sábado, 26 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (XXVIII)

 

 


                                     SANTO  ESTÊVÃO, PROTOMÁRTIR

 26 de dezembro

 MEDITAÇÃO DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 Porque foste fiel no pouco, colocar-te-ei acima do muito; entra no gozo do seu Senhor (Mt 25,23). Essas poucas coisas são tudo o que se encontra nesta vida, que é como nada em comparação com os bens celestiais. Que significa: “porque foste fiel”, em relação aos bens da vida presente, “vou colocá-lo sobre o muito”, isto te darei os bens espirituais que estão acima de todos esses bens. Aquele que é fiel no mínimo, também é fiel no maior. (Lc 16,10).

Em continuação fala sobre a grandeza do prêmio: “Entra no gozo  do seu Senhor”. Porque o gozo é o prêmio: “vos hei de ver, e vosso coração se alegrará” (Jo 16:22). Alguém poderia dizer: a visão é o prêmio ou é algum outro bem? Eu respondo que se algo mais for dito prêmio, o gozo, no entanto, é o prêmio final. Como dizemos que o fim de corpos pesados ​​é o centro da terra, e aquele que repousa no centro é o principal, então o gozo nada mais é do que o repouso da alma no bem alcançado; portanto, em razão do fim, o gozo é chamado prêmio.

E por que ele diz: "Entre no gozo do seu Senhor" e nos  "receba"? Deve-se responder que existem duas alegrias, a dos bens exteriores e a dos bens internos. O que goza dos bens exteriores, não entra no gozo, mas o gozo que entra nele; mas aquele que goza dos espirituais, entre no gozo: “me introduziu o rei em sua câmara” (Cant  1, 3).

De outro modo. O que está em alguém é contido por este, e o que contém é maior. Então, quando o gozo vem de uma coisa menor que nosso coração, então o gozo entra no coração; mas Deus é maior do que o coração; e é por isso que quem goza de Deus entre no gozo.

Ademais “entra no gozo do seu Senhor”, isto é, goza do Senhor, porque o Senhor é a verdade. Pelo qual a bem-aventurança não é outra coisa que o gozo da verdade.  Ou também "Entra no gozo do seu Senhor” significa: Alegra-te daquilo com que se goza e de que se goza teu Senhor; a fruição de si mesmo. Então o homem goza como o Senhor, quando goza da mesma maneira que o Senhor. Por isso diz aos Apóstolos: “Eu disponho do reino ... para que vocês possam comer e beber à minha mesa no meu reino” (Lc 22,29-30), isto é, para que sejais bem-aventurados da mesma forma que sou bem-aveturado. (In Matth., XXV)

Este gozo será pleno: “Pedi e recebereis, para que a sua alegria se cumpra” (Jo 17:24). Como desejo é movimento para o bem e o  gozo é o seu descanso no bem, o homem goza quando repousa no bem possuído, para o qual o desejo se moveu. Mas o gozo é proporcional ao bem possuído, e do bem criado não se pode ter gozo absoluto, porque não satisfaz totalmente o desejo e o apetite do homem. Assim, pois, nosso gozo será completo quando possuirmos esse bem em que são superabundantemente os bens que podemos desejar. Este bem é só Deus,  que enche de bens o nosso desejo com coisas boas. É por isso que se diz: Peça para que o vosso gozo seja cumprido, ou seja, desfrute de Deus e da Trindade, depois da qual não há mais nada. Me encherás de alegria com teu rosto (Sl 15:11). (In Joan., XVI; 2ª 2ae, q. XXVIII, a. 3

 (Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 

O NATAL NOS  FAZ PRESENTE A LUTA ENTRE O BEM E O MAL

 Santa Teresa Benedita da Cruz, OCD. (Edith Stein) publicou uma meditação sobre o Natal no final de seus exercícios espirituais, em 9 de junho de 1939, onde a temática principal é a dualidade de mistérios que envolveu a Encarnação do Verbo: o da própria Encarnação e o da iniquidade. Os martírios a seguir o de Cristo (Santo Estêvão e os Inocentes) dão bem uma idéia do que representava para a luta entre o bem e o mal, o nascimento do Salvador.

 Eis como ela introduz o tema:

 “Todos nós já sentimos essa felicidade na véspera de Natal, mesmo quando o céu e a terra ainda não se uniram. A estrela de Belém ainda é uma estrela à noite escura.  Apenas dois dias depois, a Igreja tira as roupas brancas e se veste com a cor do sangue, no quarto dia da  púrpura da tristeza.  Santo Estêvão, o Protomártir, o primeiro a seguir o Senhor no martírio e os Santos Inocentes de Belém de Judá, os filhos do peito brutalmente decapitados pelos soldados de Herodes, são o cortejo do Menino do Presépio. O que significa isto ? Onde está a alegria dos exércitos celestiais? Onde a beatitude silenciosa da véspera de Natal? Onde a paz na terra? "Paz na terra para homens de boa vontade". Mas nem todos têm boa vontade.

