No livro do Padre Luiz Chiavarino, “Confessai-vos Bem”, há o seguinte diálogo, onde o pecado contra a pureza é chamado de “desonestidade” com o título de “As terríveis conseqüências do pecado”:
M. — Infelizmente assim é! As desonestidades
tiram as forças de qualquer obra generosa. Sansão, o mais forte dos homens,
porque Deus o dotara de uma força extraordinária, deu-se a um amor impuro e
tornou-se o joguete de Dalila, companheira dos seus pecados; por três vezes ela
o traiu e o vendeu aos seus inimigos.
As desonestidades idiotizam a mente. Salomão,
o mais sábio de todos os reis, perde-se junto das mulheres amalecitas e,
abandonando o seu Deus, dá-se à idolatria.
As desonestidades viciam o coração de
Henrique VIII, o mais cristão dos reis, tendo-se apaixonado por Ana Bolena,
repudia a rainha sua esposa, abandona a Igreja Católica, faz da Inglaterra uma
nação protestante, e morre excomungado pelo Papa.
As desonestidades fazem perder a fé. Se
grande número de cristão não crêem, não têm fé, é por causa das desonestidades.
De fato quando é que a juventude começa a deixar a oração, a desertar a Igreja,
a abandonar os Sacramentos? Justamente quando começa a freqüentar as más
companhias, quando se junta às más conversas, às impurezas. Não faz muito
tempo, encontrei-me com um médico meu conhecido e o repreendi docemente porque
não praticava a religião. “Faça com que eu me case, respondeu, e tornarei a ser
católico praticante”. E o que me confessava era verdade: se não tinha fé era
por causa das desonestidades.
As
desonestidades são a causa dos crimes mais hediondos. As desonestidades
estragam a saúde, diminuem as forças, encurtam a vida. A existência de tantos
moços fracos, de tantas doenças, de tantas velhices precoces, a multiplicação
de hospitais para os débeis, para os raquíticos, para os dementes, para os
abandonados, aí estão para atestar quantos danos causam as desonestidades,
mesmo à saúde.
Na América do Sul e na Guiana existe um
animal chamado vampiro, que suga o sangue dos homens enquanto estão
adormecidos, e quando está satisfeito, foge, deixando a veia aberta, o que
freqüentemente causa a morte. Pois bem, as desonestidades sugam o sangue,
diminuem as forças, gastam a vida de quem se torna escravo delas. A
desonestidade é parecida com a chama de uma vela; ou bem apagamos a chama, isto
é desistimos do vício, ou bem acabamos a vela, isto é extinguimos a própria
vida. Mas quantos há que não querem acreditar e perdem a juventude, perdem a
saúde, a alegria e a paz para ir ao encontro de uma morte precoce e desonrosa!
Pensam que vão colher e gozar o perfume das rosas, quando, na verdade não traem
senão espinhos venenosos.
E, por falar em rosas, ouça um fato histórico
que agora vem ao caso.
Heliogábalo, imperador romano, suspeitando de
uma traição dos seus generais e cortesãos, pensou em preveni-los e puni-los de
um modo terrível. Feito no maior segredo os preparativos, convidou-os todos
para um suntuoso banquete. Ao fim da festa, quando mais expansiva é a alegria,
quando as músicas tocam as notas mais alegres, eis que surge a grande
surpresa!... Abre-se o teto da grande sala, o, do alto começa cair uma chuva,
leve, de rosas lindas, frescas e perfumadas. Diante dessa novidade o prazer
chega ao auge, transforma-se em delírio; todos se levantam gritando: "Viva
Heliogábalo! Viva o imperador!" E deliciam-se com as rosas: pegam-nas e
adornam-se com elas: as palmas e os vivas multiplicam-se.
Enquanto isso, o imperador sai sem ser visto.
Abrem-se hermeticamente as portas e a chuva continua, aumenta, torna-se
copiosa, tão forte que chega a cobrir as mesas e os convivas perdem os sentidos
por causa do perfume asfixiante. Procuram uma saída, mas as portas estão
fechadas e as janelas altíssimas protegidas por grades de ferro. Tarde demais
descobrem o engano, e morrem todos sufocados pelo perfume e o peso daquelas
rosas belíssimas.
D. — Padre, é essa a triste história daqueles
que se dão aos prazeres da impureza?
M. — Precisamente! Infeliz da juventude que,
enganada pelo perfume lascivo e sedutor de tais rosas, passa os anos mais belos
gritando: amor, amor. O amor, ou seja, o vício, transformar-se-á bem cedo em
veneno que castiga terrivelmente.
