Quarto domingo do Advento
"Portanto, da
mesma forma que preparamos nossas almas para o nascimento do Menino Jesus na
noite de Natal, coloquemo-nos também, segundo o Evangelho de hoje [I Domingo do
Advento, Mt 24, 37-44], diante de outro panorama grandioso: aquele em que Deus
intervirá a fim de conceder a Nossa Senhora, nesta Terra, a glória que o Pai, o
Filho e o Espírito Santo Lhe dão no Céu.
Na expectativa
dessa vitória da Santa Igreja permaneçamos vigilantes! Vigiar significa nunca
ceder a nada que o demônio possa nos propor. Vigiar significa estar atento, com
os olhos abertos, analisando bem de onde vêm os perigos. Vigiar significa
arrancar energicamente, sem contemporizações, qualquer raiz do pecado que haja
em nós. Tudo o que implica risco para a salvação eterna e para a nossa santificação
deve ser cortado, fazendo todo o esforço para perseverar no caminho da
perfeição, com vistas a não atrasar o dia magnífico em que Maria Santíssima
dirá: “O meu Imaculado Coração triunfou!”
II. Confessamos esta admirável encarnação de
Deus, ensinada pela autoridade divina, pois está dito: “E o Verbo se fez carne
e habitou entre nós” (Jo 1:14). As mesmas palavras também mostram isso
abertamente de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando fala de si mesmo coisas
humildes e humanas, dizendo: “O Pai é maior do que eu (Jo 14,28)”, e: “Minha
alma está triste até a morte” (Mt 26,38), tudo o que lhe é conveniente por
causa da sua humanidade; e sempre dizia coisas sublimes e divinas sobre si
mesmo: “Eu e o Pai somos uma coisa só” (Jo 10:30). “Todas as coisas que o Pai
tem são minhas” (Jo 16, 15). Tudo isso certamente corresponde a ele de acordo
com sua natureza divina.
Isso também é provado pelos fatos do Senhor
que são lidos sobre Ele, por ter tido medo, por ter ficado triste, por ter
fome, por morrer, eles manifestam sua natureza humana; e quando ele curou o
doente com seu próprio poder e ressuscitou os mortos e efetivamente se impôs
aos elementos do mundo, e expulsou demônios, e perdoou pecados, quando
ressuscitou os mortos por sua própria vontade e ascendeu finalmente ao Céus, ele
demonstrou sua virtude divina. (Contra os gentios, lib. IV, cap. XXVII)
III. Entre todas as criaturas, não há nada
tão semelhante a esta união do natureza divina e humana na Encarnação como a
união da alma e Corpo. Por isso Santo Atanásio diz: “Assim como a alma racional
e a carne formam um homem, da mesma forma que Deus e o Homem são um Cristo. Mas
a semelhança não consiste em que a alma racional se una ao corpo como a
matéria; porque assim seria formado de Deus e do homem uma só natureza."
Podemos usar essa comparação no sentido de
que a alma se une ao corpo como um instrumento. E, de fato, os doutores
consideraram a natureza humana em Cristo como uma espécie de órgão da
divindade, assim como o corpo é considerado um órgão da alma. Mas o corpo é um
órgão da alma de uma maneira diferente de instrumentos externos. O enxó[1]
não é um instrumento da alma assim como a mão, porque a mão é um órgão ligado a
ela e seu próprio, em vez o enxó é um instrumento extrínseco e comum.
A união de Deus e do homem pode ser considerada
desta forma: todos os homens podem ser considerados instrumentos com os quais
Deus opera. Pois Ele é aquele que opera em nós tanto para querer como para
executar. Cada homem, com respeito a Deus, é um instrumento externo e separado,
porque é movido por Deus não para suas próprias operações, mas para operações
comuns a toda natureza racional, como a compreensão da verdade, amar o que é
bom e fazer o que é justo. Mas, pelo contrário, a natureza humana de Cristo
executa instrumentalmente as operações próprias só de Deus, como purificar
pecados, iluminar mentes com a graça e introduzir na perfeição da vida eterna.
A natureza humana de Cristo é, com respeito a
Deus, como seu próprio e unido
instrumento, como a mão para a alma. Este exemplo não dá uma semelhança
completa, uma vez que deve ser entendido que o Verbo de Deus uniu a natureza
humana de uma forma mais sublime e íntima. (Contra os gentios, lib. 4, cap. 41)
MEDITAÇÕES PARA OS DIAS DA NOVENA DO NATAL
Desde o primeiro instante que o
Verbo divino se viu feito homem e criança no seio de Maria, ofereceu-se sem
reserva aos sofrimentos e à morte, para resgatar o mundo: Foi oferecido
porque Ele mesmo quis. Sabia que todos os sacrifícios de bodes e touros,
oferecidos a Deus no passado, não podiam satisfazer pelos pecados dos homens, que só uma pessoa divina podia pagar o preço
de sua redenção: Eis por que, escreve São Paulo, desde sua entrada no mundo Ele diz: Não quisestes hóstia nem oblação, mas me formastes um corpo... Então
eu disse: Eis-me que venho. Meu Pai! todas as vítimas que vos foram oferecidas até agora, não foram suficientes e não podiam sê-lo para desarmar
vossa justiça; destes-me este corpo passível a fim de que pela efusão do meu
sangue eu vos aplaque e salve os homens. Eis-me pronto: Ecce venio;
aceito tudo e me submeto em tudo à vossa santa vontade.
É certo que a parte inferior sentia repugnância; recusava-se naturalmente a
viver e morrer no meio de tantos sofrimentos e opróbrios; mas a vitória coube à
parte racional, que estava inteiramente submissa à vontade de Deus, e Jesus
aceitou tudo, começando desde então a sofrer todas as angústias e dores que devia
suportar no decorrer de sua vida. Eis o que fez por nós nosso divino Redentor
desde o primeiro momento de sua entrada no mundo. Mas nós, grande Deus, como
nos temos portado para com Jesus, depois que, chegados ao uso da razão,
começamos a conhecer pelas luzes da fé os santos mistérios da redenção? quais
foram os nossos pensamentos, as nossas ocupações? que bens temos nós amado? Os prazeres, os divertimentos, o orgulho, a vingança,
a sensualidade, eis os bens que prenderam os afetos do nosso coração. Mas, se
temos fé, havemos enfim de mudar de conduta e amar outra coisa. Amemos um Deus,
que tanto sofreu por nós. Ponhamos ante os nossos olhos as penas que o coração
de Jesus suportou por nós desde a infância, e não poderemos amar outra coisa
fora desse coração que nos amou tanto.
Afetos e Súplicas.
E vós, ó Maria, Mãe de
misericórdia, não cesseis de interceder por mim. Sabeis quanto confio em vós, e
eu sei que não abandonais quem a vós recorre.
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