É por isso que o Filho do Pai Eterno teve que descer da grandeza da sua glória para a pequenez da terra, já que o mistério da iniqüidade a cobriu com as sombras da noite.

A escuridão cobriu a terra e Ele veio a nós como a luz que brilha na escuridão, mas a escuridão não a recebeu. Ele trouxe aqueles que o receberam luz e paz; paz com o Pai do céu, paz com todos os que são igualmente filhos da luz e do Pai celestial e a paz profunda e íntima do coração. Mas de nenhuma maneira a paz com os filhos das trevas. O Príncipe da paz não lhes traz paz, mas a espada. Para eles é uma pedra de tropeço, contra a qual eles colidem e batem.

Esta é uma verdade difícil e muito séria de que não devemos nos esconder com o encanto poético do Menino de Belén. O mistério da Encarnação e o mistério do mal estão intimamente unidos. À frente da luz que veio de cima, a escuridão do pecado torna-se mais escura e mais sombria. O Menino na manjedoura estende seus braços pequenos e seu sorriso parece predizer o que os lábios do homem dirão mais tarde: "Venha para mim, todos vocês cansados ​​e sobrecarregados, para que eu descanse" (Mt.11,28). Para os que ouviram o seu chamado, aos pobres pastores, a quem o brilho dos céus e a voz dos anjos lhes anunciaram as boas novas nos campos de Belém e que, no caminho, responderam a esse chamado dizendo: "Nós iremos Belém "(Lc.2,15); também para os reis que, do Extremo Oriente, seguiram com fé simples a estrela maravilhosa, para todos eles o derramamento de graça que emanava das mãos do pequeno filho foi derramado e foram "cheios de grande alegria" (Mt.2 , 10).

Essas mãos concedem e exigem ao mesmo tempo: você é sábio, deixe de lado sua sabedoria e faça-se simples como crianças; os reis, dê suas coroas e tesouros e se incline humildemente diante do Rei dos Reis e aceite sem hesitação as obras, dores e sofrimentos que seu serviço exige. De vocês, filhos, que não podem dar nada de forma voluntária, de você as mãos do Menino Jesus tomam a ternura de sua vida, quase antes de começar. Ela não poderia ser melhor empregada do que no sacrifício para o Senhor da Vida.

Siga-me! Desta forma, as mãos da Criança são expressas, assim como serão os lábios do homem (Mc 1,17). Assim falou seus lábios ao discípulo que o Senhor amou e que agora também pertence a sua comitiva. O próprio João, o mais jovem de todos, o discípulo com o coração de uma criança, seguiu-o sem perguntar onde e para o que. Ele deixou o barco de seu pai e seguiu o Senhor em todos os seus caminhos até o topo do Gólgota.

Siga-me! Estêvão fez o mesmo. Ele seguiu os passos do Senhor na luta contra o poder das trevas e contra a cegueira da incredulidade inveterada; ele finalmente deu testemunho dele com Sua palavra e com Seu sangue. Ele também o seguiu no espírito; no espírito de Amor que luta contra o pecado, mas que ama o pecador e, mesmo diante da morte, intercede diante de Deus por seus assassinos.

Estas são as figuras da luz que se ajoelham ao redor da manjedoura: os ternos filhos inocentes, os pastores fiéis, os reis humildes, Santo Estêvão, o discípulo entusiasmado e João, o apóstolo do amor. Todos seguiram o chamado do Senhor. Diante deles estende a noite fechada da incompreensível dureza do coração e da cegueira do espírito: a dos escribas, que poderia apontar com precisão para o tempo e lugar onde o Salvador do mundo deveria nascer, mas quem, no entanto, não conseguiram deduzir a partir de lá uma decisão: "Vamos a Belém" (Lc.2,15); e a do rei Herodes, que queria tirar a vida do Senhor da Vida.

Em frente à Criança reclinada na manjedoura, os espíritos estão divididos. Ele é o Rei dos Reis e Senhor sobre a vida e a morte. Ele pronuncia o seu "segue-me" e aquele que não está com ele está contra ele. Ele também nos diz e nos coloca diante da decisão entre luz e escuridão”.

  (“El Mistério de La Nochebuena” – Edith Stein – Biblioteca de Formación para Católicos – www.alexandriae.org, págs. 3/4 )

 

 

Nenhum comentário: