No século XVI, Nossa Senhora apareceu em
Tepeyac, no México, ao índio João Diego. A Virgem o tratou com bondade e
ternura especiais, como não se percebe em outras aparições d’Ela, mesmo na de
Fátima onde Maria Santíssima entretanto se manifesta tão solícita e
misericordiosa.
A “menina dos olhos”
de Nossa Senhora
A liberdade desse indígena para com a Mãe de
Deus era tão grande que, em vez de chamá-la, por exemplo, “minha Rainha”,
dizia-Lhe “minha Filhinha”. Hábito realmente contrário ao protocolo, mas aceito
com tanta benevolência por Nossa Senhora que, séculos depois, a partir dos
avanços da tecnologia, constatar-se-ia numa fotografia da imagem que a figura
do índio se acha impressa na pupila dos olhos da Virgem. O objeto daquele
singular carinho de Maria estava assim imortalizado.
Como se sabe, em português, quando se diz de
alguém ser “a menina dos meus olhos”, significa estar ele no ponto mais
sensível e central de minha atenção e consideração, de meu afeto. Ora, esse
simbolismo realizou-se ao pé da letra, na visão de Nossa Senhora de Guadalupe.
O fato de Nossa Senhora ter se manifestado
tão extremamente carinhosa e benigna em relação a esse indígena
latino-americano foi uma forma de exprimir um particular desvelo em relação ao
continente ao qual ele pertencia. Sim, pois não é exagero pensar que aos olhos
d’Ela, João Diego representava toda a América Latina. E cada de um de nós,
simbolizado por esse índio, estava espelhado nos olhos de Maria. Idéia esta que
não encerra nenhum disparate, posto ter a Santa Sé declarado Nossa Senhora de
Guadalupe como Padroeira da América Latina.
Milagre confirmado
pela técnica moderna
É interessante salientar, uma vez mais, que o
milagre dessa estampa foi confirmado pela técnica moderna, mediante
amplificações fotográficas, etc., conforme noticiou certa vez um importante
diário carioca:
“Após oito anos de intensas pesquisas, uma
comissão de oculistas, químicos, optometristas e desenhistas mexicanos
confirmou que os olhos da imagem da Virgem de Guadalupe refletem a fisionomia
de Juan Diego, o índio a quem a Senhora apareceu quatro vezes. A comissão
declarou que se trata “de figura de um busto de um homem simetricamente
colocado (isto é, em cada retina) e que corresponde ao reflexo da córnea de
acordo com as leis da ótica”[1].
Quer dizer, se olho para algo, de acordo com
as leis da ótica este algo se reflete em minha retina. Continua a notícia:
“O desenhista Salinas Chaves, que fez a
descoberta em 1951 quando examinava fotografias ampliadas do rosto da imagem,
propôs que Juan Diego fosse canonizado![2]
A imagem recebe anualmente a visita de mais de três milhões de fiéis”[3].
É deveras bonito que, com o auxílio de
aparelhos modernos e empregando-se conhecimentos científicos atuais, fique
provado que uma pintura dessa natureza não foi produzida por meios humanos.
Isto demonstra a intervenção do fator sobrenatural e nos deixa maravilhados. É
uma confirmação insuspeita do milagre.
Uma imensa família de
nações católicas
Posta essa extraordinária constatação,
devemos nos voltar de modo especial para Nossa Senhora de Guadalupe como
Padroeira da América Latina.
No noticiário internacional de nossos dias
fala-se muito no bloco latino-americano como um todo, vincando-se a idéia de
que este constitui uma imensa família de nações, no sentido católico da
palavra. Um bloco, diga-se, e o esperamos ardentemente, que ainda há de ser
esculpido pela Providência para se tornar uma das obras-primas da História.
Ora, essa unidade da América Latina se viu
corroborada justamente pelo fato de ter uma Padroeira sob a invocação de Nossa
Senhora de Guadalupe, e a coesão deste todo é tão real que, nos domínios de
Maria Santíssima, constitui um feudo à parte, sobre o qual Ela deposita
particulares desígnios.
Missão de levar ao
píncaro a cultura católica
Importa reconhecer que a América Latina
representa a herança legada pela Europa católica a este século e aos vindouros.
O espírito latino, riquíssimo entre as variantes existentes no gênero humano,
possui singular aptidão para as coisas mais elevadas – e, portanto, para as
verdades da Fé, para o sobrenatural – que o torna um dos elementos mais
preciosos da Igreja Católica.
A latinidade conservou relativamente imunes
os valores mais nobres da tradição que a formou. Os povos latinos se
modernizaram menos que os americanos do norte e os europeus, e nisto consiste,
sob algum aspecto, nosso glorioso “subdesenvolvimento”: ou seja, a distância
que ainda nos separa das coisas ruins advindas com a modernidade.
Percebe-se, pelo acima considerado, que a
Íbero-América tem a missão de levantar e colocar num píncaro o facho da cultura
latina católica, inteiramente a serviço da Fé, para brilhar no mundo. Fora
disso, ela não tem sentido.
Essa cultura católica está derribada,
prostrada, mas revive em nosso continente com todo o viço da juventude e com
possibilidades de futuro, conservando e avultando os legados recebidos das expressões
culturais incomparáveis da cristandade européia. Somos o renascimento e o
reflorescimento desses valores nas zonas protegidas por Nossa Senhora de
Guadalupe.
Fervorosa súplica à
Virgem de Guadalupe
Assim, devemos ter a alma bem impostada para
pedirmos a Ela, no dia em que a celebramos: antes de tudo, que mantenha a
América Latina cada vez mais sujeita e unida a Ela. E, por isso mesmo, com
todos os vínculos que constituem sua coesão ainda mais acentuados. E que esse
imenso potencial, ,no momento apropriado, se levante para servir a Sana Igreja,
tornando-se o elemento melhor e mais dinâmico para formar uma nova Civilização
Cristã.
Tem-se, na verdade, a impressão de que a
América Latina está reservada por Nossa Senhora para ser o imenso território
onde a gloria do reino d’Ela reluzirá com maior esplendor. Assim, podemos
acrescentar essa súplica:
“Nossa Senhora de Guadalupe, realizai em nós
esses desígnios a fim de que, quanto antes, venha sobre nós, para nós, o Reino
de Maria. Amém.”
(Revista “Dr. Plínio”,
n. 105, dezembro de 2006, pp. 24/29)
[1]
Muitos anos após esta conferência do Dr. Plínio, através de recursos mais
modernos de análises óticas verificou-se que estavam refletidas nos olhos da
Virgem não somente a figura do índio Juan Diego, mas de todos os personagens
presentes no episódio milagroso(em torno de 13 pessoas).
[2] O
que, de fato, aconteceu, sendo canonizado pelo Papa João Paulo II em 31 de
julho de 2002.
[3]
Cf. “O Globo”, de 3/1/1975.
Nenhum comentário:
Postar um comentário