Transcrevemos abaixo um texto que, por si mesmo, fala da grande pureza que praticava Santa Gema Galgani:
"Entre outras
práticas santas, que preservam do vício
impuro, a senhora Galgani aconselhava a seus filhos que recitassem todas as
noites três Ave-Marias, com as mãos debaixo dos joelhos, em honra de Maria
Imaculada.
A inocente criança
praticava este ato numa idade em que não podia ainda compreender o alcance de
sua significação.
Depois de ter
repetido três vezes a saudação angélica nessa atitude humilde e penosa,
levantava-se e dizia, juntando as mãozinhas: "Minha mãe do Céu, nunca
permitais que eu perca a santa pureza. Refugio-me sob o vosso manto virginal.
Guardai-me bem, assim agradarei mais a
Jesus".
Gema conservou
durante toda a vida esta prática recomendada por muitos santos. Poucos dias antes de morrer, quando, esgotada
de forças, lhe era impossível ter-se de pé, surpreenderam-na no quarto a dizer
as três Ave-Marias com as mãos debaixo dos joelhos. Todas as suas mortificações,
penitências, macerações da carne, e acima de tudo, a guarda rigorosa dos
sentidos, tinham por fim principal a conservação da angélica inocência.
Considerando que a
mais leve condescendência lhe pode alterar o suave frescor, aborreceu todas as
liberdades dos sentidos sem distinção, até cair em verdadeiros exageros. Nunca
se viu ao espelho, nem mesmo para se limpar do sangue, que muitas vezes lhe
corria dos olhos em suas dolorosas contemplações, ou da fronte circundada de
picaduras, produzida pela coroa de místicos espinhos.
Quando mais tarde o
seu coração, completamente abrasado do amor divino, submergiu em dores
inexprimíveis toda a região peitoral;
quando a violência de suas pulsações misteriosas arqueou três costelas,
Gema nem sequer se atreveu a aproximar a mão do seio ou a pôr nele os olhos,
embora não pudesse explicar, a princípio, fenômenos tão extraordinários. E este mesmo rigor de modéstia virginal
observou quando um místico dardo de fogo, saído do lado de Jesus, abriu um
largo estigma no seu próprio lado.
Evitando familiaridades perigosas
"Logo desde os
primeiros anos a casta menina mostrou nesta matéria uma extraordinária
severidade. Seu pai não conseguia abraça-la;
e, tendo apenas sete anos, fez
pagar caro a um primo o direito a simples tentativa duma inocente carícia.
O jovem, depois de
uma visita à família Galgani, preparava-se para sair. Estava já sobre o cavalo,
quando notou que tinha esquecido não sei que objeto. Convidada a ir busca-lo,
Gema obedeceu, voltando logo com o objeto pedido. E com tanta graça o
apresentou, que o primo, enternecido, se inclinou para fazer uma carícia em
sinal de agradecimento. A menina, porém,
apenas notou o gesto familiar, mas a seus olhos quase criminoso, repeliu
vivamente a mão e o braço do jovem, e de tal modo que ele perdeu o equilíbrio e
caiu da sela, magoando-se bastante na queda.
Era inútil querer
ajudá-la na sua "toillete". Se uma criada ou mesmo qualquer pessoa da
família se aproximava, por exemplo, para lhe ajustar o chapéu, ou atar as fitas
do sapato, dizia resolutamente: "Deixai, deixai, eu posso muito bem fazer
tudo sozinha".
Recato também no linguajar
Tinha um extremo recato nas alusões, por vezes
inevitáveis, ao vício impuro. Longe de usar termos vulgares, abstinha-se de
certas palavras absolutamente indiferentes e usadas até pelas almas mais
piedosas, sobretudo na Toscana, onde há costume de dar às coisas seu nome
próprio.
Para se exprimir
usava perífrases[1] muito naturais em sua boca, o que era muito
para admirar, pois ignorava o mal e as diferentes faltas contra a pureza.
Disse-me um dia: "Há certas coisas que não compreendo. Quem sabe já terei
feito alguma coisa proibida? Parece-me
que não". E acrescenta: "Não, eu não quero ofender a Jesus; antes morrer! Antes ser cega durante o resto
da minha vida, que pecar contra a santa modéstia, mesmo venialmente! Antes ser
privada de todos os sentidos do meu
pobre corpo, que abusar deles!"
Como fugir das tentações
O demônio, cheio de
raiva, tornou-se direta e pessoalmente o tentador da angélica virgem. O ataque
não era fácil. Por que lado assaltar tão inocente pomba que nem sequer o nome
do vício asqueroso conhecia? Como insinuar grosseiras ilusões a um coração
idealmente casto? O espírito do mal
depressa compreendeu que perderia o trabalho, ou que Deus certamente
inutilizaria os seus esforços. Por isso
contentou-se com dirigir as suas criminosas tentativas contra os sentidos. Em
primeiro lugar apresentou quadros impuros à imaginação da santa menina, depois
apareceu-lhe em atitudes lascivas e fez-lhe ouvir expressões escandalosamente
indecentes. Enfim, pôs em ação todos os artifícios.
Embora Gema não
atingisse o sentido de semelhantes palavras e gestos lúbricos, o instinto do
pudor nela tão aperfeiçoado fez-lhe compreender a abominação de tais atitudes.
Acautelou-se contra o inimigo e opôs-lhe uma enérgica resistência. Satanás
redobrou de esforços, apesar de serem evidentemente inúteis, para atormentar a
casta menina, a quem a vista destas cenas impudicas desolava. Ouçamo-la contar
as suas mágoas ao diretor espiritual:
"Que terríveis
tentações são estas, meu Padre! Todas as tentações me desagradam, mas as que
são contra a santa pureza fazem-me tanto mal!... O que eu sofro só Jesus o sabe, Ele que me
olha, permanecendo escondido, e que se compraz com as minhas lutas".
Para não ver, tanto
quanto lhe era possível, estas representações impuras, Gema fechava os olhos, e
conservava-os fechados até desaparecer o tentador. Com o crucifixo na mão,
chamava em seu auxílio o Anjo da Guarda,
os seus santos protetores e sobretudo a Rainha das virgens" [2]
(Extraído de “A FELICIDADE ATRAVÉS DA CASTIDADE”, págs. 199/201.
Desejando o texto integral dessa obra enviar mensagem por e.mail para
juracuca@gmail.com )
[1] Perífrase - Rodeio,
circunlóquio, recurso verbal para exprimir por meios verbais através de uma
forma indireta aquilo que poderia ser dito por termo próprio, mas às vezes numa
linguagem ferida e dura.
[2] "Santa Gema Galgani" - Pe. Germano de
Santo Estanislau - Liv. Apostolado da Imprensa, Porto, Portugal- págs. 253/258.
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