I. O princípio é triplo.
O primeiro é o céu que destila o orvalho,
como princípio efetivo, isto é, a operação das três Pessoas, para as quais se
diz céus no plural. O Pai enviando o Filho; o Filho se encarnando; o Espírito
Santo realizando a concepção em Maria.
O segundo princípio é a nuvem de chuva, que é
o início de preparação na qual entra o mistério do anjo anunciador: fazendo as
nuvens, o seu carro (Sl 104,3).
O terceiro princípio é a terra fértil, que é
o princípio da concepção, a saber, a Santíssima Virgem, de quem se diz: “Nossa
a terra produzirá seus frutos” (Sl 84, 13), e cujo coração se abrirá para
receber o privilégio da graça: “Não temas, Maria, porque encontraste a graça”
(Lc 1, 30). Seu entendimento se abrirá para acreditar nas palavras do anjo; e
seu seio para conceber o Filho de Deus.
II. O nascimento é comparado ao orvalho,
chuva e germe; porque Cristo é orvalho para refrescar, como uma nuvem de
orvalho no calor da colheita (Is 18, 4) É chuva para fertilizar: “descerá como
chuva sobre a prole” (Sl 71, 6). “E como a chuva e a neve descem dos céus e não
voltam lá, mas encharcam a terra, fertilizam e fazem germinar, para que dê
semente ao semeador e pão para comer, assim será a minha palavra, sai da minha
boca, que não vai voltar para mim vazia, mas eu fiz o que fiz e quis e consegui o que a mandei” (Is
55,10-11). É por último germe para dar fruto: “E levantarei a Davi um germe
justo” (Jer 23: 5).
III. O fruto do nascimento de Cristo é a
justiça, que nasce com ele de três formas: já a cumpriu com a obra: “Porque é
assim que nos convém cumprir toda a justiça” (Mt 3,15); e para o qual ele
ensinou com as palavras: “Eu sou o que faço justiça e combato para salvar” (Is
63,1); para o qual ele deu como uma dádiva: “o qual para nós foi feito por Deus
sabedoria, e santificação e justificação e redenção; assim como está escrito:
Que ele se glorie, glorie-se no Senhor” (1 Cor 1, 30-31). (In Is., cap. 45).
4º Dia
Considera que, desde o primeiro
instante em que foi criada a alma de Jesus Cristo e unida ao corpo no seio de
Maria, o eterno Padre intimou a seu Filho a ordem de sacrificar sua vida pela
redenção do mundo, e que ao mesmo tempo lhe pôs ante os olhos o espetáculo
aflitivo de todas as penas que devia sofrer até a morte para salvar os homens.
Mostrou-lhe então os sofrimentos, as humilhações, a pobreza que teria de
suportar durante toda a sua vida em Belém, no Egito, em Nazaré, e depois todas
as dores e todas as ignomínias de sua paixão, os flagelos, os espinhos, os
cravos, a cruz, e os enfados, as tristezas, as agonias, os abandonos, em que
terminaria sua vida sobre o Calvário. Quando Abraão conduziu seu filho à morte,
não quis afligi-lo antes, nem mesmo no pouco tempo necessário para chegar à
montanha, e guardou em segredo o seu intento; mas o Pai celeste quis que seu
Filho encarnado, vítima destinada a satisfazer à sua justiça por todos os
pecados, sofresse antecipadamente todas as penas a quem devia submeter-se
durante a sua vida e na sua morte. Assim essa cruel tristeza que Jesus provou
no jardim das Oliveiras, e que bastava como ele mesmo declarou para lhe tirar a
vida, ele a suportou continuamente desde o primeiro momento de sua existência
no seio de Maria; e desde então ele sentiu e sofreu vivamente e em seu conjunto o peso de todas as dores e de todos os opróbrios que o aguardavam. Toda a vida e todos os anos de nosso divino Redentor foram pois uma vida e anos
de dores e lágrimas: A minha vida vai-se consumindo com a dor, e os meus
anos com os gemidos. O seu adorável coração não ficou isento de penas nem
um instante: velando e dormindo, trabalhando e descansando, orando e
conversando tinha sempre diante dos olhos essa cruel representação, que mais
atormentava a sua alma do que todos os tormentos dos mártires os fizeram
sofrer. Os mártires sofreram, mas ajudados pela graça suportaram seus tormentos
com a consolação e a alegria que o fervor proporciona; Jesus Cristo sofreu, mas
sempre com um coração cheio de tédio e tristeza, e tudo aceitou por amor de nós.
Ó Maria, minha querida Mãe,
socorrei-me: vós é que me tendes obtido todas as graças que tenho alcançado de Deus; eu vos agradeço; mas
se me não continuardes a proteger continuareis a ser infiel como no passado.
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