quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (XXVI)

 



Quinta-Feira da Semana do Natal 

 COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 - A FILIAÇÃO DIVINA

 Deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1:12). Os homens se tornam filhos de Deus por assimilação a Ele e, portanto, são filhos de Deus por uma assimilação tripla.

1ª) Pela infusão da graça; pela qual todo mundo que tem a graça santificante torna-se filho de Deus: “E porque vós sois filhos, Deus enviou aos seus corações o Espírito de seu Filho” (Gal 4, 6).

2º) Nos assimilamos a Deus pela perfeição das obras, pois quem faz obras de justiça é filho, como diz o Evangelho: “Amai vossos inimigos ... para que vocês sejam filhos de seu Pai que está nos os céus” (Mt 5, 44-45).

3º) Também nos assimilamos a Deus, alcançando a glória; e em quanto à alma pelo “lumen gloriae”: “Quando ele aparecer, seremos semelhantes a ele”(1 Jo 3, 2); e quanto ao corpo: “ reformará nosso corpo abatido” (Fil 3:21). Portanto, dessas duas maneiras é dito na Epístola aos Romanos: “Esperando a adoção de filhos de Deus” (8, 23).

Mas se pelo poder de se tornarem filhos de Deus se entende a perfeição das obras e realização da glória, não há dificuldade alguma, porque quando se diz: “Deu-lhes poder” (Jo 1,12), entende-se poder da graça, pelo qual o homem pode fazer obras de perfeição e alcançar a glória. Mas se se entende da infusão da graça, “deu-lhes o poder de ser feitos filhos de Deus”, porque Ele lhes deu o poder de receber graça, e isso de duas maneiras:

1º) Preparando a graça e oferecendo-a aos homens; assim como se diz quem faz um livro e o oferece a alguém para que o leia, dando a este a faculdade de ler.

2º) Movendo o livre arbítrio do homem para que ele consinta em receber a graça. É por isso que Jeremias diz: “Voltemo-nos, Senhor, para Ti” (movendo nossa vontade de te amar), e voltaremos (Lam 5, 21). E isso se chama movimento interior, do qual diz São Paulo (Rom 8:30): “E aos que chamou” (estimulando internamente a vontade de consentir na graça), estes também justificou infundindo-lhes a graça”.

Mas visto que por esta graça o homem tem o poder de se preservar na filiação divina, pode-se dizer em outro sentido: Ele os deu, isto é, para aqueles que receber, o poder de se tornarem filhos de Deus, isto é, pela graça, através que pode ser preservado na filiação divina. O mesmo Evangelista diz em outro lugar: “Todo aquele que é nascido de Deus não peca, mas que a graça de Deus (pela qual somos regenerados, como filhos de Deus) o preserva” (1 Jo 3, 9).

Assim, lhes deu poder para se tornarem filhos de Deus, pela graça santificando, pela perfeição das obras, pela obtenção da glória; tudo isso preparando, agindo e preservando a graça.  (In Joan., I)

 (Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 ERA NECESSÁRIO QUE CRISTO NASCESSE DE UMA MULHER

 Eva e Maria.

O Senhor veio e se manifestou numa verdadeira condição humana que o sustentava, sendo por sua vez esta sua humanidade sustentada por Ele, e, mediante a obediência na árvore da cruz, levou a cabo a expiação da desobediência cometida noutra árvore, ao mesmo tempo que liquidava as consequências daquela sedução com a qual havia sido vilmente enganada a virgem Eva, já destinada a um homem, graças à verdade que o Anjo anunciou à Virgem Maria, prometida também a um homem.

Pois, da mesma maneira que Eva, seduzida pelas palavras do diabo, assim Maria foi evangelizada pelas palavras do Anjo, para levar a Deus em seu seio, graças a obediência à sua palavra.

E se aquela se deixou seduzir para desobedecer a Deus, esta se deixou persuadir a obedecê-Lo, do que a Virgem Maria se converteu em advogada da virgem Eva.

Assim, ao recapitular todas as coisas, Cristo foi constituído cabeça, pois declarou guerra a nosso inimigo, derrotou ao que num principio, por meio de Adão, nos havia feito prisioneiro, e esmagou sua cabeça, como encontramos dito por Deus à serpente no Gênesis: “Estabelecerei inimizades entre ti e a mulher, entre tua estirpe e a dela; ela te pisará na cabeça quando tu a ferires”.

Com estas palavras se proclama de antemão que Aquele que havia de nascer de uma donzela e ser semelhante a Adão haveria de esmagar a cabeça da serpente. E esta descendência é a mesma da qual fala o Apóstolo em sua carta aos Gálatas: “A lei se acrescentou até que chegasse o descendente beneficiário da promessa”. E o expressa ainda com mais clareza em outro lugar da mesma carta, quando disse: “Porém quando se cumpriu o tempo, enviou Deus a seu Filho, nascido de uma mulher”. Pois o inimigo não teria sido derrotado com justiça se seu vencedor não tivesse sido um homem nascido de mulher. Já que por uma mulher o inimigo havia dominado desde o principio ao homem, pondo-se em contra dele.

