As considerações abaixo visam fazer com que o leitor tenha plena consciência do que representa o corpo humano perante Deus. Trata-se do templo de Deus. E tendo plena consciência disso devemos tratá-lo como tal: não só respeitando as leis divinas, mas fazendo-se crer que estamos sempre não somente na presença de Deus, mas tendo-O continuamente dentro de nós mesmos, já que nosso corpo é o seu templo vivo.
Nesse sentido o que representa a alma humana
neste templo que é nosso corpo? Ela é o claustro onde Deus se encontra de forma
mais perfeita. Num templo religioso, o edifício é o corpo e o altar (ou o
claustro) é como que a alma do templo, onde Deus é mais adequadamente cultuado,
adorado.
Em vista disso, o nosso corpo merece ser respeitado como coisa admirável, como algo respeitável e venerável, dando-lhe todas as regalias e pompas, mas tudo isso com único objetivo: que cumpra seu papel de templo divino, acolhendo a Santíssima Trindade no seu claustro (que é nossa alma) e prestando-lhe o culto devido.
a) O Templo de Deus
Os primórdios do templo de Deus entre o povo
eleito encontra-se no Monte Mória (Gen 22) quando para lá Deus conduziu Abraão
e pediu que imolasse seu filho Isaac em holocausto. Há também referências a um templo na época
dos Juízes: “E estando o pontífice Heli sentado na sua cadeira à porta do
templo do Senhor” (I Sam 1, 9). Na
realidade, este “templo” era a Arca da Aliança, situada em Silo, uma prefigura
do templo de Salomão.
O rei David deixou tudo pronto para Salomão
fazer a construção do mais majestoso Templo que já houve (I Crôn 22,
1-16). Antes de se iniciar a obra,
porém, Deus falou a Salomão, dizendo: se todos Lhe fossem fiéis, Ele habitará
no meio dos filhos de Israel (“no meio”, quer dizer, no coração, onde se
encontra o verdadeiro templo da Santíssima Trindade); caso não fossem fiéis,
porém, “lançarei para longe de minha presença o templo que consagrei ao meu
nome...” (I Rs 9, 7-8). O Rei David
escrevera nos Salmos: “Dentro de mim orarei ao Deus de minha vida” (Sl 41,9).
demonstrando que era o interior da alma humana que se encontrava o verdadeiro
templo de Deus.
De outro lado, qual a finalidade principal do
Templo? Oração e reparação dos pecados –
que Deus “ouvirá do céu, do lugar de sua morada (I Rs 8, 29-39)”, indicando que
o templo era dedicado à oração e reparação mas não ainda para a adoração de
Deus. E para que serviam os holocaustos? Era uma forma de reparação dos
pecados, mas em si mesmo “não é o holocausto que agrada a Deus, mas o coração
contrito e humilhado” (Sl 50, 18-19). O
sacrifício, todo ele ainda simbólico, não era o que Deus mais apreciava: “o que
eu quero é a misericórdia e não o sacrifício”
(Oséias 6,5). O sacrifício, pois, em si, era inútil para reparar os
pecados a Deus (Os 5,6).
Quando as calamidades estavam prestes a cair
sobre o povo de Israel, o principal castigo foi ele ficar privado de seu
Templo: “O Santuário (o templo) de Jerusalém terá o mesmo destino de Silo” (Jer
7,1-12). Silo era um lugarejo que ficava distante 35 km de Jerusalém, onde
havia ficado a Arca da Aliança desde o tempo de Josué, mas nem por isso foi
salva da destruição no tempo do rei Jeroboão (Jer 7, 22-23). Vê-se mais uma vez
que Deus não considerava importante o local (edifício) nem o holocausto das
vítimas animais, mas “ouvir a voz de Deus”, coisa que se faz com o coração, com
o interior da alma.
