Virgem sem perder a
fecundidade
São Tomás de Villanueva:
“Ó Virgem, quantas virgens esclarecidas renunciam à
flor de sua virgindade por amor à descendência, embora sabendo que não hão de
engendrar senão um triste mortal! E Vós, sabendo que haveis de dar à luz a
Deus, ainda vacilais e exclamais: “Como
há de ser isso, ó Anjo de Deus?”
“Não temais, Maria: esta concepção não Vos
arrebatará a virgindade, mas a consagrará;
não Vos diminuirá o pudor, mas o sublimará com a descendência, já que
haveis de conceber por obra do Espírito, e não com o concurso de varão; virgem
dareis à luz e virgem permanecereis depois.
Sereis virgem, porém fecunda. Mãe sereis, mas incorrupta; conservando a honra da virgindade com os
gozos da maternidade”. [1]
Padre Rolland:
“Um dos mais gloriosos privilégios da Santíssima
Virgem, ou antes o mais glorioso após o de sua maternidade divina, é a sua
inalterável e perpétua virgindade. (...)
“Pode-se afirma, sem receio de equívoco, que esse
privilégio de Maria é, verdadeiramente, um dos mais esplêndidos milagres
operados pela destra do Onipotente. É ele tão grande, que Deus o quis
representar pelas figuras da Antiga Lei. Por certo, admiro a sarça
incandescente que ardia sem se consumir; admiro o velo de Gedeão, ora seco
quando tudo ao seu redor estava coberto de umidade, ora banhado de rocio,
quando toda a terra se achava desolada pela aridez; admiro os três mancebos
dentro da fornalha, sem ressentirem a menor ofensa das chamas: estes são
grandes milagres. Contudo, o milagre de [ser] Maria sempre virgem e ao mesmo
tempo Mãe de Deus, é incomparavelmente mais maravilhoso, tanto mais superior
aos primeiros, quanto a realidade excede à figura!
“Esse prodígio é tão sublime que Deus (...) o
anunciou por seus Videntes, em solenes termos, como sendo uma nova criação, uma
obra absolutamente extraordinária. “Eis,
diz Isaías a Acaz, um sinal extraordinário que surpreenderá o céu e a terra:
uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o seu nome será Emanuel, isto é,
Deus conosco”.
“Sim, a perpétua virgindade da Santíssima Virgem é
uma maravilha entre as maravilhas.
“O Senhor fez em Mim grandes coisas”, dizia Nossa
senhora a sua prima Isabel. Essas
grandes coisas são: primeiro e, antes de tudo, sua maternidade divina mas, logo
em seguida, é sua perpétua virgindade.” [2]
Padre Félix Cepeda, CFM:
“Grande é a glória de uma mulher que chega a ser
mãe; mais pura é a glória das que permanecem virgens. Essas duas glórias são
incompatíveis: Quem aceita uma,
necessariamente se despoja da outra.
Vede as árvores na primavera como se cobrem de flores brancas ou
encarnadas. Chega o outono, e nos regalam frutos delicados. Porém, em vão buscareis as flores, pois
estavam murchas e caíram. Não é possível que [as árvores] ostentem, ao mesmo
tempo, flores e frutos.
“Não assim com Maria: é virgem e mãe juntamente, o
que convém somente a Ela. Por isso a
Igreja canta com o poeta Sedulio: “Não
se viu nada semelhante, nem antes nem depois”. E São Dionísio Areopagita, em
seu livro “Dos Nomes Divinos”: “Esta é
uma coisa nova, a mais nova de todas”. [3]
São Bernardo:
“Ditosa em tudo Maria, a quem não faltou a
humildade, nem a virgindade. Singular virgindade a sua, que não foi
prejudicada, mas honrada pela fecundidade; não menos ilustre humildade, que não
diminuiu, mas engrandeceu sua fecunda virgindade; e inteiramente incomparável
fecundidade, que a virgindade e a humildade, juntas, acompanham. Qual dessas
coisas não é admirável? Qual não é incomparável? Qual não é singular?
“Maravilha será se, ponderando-as, não duvides qual
julgarás mais merecedora de tua admiração; quer dizer, se será mais estupenda a
fecundidade numa virgem ou a integridade numa mãe; sua dignidade pelo fruto de
seu castíssimo seio, ou sua humildade com tão imensa grandeza. Sem dúvida, a
cada uma dessas coisas se devem preferir todas juntas, e é incomparavelmente
maior excelência e maior ventura havê-las tidas todas, do que precisamente
algumas.
”E por que se espantar de que Deus, a quem lemos e
vemos admirável em seus Santos, se tenha mostrado mais maravilhoso em sua Mãe?
“Venerai, pois, vós que vos achais em estado de
matrimônio, a integridade e pureza do corpo num corpo mortal; admirai também vós, virgens sagradas, a
fecundidade de uma virgem; imitai, homens todos, a humildade da Mãe de Deus;
honrai, Santos Anjos, a Mãe de vosso Rei, vós que adorais o Filho de nossa
Virgem, nosso e vosso Rei, reparador de nossa linhagem e restaurador de vossa
cidade”. [4]
São José de Anchieta, em suas poesias, tece
comentários sobre a Virgindade de Nossa Senhora de grande valor teológico:
“Ouviste,
enfim, piedosa, o celeste recado
que
a ti, ó virgem, deu o mensageiro alado
Virgem,
de nossa gente és a glória, és a palma!
