domingo, 20 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (XXIII)

 



Segunda-Feira da semana do Natal 

 COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 - QUATRO UTILIDADES DA ENCARNAÇÃO

 As utilidades da Encarnação do Senhor são quatro.

1ª) Exaltação da natureza humana. Quem vai me dar, lê-se no Cântico dos Cânticos, posso encontrá-lo lá fora? (8, 1). A Glosa comenta assim: dentro estava o amado, quando no princípio estava o Verbo; fora quando o Verbo se fez carne. Para te beijar, ou seja, para te ver cara a cara o rosto, e falar com você de boca em boca; e ninguém me despreza mais, a Glosa acrescenta: depois que Cristo veio, infundindo aos seus com o espírito de liberdade; então a Igreja é homenageada pelos Anjos. Para o qual o anjo disse para João que queria adorá-lo: “Cuidado, não faça isso, porque eu sou um servo como você” (Ap 22, 9). E o Papa São Leão diz: Reconheça, oh cristão, a sua dignidade, e feito participante da natureza divina, não volte a antiga vileza com uma vida degenerada.

2ª) Adoção dos filhos. Deus enviou seu filho para que possamos receber a adoção de filhos (Gal 4, 4-5). Santo Agostinho diz: “O Filho de Deus tornou-se filho do homem para fazer dos homens filhos de Deus”. E em outro lugar: "O Filho único fez muitos filhos de Deus. Pois Ele comprou os irmãos para si com seu próprio sangue; réprobo, ele reabilitou; vendido, redimiu; injuriado, honrou; executado, vivificou; sem dúvida alguma te dará seus bens aquele que não desdenhou receber seus males."

Deve-se notar que a linhagem adotiva é uma espécie de semelhança de filiação natural. O Filho de Deus procede naturalmente do Pai como Verbo intelectual, sendo um com o pai. Agora, a criatura é assimilada ao Verbo eterno de acordo com a unidade que ele tem com o Pai, o que é verificado pela graça e pela caridade. Para o que o Senhor pede ao Pai: eu oro para que eles também sejam uma só coisa em nós, assim como tu, Pai, em mim e eu em ti (Jo 17, 21). Esta semelhança aperfeiçoar a adoção porque desta forma a herança é devida ao assimilado.

3ª) Reflexão interna da alma. Santo Agostinho diz; "Para o homem comer o pão dos Anjos, o criador dos Anjos tornou-se homem ". E São Bernardo: “O maná desceu do céu, alegrem-se os famintos”. Sobre as palavras do Evangelho: Colocado na manjedoura (Lc 2,12) diz a Glosa: para nos saciar com o trigo de sua carne.

4º) Aumento da bem-aventurança. “Quem entrar por mim, vai ser salvo; e entrará e sairá e encontrará pasto”(Jo 10,9). E Santo Agostinho acrescenta: “Deus se fez homem, para abençoar o homem, para que o homem se entregue totalmente a Ele, para que o homem lhe desse todos os seus amores, e vê-lo na carne com os sentidos corporais, os sentidos da alma veja pela contemplação da divindade. E aqui está todo o bem do homem, quer entre, quer saia (quer nasça, quer morra), encontrará pastagens em seu Criador; fora, na carne do Salvador; dentro, na divindade do Criador." (De humanitate Christi)

 (Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 MEDITAÇÕES PARA OS DIAS DA NOVENA DO NATAL

 6º Dia

 Factus sum sicut homo sine adjutorio, inter mortuos liber. Tornei-me como um homem sem socorro, abandonado entre os mortos (Sl 87,5).

Considera os sofrimentos de Jesus Cristo no seio de sua Mãe, onde esteve como numa prisão durante nove meses. É verdade que as outras crianças se acham no mesmo estado, mas não lhe sentem os incômodos, porque os não conhecem. Jesus, ao contrário, tinha pleno conhecimento deles, pois desde o primeiro instante de sua vida, teve o perfeito uso da razão.
Possuía os sentidos e não podia servir-se deles; tinha olhos e não podia ver; tinha língua e não podia falar; tinha mão e não podia estendê-las; tinha pés e não podia andar, de sorte que durante nove meses teve de ficar no seio de Maria como um morto encerrado num sepulcro: Como um homem sem socorro,
abandonado entre os mortos.
Era livre, porque voluntariamente se fizera prisioneiro de amor naquele cárcere; mas o amor o privava da liberdade e lá o conservava tão estreitamente preso, que não podia mover-se: ele era livre, porém, entre os mortos.

Ó paciência do Salvador! exclama Santo Ambrósio ao considerar os sofrimentos de Jesus no seio de Maria. O seio de Maria foi pois para o nosso Redentor uma prisão voluntária, porque era uma prisão de amor; não foi todavia uma prisão de injusta: Jesus era inocente, mas se oferecera para pagar as nossa dívidas e expiar as nossas iniqüidades. É pois com razão que a divina justiça o conservou assim encerrado, começando a exigir por esta primeira pena a satisfação que lhe era devida. Eis a que se reduz o Filho de Deus por amor dos homens: priva-se de sua liberdade e se coloca em cadeias para livrar-nos das cadeias do inferno. E nós poderíamos sem injustiça não corresponder com gratidão e amor à bondade daquele que, sem estar a isso obrigado, mas por puro afeto para conosco, se fez nossa caução e nosso libertador, que se ofereceu para pagar nossas dívidas e de fato as pagou com sua vida divina, e se carregou das penas devidas aos nossos crimes? Não te esqueças, diz o Sábio, do benefício que te fez o que ficou por teu fiador, porque ele expôs a sua vida por ti.

Afetos e Súplicas.

 Sim, meu Jesus, o vosso profeta tem razão de advertir-me a não esquecer a graça inapreciável que me fizestes. Eu era o devedor, o culpado; e vós inocente, vós, o meu Deus, quisestes expiar minhas faltas com vossas dores e com a vossa morte. Mas eu, depois disso, esqueci os vossos benefícios e o vosso amor e tive a audácia de voltar-vos as costas, como se não fosseis o meu soberano Senhor, e um Senhor que me amou tanto! Mas, meu caro Redentor, se no passado fui ingrato, estou resolvido a não cometer mais a mesma falta: os vossos sofrimentos e a vossa morte serão o objeto contínuo dos meus pensamentos; recordar-me-ão sem cessar o amor que me tendes. Maldigo esses dias em que, esquecido do que sofrestes por mim, fiz uso tão mau da minha liberdade; vós ma destes para eu vos amar, e dela me servi para vos ultrajar! Mas hoje, consagro-vos inteiramente essa liberdade que recebi de vós.

Por favor, Senhor, preservai-me da desgraça de me ver outra vez separado de vós e caído na escravidão de Lúcifer. Prendei minha pobre alma aos vossos sagrados pés pelas cadeias do vosso amor a fim de que se não separe jamais de vós. — Padre eterno, pelo cativeiro de Jesus no seio de Maria, livrai-me das cadeias do pecado e do inferno. E vós, ó Mãe de Deus, socorrei-me. Tendes o Filho do Altíssimo encerrado em vosso seio e estreitamente unido a vós: já que Jesus é vosso prisioneiro, fará o que lhe disserdes, ah! dizei-lhe que me perdoe, dizei-lhe que me torne santo. Ajudai-me, minha Mãe, eu vos conjuro pela graça e honra de Jesus Cristo vos fez de habitar nove meses em vós.

(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” – Edição Pdf Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs.169/171)

 

 

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