E de tal forma o Templo foi abandonado por
Deus que permitiu não só que o destruísse, mas que o amaldiçoasse: “Deus
rejeitou o seu Santuário e o destruiu”. “Amaldiçoou o seu santo lugar” (Lam 2, 6-8). Depois que Nabucodonosor (em
586 a.C.) o destruiu e roubou todos os seus vasos sagrados, levando-os para a
Babilônia juntamente com os cativos, os hebreus imploraram a Deus que lhes
permitisse reconstruí-lo. Deus não tinha pressa: no reino de Dario “ainda não é
chegado o tempo de reedificar a casa do Senhor” (Ageu 1,2), mas em seguida Deus
dizia: “reedifica a minha casa”. Que “casa”
era essa? Explica o Profeta: “aplicai os vossos corações”, indicando que
a casa do Senhor para ser reedificada era, antes de tudo, o coração humano
(Ageu 1,7). Completa o Profeta: “A
glória desta última casa será maior do que a primeira”, que só será
reconstruída quando vier “o desejado de todas as nações” (Ageu 2, 1-10), que a
encherá de glória, quer dizer, a Santa Igreja.
O segundo templo (edifício para prestar culto
público a Deus) é o que foi construído no tempo de Zorobabel (520 a.C,), cujos
trabalhos e guerras estão descritos nos livros de Esdras (3, 1-6) e Neemias (6,
10). Este foi saqueado por Antíoco IV em
168 a.C, conforme consta no livro dos Macabeus (I Mac 22, 24; 4, 36; 35-59).
O terceiro templo foi o de Herodes, iniciado
em 19 a. C., e aparente-mente não foi totalmente concluído, tendo sido
destruído o de Zorobabel para se fazer um novo edifício, suntuoso para
satisfazer o egoísmo dos judeus. Este foi definitivamente destruído pelos
romanos no ano 70 de nossa era e até hoje nunca reconstruído.
Fala-se ainda de um quarto templo, que seria
o descrito pelo Profeta Ezequiel (Ez 40, 43), mas este seria mais um templo
espiritual, representado somente pela Igreja Católica, pois nunca existiu de
fato como edifício ou monumento com aqueles características.
O quinto templo seria o mais perfeito, o
próprio Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por extensão, os corpos dos
demais homens, desde que participantes do Corpo Místico de Cristo. Conforme São
Paulo, este é o verdadeiro templo de Deus:
“Porventura não sabeis que os vossos membros são templo do Espírito
Santo, que habita em vós, que vos foi dado por Deus e que não pertenceis a vós
mesmos?” (I Cor 6, 19). Também no Antigo Testamento há referência sobre o
Templo de Deus no “meio dos homens”, quer dizer, no interior de cada um:
"Vós, pois ensinareis aos filhos de Israel, que se guardem da impureza,
para não morrerem nas suas imundícies, tendo violado o meu tabernáculo, que
está no meio deles". (Levítico 15, 31).
Daí entende-se o sentido da frase de Nosso Senhor, quando disse: “Destruí este Templo, e eu o reconstruirei em três dias” (Jo 2, 19). E deveria haver um entendimento entre os doutores mais cultos de que o “templo de Deus” era o interior do homem. Os judeus replicaram, sem entender ou por malícia, que naquele templo (o edifício) haviam sido gastos 46 anos em sua construção. Realmente, aquele prédio era o terceiro templo erigido pelos judeus, chamado “templo de Herodes
Para que serve o
templo
O templo é dedicado a Deus com três
finalidades fundamentais: oferecimento de holocaustos, oração e reparação dos
pecados e o culto divino (adoração a Deus). Assim, o edifício onde se espelha o
aspecto externo do templo divino deve refletir o que há no interior dos homens
e deve, portanto, propiciar a todos as facilidades de se praticar estas
finalidades. Um templo barulhento ou em
que as cerimônias não convidem à oração e reflexão interior, não levando os
homens à reparação de seus pecados, não conduzem, também, para a verdadeira
adoração a Deus.
