Quarta-feira da terceira semana
Unigênito e não um entre muitos, Deus Pai o enviou, isto é: Ele,
tão grande, para aqueles de nós que somos tão pequenos; para o mundo, para
salvar o mundo; para que possamos viver, nós que estávamos mortos,
ressuscitados por Ele. Assim se lê na epístola aos de Éfeso: “Pela extrema
caridade com que nos amou, mesmo quando estávamos mortos pelos pecados, Ele nos
deu vida juntamente com Cristo” (Ef 2: 4-5).
Existem quatro razões pelas quais o dom deve ser grato e bem
recebido.
1ª) Pelo doador; quando quem dá, dá com grande amor e dileção.
Pelo qual às vezes mais se estima o afeto do doador que o dá. Certamente, este dom foi dado a nós pela
maior graça ou caridade do Pai. Este é o motivo expressado no texto: “Nisto foi
demonstrada a caridade de Deus”.
2ª) Da parte do dom, ou seja, d’Aquele que é enviado; porque
quando o dom é grande e precioso, tanto melhor deve ser recebido e agradar.
Certamente, o dom que nos foi dado foi o maior, conforme indicado nas palavras:
“ao seu Filho unigênito”.
3º) Por parte de quem recebe o dom, quando aquele a quem se
outorga o dom está muito necessitado dele. Certamente precisávamos muito de tal
dom, que havia de nos ressuscitar, porque estávamos mortos; que é expresso,
quando diz que “vivamos por ele”.
4º) Pela Pessoa encarregada de transmitir o dom. Por que às vezes
o dom adquire um valor especial pela graça pessoal do mensageiro; como nos
agrada receber um presente de uma formosa jovem. E assim devemos ser gratos em
receber o dom de Deus por meio da Virgem Imaculada e cheio de graça; que essas
palavras nos permitem entender: “Deus enviou a seu Filho”, é claro que o enviou
por meio da Virgem, como disse o Apóstolo: “Deus enviou seu Filho, nascido de
uma mulher” (Gal 4, 4). (Em Iam Joan., IV)
MEDITAÇÕES PARA OS
DIAS DA NOVENA DE NATAL
1º Dia
Dedi te in lucem gentium, ut sis salus mea usque ad extremum terrae. Eu te estabeleci para luz das gentes, a fim de seres a salvação que eu envio até a última extremidade da terra (Is 49,6).
Considera o Pai celeste dizendo estas
palavras a Jesus Menino no momento de sua conceição: Meu Filho, eu te
estabeleci para luz das gentes e a vida
das nações, a fim de que lhes procureis
a salvação, que desejo tanto como se
fosse a minha própria. É pois necessário que vos dediqueis inteiramente ao bem do
gênero humano: “Dado sem reserva ao homem deveis dedicar-vos inteiramente em
benefício dele”. É necessário que sofrais uma pobreza extrema desde o vosso
nascimento a fim de que o homem se torne rico: Ut
tua inopia dites. É necessário que sejais vendido como
um escravo para pagardes a liberdade do homem, e que, como escravo, sejais
flagelado e crucificado a fim de satisfazer à minha justiça pelas penas devidas
aos homens. É necessário que deis vosso
sangue e vossa vida para livrar o homem da morte eterna. Numa palavra, sabei
que não sois mais vosso mas do homem, segundo a palavra de Isaías: Nasceu-nos
um Menino, foi-nos dado um filho. Assim, meu caro
Filho, o homem se sentirá constrangido a amar-me e a dar-se a mim, ao ver que
vos dou todo a ele, vós meu único Filho, e que me não resta mais nada a
dar-lhe. Eis até onde chegou o amor de Deus aos homens! Ó amor infinito, digno
somente dum Deus infinito! Jesus mesmo disse: Deus
amou de tal modo o mundo que deu por ele seu unigênito Filho. A
essa proposta Jesus Menino não se entristece, antes se alegra, aceita-a com
amor e exulta: Dá saltos como gigante para percorrer
o seu caminho. Desde o primeiro instante de sua encarnação,
Ele se dá todo ao homem e abraça com alegria todas as dores e humilhações que deve sofrer no mundo
por amor dos homens. Essas foram, diz São Bernardo, as montanhas e as colinas
escarpadas que Jesus Cristo teve de escalar para salvar os homens: Ei-lo
aí vem saltando sobre os montes, atravessando os outeiros. Notemos
bem: enviando-nos seu Filho como Redentor e Mediador de paz entre Ele e os
homens, Deus Padre obrigou-se de certo modo a perdoar-nos e a amar-nos; entre o
Pai e o Filho interveio um pacto em
virtude do qual o Pai devia receber-nos em sua graça, contanto que o Filho
satisfaça por nós à divina justiça, de seu lado, o Verbo, digo, também se
obrigou a amar-nos, não por causa do nosso mérito, mas para cumprir a misericordiosa
vontade de seu Pai.
Afetos e Súplicas.
Meu caro Jesus, se é
verdade, como a lei o declara, que se adquire o domínio pela doação, vós me
pertenceis porque o vosso Pai vos deu a mim: é por mim que nascestes, a mim
fostes dado: Nasceu-nos um Menino, foi-nos dado um Filho. Posso
pois dizer: Meu Jesus e meu tudo. Já
que sois meu, todos os bens me pertencem. O vosso apóstolo me assegura: Como
não nos dará também com ele todas as coisas? Por
isso, meu é o vosso sangue, meus os vossos méritos, minha a vossa graça, meu o vosso paraíso. E se
sois meu, quem poderá jamais arrancar-vos de mim? Ninguém poderá tirar-me o meu
Deus. Assim dizia com júbilo Santo Antão Abade; assim também quero dizer no
futuro. É verdade que vos posso perder ainda e afastar-me de vós pelo pecado;
mas, ó meu Jesus, se no passado vos abandonei e perdi, arrependo-me agora de
toda a minha alma, e estou resolvido a perder tudo, a própria vida, antes que
tornar a perder-vos, ó Bem infinito e único amor de minha alma. — Agradeço-vos,
Pai eterno, por me terdes dado vosso Filho; e já que mo destes todo, eu
miserável dou-me todo a vós. Pelo amor desse Filho adorável, aceitai-me e
prendei-me com cadeias de amor a meu Redentor, mas prendei-me tão estreitamente
que possa dizer com o apóstolo: Quem me poderá ainda separar de meu Jesus? — E
vós, meu Salvador, se sois todo meu, sabei que sou todo vosso. Disponde de mim,
e de tudo o que me pertence como vos aprouver. E como poderia eu recusar alguma
coisa a um Deus que me não recusou o seu sangue e a sua vida?
Maria,
minha Mãe, guardai-me sob vossa proteção. Já não quero ser meu, quero ser todo
do meu Senhor. A vós compete tornar-me fiel, confio em vós.
(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação,
Nascimento e Infância do Menino Jesus” – Edição Pdf Aparecida – 2004 – Fl.
Castro – págs.
157/159)
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