(Morte dos Santos Inocentes)
27 de dezembro
SÃO JOÃO, APÓSTOLO E EVANGELISTA, E OS SANTOS INOCENTES
I. São João diz três coisas sobre si mesmo:
1º) O amor que o fez descansar em Cristo,
dizendo que ele estava recostado, isto é, descansando. Jó diz neste sentido:
“Então, no Todo-poderoso se encherá de delícias e elevará seu rosto a Deus” (Jó
22, 26), e o profeta Davi: “Ele me leva a fontes silenciosas (Sl 23: 2)”.
2º) O conhecimento dos segredos que o Senhor
lhe revelava, principalmente para a redação do seu Evangelho. É por isso que
ele diz que estava “reclinado no seio de Jesus”. O seio significa o segredo. E
em outro lugar diz: “Filho unigênito, que está no seio do Pai, ele mesmo o
declarou” (Jo 1, 13).
3º) O amor especial com que Cristo o amava. É
por isso que ele diz: “quem amava Jesus”; certamente não exclusivamente, mas o
amava quase com preferência aos demais.
II. É preciso saber que João foi mais amado
por Cristo por três motivos:
1º) Pela sua pureza, visto que foi eleito
virgem pelo Senhor e permaneceu sempre virgem. É por isso que é lido em
Provérbios: “Quem ama a pureza de coração, pela graça de seus lábios terá o rei
por amigo (22, 11)”.
2ª) Pela sublimidade de sua sabedoria, pois
penetrou nos arcanos da divindade mais profundamente do que os outros, razão
pela qual é comparado a Águia. “É aceito para o rei um ministro entendido”, é
lido em Provérbios (14, 35).
3º) Pelo ardente fervor do seu amor a Cristo:
“Amo aos que me amam” (Prov 8, 17). (In Joan., XIII)
(Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI
SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar,
OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)
A propósito, ouçamos o que diz sobre o tema o grande São João da Cruz:
Porque, em nos dar, como nos deu, a seu Filho – que é uma Palavra sua, que
não tem outra -, tudo nos falou junto e de uma vez somente nesta Palavra, e não
tem mais que falar. E este é o sentido daquela autoridade com que São Paulo
quer induzir os hebreus a que se apartem daqueles modos primeiros e tratos com
Deus da lei de Moisés, e ponham os olhos somente em Cristo, dizendo: O que
antigamente falou Deus nos profetas a nossos pais de muitos modos e maneiras,
agora finalmente, nestes dias, nos tem falado no Filho tudo de uma vez.
No qual dá a entender o Apóstolo,
que Deus ficou já como mudo e não tem mais que falar, porque o que
falava antes em partes aos profetas já o tem falado n’Ele tudo, dando-nos o
tudo que é o Filho.
Pelo qual, quem quisesse agora perguntar a Deus ou querer alguma visão ou
revelação, não somente faria uma necedade, mas faria agravo a Deus, não pondo
os olhos totalmente em Cristo, sem querer outra coisa ou novidade. Porque lhe
poderia responder Deus desta maneira: “Se te tenho já falado todas as coisas
por minha Palavra, que é meu Filho, e não tenho outra coisa que te possa
revelar ou responder que seja mais que isso, põe os olhos n’Ele, porque n’Ele o
tenho posto tudo e dito e revelado, e
encontrarás n’Ele ainda mais do que pedes e desejas.
Porque desde o dia em que baixei com meu espírito sobre Ele no monte Tabor,
dizendo: Este é meu amado Filho em que pus minha complacência, ouvi-O, já que
levantei a mão de todas essas maneiras de ensinamentos e respostas, e as dei a
Ele; ouvi-O, porque eu nada tenho mais a revelar, nem mais coisas que manifestar. Que, se antes
falava era prometendo-lhes a Cristo, e se me perguntavam eram perguntas
encaminhadas à petição e esperança de Cristo, em que haviam de achar todo o bem,
como agora o dá a entender toda a doutrina dos evangelistas e apóstolos”.
(Do tratado de São João da Cruz, “Subida ao Monte Carmelo”, liv. 2, cap.
22, n. 3-4)
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