Desta forma, o que mais conspurca as
finalidades do verdadeiro templo de Deus é o que se chama hoje de “sincretismo”
religioso, pois a mistura de religiões no templo de Deus leva os homens a
considerar que não há um Deus verdadeiro que nos ensinou um caminho verdadeiro
até Ele. E este sincretismo, esta tendência a misturar as religiões, numa
tentação para agradar a Deus e ao demônio, foi uma constante na História da
humanidade. E talvez não exista homem
algum que tenha procurado ser fiel a Deus, o qual o demônio não haja tentado
com o sincretismo. Foi assim com a feitura do bezerro de ouro no tempo de
Moisés, na construção das sinagogas, na permissão de construção de oráculos e
templos pagãos entre o povo de Israel, e, durante o Cristianismo, esta tentação
foi freqüente em várias épocas, suscitando heresias e pensamentos acomodatícios
deles com a Religião Católica. Até mesmo no tempo da Reconquista Espanhola,
quando alguns cristãos misturavam-se com os mouros e procuravam ser-lhes
agradáveis praticando suas religiões e, ao mesmo tempo, também praticando o
Cristianismo, os chamados “moçárabes”
Esse tipo de mistura, de sincretismo, não é feito somente com a prática externa do culto divino. Também no interior da alma humana é uma forte tentação, pois a maioria procura acomodar os preceitos divinos com suas concepções pessoais sobre Deus e sua Lei, criando para si uma falsa imagem de Deus. Como se trata de ser feliz nesta vida, tudo aquilo que a lei de Deus proíbe pode ser esquecido, pois, nesta concepção, Deus não poderia desejar nossa infelicidade. E assim, de razão em razão, a alma humana vai concebendo concessões por cima de concessões, até aceitar abertamente os pecados mais abomináveis como a coisa mais normal do mundo. É por causa deste espírito que muitos religiosos, até mesmo sacerdotes e bispos, chegam a praticar atos indignos e ofensivos a Deus, como os pecados contra o sexto mandamento e até mesmo o homossexualismo e a sodomia, declarando ser isto a coisa mais normal do mundo e que Deus não os vai levar para o inferno. Contrariam o que disse São Paulo: “Neque fornicarii, neque adulteri, neque molles regnum Dei possidebunt” – Nem os fornicadores, nem os adúlteros, nem os efeminados possuirão o Reino de Deus. (1 Cor 6, 9-10).
Como destruir o
templo interior
No Antigo Testamento a mistura da idolatria
com os princípios divinos era chamada pelos Profetas de “adultério”, o que
seria o mesmo que sincretismo. O adultério sempre foi tido como a simples
traição dos esposos, mas nas Escrituras era usado como metáfora para simbolizar
a mistura de crenças ou a traição a Deus, como consta em Esdras (9, 1-2) e em
outros lugares comparado com a prostituição, principalmente no livro de Oséias
(Os 1, 2): “a terra de Israel não cessa de se prostituir, abandonando o
Senhor”. Este “adultério”, prostituição, sincretismo ou qualquer outra
denominação, reflete um estado de espírito de quem não pratica a Religião da
forma como Deus ensinou, mas sim conforme seus caprichos pessoais.
E tudo isto começa pela maneira como os
homens consideram o templo mais importante, que é o do interior de sua alma.
Eis como destruir o templo da Santíssima
Trindade no claustro da alma:
Os pecados da carne:
1 – Contra o 6º. E o 9º mandamentos, destrói
o trono de Deus no interior da alma humana como fruto das manchas corporais da
impureza;
2 – De outro lado, os pecados, tanto os
solitários quanto os demais, entronizam Satanás no coração humano;
3 – Os pecados coletivos levam o demônio ao
domínio social e a incrementar a conjuração contra Deus;
4 – A inversão da Ordem, os pecados contra a
natureza como a sodomia, instalam o caos do inferno na alma.
Os pecados de orgulho:
1 – A revolta, a impaciência, a busca da
liberdade sem freios, é a rejeição da soberania divina no interior da alma
humana; Peca-se contra o 1º. Mandamento com a adesão de qualquer superstição ou
gnose em detrimento da adesão à verdadeira Fé.
2 – A conjugação de esforços para denegrir,
humilhar e perseguir os bons, principalmente através do respeito humano, faz
parte da conjuração contra Deus;
3 – A indiferença, frieza, desleixo e falta
de respeito nas orações ou nos atos de piedade constitui um ato de vanglória e
de orgulho contra Deus;
4 – A auto-suficiência, falta de humildade e
de retidão nos atos corriqueiros faz a pessoa se presumir de si mesmo como um
outro Deus.
Só há uma maneira de interromper este
processo, salvando a vida, tanto esta terrena quanto a eterna: “Ne impie agas
multum, ne moriaris in tempore non tuo” – Evita pecar com tanta facilidade,
para não vires a morrer antes do tempo (Ecl 7, 18). Esta morte, prematura,
tanto pode ser a terrena quanto a eterna, esta como conseqüência daquela.
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