Santa Anastácia e suas três criadas virgens
Tinha Anastácia a seu serviço três jovens, irmãs
entre si, as três muito bonitas e todas cristãs. A maior se chamava Agapita,
Cionia a mediana e Irene a menor. Das três estava apaixonadamente enamorado o
prefeito de Roma; mas como não conseguia que nenhuma delas correspondesse a
suas pretensões amorosas, irritado, encerrou-as numa habitação destinada a
guardar os utensílios de cozinha. Um dia, o prefeito, ardendo de concupiscência
e disposto a saciar seus apetites libidinosos, entrou no quarto em que as
mantinha trancadas; como não podia vencer a resistência que as três jovens
opuseram a seus desenfreados desejos, perdeu o juízo e começou a dar abraços e
beijos nas panelas, marmitas, caldeirões e em outros objetos semelhantes, crendo
que estava abraçando e beijando as três donzelas; assim desafogou sua paixão e,
quando ficou satisfeito, saiu para a rua todo tisnado, sujo e com as roupas
desarrumadas.
Os servos de sua escolta que lhe aguardavam fora,
ao ver seu amo com aquele aspecto, pensaram que se havia convertido em demônio,
o perseguiram com varas e chicotes durante largo tempo e, finalmente, fugiram
dele e o deixaram só. O prefeito foi ver o imperador, para queixar-se ante ele
dos maus tratos recebidos de seus criados, porém não teve melhor fortuna,
porque os guardas e empregados do palácio, ao vê-lo daquela maneira, pensaram
que estava possuído por algum mau espírito furioso e, não só não o deixaram
passar senão que o expulsaram dali a pauladas e jogando-lhe no rosto punhados de
terra e massas de barro.
Como o prefeito ignorava que tinha a cara, a fronte
e os olhos tisnados, não saía de seu assombro ao ver-se tratado daquele modo,
nem podia explicar-se que se mofassem dele aqueles que antes o tratavam com
tanto respeito. Nem sequer havia reparado na sujeita de suas roupas nem em que
estas estavam destroçadas. Ele pensava que sua túnica e manto resplandeciam de
brancura como as vestes dos nobres. Quando afinal alguém lhe advertiu que estava feito um espantalho e comprovou o
ridículo aspecto de suas roupas e de sua cara, não se lhe ocorreu outra coisa
senão pensar que tinham sido as donzelas quem com artes mágicas haviam feito
nele aquela horrível mudança, e para
vingar-se delas e dar-se ao gosto de vê-las nuas, já que antes não pudera
consegui-lo, fez que elas comparecessem em sua presença e lhes ordenou que
tirassem suas roupas.
Como as três se negassem a obedecer, mandou a uns
esbirros que fizessem eles pela força o que as três irmãs não queriam fazer
voluntariamente. Em vão tentaram os criados do prefeito despojar de seus
vestidos às três jovens: parecia como que os panos se houvessem aderido
inesperadamente aos corpos das castas donzelas. Este fato produziu tal assombro
no prefeito que o fez cair repentinamente adormecido, e tão profundamente, que
por mais que seus servos se esfalfassem e golpeassem não conseguiram
despertá-lo.
Algum tempo depois disto as três irmãs morreram
martirizadas.[1]
(Extraído de “A
FELICIDADE ATRAVÉS DA CASTIDADE”, págs. 181/182. Desejando o texto integral
dessa obra enviar mensagem por e.mail para juracuca@gmail.com )
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