Por esta razão o mesmo Senhor se confessa Filho do Homem, e recapitula em si mesmo aquele homem primordial do qual se fez aquela forma de mulher: para que assim como noutra raça descendeu para a morte a causa de um homem vencido, ascendamos do mesmo modo para a vida graças a um homem vencedor.

.(Del tratado de san Ireneo; obispo contra las herejías - Libro 5, 19,1; 20, 2; 21, .1: SC 153,, 248,250. 260-264)

 MEDITAÇÕES PARA A NOVENA DO NATAL

9º Dia

 Ascendit autem et Joseph... ut profiteretur cum Maria desponsata sibi uxore praegnante. José foi também... para se recensear juntamente com sua esposa Maria que estava grávida. (Lc 2,4).

Deus havia decretado que seu Filho nascesse não na cada de José, mas numa gruta, num estábulo, da maneira mais pobre e mais penosa que possa nascer uma criança; e por isso dispôs que César publicasse um edito pelo qual cada um era obrigado a ir inscrever-se no lugar de sua origem. Ao receber essa ordem José ficou inquieto não sabendo se devia deixar ou levar consigo à Virgem Mãe, pois ela estava para dar à luz. — Minha Esposa e Senhora, disse-lhe, de um lado não vos quero deixar só, e do outro, se vos levar comigo fico aflito pensando no muito que tereis de sofrer em tão longa viagem e tão rigorosa estação; minha pobreza não me permite conduzir-vos com os devidos cuidados. — Maria porém encorajou-o dizendo: Meu caro José, não temais; irei convosco e o Senhor nos ajudará. — Ela sabia por inspiração e pelo conhecimento que tinha da profecia de Miquéias, que o divino Menino devia nascer em Belém. Tomou pois as faixas e os pobres paninhos já preparados, e pôs-se a caminho com José: Ascendit autem et Joseph... ut profiteretur cum Maria.

Acompanhemos os santos esposos em sua viagem considerando os piedosos entretimentos que nessa viagem deviam ter tido sobre a misericórdia, a bondade, e o amor do Verbo divino, que iria logo nascer e aparecer no mundo para a salvação dos homens. Consideremos ainda os louvores e as bênçãos, as ações de graça, os atos de humildade e amor, que de caminho faziam esses dois nobres peregrinos. Ela sofria certamente muito, essa jovem e tenra virgem prestes a dar à luz,  fazendo trajeto tão longo, por caminhos difíceis e no tempo do inverno; mas sofria em paz e com amor, e oferecia a Deus todas as suas penas unindo-as às de Jesus que levava em seu casto seio. Ah! unamo-nos a Maria e a José, e acompanhemos com eles o Rei do céu, que vai nascer numa caverna e fazer sua primeira aparição no mundo como uma criança, e como a criança mais pobre e abandonada que jamais nasceu entre os homens. Peçamos a Jesus, Maria e José, pelos méritos das penas que sofrem nessa viagem, nos acompanhem na viagem que fazemos à eternidade. Felizes de nós, se na vida e na morte formos sempre acompanhados por esses três grandes personagens!


Afetos e Súplicas

 Meu caro Redentor, sei que os anjos do céu vos acompanham nessa viagem; mas entre os habitantes da terra, quais são os que vos acompanham? Vejo convosco só José e Maria que vos leva em seu seio; ó meu Jesus, permiti-me una a eles para vos seguir. Ah! tenho sido bem ingrato para convosco! vejo agora o mal que fiz: descestes do céu para me fazer companhia na terra, e eu tive tantas vezes a ingratidão de deixar-vos ofendendo-vos. Ó meu divino Mestre, quando penso que para seguir minhas malditas inclinações tantas vezes me separei de vós renunciando à vossa amizade, quisera morrer de dor. Mas viestes para perdoar-me; perdoai-me pois agora que me arrependo de toda a minha alma de vos ter tantas vezes desprezado e abandonado. Estou resolvido e espero, com a vossa graça, não me afastar nem separar de vós, meu único amor! Sim, minha alma está tomada de amor por vós, meu amável Deus-Menino! amo-vos, meu doce Salvador, e já que viestes à terra para me salvar e me comunicar as vossas graças, eis a única que vos peço: fazei que me não separe jamais de vós; cativai-me prendendo-me estreitamente a vós pelas doces cadeias do vosso santo amor. Ah! meu Redentor e meu Deus, quem poderia ainda deixar-vos e viver sem vós, privado da vossa graça?

Santíssima Virgem Maria, venho fazer-vos companhia em vossa viagem a Belém; e vós, minha Mãe, não cesseis de ajudar-me na viagem que faço à eternidade. Assisti-me sempre, mas sobretudo no fim da minha vida, quando eu chegar a esse último momento que deve decidir se estarei, ou sempre convosco para amar a Jesus no céu, ou sempre longe de vós para odiar a Jesus no inferno. Minha Rainha, salvai-me com vossa intercessão; e a minha salvação seja amar-vos para sempre, a Jesus e a vós, no tempo e na eternidade. Sois minha esperança, espero tudo de vós

 (SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” – Edição Pdf Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 176/178)

 

 


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