Mas deve-se notar que, após a entrega da
penitência, a alma penitente deve se embrulhar com as fraldas da caridade
contra a falta de jeito do pecado, que consiste na desordem interna da alma;
deve reclinar pelo amor da humildade contra o orgulho, que é uma aversão; e
ficar na manjedoura de aspereza por uma penitência proporcional ao deleite do
pecado, que é uma orientação para o mal.
Da primeira coisa que é dito em Provérbios: A
caridade cobre todas as faltas (10, 12). Mas devemos nos envolver com esse pano
em todos os lugares: primeiro, para amar a Deus que está acima de nós; segundo,
para nós mesmos; depois, para o que está ao nosso lado, ou seja, para nosso
vizinho; Quarto, para o que está abaixo de nós, é digamos, ao nosso corpo.
Essas quatro coisas devem ser amadas com caridade, como diz Santo Agostinho.
Sobre este último, lemos no Salmo (50, 19):
Para o coração contrito e humilhado, não o desprezarás, ó Deus. É por isso que
diz São Bernardo: “A humildade merece a estima de Deus, submete-nos a Deus,
somos atraídos pelo prazer de Deus, como disse a Bem-Aventurada Virgem: Porque
olhou para a baixeza do sua escrava.”(Lc 1,48).
Quanto ao terceiro, o Evangelho diz: Então dê
frutos digno de penitência (Lc 3,8). E São Bernardo: “Fuja da volúpia, porque
nela a morte é emboscada às portas de deleite. Faça penitência, porque através
dela virá o reino de Deus. Isso é o que o estábulo prega para você, a
manjedoura chama, dizem aqueles membros infantis, suas lágrimas e choramingos o
anunciam. " (De Humanitate Christi).
- DO NASCIMENTO DE JESUS
Andei errante, como ovelha, que se desgarrou; busca o teu servo. Senhor, sou essa pobre ovelha que, para seguir seus gostos e caprichos, se perdeu miseravelmente; mas vós, Pastor e Cordeiro divino, viestes do céu para salvar-me imolando-vos sobre a cruz como vítima de expiação por meus pecados: Eis o Cordeiro de Deus, eis o que tira o pecado.
Se quero pois corrigir-me, que
tenho a temer? não devo confiar inteiramente em vós que nascestes justamente
para salvar-me? Eis que Deus é meu
Salvador; agirei com confiança e nada temereis. E que maior prova de misericórdia
poderíeis dar-me, meu doce Redentor, para obrigar-me a confiar
em vós, do que o terdes vos dado a mim? Ó caro Menino, quanto sinto ter-vos
ofendido! Eu vos fiz chorar no estábulo de Belém, mas, sabendo que viestes para
me buscar, lanço-me aos vossos pés; e embora vos veja tão aflito e humilhado
nesse presépio em que repousais sobre palha, reconheço-vos por meu Rei e meu
soberano Senhor. Ouço os vossos ternos vagidos, que me convidam a amar-vos, e
me pedem o coração; ei-lo, Jesus, estou agora aos vossos pés para vo-lo
oferecer; transformai-o e inflamai-o, já que viestes ao mundo para abrasar os corações
de vosso santo amor. Ouço-vos dizer-me do presépio: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração; e eu respondo: Ah! meu Jesus, se
não amo a vós que sois meu Senhor e meu Deus, a quem amarei então? Vós vos
declarais minha propriedade pois que nasceis para vos dar todo a mim; e eu
recusaria ser vosso? Não, meu amado Senhor, dou-me todo a vós, e amo-vos de
todo o meu coração. Sim, amo-vos, amo-vos, amo-vos, ó Bem supremo, único amor
de minha alma! Por favor, recebei-me hoje, e não permitais eu cesse jamais de
amar-vos. Ó Maria, minha Soberana, eu vos conjuro pela alegria de que fostes
inundada a primeira vez que os vossos olhos viram vosso divino Filho em seu
nascimento e os vossos braços o apertaram contra o vosso seio materno, pedi-lhe
aceite a oferta que lhe faço de mim mesmo, e me prenda a ele para sempre pelo dom de seu santo amor.
(SANTO AFONSO MARIA DE
LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” – de Santo Afonso
Maria de Ligório – Coleção Clássicos da Espiritualidade Católica, págs. 179/180)
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