sábado, 22 de outubro de 2022

VÁRIOS EXEMPLOS DOS SANTOS E PESSOAS VIRTUOSAS (III)

 




Santa Anastácia e suas três criadas virgens

Tinha Anastácia a seu serviço três jovens, irmãs entre si, as três muito bonitas e todas cristãs. A maior se chamava Agapita, Cionia a mediana e Irene a menor. Das três estava apaixonadamente enamorado o prefeito de Roma; mas como não conseguia que nenhuma delas correspondesse a suas pretensões amorosas, irritado, encerrou-as numa habitação destinada a guardar os utensílios de cozinha. Um dia, o prefeito, ardendo de concupiscência e disposto a saciar seus apetites libidinosos, entrou no quarto em que as mantinha trancadas; como não podia vencer a resistência que as três jovens opuseram a seus desenfreados desejos, perdeu o juízo e começou a dar abraços e beijos nas panelas, marmitas, caldeirões e em outros objetos semelhantes, crendo que estava abraçando e beijando as três donzelas; assim desafogou sua paixão e, quando ficou satisfeito, saiu para a rua todo tisnado, sujo e com as roupas desarrumadas.

Os servos de sua escolta que lhe aguardavam fora, ao ver seu amo com aquele aspecto, pensaram que se havia convertido em demônio, o perseguiram com varas e chicotes durante largo tempo e, finalmente, fugiram dele e o deixaram só. O prefeito foi ver o imperador, para queixar-se ante ele dos maus tratos recebidos de seus criados, porém não teve melhor fortuna, porque os guardas e empregados do palácio, ao vê-lo daquela maneira, pensaram que estava possuído por algum mau espírito furioso e, não só não o deixaram passar senão que o expulsaram dali a pauladas e jogando-lhe no rosto punhados de terra e massas de barro.

Como o prefeito ignorava que tinha a cara, a fronte e os olhos tisnados, não saía de seu assombro ao ver-se tratado daquele modo, nem podia explicar-se que se mofassem dele aqueles que antes o tratavam com tanto respeito. Nem sequer havia reparado na sujeita de suas roupas nem em que estas estavam destroçadas. Ele pensava que sua túnica e manto resplandeciam de brancura como as vestes dos nobres. Quando afinal alguém lhe advertiu  que estava feito um espantalho e comprovou o ridículo aspecto de suas roupas e de sua cara, não se lhe ocorreu outra coisa senão pensar que tinham sido as donzelas quem com artes mágicas haviam feito nele  aquela horrível mudança, e para vingar-se delas e dar-se ao gosto de vê-las nuas, já que antes não pudera consegui-lo, fez que elas comparecessem em sua presença e lhes ordenou que tirassem suas roupas.

Como as três se negassem a obedecer, mandou a uns esbirros que fizessem eles pela força o que as três irmãs não queriam fazer voluntariamente. Em vão tentaram os criados do prefeito despojar de seus vestidos às três jovens: parecia como que os panos se houvessem aderido inesperadamente aos corpos das castas donzelas. Este fato produziu tal assombro no prefeito que o fez cair repentinamente adormecido, e tão profundamente, que por mais que seus servos se esfalfassem e golpeassem não conseguiram despertá-lo.

Algum tempo depois disto as três irmãs morreram martirizadas.[1]


(Extraído de “A FELICIDADE ATRAVÉS DA CASTIDADE”, págs. 181/182. Desejando o texto integral dessa obra enviar mensagem por e.mail para juracuca@gmail.com )



[1] La Leyenda Dorada" - vol. I - pág. 59


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