O mesmo Francisco Spirago também fala sobre a impureza:
“a) É desonesto o que pensa, diz ou faz coisas que ofendem a pureza.
Assim como o casto se assemelha aos lírios, o
desonesto se parece com o espinho, no qual se fere quem o toca. Para expiar os
pecados de impureza se deixou Cristo açoitar tão desumanamente e cingir de
espinhos sua sagrada cabeça.
O desonesto é semelhante aos brutos,
inteiramente dessemelhante a Deus e desagradável à sua divina majestade, e é ao
final desprezado também pelos homens.
Pela impureza o homem se faz uma besta (S.
Bernardo). Isto o entenderam até os pagãos. O sábio Diógenes andava com uma
lanterna na mão pela praça de Atenas, em pleno dia, procurando algo. Como lhe
perguntaram o que procurava; Busco um homem! - disse. Não vês aí muitos homens?
Foi-lhe replicado. Mas ele contestou: Esses não são homens, senão bestas, pois
se deixam guiar por seus bestiais apetites. O impuro é como o porco, que se vê
a um lado um charco lamacento e a outro um leito de rosas, escolhe revolver-se
na lama. Assim o desonesto prefere seus deleites sujos aos gozos do Paraíso (S.
Bernardo). Ao impuro lhe convém as palavras da Escritura Sagrada: O homem,
estando em honra, não a entendeu, e se fez semelhante às bestas irracionais
(Salmos 48, 21). A soberba é o pecado dos anjos, a avareza o dos homens, a
luxúria o dos brutos (S. Bernardo). É baixeza para o homem, que tão alta
dignidade possui, e pela Encarnação está tão perto de Deus, abater-se de um
modo desordenado aos seres inferiores (S. Tomás).
O desonesto é inteiramente "dessemelhante" a Deus. Pelo pecado da impureza mancha o homem a imagem de Deus, que está nele, e ofende a Deus, como ofende a mim o que cospe em minha imagem, ou de outra sorte a enche de imundície (S. Agostinho). O desonesto faz algo parecido ao que lançasse numa fossa uma imagem de Cristo crucificado, pois lança numa fossa a imagem de Deus, que está nele (S. Vicente Ferrer). Porque mancha ao homem, se chama este pecado "impureza". O impuro é em todos os pontos "desagradável a Deus". Quando os homens, nos tempos antigos, incorreram em diversos pecados, até na idolatria, teve Deus paciência com eles; mas quando caíram no pecado de impureza e se afundaram mais e mais nele, encheu-se Deus de tal nojo que se arrependeu de havê-los criado (Gên 6, 6). Por mais que o desonesto se enfeite e exale aroma de perfumes, despede aos olhos de Deus um fedor mais insuportável que o de um cadáver podre (S. Afonso Ligório). O desonesto cheira mal a Deus, aos anjos e aos homens (S. José Cupertino). São Felipe Neri recebeu de Deus a graça de reconhecer as almas puras pelo bom odor e as impuras pelo mal cheiro. Ao impuro se aplicam as palavras das Lamentações de Jeremias: Como se tem obscurecido o ouro e mudado a preciosa cor? Os filhos de Sião, ínclitos e vestidos de ouro puro, como são agora tidos como vasos de barro? Os que comiam voluptuosamente têm abraçado o esterco. Os desonestos são tidos, por seus mesmos próximos, por "pessoas sem honra" e pisoteados como o lodo das praças (Eccli 9, 10). A desonestidade se descobre, geralmente. A desonestidade ama a solidão e quer ser achada em segredo; porém se parece ao fogo escondido, que, mesmo que procure ocultar-se, se descobre pela fumaça e pelo cheiro (S. Vicente Ferrer).
b) Os desonestos incorrem em muitas loucuras e vícios, atraindo duros castigos de Deus e a eterna condenação
A desonestidade é um anzol do demônio, o
qual, aos que picam nesta isca, os conduz á perdição (S. Basílio). O fim deste
pecado é amargo como absinto e agudo como uma espada de dois gumes (Prov 5, 4). Oh, quão amargos são os frutos
do deleite impuro! Amargos como o fel! (S. Jerônimo). O pecado, que te promete
prazer, é doce veneno; não te fies dele! Como o Espírito Santo se afasta do
impuro seu entendimento fica completamente obscurecido. Como o homem pela
impureza se faz besta, não tem já aquela penetração, aquela luz do espírito que
o discernia dos brutos (S. Bernardo). Os luxuriosos são como o cavalo e o mulo
que não têm entendimento (Sl 31, 9). Têm uma neve espessa diante dos olhos, com
a qual não vêem o abismo do inferno (Cornélio a Lápide). Os homens carnais não
entendem as coisas que são do Espírito de Deus (I Cor 2, 14). O rei Salomão
perdeu por este pecado sua sabedoria, e se fez tão insensato que chegou a
adorar os ídolos de suas favoritas (III Reis 11). Os desonestos se vestem com freqüência como os loucos.
