quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO (XXXII)


 

A SAGRADA FAMÍLIA: JESÚS, MARÍA E JOSÉ

COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 Sendo Maria, sua mãe, casada com José ... (Mat 1,18).

1. Houve um casamento verdadeiro? Deve ser respondido afirmativamente, porque existiam os três bens do casamento, a saber: a prole, O próprio Deus; fidelidade, visto que não houve adultério; e sacramento, porque houve uma união indissolúvel de almas.

Mas como o casamento existiu se o voto impede a contratação casamento?. Visto que a Santíssima Virgem fez voto de virgindade, parece que não houve casamento verdadeiro. É preciso dizer que (Maria)  estava angustiada com duas coisas. Por um lado, ficou assombrada pela maldição da lei pela qual a mulher estéril estava sujeita; por outro lado, o propósito de manter a castidade; e por isso não se acredita que, antes de se casar com José, ela tivesse feito voto absoluto de virgindade, mas apenas sob condição se agradasse a Deus; E mesmo se quisesse, ainda  tinha que submeter sua vontade à vontade divina. Mas depois, uma vez que tomou marido, conforme o exigiam os costumes daqueles tempos, e depois que tomou conhecimento daquilo que era agradável a Deus, fez voto absoluto de virgindade de comum acordo com José, e isto precisamente antes do anúncio do Anjo, pois a ele respondeu: “Como vai ser isso possível, porque eu não conheço homem?” (Lc 1,34), que não teria dito, é verdade, se não tivesse primeiro dedicado sua virgindade a Deus. (In Mat., I e 3ª q. XXVIII, a. 4)

II. Era conveniente para Cristo nascer de uma virgem prometida, já por Ele mesmo, ora por sua mãe, ora por nós.

Por causa do próprio Cristo: 1º, para que ele não fosse rejeitado pelos infiéis como nascido ilegitimamente; 2º, para que, segundo a forma costumeira, sua genealogia pudesse ser descrita por linha masculina; 3º, para tutela da criança nascida, para que o diabo não procurasse mal contra ela com aumento da violência; É por isso que Santo Inácio diz que ela se casou para esconder o parto ao diabo; 4º, para ser sustentada por São José; e é por isso que foi chamou seu pai como um educador.

Por motivo da Virgem: 1º, porque por isso foi libertada da pena, isto é, para que ela não fosse apedrejada pelos judeus; 2 °, para se livrar da infâmia; o Senhor preferiu que alguns duvidassem de sua origem ao invés de duvidar da modéstia da mãe, pois sabia que a modéstia da virgem é delicada, e julgou que seu nascimento não deveria prejudicar a fidelidade da mãe; 3º, para que São José pudesse ajudá-la, já quando ela fugiu para o Egito, já depois voltar de lá.

Foi conveniente para nós: 1º, porque pelo depoimento de José foi provado que Cristo nasceu de uma virgem, pelo que Santo Ambrósio diz: “Como a testemunha mais eloqüente da modéstia de Maria é seu marido, que poderia reclamar da lesão e vingar a desgraça, se não conhecesse o mistério"[1]; 2º, porque as mesmas palavras da virgem mãe, que testemunha sua virgindade, se tornam mais confiáveis; já que a noiva não tinha razão para mentir, já que o prêmio do casamento e a graça do casamento é a fecundidade das mulheres; 3º, porque isso é simbolizado em toda a Igreja, que sendo virgem, casou-se com um só varão, Cristo. Também pode haver outra razão pela qual a mãe do Senhor era desposada e virgem, que em sua pessoa fossem honrados a virgindade e o matrimônio contra hereges que atacaram um e outro. (3º q. XXIX, a. 1)

  

(Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 

MEDITAÇÕES DE SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO PARA A OITAVA DE NATAL E OS DIAS SEGUINTES ATÉ A EPIFANIA.

- JESUS NASCE MENINO.

Pai celeste, eu miserável pecador digno do inferno, nada tenho para oferecer-vos as lágrimas, as penas, o sangue, a morte desse Menino inocente, que é vosso Filho, e peço-vos misericórdia por seus méritos. Se não tivesse esse divino Filho para vo-lo oferecer, estaria perdido, e não haveria mais esperança para mim; mas vós mo destes a fim que, oferecendo-vos os seus méritos,  tenha esperança de salvação. Senhor, bem grande foi minha ingratidão, porém maior ainda é a vossa misericórdia. E que maior misericórdia podia eu esperar de vós que de me dardes o vosso próprio Filho por Redentor e como vítima que eu vos pudesse oferecer por meus pecados? Pelo amor de Jesus Cristo,  perdoai as minhas ofensas; arrependo-me de todo o coração de vos haver desgostado, Bondade infinita! E também pelo amor de Jesus dai-me a santa perseverança. Ah! meu Deus, se tornasse a ofender-vos depois que me esperastes com tantas paciência. me aclarastes com tantas luzes, e me perdoastes com tanto amor, não mereceria um inferno criado expressamente para mim? Ah! meu Pai, não me abandoneis; tremo ao pensar nas infidelidades de que me tornei culpado para convosco; quantas vezes vos voltei as costas depois de ter prometido amar-vos! Ó meu Criador, não permitais tenha eu a deplorar a desgraça de ver-me de novo privado da vossa graça e separado de vós. Não permitais me separe de vós! Não permitais me separe de vós! Repito essa prece e quero repeti-la até o derradeiro suspiro de minha vida; mas dai-me a graça de repeti-la sem cessar Não permitais me separe de vós! Meu
Jesus, ó caro Infante, prendei-me a vós pelas cadeias do vosso amor; amo-vos e quero amar-vos eternamente; não permitais me separe jamais de vosso amor. Amo-vos também, Maria, minha Mãe; dignai-vos amar-me também, e como penhor de amor, obtende-me a graça de não cessar jamais de amar o meu Deus.

(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” – de Santo Afonso Maria de Ligório – Coleção Clássicos da Espiritualidade Católica, págs. 182/183)

 



[1] Super Luc., cap. I, In mense sexto




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