quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (XII)

 



Quinta-feira da segunda semana

 COMENTÁRIOS DE SANTO TOMÁS DE AQUINO

 - A VIRGEM POSSUI A PLENITUDE DE TODAS AS GRAÇAS

 I. Estava cheia para si mesmo. Quanto mais se aproxima algo do princípio de um gênero qualquer, mais o efeito desse princípio participa. Por esta razão diz Dionísio[1] que os Anjos, que estão mais próximos de Deus, participam mais do que os homens da bondade divina. Agora Cristo é o princípio da graça, por seu próprio poder como Deus, como homem e instrumentalmente.

Por isso diz São João (1,17): Mas a graça e a verdade foram feitas por Jesus Cristo; e como a Santíssima Virgem era a mais próxima de Cristo, segundo a humanidade, pois dela recebeu a natureza humana, por esta razão obteve de Cristo maior plenitude de graça do que os demais.

Efetivamente, a Beata Virgem recebeu as três perfeições da Graça. A primeira como um dispositivo pelo qual ela se tornou adequada para ser mãe de Deus; a segunda perfeição lhe veio por meio da presença do Filho de Deus encarnado em seu seio; a terceira, a perfeição final que ela possui na glória. É evidente que a segunda perfeição é mais importante que a primeira, e a terceira mais do que a segunda, na ordem para o bem; pois, primeiramente, em sua santificação, ela alcançou a graça que a inclinou para o bem; na concepção do Filho de Deus, a graça pela qual foi confirmado no Bem; e em sua glorificação, alcançou a consumação da graça porque foi aperfeiçoada no gozo de todo bem.

II. Também estava plena para os outros. Deus dá a cada um a graça que precisa para cumprir sua missão. E posto que Cristo, como homem, foi predestinado e escolhido para ser o Filho de Deus em virtude da santificação, era próprio ter tal plenitude de graça que redundasse para todos, de acordo com isso: “E de sua plenitude todos nós participamos” (Jo 1,16). Enquanto à Bem-aventurada Virgem Maria, ela obteve tamanha perfeição de graça que foi colocada o mais próximo do autor da graça; pela mesma razão, ela recebeu o que está cheio de toda graça e, dando à luz a ele, transbordou graça para todos. Não há dúvida de que a Santíssima Virgem recebeu de uma forma eminente o dom da sabedoria, a graça dos milagres e também o dom da profecia; mas ela não recebeu esses dons para que pudesse ter o uso completo deles e outras graças semelhantes como Cristo teve, mas enquanto o exigia a sua condição.

De fato, ela exerceu o dom da sabedoria no que diz respeito à contemplação, de acordo com isto: Mas Maria guardou todas essas coisas, ponderando-os em seu coração (Lc 2,19). Mas não usou sabedoria para ensinar, porque isso não combinava com o sexo feminino. Nem era conveniente para ela realizar milagres durante sua vida, porque naquele tempo a doutrina de Cristo teve que ser confirmada por milagres, e por esta razão apenas Cristo e seus discípulos, que eram portadores da doutrina de Cristo, era conveniente fazê-los. Por isso também se diz que São João Batista (Jo 10:41) não fez milagres, para que todos pudessem seguir em direção a Cristo. Ela teve, no entanto, o uso da profecia, como se vê no cântico que compôs: “Minha alma engrandece o Senhor”.   (3º, q. XXVII, a. V)

 (Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI DIES DISTRIBUITA, SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 AFETOS E SÚPLICAS DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

- Dolor meus in conspectu meo semper. A minha dor está sempre ante os meus olhos (Is 37,18)

Eis, meu Jesus, a vossos pés o ingrato, o perseguidor que encheu de amargura toda a vossa vida. Mas dir-vos-ei com Ezequias: E tu livrastes a minha alma para ela não perecer, lançaste para trás das vossas costas todos os meus pecados. Eu vos ofendi e vos feri com numerosos pecados, e vós não recusastes carregar-vos de todas as minhas iniqüidades; lancei  voluntariamente minha alma ao fogo do inferno, cada vez que consenti em ofender-vos gravemente, e vós não deixastes de libertá-la com vosso sangue e de retirá-la do abismo. — Meu amado Redentor, agradeço-vos. Quisera morrer de dor quando penso que tenho maltratado tanto a vossa bondade infinita. Ó meu Amor, perdoai-me e vinde tomar posse de todo o meu coração. Dissestes que vos não dedignais de entrar na casa de quem vos abre a porta e de morar com ele: Se alguém me abrir a porta, entrarei e cearei com ele. Se outrora vos repeli, agora vos amo e nada mais desejo do que a vossa graça. A porta está aberta, entrai em meu pobre coração para dele nunca mais sair. É pobre, mas a vossa presença o tornará rico: sim, serei rico enquanto vos possuir, ó Bem supremo!

Ó Rainha do céu, Mãe dolorosa desse Filho cheio de dores, eu também vos tenho causado dores, pois que participastes em grande parte das dores de Jesus; perdoai-me, pois, minha Mãe, e obtende-me a graça de ser fiel, agora que, como espero, Jesus entrou em minha alma.

 (“Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo” - Santo Afonso Maria de Ligório - Doutor da Igreja e Fundador da Congregação Redentorista - Tradução do Pe. OSCAR DAS CHAGAS AZEREDO, C.Ss.R. - Edição Pdf - Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 144/145)

 



[1] Cael. Hier., Ch




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