(cOMENTÁRIOS DE DR. PLÍNIO CORRÊA DE OLIVEIRA SOBRE A SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA)
Hoje é
festa da transladação da Santa Casa de Loreto (Itália), a casa de Nossa Senhora
em Nazaré, onde Jesus passou sua adolescência, de volta do Egito. Sua relíquia
se venera em nossa Capela.
A respeito
da transladação da Santa Casa de Loreto, há este fato narrado por Rohrbacher:
“Desejava-se
enriquecer a Santa Casa de Loreto, realizando nela algumas melhorias, mas os
arquitetos que iniciavam nela qualquer trabalho sofriam estranhos castigos que
os obrigavam a abandonar o que haviam empreendido. Finalmente, o Papa Clemente
VII [Giulio de Medici (1478-1534; pontificado de 1523 a 1534)] ordenou
expressamente ao Clérigo de Ventura Perini, entendido no oficio, uns certos
trabalhos, explicando à Santíssima Virgem que era ordem do Papa.
Perini,
depois de passar três dias em jejum e oração, obedeceu. Acompanhado de grande
multidão, aproximou-se da casa, ajoelhou-se e disse: ‘Com confiança, peço-te ó
Santa Casa, da mais pura das virgens, que me perdoe; não é por mim que
martelarei as paredes sagradas, mas a mando de Clemente, Vigário de Jesus
Cristo, todo ele no ardor que o anima de te embelezar. Permita, ó Maria, que
possa me desincumbir do que for necessário’. E as obras continuaram
normalmente”.
O fato é
verdadeiramente magnífico porque ele indica que Nossa Senhora quis que a
jurisdição do Vigário do Filho d’Ela sobre todas as coisas sagradas, e mais
especialmente das coisas relevantemente sagradas, que a jurisdição do Vigário
do filho d’Ela ficasse bem clara a propósito desse fato.
Tratava-se
de tocar na Casa de Loreto, mas não havia uma licença explícita do Papa. E
assim, todos os trabalhos se baldavam até que a licença veio. Vindo a licença
do Papa, então a coisa se deixou fazer. Ou seja, é uma espécie de graciosa,
magnífica e significativíssima manifestação do Poder das Chaves, do poder de
ligar e desligar, de mandar, de decidir, de governar todas as coisas,
manifestação essa que afirma a realeza do Papa sobre todas as coisas da Igreja.
Realeza tão augusta e tão sagrada que Nossa Senhora, nesse episódio, toma ares
de se conformar com essa realeza. E esses ares Ela tomou porque quando estava
na vida terrena e São Pedro era o Papa, Ela certamente tributava a São Pedro
toda a veneração que todo e qualquer católico, ainda que seja a Mãe de Deus, a
Rainha do Universo, do Céu e da Terra, deveria ter.
Isto nos
mostra bem qual é verdadeiramente a natureza do Papado. E é sempre oportuno
lembrar isto: o Papado não é um poder como outro qualquer, não é simplesmente
um poder legitimamente constituído de acordo com a ordem natural, um destes
poderes de acordo com as circunstâncias, que podem ser mais ou menos amplos,
mais ou menos altos, mais ou menos elásticos. Portanto também mais ou menos
distantes da massa dos homens.
Mas é um
poder de tal maneira sagrado, e portanto um poder de tal maneira absoluto e
monárquico, que até Nossa Senhora toma ares de obedecer a ele. O que mostra bem
o caráter monárquico da Igreja. E mostra bem que a Igreja não é uma república
mitrada, mas uma verdadeira monarquia, em que o Vigário de Jesus Cristo é o
verdadeiro monarca. Verdade preciosa que nos compete amar mais do que nunca e
que fica indicada aqui como um ensinamento a propósito dessa graça de Nossa
Senhora de Loreto.
E,
por causa disto, também indicando a oração do dia de hoje que deve ser também
para que a todos Nossa Senhora de Loreto nos dê este sentido do valor
monárquico do Papado como expressão profunda da perfeição da Igreja; e da ordem
monárquica das coisas como a maior, a mais adequada, a mais legítima
representação, expressão da ordem profunda das coisas aos olhos dos homens
("Conferência",
10 de dezembro de 1965)
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