1º) Porque era preciso que os homens
conhecessem o benefício da Encarnação, para que sejam inflamados no amor
divino; e era necessário para manifestar a verdade da Encarnação, assumir uma
carne semelhante à de outros homens, a saber, transitáveis e mortais. Pois,
se tivesse tomado uma carne impassível e imortal teria parecido aos homens,
desconhecida tal carne, que era um fantasma e não uma carne real.
2º) Foi necessário que Deus se fizesse carne
para satisfazer o pecado da raça humana, já que acontece que um satisfaz para o
outro; mais a pena do que segue o pecado da humanidade é a morte e outros
sofrimentos da vida presente. Portanto, era necessário que Deus tomasse carne
aceitável e mortal, porém sem pecado, de forma que, sofrendo e morrendo assim,
satisfizesse por nós e tirasse o pecado.
3°) Porque possuindo carne passível e mortal,
Ele nos deu mais exemplos mais eficazes de virtude, vencendo com força os
sofrimentos da carne ao usar deles virtuosamente.
4º) Porque somos encorajados a esperar pela
imortalidade, por causa de fato de ter passado do estado de carne transitável e
mortal para o de impassividade e imortalidade da carne, podemos esperar o mesmo
para nós que carregamos carne transitável e mortal. Pois, se desde o
princípio tivéssemos assumido carne
impassível e imortal, não teríamos razão para esperar pela imortalidade,
sentindo-se mortal e corruptível.
E, além disso, o cargo de mediador exigia que
ele tivesse em comum com nossa carne passável e mortal, e que Ele tinha em
comum com Deus o poder e a Glória; de modo que, tirando de nós o que ele tinha
em comum conosco, isto é, o sofrimento e a morte, nos levam ao que havia de
comum com Deus; porque ele foi um mediador para nos unir a Deus. (Contra os
gentios, lib. 4, cap. 55),
(Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI
SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar,
OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)
8º Dia
Apparuit gratia Dei Salvatoris
nostri omnibus hominibus, erudiens nos, ut... pie vivamus in hoc saeculo,
exspectantes beatam spem et adventum gloriae magni Dei et Salvatoris nostri
Jesu Christi. A graça de Deus nosso Salvador apareceu a todos os homens e nos
ensinou a viver no século presente com piedade aguardando a beatitude que
esperamos, e o futuro glorioso de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo (Tt
2,11).
Considera que por essa graça de
que aqui fala o apóstolo, entende-se o ardente amor de Jesus Cristo aos homens,
amor que não merecemos e que por essa razão é chamada graça. Esse amor em Deus
foi sempre o mesmo, mas não apareceu sempre. Foi o primeiro prometido por um
grande número de profecias e anunciado por muitas figuras; mas apareceu manifestamente
quando o Redentor nasceu, quando o Verbo eterno se mostrou aos homens sob a
forma duma criancinha, reclinada sobre palha, chorando e tremendo de frio,
começando assim a satisfazer pelas penas por nós merecidas, e fazendo- nos
conhecer o afeto que nos tinha pelo sacrifício que fez de sua vida por nós. Nisto
conhecemos o amor de Deus, diz São João, em ter ele dado a sua vida por
nós.
Apareceu pois o amor do nosso
Deus e apareceu a todos os homens: Omnibus hominibus. Mas por que não o conheceram todos? E ainda
hoje nem todos o conhecem? Eis como Jesus mesmo responde, a essa pergunta: A
luz veio ao mundo, e os homens preferiram as trevas à luz. Não o conheceram
e não o conhecem, porque não querem conhecê-lo, amando mais as trevas do pecado do que a luz da graça. Procuremos não ser do número
desses infelizes. Se no passado fechamos os olhos à luz pensando pouco no amor
de Jesus Cristo, procuremos no resto da nossa vida não perder jamais de vista
as dores e a morte de nosso Salvador, a fim de amarmos, como devemos, Aquele
que tanto nos amou. Assim teremos direito de esperar, segundo as divinas
promessas, o belo paraíso que Jesus Cristo nos adquiriu com seu sangue: Esperando
a beatitude, objeto de nossas esperanças e o glorioso advento de nosso grande
Deus e Salvador Jesus Cristo. No seu primeiro advento, Jesus veio sob a
forma duma criança pobre e desprezada, nascida num estábulo, coberta de míseros
paninhos e reclinada sobre palha; no segundo aparecerá como juiz sobre um trono
glorioso. Eles verão o Filho do homem vir sobre as nuvens do céu, com
grande poder e majestade. Feliz
de quem o tiver amado! mas ai de quem o não tiver amado!
Afetos e Súplicas.
Ó santo Menino, vejo-vos hoje
sobre a palha, pobre, aflito e abandonado; mas sei que um dia vireis, para
julgar-me, num trono resplendente e cercado de anjos. Ah! perdoai-me antes desse
dia terrível. Então devereis agir como juiz rigoroso; mas hoje sois Redentor e
Pai de misericórdia. Eu, ingrato, fui um dos que vos não conheceram, porque não
quis conhecer-vos; eis por que, em vez de pensar em amar-vos considerando o amor que me testemunhastes, só pensei em satisfazer-me desprezando vossa graça
e vosso amor. Entrego agora nas vossas mãos a alma que perdi; salvai-a. Ponho
em vós todas as minhas esperanças, sabendo que, para resgatar-me do inferno,
destes o vosso sangue e a vossa vida: Redemisti me, Domine. Não me
fizestes morrer quando estava em pecado, e esperastes-me com tanta paciência, a
fim de que, caindo em mim e arrependido de vos haver ofendido, comece a
amar-vos, e vós possais depois perdoar-me e salvar-me. Ó meu Jesus, quero
corresponder a tanta bondade: arrependo-me sobre todas as coisas dos desgostos
que vos dei; arrependo-me e amo-vos sobre todas as coisas. Salvai-me por vossa
misericórdia, e a minha salvação consista em amar-vos sempre nesta vida e na
eternidade.
Maria, minha querida Mãe, recomendai-me a vosso divino Filho. Dizei-lhe que sou vosso servo e que pus em vós a minha esperança; ele vos ouve e nada vos recusa.
(SANTO
AFONSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” –
Edição Pdf Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs.173/175)
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