(COMENTÁRIOS DE DR. PLÍNIO CORREA DE OLIVEIRA SOBRE A SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA)
Em 18 de dezembro inicia-se a última semana
do Advento, denominada pela Igreja de “semana de expectação”, já com as vistas
postas na festa do Natal. Durante esse período, a Esposa Mística de Cristo
imagina o júbilo e a esperança da Santíssima Virgem diante do fato de que o
Messias haveria de nascer, e Ela veria por fim a face bendita do Filho que
estava gerando em seu imaculado seio.
Novos esplendores
conhecidos pela divina Mãe
Há anos Nossa Senhora vinha suplicando a Deus
que apressasse a chegada do Redentor e, sendo sua oração insondavelmente
agradável ao Padre Eterno, d’Ele tudo alcançando, foi atendida nos seus rogos,
e a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade afinal tomaria nossa natureza e
habitaria entre nós. Maria foi convidada a ser a Mãe do Verbo, aceitou e gerou
em seu claustro virginal o Filho do Altíssimo.
Ao longo dos nove meses de gestação, ia Ela
concebendo a fisionomia adorável que Ele teria, e ao contemplar a face do
Menino já nascido conhecerá um esplendor novo, uma maravilha nova a respeito da
alma e da personalidade d’Ele. Verá chega a redenção para a humanidade e o
triunfo da glória de Deus sobre um estado de coisas marcado, durante milênios,
pelo pecado original e pela influência do demônio.
Numa palavra, a Santíssima Virgem sente
aproximar-se o reino de Nosso Senhor Jesus Cristo, restando apenas uma semana
para que, pelo nascimento do Salvador, o império de Satanás sofra um golpe
mortal e comece a derrocar.
A expectativa de
todos os séculos posta na véspera do Natal
Tal conjuntura cumula de esperança a alma da
Mãe de Deus, e por isso Ela é chamada, nesse período, Nossa Senhora da
Expectação, ou Nossa Senhora da Esperança, ou ainda Nossa Senhora do Ó.
Esta última invocação se explica pelo fato de
que, em cada um desses sete dias, a Igreja canta no Ofício Divino, uma antífona
que começa pela exclamação “Ó”.
Exprimem elas as alegrias de Nossa Senhora ao
perceber dentro de si o Corpo de Jesus já completo, seus primeiros movimentos,
e a idéia de que Ele ali orava ao Pai, como de dentro do mais prodigioso dos
sacrários, assim como o Santíssimo Sacramento, hoje, hoje, reza no interior dos
tabernáculos nos altares de todo o mundo.
O intenso desejo de Nossa Senhora de dar à
luz o Verbo Encarnado continha e sublimava os anseios de todos os profetas do
Antigo Testamento por Aquele que, afinal, viesse a redimir o gênero humano,
esmagar o cetro de fumaça do demônio e apagar, pelo sacramento do Batismo por
Ele instituído, a mancha original herdada de nossos primeiros pais. De fato, as
exclamações “vinde, ó Emanuel! Ó Rei das nações!”, etc., expressam os pedidos
de Adão, o qual, após a queda, recebeu de Deus a promessa do Salvador, e ele
viveu e morreu com essa esperança. Viveu e morreu na alegria penitencial de ser
o antepassado do Redentor que, agora, achava-se no claustro imaculado de Maria
Virgem.
Portanto, todas as expectativas de todos os
séculos se concentravam nesses dias e nesses momentos que antecediam de tão
perto o Natal.
Realização dos anseios
do Antigo Testamento
Consideremos, pois, essas invocações.
Ó Sabedoria, que saístes da boca do
Altíssimo, e atingis até os confins todo o universo e com força e suavidade
governais o mundo inteiro: vinde ensinar-nos o caminho da prudência.
Ó Adonai, chefe da casa de Israel, que
aparecestes a Moisés no fogo da sarça ardente e lhe destes a Lei no Monte
Sinai, vinde restaurar-nos com a força de vosso braço.
Há mais de mil anos os hebreus meditavam
sobre o episódio da sarça ardente e sabiam que Deus apareceria ao povo eleito
de um modo muito mais real e palpável do que a Moisés. Donde o pedido que assim
poderia ser expresso: “Vinde, ó Senhor,
renova aquele feito, porém com uma excelência incomparavelmente maior”.