A vontade do luxurioso fica debilitada. É o impuro como um paralítico, aleijado para
o exercício do bem (Beda). Por isso sua emenda é muito difícil. Está como
encadeado, não por mão alheia, senão por suas mesmas paixões, fortes como o
ferro (S. Agostinho). A luxúria é um vício do qual não é fácil livrar-se (S.
Tomás). É uma rede do demônio, em que os homens ficam presos, sem poder
desenredar-se. Por isso o desonesto cai com facilidade nos outros pecados,
ciúmes, invejas, ódio, crueldade, homicídio, prodigalidade, sacrilégio,
desespero, etc. A onde se pode conduzir este vício se vê em Henrique VIII da
Inglaterra, o qual havendo sido antes defensor da Fé, cegado logo pela luxúria,
apostatou da Igreja Católica e arrastou consigo ao cisma todo seu reino;
saqueou os mosteiros, matou uns 25 bispos, 500 sacerdotes e religiosos e a
muitas outras pessoas.
Sobre o impuro descarregam duros castigos.
Perde de imediato a paz da alma. Ao impuro clama São Crisóstomo: Oh homem
desventurado! Quão digno és de compaixão!
Mostra-me em cada um de teus dias uma só hora tranqüila! A desonestidade produz
uma sede ardente (inquietude de consciência) e faz que o homem se perca
(Cornélio a Lápide). Também perde o desonesto a saúde corporal. Os outros
pecados são fora do corpo; porém o luxurioso peca contra seu mesmo corpo (I Cor
6, 18); isto é, a impureza mancha o corpo mais que outro pecado qualquer, e o
submete a uma servidão vergonhosa. Por isso este pecado traz contra o corpo
diferentes castigos. Ainda que o homem exterior seja gracioso e ande galante,
se a alma está suja com a hediondez do pecado, a formosura do corpo não pode
durar muito tempo (S. Efrém). A luxúria rói a flor da juventude e antecipa uma
velhice decrépita. Visita os hospitais e manicômios e te assustarás com as
conseqüências deste pecado. Sobre os impuros caem especiais castigos. Assim foi
o dilúvio castigo particular da impureza (Gên 6,7). Sodoma e Gomorra, por causa
dela, foram arrasadas com fogo e enxofre (Gên 18, 20). Se agora não castiga
Deus aos luxuriosos com estes fogos é porque lhes aguarda outro fogo
incomparavelmente mais ardente; porque lhes está preparado um castigo sem
comparação mais duro (S. Crisóstomo).
Os luxuriosos não possuirão o reino de Deus (I Cor 6, 9). Não têm parte no Reino de Cristo (Ef. 5,5). Nada impuro pode entrar no reino dos céus (Apoc 21, 27). A alma do impuro está desarraigada do número dos vivos (Eccli 19, 3). Se viveis segundo a carne, morrereis (Rom 8, 13). O deleite é de um instante e o castigo eterno (S. Ambrósio). Santo Afonso de Ligório opina que a maioria dos condenados o são por este pecado.
c) O melhor meio para evitar o pecado da impureza é a fuga
Lembremo-nos de José do Egito (Gên 39). Há, ademais, outros meios para escapar deste
pecado, quais são, a freqüência de Sacramentos, a devoção à Maria Santíssima, etc. Não obstante, o meio
principal é a "fuga das tentações" (S. Afonso). O apóstolo disse: (I Cor 6, 18) que há que
resistir a todos os vícios; mas com relação á impureza, disse que temos fugir
dela (S. Agostinho). No combate contra a sensualidade, alcançam a vitória os
tímidos e medrosos, isto é, os que empreendem a fuga (S. Felipe Neri). Não te será afrontoso fugir para alcançar a
palma da castidade (S. Agostinho)”. ("Catecismo
Popular Explanado" - Rdo. Francisco Spirago - pp. 623/628).
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