Hoje é festa de
Nossa Senhora das Mercês, e temos duas fichas que se completam a esse respeito.
A primeira é "As Ordens resgatadoras" de Dom Guéranger:
“A diferença da
Ordem da Santíssima Trindade (Trinitários), que a precedeu de vinte anos...”
Ou seja, uma outra
Ordem de resgate de cativos presos pelos mouros.
“...a Ordem da
Mercê fundada, por assim dizer, em pleno campo de batalha contra os mouros,
contou mais cavaleiros do que clérigos em sua origem.”
Quer dizer, mais
guerreiros do que sacerdotes concorreram para a fundação dessa Ordem.
“Ela foi nomeada
Ordem Real, Militar e Religiosa de Nossa Senhora da Mercê para a redenção dos
cativos. Seus clérigos se entregavam mais especialmente ao ofício do coro nos
conventos; os cavaleiros vigiavam as costas e se desempenhavam da missão
perigosa do resgate dos prisioneiros cristãos.”
Os senhores estão
vendo que bonito equilíbrio de coisas: o clérigo é feito sobretudo para rezar
pelos cavaleiros. Naturalmente, tinha alguns outros serviços espirituais. Mas a
principal missão era a de orar pelos guerreiros. Então rezavam no ofício
divino. E os cavaleiros lutavam, aproveitando assim as orações e os méritos
acumulados pelos clérigos para eles.
Essa é uma idéia
que sempre me foi muitíssimo simpática: uma verdadeira Ordem religiosa que
tivesse um ramo puramente contemplativo a rezar e a expiar por aqueles que se
consagram à ação, e dar assim à ação uma fecundidade especial. Sempre fui
muitíssimo admirador de uma idéia assim.
“São Pedro Nolasco, que foi o primeiro comendador geral ou Grão Mestre da Ordem, por ocasião do encontro de seus preciosos restos, foi ainda encontrado na sepultura armado de couraça e de espada.”
Os senhores
considerem que coisa linda: o primeiro geral dessa Ordem, um guerreiro leigo,
que vai para a sepultura com a couraça e a espada de sua batalha, disposto a
assim comparecer para o julgamento de Deus. Isso é uma verdadeira maravilha, a
idéia do guerreiro católico.
Que linda relíquia seria se pudéssemos ter para nossa capela a couraça e a espada de São Pedro Nolasco. Ou, digamos, uma cópia fiel que tivesse sido tocada na original e, assim, fosse uma relíquia indireta. Isto já seria uma verdadeira maravilha.
Sob a indicação de Nossa Senhora, surge a Ordem dos Mercedários
Há alguns dados
complementares sobre a Ordem das Mercês:
“A Igreja instituiu
a festa de Nossa Senhora das Mercês por causa da Ordem religiosa fundada a
conselho de Nossa Senhora para resgate dos cativos. Estando os cristãos
escravizados pelos mouros na Espanha, parece que Deus compadeceu-se daqueles
infelizes, expostos a perder a fé e a inocência e sujeitos a toda espécie de
maus tratos.”
Os senhores sabem
que os cristãos que eram aprisionados pelos mouros eram reduzidos à condição de
escravos, e naturalmente não tinha socorro religioso nenhum. Podem imaginar uma
terra de imoralidade, de promiscuidade, o desespero de um homem desses que
cometesse um pecado e que não tivesse padre para se confessar? "Tenho ou
não tenho atrição? Minha atrição não perdoa o meu pecado; terei um padre para
me perdoar esse pecado na hora de minha morte? Como é que vai ser
isso?..."
Os senhores podem
imaginar toda a aflição e as quedas que tal situação deveria acarretar...
Depois, a coisa
pavorosa é que os pagãos antigos, abusando do poder que tinham sobre os
escravos, praticavam com eles toda espécie de imoralidades, de maneira que os
cristãos ficavam expostos às piores coisas.
Então, a compaixão
cristã se concentrou sobre eles e daí, sob a indicação de Nossa Senhora, a
fundação de uma Ordem religiosa especialmente dedicada a isso.
“Depois de São
Pedro Nolasco, São Raimundo de Penaforte e Jaime, rei de Aragão, verificaram
que cada um tinha tido a mesma visão...”
Que coisa linda! É
sempre as coisas poéticas de Nossa Senhora. Ela que aparece ao rei de Aragão, a
um pensador – como era São Raimundo de Penaforte –, a um guerreiro como São
Pedro Nolasco, e aos três recomendou a mesma coisa. Eles se encontram:
"Olha, eu tive... Olha, eu também tive etc. Então vamos fundar a Ordem,
nascida diretamente do sorriso de Nossa Senhora." Uma verdadeira
maravilha, não é?
“Então, não
duvidaram mais e resolveram fundar a Ordem a que dão o nome de Ordem de Nossa
Senhora das Mercês para resgate dos cativos.”
Ter uma devoção
muito filial e muito confiante em Nossa Senhora
Nossa Senhora das
Mercês ─ “mercê” é uma graça, um favor ─ é Nossa Senhora dos favores.
A Igreja, por assim
dizer, não tem invocações suficientes para nos inculcar a idéia dessa
liberalidade de Nossa Senhora, disposta a todo momento a nos dar graças excelentes,
e a nos convidar por aí a pedi-las e a amar Nossa Senhora por ser tão boa
assim.
Então que essa
invocação nos sirva para abrir a alma a esse tipo de relação muito filial e
muito confiante com Nossa Senhora, e que esses guerreiros julgaram essencial
tê-la.
Embora a
"heresia branca"(*) tenha uma porção de coisas risonhas e abobadas, de fato não é nem um
pouco "heresia branca” se confiar ao sorriso de Nossa Senhora, e ter uma
confiança toda especial em Sua misericórdia risonha.
Não eram
"heresia branca" nenhum desses santos. E, menos do que os outros
ainda, seria difícil vê-lo em São Pedro Nolasco, guerreiro que é enterrado com
sua couraça e sua espada...
Assim fica essa
indicação para hoje.
(Conferência, “Santo do Dia”, 24 de setembro de 1965)
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