Ó Raiz de Jessé, que estais de pé como sinal
dos povos, diante do qual os reis guardarão silêncio e a quem os povos hão de
invocar, vinde libertar-nos, não tardeis.
Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu da raiz de
Jessé, ou seja, da Casa real de David (filho de Jessé), à qual pertencia a
Virgem Maria. Diz a antífona que Jesus será invocado por todos os povos da
Terra e diante d’Ele todos os reis ficarão mudos. Por isso implora: “vinde a
nós, não tardeis”, pois a humanidade geme e não pode mais esperar pela
libertação.
“Vinde salvar-nos,
Senhor nosso Deus!”
Ó Chave de David e cetro da Casa de Israel,
que abris e ninguém fecha, fechais e ninguém abre, vinde e tirai do cárcere o
prisioneiro imerso nas trevas e nas sombras da morte.
Nosso Senhor fecha e ninguém abre, abre e
ninguém fecha, quer dizer, Ele possui o domínio de todas as coisas.
Ó oriente, esplendor da luz eterna e sol de
justiça, vinde e iluminai aqueles que estão envolvidos pelas sombras da morte.
Em linguagem teológica, “justiça” designa o
conjunto de todas as virtudes, o estado de graça.
O Redentor Divino é o “esplendor da luz
eterna” e, por outro lado, o sol de todas as virtudes, iluminando os que vivem
nas trevas e nas sombras da morte, ou seja, presos dos vícios e dos pecados.
De fato, Nosso Senhor veio ao mundo e da sua
luz infinita nasceu a civilização cristã, com seus fulgores de santidade
bafejada pela graça.
Ó Rei das nações e por elas desejado, pedra
angular que reunis os dois povos [judeus e gentis], vinde e salvai o homem que
formastes do lodo da terra!
Jesus Cristo é a pedra angular de toda a
ordem humana e n’Ele os dissídios se reconciliam verdadeiramente, e não de um
modo relativista. Além disso, o Filho de Deus salva o homem, criado do limo da
terra.
E estando o Natal iminente, exclama-se:
Ó
Emanuel, nosso Rei e Legislador, esperança e salvação das nações, vinde
salvar-nos, Senhor nosso Deus!
São exclamações de tal maneira repassadas
pelo desejo e fervor que quase se sente
Cristo prestes a nascer, bem como a alegria de todas as nações esperando seu
Salvador.
Pedir a implantação do Reino de Maria
Essas
belas antífonas nos sugerem uma consideração sobre a época atual.
Disse o
Papa Pio XI em sua encíclica Divini Redemptoris, escrita em 1932, que o mundo resgatado por Nosso Senhor Jesus Cristo se
encontrava naquela época numa situação lastimável, ameaçado de cair mais baixo
do que antes da Redenção.
Ora,
com o passar das décadas esse estado lastimável do mundo não fez senão se
agravar, a impiedade e a imoralidade grassando sem freios nos mais diversos
ambientes da sociedade humana.
Razão
pela qual ansiamos por uma renovação da face da Terra, um como que irresistível
revigoramento dos frutos da Redenção -
de si definitiva e super-eficiente – aplicado aos homens de nosso tempo, para
que, regenerados e reconciliados com o Divino Salvador, trabalhem pela
implantação do Reino de Maria.
Nas
vésperas do Natal, essas antífonas devem exprimir um pedido ao Menino por
intercessão de Nossa Senhora: assim como Ele atendeu a prece da Virgem
Santíssima e apressou sua vinda ao mundo, abrevie igualmente os presentes dias
e faça sentir sua ação mais enérgica, triunfal, invencível para reimplantar seu
reino. E reimplantá-lo sob o aspecto mais requintado, magnífico, ou seja, Nosso
Senhor reinar por Maria, com Maria e em Maria.
Rezemos
com a firma confiança de que essa graça insigne nos será concedida, e assim
transporemos com alegria, não só os dias piedosos que circundam a festa de
Natal, mas também os umbrais do ano vindouro.
(Revista “Dr.
Plínio”, n. 105, dezembro de 2006, pp.
19/22)
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