Sexta-feira da segunda semana
COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO
- A ENCARNAÇÃO NÃO DEVIA SER DIFERIDA ATÉ O
FIM DO MUNDO
No meio dos anos você fará história (Hab. 3,
2). Se não fosse conveniente para o Senhor encarnar desde o início do mundo,
não era apropriado que a Encarnação fosse adiada até o fim do mundo. Isso
parece óbvio:
1º) Se for considerada a união das naturezas
divina e humana; pois, de algum modo, o perfeito precede temporariamente ao
imperfeito; e de outro, pelo contrário, o imperfeito precede ao perfeito no
tempo. Porque em que do imperfeito se torna perfeito, o imperfeito precede no
tempo o perfeito; mas em qual é a causa do progresso, o perfeito precede no
tempo para o imperfeito. Na obra da Encarnação ambas as coisas coincidem, pois
a natureza humana foi elevada nessa Encarnação à suma perfeição; e por isso não
era conveniente que fosse realizada desde o início da raça humana.
Mas, por outro lado, o próprio Verbo
encarnado é a causa eficiente do aperfeiçoamento da natureza humana, conforme
com isso: “E de sua plenitude recebemos todos nós graça sobre graça” (Jo 1,16);
e, portanto, não quis referir-se à obra da Encarnação até o fim do mundo. Mas a
perfeição da glória, para a qual a natureza humana deve finalmente ser levada
pela Palavra encarnada, acontecerá no fim do mundo.
2ª) Esta mesma conclusão aparece se se
considera o efeito da salvação humana, porque como se diz: No poder do doador
está o quando e o quanto você deseja se compadecer. Veio, pois, Cristo quando julgou que deveria vir, e seria grato
o seu benefício; porque quando começou a
se perder entre homens o conhecimento de Deus, como conseqüência do abatimento
do gênero humano e os costumes foram alterados, então Deus escolheu Abraão,
para renovar nele o conhecimento de Deus e os costumes; e como logo se
debilitasse o respeito que lhe era devido, Deus enviou por meio de Moisés a lei
escrita; E como os gentios a desprezassem e recusassem submeter-se a ela, e
aqueles que a receberam não sabiam como observá-la, movido o Senhor pela
misericórdia enviou seu Filho, o qual,
concedida a todos a remissão de pecados, os ofereceu justificados a Deus
Pai. Mais, se este remédio tivesse sido adiado até o fim do mundo, poderia ser
apagado totalmente na terra o culto a Deus e a honestidade dos costumes.
3º) É claro que isso foi conveniente para
manifestar o poder divino, que salvou os homens de muitas maneiras, não apenas
pela fé no futuro, mas também pela fé do presente e do passado. (3º, q. I, a.
VI)
(Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI
SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar,
OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)
AFETOS E SÚPLICAS DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO
- Baptismo habeo baptizari; et quomodo coarctor usque dum
perficiatur. Eu tenho de ser batizado num batismo, e quão grande é a minha
ansiedade até que ele se conclua (Lc 12,50)
Meu amado Redentor, sou um desses ingratos que pagaram com ofensas
e desprezos vosso amor imenso, as vossas dores e a vossa morte. Ó meu caro
Jesus, como, ao verdes as ingratidões que eu iria cometer contra vós, me
pudestes amar com tanta ternura e resolver-nos a suportar por mim tantas
humilhações e sofrimentos? Ah! o mal está feito; mas não quero desesperar. Dai-me
agora, Senhor, a contrição que me merecestes com vossas lágrimas; desejo que
meu arrependimento iguale a minha iniqüidade. Coração amoroso do meu Salvador,
tão aflito e desolado um tempo pela minha salvação, e que hoje ainda ardeis em
amor por mim, ah! mudai-me o coração: dai-me um coração que compense os
desgostos que vos causei, um amor que iguale a minha ingratidão. Mas sinto já
um grande desejo de vos amar; agradeço-vos, meu Jesus, vejo que tivestes a
bondade de tocar o meu coração. Detesto sobre tudo os ultrajes que vos fiz, eu
os odeio e abomino. Agora prefiro a vossa amizade a todas as riquezas e a todas
as honras. Desejo comprazer-vos quanto possa. Amo-vos, amabilidade infinita,
mas vejo que meu amor é muito fraco; aumentai-lhe a chama, dai-lhe mais amor.
Devo corresponder ao vosso amor com um amor maior do que a ofensa que vos fiz,
tanto mais porque em
vez de castigar-me me tendes cumulado de favores especiais.
Ó Bem supremo, não permitais eu continue a viver na ingratidão
após tantas graças recebidas. Dir-vos-ei com S. Francisco: Morra eu por amor do
vosso amor, vós que vos dignastes morrer por amor do meu amor! Maria, minha
esperança, ajudai-me; pedi a Jesus por mim.
(“Encarnação,
Nascimento e Infância de Jesus Cristo” - Santo Afonso Maria de Ligório
- Doutor da Igreja e Fundador da Congregação Redentorista - Tradução do Pe.
OSCAR DAS CHAGAS AZEREDO, C.Ss.R. - Edição Pdf - Aparecida – 2004 – Fl. Castro
– págs. 146/147)
SOBRE O TEMPO DO ADVENTO
Há chegado, amatíssimos irmãos, aquele tempo tão importante e solene, que, como disse o Espírito Santo, é tempo favorável, dia da salvação, da paz e da conciliação; o tempoo que tão ardentemente desejaram os Patriarcas e Profetas e que foi objeto de tantos suspiros e anseios; o tempo que Simeão viu cheio de alegría, que a Igreja celebra solenemente e que também nós devemos viver em todo momento com fervor, louvando e dando graças ao Pai Eterno pela misericórdia que neste mistério nos tem manifestado. O Pai, por seu imenso amor para conosco, pecadores, nos enviou o seu Filho único, para nos livrar da tirania e do poder do demônio, nos convidar para o céu e nos inrtroduzir no mais profundo dos mistérios de seu reino, nos manifestar a verdade, nos ensinar a honestidade de costumes, nos comunicar o germen das virtudes, nos enriquecer com os tesouros de sua graça e nos fazer seus filhos adotivos e herdeiros da vida eterna.
A Igreja celebra a cada ano o mistério deste amor tão grande para conosco, nos exortando a tê-lo sempre presente. Por sua vez nos ensina que a vinda de Cristo não somente é proveitosa aos que viviam no tempo do Salvador, mas que sua eficácia continua, e ainda hoje se nos comunica se queremos receber, mediante a fé e os sacramentos, a graça que Ele nos prometeu, e se ordenamos nossa conduta conforme seus mandamentos.
A Igreja deseja vivamente nos fazer compreender que assim como Cristo veio uma vez ao mundo na carne, da mesma maneira está disposto a voltar a qualquer momento para habitar espiritualmente em nossa alma com a abundancia de suas graças, se nós, por nossa parte, tiramos todo obstáculo.
Por isso, durante este tempo, a Igreja, como mãe amorosa e zelosíssima de nossa salvação, nos ensina, através de hinos, cânticos e outras palabras do Espírito Santo e de diversos ritos, a receber convenientemente e com um coração agradecido este benefício tão grande, a nos enriquecer com seu fruto e a preparar nossa alma para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo com tanta solicitude como se tivesse Ele de vir novamente ao mundo. Não de outra maneira no-lo ensinaram com suas palabras e exemplos os Patriarcas do Antigo Testamento para que nisso os imitásemos.
(Das cartas pastorais de São Carlos Borromeu, bispo – Acta Ecclesiae Mediolanenseis, t. 2, Lyon 1683, pp. 916-917)
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