quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (XXV)

 


 Quarta-Feira da Semana do Natal 

 COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 - CRISTO NASCEU PASSÍVEL E MORTAL

 Deus enviou seu Filho em uma carne semelhante a do pecado (Rm 8, 3). Não era apropriado que Deus assumisse uma carne impassível e imortal, mas bastante passível e mortal.

1º) Porque era preciso que os homens conhecessem o benefício da Encarnação, para que sejam inflamados no amor divino; e era necessário para manifestar a verdade da Encarnação, assumir uma carne semelhante à de outros homens, a saber, transitáveis ​​e mortais. Pois, se tivesse tomado uma carne impassível e imortal teria parecido aos homens, desconhecida tal carne, que era um fantasma e não uma carne real.

2º) Foi necessário que Deus se fizesse carne para satisfazer o pecado da raça humana, já que acontece que um satisfaz para o outro; mais a pena do que segue o pecado da humanidade é a morte e outros sofrimentos da vida presente. Portanto, era necessário que Deus tomasse carne aceitável e mortal, porém sem pecado, de forma que, sofrendo e morrendo assim, satisfizesse por nós e tirasse o pecado.

3°) Porque possuindo carne passível e mortal, Ele nos deu mais exemplos mais eficazes de virtude, vencendo com força os sofrimentos da carne ao usar deles virtuosamente.

4º) Porque somos encorajados a esperar pela imortalidade, por causa de fato de ter passado do estado de carne transitável e mortal para o de impassividade e imortalidade da carne, podemos esperar o mesmo para nós que carregamos carne transitável e mortal. Pois, se desde o princípio  tivéssemos assumido carne impassível e imortal, não teríamos razão para esperar pela imortalidade, sentindo-se mortal e corruptível.

E, além disso, o cargo de mediador exigia que ele tivesse em comum com nossa carne passável e mortal, e que Ele tinha em comum com Deus o poder e a Glória; de modo que, tirando de nós o que ele tinha em comum conosco, isto é, o sofrimento e a morte, nos levam ao que havia de comum com Deus; porque ele foi um mediador para nos unir a Deus. (Contra os gentios, lib. 4, cap. 55),

 

(Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 

MEDITAÇÕES PARA A NOVENA DO NATAL

8º Dia

Apparuit gratia Dei Salvatoris nostri omnibus hominibus, erudiens nos, ut... pie vivamus in hoc saeculo, exspectantes beatam spem et adventum gloriae magni Dei et Salvatoris nostri Jesu Christi. A graça de Deus nosso Salvador apareceu a todos os homens e nos ensinou a viver no século presente com piedade aguardando a beatitude que esperamos, e o futuro glorioso de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo (Tt 2,11).

Considera que por essa graça de que aqui fala o apóstolo, entende-se o ardente amor de Jesus Cristo aos homens, amor que não merecemos e que por essa razão é chamada graça. Esse amor em Deus foi sempre o mesmo, mas não apareceu sempre. Foi o primeiro prometido por um grande número de profecias e anunciado por muitas figuras; mas apareceu manifestamente quando o Redentor nasceu, quando o Verbo eterno se mostrou aos homens sob a forma duma criancinha, reclinada sobre palha, chorando e tremendo de frio, começando assim a satisfazer pelas penas por nós merecidas, e fazendo- nos conhecer o afeto que nos tinha pelo sacrifício que fez de sua vida por nós. Nisto conhecemos o amor de Deus, diz São João, em ter ele dado a sua vida por nós.

Apareceu pois o amor do nosso Deus e apareceu a todos os homens: Omnibus hominibus. Mas por que não o conheceram todos? E ainda hoje nem todos o conhecem? Eis como Jesus mesmo responde, a essa pergunta: A luz veio ao mundo, e os homens preferiram as trevas à luz. Não o conheceram e não o conhecem, porque não querem conhecê-lo, amando mais as trevas do pecado do que a luz da graça. Procuremos não ser do número desses infelizes. Se no passado fechamos os olhos à luz pensando pouco no amor de Jesus Cristo, procuremos no resto da nossa vida não perder jamais de vista as dores e a morte de nosso Salvador, a fim de amarmos, como devemos, Aquele que tanto nos amou. Assim teremos direito de esperar, segundo as divinas promessas, o belo paraíso que Jesus Cristo nos adquiriu com seu sangue: Esperando a beatitude, objeto de nossas esperanças e o glorioso advento de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo. No seu primeiro advento, Jesus veio sob a forma duma criança pobre e desprezada, nascida num estábulo, coberta de míseros paninhos e reclinada sobre palha; no segundo aparecerá como juiz sobre um trono glorioso. Eles verão o Filho do homem vir sobre as nuvens do céu, com grande poder e majestade. Feliz
de quem o tiver amado! mas ai de quem o não tiver amado!

Afetos e Súplicas.

Ó santo Menino, vejo-vos hoje sobre a palha, pobre, aflito e abandonado; mas sei que um dia vireis, para julgar-me, num trono resplendente e cercado de anjos. Ah! perdoai-me antes desse dia terrível. Então devereis agir como juiz rigoroso; mas hoje sois Redentor e Pai de misericórdia. Eu, ingrato, fui um dos que vos não conheceram, porque não quis conhecer-vos; eis por que, em vez de pensar em amar-vos considerando o amor que me testemunhastes, só pensei em satisfazer-me desprezando vossa graça e vosso amor. Entrego agora nas vossas mãos a alma que perdi; salvai-a. Ponho em vós todas as minhas esperanças, sabendo que, para resgatar-me do inferno, destes o vosso sangue e a vossa vida: Redemisti me, Domine. Não me fizestes morrer quando estava em pecado, e esperastes-me com tanta paciência, a fim de que, caindo em mim e arrependido de vos haver ofendido, comece a amar-vos, e vós possais depois perdoar-me e salvar-me. Ó meu Jesus, quero corresponder a tanta bondade: arrependo-me sobre todas as coisas dos desgostos que vos dei; arrependo-me e amo-vos sobre todas as coisas. Salvai-me por vossa misericórdia, e a minha salvação consista em amar-vos sempre nesta vida e na eternidade.

Maria, minha querida Mãe, recomendai-me a vosso divino Filho. Dizei-lhe que sou vosso servo e que pus em vós a minha esperança; ele vos ouve e nada vos recusa.

(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” – Edição Pdf Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs.173/175)

 

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