Segunda-feira da segunda semana
– SE DIZ MAIS CONVENIENTE QUE SE O HOMEM NÃO TIVESSE PECADO, DEUS
NÃO TERIA ENCARNADO
I. Há quem pense diferente sobre este assunto, visto que alguns
dizem que o Filho de Deus teria se encarnado mesmo quando o homem não houvesse
pecado; mas outros afirmam o contrário, uma afirmação para a qual se deve
assentir de preferência. Na verdade, as coisas que provêm da vontade de Deus e
à qual a criatura não tem direito, podem ser conhecidas por nós, exceto na
medida em que nos são ensinadas na Sagrada Escritura, pela qual a vontade
divina é conhecida por nós. Portanto, visto que na Sagrada Escritura a razão da
Encarnação é apontada em todos os lugares pelo pecado do primeiro homem, se diz
convenientemente que a obra da Encarnação foi ordenada por Deus como remédio
contra o pecado; de modo que, uma vez não existindo este, não teria se
verificado a Encarnação, embora o poder de Deus não se limite a isso, visto que
Deus poderia ter encarnado mesmo sem pecado.
II. Muitas outras coisas devem ser deduzidas da Encarnação de
Cristo, além da absolvição do pecado, como, por exemplo, o progresso de homem
na fé, esperança, caridade, etc. Mas todas essas razões em última análise,
pertencem ao remédio para o pecado; pois, se o homem não pecou, foi iluminado
com a luz da sabedoria divina e estabelecido por Deus em perfeita justiça moral
para saber e fazer tudo necessário. Mas desde que o homem, abandonando Deus, se
havia apegado às coisas corporais, era conveniente que Deus, tomando carne,
também exibisse o remédio da salvação mesmo por meio de coisas corporais. Por
que diz Santo Agostinho: “A carne te obcecou, a carne te cura, visto que
Cristo veio para destruir com sua carne os vícios da carne. "[2]
Nada impede que a natureza humana seja destinada a um fim superior
após o pecado; porque Deus permite que o mal seja feito, para obter um bem
melhor com isso. Portanto, é dito: Onde o pecado cresceu a graça sobrepujou
(Rom 5:20). É por isso que se repete na bênção da vela pascoal: Ó feliz culpa,
que merecesse ter tão grande Redentor! [3]
(3º, q. I, a. III)
- Dilexit nos et tradidit semetipsum pro nobis. Ele nos amou e se entrou por
nós (Ef 5,2).
Meu Jesus, eu seria muito injusto
para com a vossa misericórdia e o vosso amor, se, após tantas provas de vosso
afeto e da vontade que tendes de me salvar, eu desconfiasse do vosso amor e da
vossa misericórdia. Meu amado Redentor, sou um pobre pecador; mas viestes procurar
não os justos mas os pecadores. Sou um pobre doente; mas viestes curar os
enfermos: Os sãos não têm necessidade de médico, mas sim os enfermos,
dissestes vós. Eu me perdi por meus pecados; mas viestes, vós mesmo no-lo
garantis, para salvar os que estavam perdidos. Que tenho pois a temer se
quero emendar-me e ser vosso? Só posso desconfiar de mim mesmo, da minha
fraqueza, mas minha fraqueza e minha miséria devem aumentar minha confiança em
vós, que vos dizeis o refúgio dos pobres e que prometestes atender os seus
desejos. A graça pois que vos peço é a de pôr minha confiança em vossos méritos
e de nunca cessar de me recomendar a Deus em vosso nome. — Padre eterno, pelo
amor de Jesus Cristo, salvai-me do inferno, e acima de tudo do pecado; pelos
méritos desse amado Filho, iluminai-me para cumprir a vossa vontade,
fortificai-me contra as tentações, dai-me o dom do vosso amor. Porém mais do
que tudo peço-vos a graça de suplicar sempre o vosso socorro pelo amor de Jesus
Cristo, que prometeu que atendereis todas as súplicas de quem vos pede em seu
nome. Se eu continuar a pedir-vos assim, serei certamente salvo; do contrário
perder-me-ei certamente. Santíssima Virgem, obtende-me a grande graça da oração
e da constância em recomendar-me sempre a Deus e também a vós, que obtendes de
Deus tudo o que desejais.
[1] Do verbis
[2] Tract. 2 in Joan
[3] Estas
palavras formam parte do “Exultet jam Angelica” conhecido vulgarmente por “La
Angélica”, atribuído a Santo Ambrósio.
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