terça-feira, 22 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (XXIV)

 


Terça-Feira da semana do Natal 

 COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 - A ENCARNAÇÃO É UM AUXÍLIO PARA O HOMEM QUE TENDE À BEM-AVENTURANÇA

 Se alguém considerar diligente e piedosamente os mistérios da Encarnação, encontrará tal profundidade de sabedoria, que ultrapassa todo o conhecimento humano. E acontece que quanto mais você medita sobre eles com piedade, razões mais admiráveis ​​são descobertas neste mistério.

Consideremos, então, como a Encarnação de Deus é um auxílio  mais eficaz para o homem que tende à bem-aventurança..

1º) A perfeita bem-aventurança do homem consiste na visão imediata de Deus. Porém, esta visão pode parecer impossível por causa da distância infinita das naturezas. Mas pelo fato de que Deus queria unir a natureza humana a si mesmo, fica claramente demonstrado aos homens que o homem pode se unir a Deus por sua inteligência em uma visão imediata. Foi, portanto, muito conveniente que Deus tomasse a natureza humana para aumentar a esperança do homem na bem-aventurança. Portanto, após a Encarnação, os homens começaram a aspirar mais intensamente à bem-aventurança. Não admira que seja lido em São João: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

2º) Como a bem-aventurança perfeita consiste em tal conhecimento de Deus que excede a capacidade de todo entendimento criado, era necessário que o homem tivesse uma certa antecipação desse conhecimento que se ordenasse à plenitude do conhecimento bem-aventurado, o que certamente acontece pela fé; mas é necessário que o conhecimento pelo qual o homem vai até o fim seja muito certo, porque é o começo de todas as coisas que para esse fim são endireitadas.

Foi, portanto, necessário que o homem, a fim de seguir a certeza da verdade da fé, fosse instruído pelo próprio Deus feito homem, a fim de que percebesse a instrução divina da maneira humana. E assim vemos, depois da Encarnação de Cristo, que os homens são mais instruídos com clareza e certeza no conhecimento divino, de acordo com a Escritura: “A terra está cheia do conhecimento do Senhor “(Is 11, 9).

3º) Suposto que a bem-aventurança perfeita consiste no gozo de Deus, era preciso que os afetos do homem estivessem dispostos ao desejo daquele prazer divino; assim como vemos que no homem reside o desejo natural de felicidade, e que o desejo de desfrutar de algo é produzido pelo amor da dita coisa, da mesma forma era necessário trazer ao amor divino o homem caminhando para a felicidade perfeita. Nada nos leva tão intensamente a amar alguém como a experiência do amor que ele professa. Mas o amor de Deus ao homem não poderia ser mostrado de modo mais eficaz do que querer se juntar ao homem pessoalmente. Porque é próprio do amor unir o amante com o amado, na medida do possível. Foi, portanto, necessário, ao homem que se dirige à felicidade perfeita, que Deus se fizesse homem.

Além disso, uma vez que a amizade consiste em certa igualdade, não parece que seres muito desiguais possam se unir em amizade. Mas para que a amizade entre o homem e Deus fosse mais familiar, era conveniente que Deus se tornasse homem, porque o homem também é naturalmente amigo do homem; e assim, conhecendo visivelmente a Deus, somos atraídos para o amor do invisível.

4º) É evidente que a beatitude é a recompensa da virtude; logo, é  conveniente para quem é encaminhado para a bem-aventurança dispor-se com as virtudes. Somos levados às virtudes com palavras e exemplos; os exemplos e as palavras de alguém muito mais efetivamente conduzem à virtude, o quanto se tem uma opinião mais firme de sua bondade; mas da bondade de nenhum homem puro pode-se ter uma opinião infalível, pois sabemos que mesmo os homens mais santos carecem de algumas coisas. Então foi necessário para o homem, para se confirmar na virtude, receber do Deus humanizado doutrinas e exemplos de virtude. (Contra os gentios, lib. 4, cap. 54)

 

(Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 

MEDITAÇÕES PARA A NOVENA DO NATAL

 7º Dia

 In propria venit, et sui eum non receperunt. Veio para o que era seu, e os seu o não receberam (Jo 1,11).