Eu mesmo conheci um jovem forte e sadio, bem
disposto, que, dando-se a esse vício aos 17 anos, morreu de uma morte raivosa e
convulsa, que despertou pavor em todos os que rodeavam. O seu cadáver tomou um
aspecto tão disforme, a sua fisionomia tornou-se tão horrenda, que os próprios
parentes não tinham coragem de fita-lo; os poucos que puderam entrar no quarto
afirmaram nunca terem visto uma coisa tão assustadora e horrorosa.
Um outro rapaz, que pecava por desonestidade,
morreu, e do seu corpo, horrivelmente inchado, emanava um mal cheiro tal que
foram obrigados a tirá-lo da casa antes do tempo. Nem os companheiros mais
corajosos conseguiram levá-lo ao cemitério por causa do cheiro nauseabundo, e
foi preciso carregá-lo numa carroça puxada por um jumento. O quarto onde morreu
teve que ser desinfetado por muitas vezes antes que se pudesse tornar
habitável.
Conta-se também o caso de uma moça habituada
a atos impuros, que, depois de uma morte aparentemente cristã, foi vestida de
branco pela mãe e pelas irmãs. Enfeitaram-na com flores e estenderam-na na cama
com um crucifixo nas mãos, a fim de que, segundo o costume, as amigas pudessem
vê-la pela última vez e orar por ela.
Mas oh, prodígio! O Crucifixo saiu do lugar,
e, por mais que o tornassem a pôr nas mãos da morta, por mais que procurassem
fazê-lo parar, tudo foi inútil: achavam-no sempre jogado na cama. Jesus não
queria ficar naquelas mãos que tinham servido para o pecado.
D. — O Senhor conta coisas cada vez mais
horripilantes! Mas então não haverá mesmo saída para quem teve a infelicidade
de enveredar por asse caminho?
M. — Sim, há um modo de reconhecer suas
faltas e emendar-se e isto consiste em:
1.° — Uma vontade firme.
2.° — Eliminar e afugentar as ocasiões.
3.° — Praticar os Sacramentos. É sobretudo
numa vontade firme que isto consiste.
Santo Agostinho levou uma vida de libertino até aos trinta anos, mas quando abriu os olhos, sentiu tamanha vergonha que se converteu, abandonou os prazeres e as loucuras da mocidade, se tornou sacerdote, bispo, Santo, e célebre doutor da Igreja.
O mesmo aconteceu a Santo Inácio de Loiola,
que com trinta anos se aborreceu da vida até então tida: e com uma vontade
resoluta foi correndo bater à porta de um convento, onde fez duras penitências;
lavou as culpas passadas, e fundou a Ordem dos Jesuítas, de quem é glória e
orgulho.
São Camilo de Lelis, da nobre família dos
“Abbruzzi” muito jovem também se entrega aos divertimentos e aos prazeres mundanos,
mas aos vinte e cinco anos toma o hábito e consagra a Deus e a Maria Santíssima
a sua vida, em favor dos doentes e dos moribundos.
O quê diremos então de uma Madalena
Penitente? De uma Pelágia, de uma Santa Margarida de Cartona, que de vasos de
corrupção e de escândalo, transformaram-se em lírios celestes? A vontade
resoluta foi suficiente para salvá-las.
Em segundo lugar, eliminar e afugentar as
ocasiões. Aqui também os Santos nos ensinam.
Santo Tomás de Aquino, jovem elegante de
família nobre, é fechado numa torre e ali é tentado por uma mulher infame. Não
tendo outro meio de se livrar dela, pega no fogão um tição ardente e
brandindo-o grita: “Saia, saia, ou eu a queimo”, consegue assim a fuga da
tentadora sem escrúpulos.
São Francisco de Sales era também nobre e
elegante. Quando aos dezoito anos estudava em Pádua, certa ocasião, uma moça
dessas não muito sérias, aventurou-se a abraçá-lo maliciosamente. Quê fez
então? Cuspiu na cara da impudica, dizendo-lhe: "Afasta-te missionária de
Satanás".
O moço Dióscoro, depois de vencer todas as
insídias dos inimigos de sua fé, foi amarrado numa cama de rosas, na
impossibilidade completa de se livrar de quem o queria induzir a pecar.
Recomendou-se a Deus, e, cortando a língua com os dentes, cuspiu no rosto da
tentadora miserável que borrifada pelo sangue de um mártir, fugiu horrorizada,
chorou e se converteu.
D. — Mas todos esses, Padre, eram Santos!...
M. — Naquele tempo ainda não o eram;
tornaram-se santos depois de agirem como agiram. Todavia mesmo sem ser santos
podemos e devemos ser corajosos: basta ser cristão: Ouve isto:
Uma jovem que eu conheço, devolveu em
envelope fechado um cartão a um soldado libertino, dizendo-lhe: “Isso é indigno
de mim como cristã e indigno de ti, como soldado”. Outra moça, em resposta a
certas cartas libertinas do noivo, escreveu-lhe: “Nunca me casarei com um homem
desonesto! Desde hoje, está tudo acabado entre nós dois”.
