terça-feira, 25 de outubro de 2022

A PUREZA DE SANTA GEMA

 




Transcrevemos abaixo um texto que, por si mesmo, fala da grande pureza que praticava Santa Gema Galgani:

"Entre outras práticas santas, que preservam do  vício impuro, a senhora Galgani aconselhava a seus filhos que recitassem todas as noites três Ave-Marias, com as mãos debaixo dos joelhos, em honra de Maria Imaculada.

A inocente criança praticava este ato numa idade em que não podia ainda compreender o alcance de sua significação.

Depois de ter repetido três vezes a saudação angélica nessa atitude humilde e penosa, levantava-se e dizia, juntando as mãozinhas: "Minha mãe do Céu, nunca permitais que eu perca a santa pureza. Refugio-me sob o vosso manto virginal. Guardai-me bem,  assim agradarei mais a Jesus".

Gema conservou durante toda a vida esta prática recomendada por muitos santos.  Poucos dias antes de morrer, quando, esgotada de forças, lhe era impossível ter-se de pé, surpreenderam-na no quarto a dizer as três Ave-Marias com as mãos debaixo dos joelhos. Todas as suas mortificações, penitências, macerações da carne, e acima de tudo, a guarda rigorosa dos sentidos, tinham por fim principal a conservação da angélica inocência.

Considerando que a mais leve condescendência lhe pode alterar o suave frescor, aborreceu todas as liberdades dos sentidos sem distinção, até cair em verdadeiros exageros. Nunca se viu ao espelho, nem mesmo para se limpar do sangue, que muitas vezes lhe corria dos olhos em suas dolorosas contemplações, ou da fronte circundada de picaduras, produzida pela coroa de místicos espinhos.

Quando mais tarde o seu coração, completamente abrasado do amor divino, submergiu em dores inexprimíveis toda a região peitoral;  quando a violência de suas pulsações misteriosas arqueou três costelas, Gema nem sequer se atreveu a aproximar a mão do seio ou a pôr nele os olhos, embora não pudesse explicar, a princípio, fenômenos tão extraordinários.  E este mesmo rigor de modéstia virginal observou quando um místico dardo de fogo, saído do lado de Jesus, abriu um largo estigma no seu próprio lado.

 

Evitando familiaridades perigosas

"Logo desde os primeiros anos a casta menina mostrou nesta matéria uma extraordinária severidade. Seu pai não conseguia abraça-la;  e, tendo apenas sete anos,  fez pagar caro a um primo o direito a simples tentativa duma inocente carícia.

O jovem, depois de uma visita à família Galgani, preparava-se para sair. Estava já sobre o cavalo, quando notou que tinha esquecido não sei que objeto. Convidada a ir busca-lo, Gema obedeceu, voltando logo com o objeto pedido. E com tanta graça o apresentou, que o primo, enternecido, se inclinou para fazer uma carícia em sinal de agradecimento. A  menina, porém, apenas notou o gesto familiar, mas a seus olhos quase criminoso, repeliu vivamente a mão e o braço do jovem, e de tal modo que ele perdeu o equilíbrio e caiu da sela, magoando-se bastante na queda.

Era inútil querer ajudá-la na sua "toillete". Se uma criada ou mesmo qualquer pessoa da família se aproximava, por exemplo, para lhe ajustar o chapéu, ou atar as fitas do sapato, dizia resolutamente: "Deixai, deixai, eu posso muito bem fazer tudo sozinha".

 

Recato também no linguajar

 Tinha um extremo recato nas alusões, por vezes inevitáveis, ao vício impuro. Longe de usar termos vulgares, abstinha-se de certas palavras absolutamente indiferentes e usadas até pelas almas mais piedosas, sobretudo na Toscana, onde há costume de dar às coisas seu nome próprio.

Para se exprimir usava perífrases[1]  muito naturais em sua boca, o que era muito para admirar, pois ignorava o mal e as diferentes faltas contra a pureza. Disse-me um dia: "Há certas coisas que não compreendo. Quem sabe já terei feito alguma coisa proibida?  Parece-me que não". E acrescenta: "Não, eu não quero ofender a Jesus;  antes morrer! Antes ser cega durante o resto da minha vida, que pecar contra a santa modéstia, mesmo venialmente! Antes ser privada de todos os sentidos  do meu pobre corpo, que abusar deles!"

 

Como fugir das tentações

O demônio, cheio de raiva, tornou-se direta e pessoalmente o tentador da angélica virgem. O ataque não era fácil. Por que lado assaltar tão inocente pomba que nem sequer o nome do vício asqueroso conhecia? Como insinuar grosseiras ilusões a um coração idealmente casto?  O espírito do mal depressa compreendeu que perderia o trabalho, ou que Deus certamente inutilizaria os seus esforços.  Por isso contentou-se com dirigir as suas criminosas tentativas contra os sentidos. Em primeiro lugar apresentou quadros impuros à imaginação da santa menina, depois apareceu-lhe em atitudes lascivas e fez-lhe ouvir expressões escandalosamente indecentes. Enfim, pôs em ação todos os artifícios.

Embora Gema não atingisse o sentido de semelhantes palavras e gestos lúbricos, o instinto do pudor nela tão aperfeiçoado fez-lhe compreender a abominação de tais atitudes. Acautelou-se contra o inimigo e opôs-lhe uma enérgica resistência. Satanás redobrou de esforços, apesar de serem evidentemente inúteis, para atormentar a casta menina, a quem a vista destas cenas impudicas desolava. Ouçamo-la contar as suas mágoas ao diretor espiritual:

"Que terríveis tentações são estas, meu Padre! Todas as tentações me desagradam, mas as que são contra a santa pureza fazem-me tanto mal!...  O que eu sofro só Jesus o sabe, Ele que me olha, permanecendo escondido, e que se compraz com as minhas lutas".

Para não ver, tanto quanto lhe era possível, estas representações impuras, Gema fechava os olhos, e conservava-os fechados até desaparecer o tentador. Com o crucifixo na mão, chamava em seu auxílio  o Anjo da Guarda, os seus santos protetores e sobretudo a Rainha das virgens" [2]

 

(Extraído de “A FELICIDADE ATRAVÉS DA CASTIDADE”, págs. 199/201. Desejando o texto integral dessa obra enviar mensagem por e.mail para juracuca@gmail.com )



[1] Perífrase - Rodeio, circunlóquio, recurso verbal para exprimir por meios verbais através de uma forma indireta aquilo que poderia ser dito por termo próprio, mas às vezes numa linguagem ferida e dura.

[2] "Santa Gema Galgani" - Pe. Germano de Santo Estanislau - Liv. Apostolado da Imprensa, Porto, Portugal- págs. 253/258.

 


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