Um dia, durante as festas do Natal, São Francisco de Assis andava chorando e suspirando pelos caminhos e florestas, e parecia inconsolável. perguntaram-lhe a causa de sua dor e ele respondeu: “Como quereis que eu não chore, vendo que o amor não é amado? Vejo um Deus amar o homem até a loucura, e o homem ser tão ingrato a esse Deus!” Se a ingratidão dos homens afligia tanto o coração de São Francisco, imaginemos quanto mais afligiu o coração de Jesus Cristo. Apenas concebido no seio de Maria, ele viu a cruel ingratidão, que devia receber dos homens. Viera do céu para acender na terra o fogo do amor divino; esse único motivo o levou a deixar-se imergir num abismo de dores e opróbrios: Vim trazer o fogo sobre a terra, e que quero senão que se inflame? e via um abismo de pecados que os homens iriam cometer depois de receberem tantas provas de seu amor! Eis, diz São Bernardino de Sena, o que lhe causou uma dor infinita. Nós mesmos sentimos pena insuportável vendo-nos tratados com ingratidão; é que, segundo a reflexão do bem aventurado Simão de Cássia, muitas vezes a ingratidão aflige mais a nossa alma do que qualquer outra dor ao corpo. Qual não foi pois a dor de Jesus Cristo, nosso Deus, ao ver que corresponderíamos a seus benefícios e amor com ofensas e injúrias! Ele se queixou pela boca de Davi: Deram-me males em troca de bens, e ódio em troca do amor que eu lhes tinha; mas também hoje em dia parece que Jesus Cristo se lamenta: Sou como um estranho no meio de meus irmãos, por ver um grande número deles viver sem o amar e sem o conhecer, como se os não houvera beneficiado, e como se nada houvera sofrido por amor deles. Ah! que caso fazem hoje muitos cristãos do amor de Jesus Cristo? Nosso Senhor apareceu um dia ao bem-aventurado Henrique Suso sob a forma dum peregrino a mendigar de porta em porta um abrigo; mas todos o repeliam injuriando-o grosseiramente. Quantos se parecem com aqueles de que falava Jó: Diziam a Deus: Retirai-vos de nós...; e isso depois que enchera suas casas de toda a sorte de bens. No passado também nós fomos ingratos; queremos ainda continuar a sê-lo? Oh! não: esse amável Menino, que do céu veio sofrer e morrer por nós para obter o nosso amor, não merece tal ingratidão.

 Afetos e Súplicas.

 É pois verdade, meu Jesus, que descestes do céu para vos fazer amar de mim; viestes abraçar uma vida de penas e a morte da cruz por meu amor, a fim de abrir-vos a entrada do meu coração; e eu vos repeli tantas vezes dizendo: Recede a me, Domine: Retirai-vos de mim, Senhor; não vos quero! — Ah! se não fosseis um Deus de bondade infinita, e se não tivésseis dado a vossa vida para perdoar-me, não ousaria pedir-vos perdão. Mas ouço que vós mesmo me ofereceis a paz: Converteis-vos a mim, dizeis, e eu me converterei a vós. Pois bem, meu Jesus, vós a quem ofendi, vos fazeis meu intercessor. Não quero pois fazer-vos ainda a injúria de desconfiar da vossa misericórdia. Arrependo-me de toda a minha alma de vos haver ofendido e desprezado, ó Bem supremo; recebei-me em vossa graça, conjuro-vos pelo sangue que derramastes por mim. Não, meu Redentor e meu Pai, não sou digno de ser chamado vosso filho, depois de haver tantas vezes renunciado ao vosso amor; mas vós com os vossos méritos me tornais digno dele. Agradeço-vos, meu Pai, agradeço-vos e amo-vos. Ah! já a lembrança da paciência com que me suportastes tantas anos e das graças que me prodigalizastes após tantos ultrajes da minha parte, deveria fazer-me arder sem cessar de amor por nós. Vinde, pois, meu Jesus, não quero mais repelir-vos; vinde habitar em meu pobre coração. Amo-vos e quero amar-vos sempre; inflamai-me cada vez mais recordando-me sempre o amor que me tivestes.

Minha Rainha e minha Mãe, ajudai-me, pedi a Jesus por mim: fazei que durante o resto da minha vida, eu seja grato para com esse Deus que tanto me te amado mesmo depois de haver recebido de mim tantas ofensas.

 (SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” – Edição Pdf Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs.171/173)

 

 

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