O amor, ou seja, o vício, tansformar-se-á bem
cedo em veneno que castiga terrivelmente.
Não fez muito tempo que, em Turim, no aperto
da plataforma de um bonde, um “almofadinha”, lascivo tomou certas liberdades
com uma mocinha direita. A moça virou-se desdenhosa e, sem mais, aplicou-lhe no
rosto uma valente bofetada, dizendo bem alto:
Deseja saber a razão disso?
— Muito obrigado, não é preciso, responde o
desastrado que desceu apressado, com o lenço no nariz.
D. —
Muito bem! Essa moça merece uma medalha!
M. — Uma medalha igual merece esta, que eu
também conheço:
Certa ocasião, um sujeito sem educação
sussurrou-lhe no ouvido não sei qual trivialidade. Sem perda de tempo, a moça
deu-lhe dois bofetões sonoros, acrescentando: “Estarei sempre pronta para
repeti-los”.
D. — Muitíssimo bem feito! Se todas se
comportassem assim ficariam logo livres dos zangões, não é, Padre?
M. — Isso mesmo! E os que não são zangões
ficariam livres dos pernilongos, ou seja, de certas moças sem pudor.
Do ócio também devemos fugir. Ai dos ociosos:
é justamente nos momentos de ócio que o demônio impuro intensifica os seus
assaltos e aumenta suas vítimas.
D. — Então o demônio também tem que ser
tratado com cuspidas e bofetões?
M. — Justamente! E em terceiro lugar, para
nos podermos livrar das impurezas, é necessária a “freqüência dos sacramentos”:
a confissão semanal, cada duas semanas ou pelo menos mensal e a Comunhão o mais
freqüente possível.
Nos Sacramentos o demônio impuro é
desmascarado e vencido. Não há nada que ele tema mais porque nada lhe é mais
fatal. "É impossível, diz São Felipe Néri com ele D. Bosco, é impossível
que quem freqüente bem a Confissão e a Comunhão, continue a cometer impurezas!”
O mundo não pode crer na castidade de tantos
milhares de sacerdotes, freiras e religiosos: não se convence de que essa flor
da juventude possa conservar-se pura e casta no meio de tão grande corruptela;
mas sabe por quê? Porque o mundo não compreende a força dos Sacramentos: porque
não sabe ou não quer saber que todos eles se purificam com freqüência no Sangue
de Jesus com a Confissão, e, ainda mais frequentemente, se nutrem do seu Corpo
santíssimo na Comunhão.
Há poucos anos, um jovem advogado disse em
tom de brincadeira a um amigo sacerdote:
— Eu acredito na sua fé, admiro a sua
abnegação, mas não posso acreditar na sua honestidade, no celibato! O zeloso
sacerdote tocado num ponto assim tão delicado respondeu:
— Pois bem, experimenta e verás.
— De que jeito?
— Freqüenta a Confissão e a Comunhão.
Mudaram de conversa, mas voltaram ao mesmo
assunto muitas vezes e ao cabo de seis meses o advogado elegante trocava a toga
de tribuno pelo hábito de seminarista. Em menos de um ano tornou-se sacerdote e
é agora excelente pregador e defensor infatigável da honestidade e do celibato
eclesiástico. Experimentou e foi vencido por esses Sacramentos miraculosos.
D. — Padre, a honestidade, ou seja, a pureza,
traz consigo vantagens?
M. — Muitas e nobilíssimas: a pureza é como
um lírio que se eleva acima de todas as flores pelo perfume e pelo candor; ela
nos torna senhores dos tesouros de Deus. O homem puro e honesto sente-se e
mostra-se sempre tranqüilo: não teme suspeitas e calúnias; não se sente ligado
nem escravo de outras pessoas; goza de uma paz íntima, inestimável. Sua vida é
plácida e serena a sua morte. Tem imensa esperança, isto é, tem a certeza da
salvação eterna: o seu prêmio, o seu gozo no Paraíso são de todo especiais.
Termino com um exemplo histórico:
O célebre músico Mozart aos vinte e cinco
anos, tinha atingido o apogeu da sua glória. No dia 27 de Janeiro de 1881,
completava justamente vinte e cinco anos e, achando-se em Milão, onde foi
acolhido triunfalmente, pôde dizer à assembléia que o festejava estas palavras
textuais:
“Juro diante de Deus que, em toda a minha
vida, nunca cometi ato nenhum contra a pureza, eis o segredo dos meus sucessos
e dos meus triunfos...’’ Sentia-se puro e, sentia-se grande. Quantos haverá que
podem dizer o mesmo?!” [2]
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