mesma
maneira que Eva, seduzida pelas palavras do diabo, assim Maria foi evangelizada
pelas palavras do Anjo, para levar a Deus em seu seio, graças a obediência à
sua palavra.
E se aquela se
deixou seduzir para desobedecer a Deus, esta se deixou persuadir a obedecê-Lo,
do que a Virgem Maria se converteu em advogada da virgem Eva.
Assim, ao
recapitular todas as coisas, Cristo foi constituído cabeça, pois declarou
guerra a nosso inimigo, derrotou ao que num principio, por meio de Adão, nos
havia feito prisioneiro, e esmagou sua cabeça, como encontramos dito por Deus à
serpente no Gênesis: “Estabelecerei inimizades entre ti e a mulher, entre tua
estirpe e a dela; ela te pisará na cabeça quando tu a ferires”.
Com estas palavras
se proclama de antemão que Aquele que havia de nascer de uma donzela e ser
semelhante a Adão haveria de esmagar a cabeça da serpente. E esta descendência
é a mesma da qual fala o Apóstolo em sua carta aos Gálatas: “A lei se
acrescentou até que chegasse o descendente beneficiário da promessa”. E o
expressa ainda com mais clareza em outro lugar da mesma carta, quando disse:
“Porém quando se cumpriu o tempo, enviou Deus a seu Filho, nascido de uma
mulher”. Pois o inimigo não teria sido derrotado com justiça se seu vencedor
não tivesse sido um homem nascido de mulher. Já que por uma mulher o inimigo
havia dominado desde o principio ao homem, pondo-se em contra dele.
Por esta razão o
mesmo Senhor se confessa Filho do Homem, e recapitula em si mesmo aquele homem
primordial do qual se fez aquela forma de mulher: para que assim como noutra
raça descendeu para a morte a causa de um homem vencido, ascendamos do mesmo
modo para a vida graças a um homem vencedor.
.(Del tratado de san Ireneo; obispo contra las herejías - Libro 5, 19,1; 20, 2; 21, .1: SC 153,, 248,250. 260-264)
9º Dia
Deus havia decretado que seu
Filho nascesse não na cada de José, mas numa gruta, num estábulo, da maneira
mais pobre e mais penosa que possa nascer uma criança; e por isso dispôs que
César publicasse um edito pelo qual cada um era obrigado a ir inscrever-se no
lugar de sua origem. Ao receber essa ordem José ficou inquieto não sabendo se devia
deixar ou levar consigo à Virgem Mãe, pois ela estava para dar à luz. — Minha
Esposa e Senhora, disse-lhe, de um lado não vos quero deixar só, e do outro, se
vos levar comigo fico aflito pensando no muito que tereis de sofrer em tão
longa viagem e tão rigorosa estação; minha pobreza não me permite conduzir-vos com os
devidos cuidados. — Maria porém encorajou-o dizendo: Meu caro José, não temais;
irei convosco e o Senhor nos ajudará. — Ela sabia por inspiração e pelo
conhecimento que tinha da profecia de Miquéias, que o divino Menino devia nascer em Belém. Tomou pois as faixas e os pobres paninhos já preparados,
e pôs-se a caminho com José: Ascendit autem et Joseph... ut profiteretur cum
Maria.
Acompanhemos os santos esposos em
sua viagem considerando os piedosos entretimentos que nessa viagem deviam ter
tido sobre a misericórdia, a bondade, e o amor do Verbo divino, que iria logo
nascer e aparecer no mundo para a salvação dos homens. Consideremos ainda os
louvores e as bênçãos, as ações de graça, os atos de humildade e amor, que de caminho faziam esses dois nobres peregrinos. Ela sofria certamente muito, essa
jovem e tenra virgem prestes a dar à luz,
fazendo trajeto tão longo, por caminhos difíceis e no tempo do inverno;
mas sofria em paz e com amor, e oferecia a Deus todas as suas penas unindo-as
às de Jesus que levava em seu casto seio. Ah! unamo-nos a Maria e a José, e acompanhemos com eles o Rei do
céu, que vai nascer numa caverna e fazer sua primeira aparição no mundo como
uma criança, e como a criança mais pobre e abandonada que jamais nasceu entre
os homens. Peçamos a Jesus, Maria e José, pelos méritos das penas que sofrem nessa viagem, nos acompanhem na viagem que fazemos à
eternidade. Felizes de nós, se na vida e na morte formos sempre acompanhados
por esses três grandes personagens!
Afetos e Súplicas
Santíssima Virgem Maria, venho
fazer-vos companhia em vossa viagem a Belém; e vós, minha Mãe, não cesseis de
ajudar-me na viagem que faço à eternidade. Assisti-me sempre, mas sobretudo no
fim da minha vida, quando eu chegar a esse último momento que deve decidir se
estarei, ou sempre convosco para amar a Jesus no céu, ou sempre longe de vós
para odiar a Jesus no inferno. Minha Rainha, salvai-me com vossa intercessão; e
a minha salvação seja amar-vos para sempre, a Jesus e a vós, no tempo e na
eternidade. Sois minha esperança, espero tudo de vós
Nenhum comentário:
Postar um comentário