Segunda-Feira da semana do Natal
1ª) Exaltação da natureza humana. Quem vai me
dar, lê-se no Cântico dos Cânticos, posso encontrá-lo lá fora? (8, 1). A Glosa
comenta assim: dentro estava o amado, quando no princípio estava o Verbo; fora
quando o Verbo se fez carne. Para te beijar, ou seja, para te ver cara a cara o
rosto, e falar com você de boca em boca; e ninguém me despreza mais, a Glosa
acrescenta: depois que Cristo veio, infundindo aos seus com o espírito de
liberdade; então a Igreja é homenageada pelos Anjos. Para o qual o anjo disse para
João que queria adorá-lo: “Cuidado, não faça isso, porque eu sou um servo como
você” (Ap 22, 9). E o Papa São Leão diz: Reconheça, oh cristão, a sua
dignidade, e feito participante da natureza divina, não volte a antiga vileza
com uma vida degenerada.
2ª) Adoção dos filhos. Deus enviou seu filho
para que possamos receber a adoção de filhos (Gal 4, 4-5). Santo Agostinho diz:
“O Filho de Deus tornou-se filho do homem para fazer dos homens filhos de
Deus”. E em outro lugar: "O Filho único fez muitos filhos de Deus. Pois
Ele comprou os irmãos para si com seu próprio sangue; réprobo, ele reabilitou;
vendido, redimiu; injuriado, honrou; executado, vivificou; sem dúvida alguma te
dará seus bens aquele que não desdenhou receber seus males."
Deve-se notar que a linhagem adotiva é uma
espécie de semelhança de filiação natural. O Filho de Deus procede naturalmente
do Pai como Verbo intelectual, sendo um com o pai. Agora, a criatura é
assimilada ao Verbo eterno de acordo com a unidade que ele tem com o Pai, o que
é verificado pela graça e pela caridade. Para o que o Senhor pede ao Pai: eu
oro para que eles também sejam uma só coisa em nós, assim como tu, Pai, em mim
e eu em ti (Jo 17, 21). Esta semelhança aperfeiçoar a adoção porque desta forma
a herança é devida ao assimilado.
3ª) Reflexão interna da alma. Santo Agostinho
diz; "Para o homem comer o pão dos Anjos, o criador dos Anjos tornou-se
homem ". E São Bernardo: “O maná desceu do céu, alegrem-se os famintos”.
Sobre as palavras do Evangelho: Colocado na manjedoura (Lc 2,12) diz a Glosa:
para nos saciar com o trigo de sua carne.
4º) Aumento da bem-aventurança. “Quem entrar
por mim, vai ser salvo; e entrará e sairá e encontrará pasto”(Jo 10,9). E Santo
Agostinho acrescenta: “Deus se fez homem, para abençoar o homem, para que o
homem se entregue totalmente a Ele, para que o homem lhe desse todos os seus
amores, e vê-lo na carne com os sentidos corporais, os sentidos da alma veja
pela contemplação da divindade. E aqui está todo o bem do homem, quer entre,
quer saia (quer nasça, quer morra), encontrará pastagens em seu Criador; fora,
na carne do Salvador; dentro, na divindade do Criador." (De humanitate
Christi)
Considera os sofrimentos de Jesus
Cristo no seio de sua Mãe, onde esteve como numa prisão durante nove meses. É verdade
que as outras crianças se acham no mesmo estado, mas não lhe sentem os
incômodos, porque os não conhecem. Jesus, ao contrário, tinha pleno
conhecimento deles, pois desde o primeiro instante de sua vida, teve o perfeito
uso da razão.
Possuía os sentidos e não podia servir-se deles; tinha olhos e não podia ver;
tinha língua e não podia falar; tinha mão e não podia estendê-las; tinha pés e
não podia andar, de sorte que durante nove meses teve de ficar no seio de Maria
como um morto encerrado num sepulcro: Como um homem sem socorro,
abandonado entre os mortos. Era livre, porque voluntariamente se fizera
prisioneiro de amor naquele cárcere; mas o amor o privava da liberdade e lá o
conservava tão estreitamente preso, que não podia mover-se: ele era livre,
porém, entre os mortos.
Ó paciência do Salvador! exclama
Santo Ambrósio ao considerar os sofrimentos de Jesus no seio de Maria. O seio
de Maria foi pois para o nosso Redentor uma prisão voluntária, porque era uma
prisão de amor; não foi todavia uma prisão de injusta: Jesus era inocente, mas
se oferecera para pagar as nossa dívidas e expiar as nossas iniqüidades. É pois com razão que a
divina justiça o conservou assim encerrado, começando a exigir por esta
primeira pena a satisfação que lhe era devida. Eis a que se reduz o Filho de
Deus por amor dos homens: priva-se de sua liberdade e se coloca em cadeias para
livrar-nos das cadeias do inferno. E nós poderíamos sem injustiça não
corresponder com gratidão e amor à bondade daquele que, sem estar a isso
obrigado, mas por puro afeto para conosco, se fez nossa caução e nosso
libertador, que se ofereceu para pagar nossas dívidas e de fato as pagou com
sua vida divina, e se carregou das penas devidas aos nossos crimes? Não te
esqueças, diz o Sábio, do benefício que te fez o que ficou por teu fiador,
porque ele expôs a sua vida por ti.
Afetos e Súplicas.
Por favor, Senhor, preservai-me
da desgraça de me ver outra vez separado de vós e caído na escravidão de
Lúcifer. Prendei minha pobre alma aos vossos sagrados pés pelas cadeias do vosso
amor a fim de que se não separe jamais de vós. — Padre eterno, pelo cativeiro
de Jesus no seio de Maria, livrai-me das cadeias do pecado e do inferno. E vós,
ó Mãe de Deus, socorrei-me. Tendes o Filho do Altíssimo encerrado em vosso seio
e estreitamente unido a vós: já que Jesus é vosso prisioneiro, fará o que lhe
disserdes, ah! dizei-lhe que me perdoe, dizei-lhe que me torne santo. Ajudai-me,
minha Mãe, eu vos conjuro pela graça e honra de Jesus Cristo vos fez de habitar
nove meses em vós.
(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” – Edição Pdf Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs.169/171)
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