Virgem,
és salvação, vida, descanso d’alma!
Ouviste,
e o coração em doçuras te salta,
E
um fogo sacrossanto o espírito te exalta.
Dano
algum serpeará nos umbrais da pureza,
e
o Redentor virá de tua carne ilesa.
Teu
ventre avultará num divino tecido:
Não
sentirá porém o peso recebido.
Ansiavas,
e te é dada uma e outra beldade:
Luz
da maternidade, honra da virgindade!
Virgem,
não teças mais dúvidas que tiveras:
Já
não te resta mais ocasião de esperas.
Tudo
seguro vês: no portal de teu seio
Não
range gonzo algum, não há um só meneio”.
[5]
O cedro é o símbolo
da inalterável pureza de Maria
“Além da elegante folha da palmeira, encontramos
outro gracioso símbolo da Santíssima Virgem nesta passagem do Eclesiástico
(XXIV, 17): “Elevei-me como o cedro do Líbano”.
“O cedro domina todas as árvores da floresta, ele
se alça a extraordinárias alturas; sua madeira é de uma essência incorruptível.
Ele representa a santidade incomparável de Maria, que excede em perfeição a dos
Anjos e dos Santos; e [simboliza] também
sua inteira isenção de todo pecado e sua inalterável pureza (...).
“Pureza completa de corpo, de alma, de pensamento, de afetos,
de olhares, de palavra e de ações.
“Pureza constante,
que nunca padeceu sombra ou eclipse, mas que sempre brilhou de renovado fulgor:
em sua Imaculada Conceição, em sua natividade, em sua estadia no templo,
durante o santo casamento com São José, até ao último instante passado sobre a
Terra.
“Pureza supereminente,
(...) de uma sublimidade incomparável. Ela está tanto acima das meras
criaturas humanas, das Ágatas, das Cecílias, das Filomenas, tanto acima do mais
santo dos Anjos, quanto o céu está acima da terra!” [6]
Fundadora da virgindade,
rara e única
“Nossa Senhora é a Virgem Singular, isto é, virgem
como ninguém o foi, nem o será jamais. Ela é a Santa Virgem das virgens, Aquela
cuja virgindade é tão excelsa que, perto dela, torna-se pálida a intacta
virgindade das outras virgens. Nossa Senhora é a Virgem suprema,
inesgotavelmente perfeita, inimaginavelmente graciosa!”
“Compartilha este sentimento o Pe. Jourdain, que
escreve: “Maria é chamada Virgem das
virgens, porque sua virgindade não é semelhante à comum. A sua é rara,
única, ilustre e desconhecida em todos os séculos, em todo o universo. É rara,
pois Maria é, ao mesmo tempo, Mãe e Virgem; Ela teve um Filho que não possui um
pai segundo a natureza, é o Espírito Santo, o Esposo Celeste, que n’Ela opera.
(...)
“A virgindade de Maria é única. Longe de ser
estéril, só ela é fecunda; só ela ignora os males e as enfermidades da
natureza. Somente Maria porta a coroa da virgindade realçada pelo fulgor de uma
rica maternidade: (...) Mãe de Deus e
perpetuamente Virgem, sem exemplo, sem igual.
“Assim, a Igreja A chama em seus hinos: Virgo singularis, Virgem singular,
Virgem única. Ela o é, verdadeiramente, pois a natureza e mesmo a graça jamais
produziram tal; nunca o mundo viu outra
semelhante; e jamais inteligência humana
e angélica conceberam nada de mais belo.
Ela é realmente singular, pois
entre todos os Santos é a mais santa, entre todas as virgens puras, é a mais
pura.
“Ela é o prodígio do Céu, o espelho da virtude, a
alegria do Paraíso e da Terra”. [7]
Este privilégio da Santíssima Virgem é também
maravilhosamente contemplado nas poesias de São José de Anchieta:
“Mas
vês enorme risco ao pudor virginal,
que
é o teu grande amor, teu máximo ideal.
Decidida
a cumprir a divina vontade,
Hesitas
a temer por tua virgindade.
Como
sucederá em ti tal maravilha,
Perguntas
toda ansiosa em teu rubor de filha:
“De
que modo, santo anjo, há de obrar-se teu dito
E
com que traça enfim se alcançará tal fito?
“Meu
seio há de avultar com tal fruto em mim feito
e
algum filho afinal há de nutrir meu peito?
“Pois eu sempre fugi a contato malsão,
virgem
permaneci, sem conhecer varão.
“Intacto
meu pudor, sem partilha de leito,
em
virgindade ilesa haure o candor perfeito.
“Cresceu
comigo, a mais, desde a idade mais terna,
o
veemente amor da integridade eterna.
“Dentro
d’alma fixei não manchar a pureza
nem
quebrantar jamais o voto de inteireza.
“Mas
se do Deus imenso eu a mãe devo ser,
e
me manda o Senhor sob condição qualquer
“alegro-me
em subir para tão alto estado,
e
me sujeitarei ao divinal mandado.
“mas
sinto se, por mãe, devo ser despojada
dessa
formosa flor da virgindade amada”
Não encontrando
exemplo entre os feitos da história
Continua São José de Anchieta:
“É
com tais termos, é com tal modo que troca
Tal
imenso silêncio a tua humilde boca?
Com
a conceição de Deus, à maior glória vais,
E
inda duvidas tu, buscas ainda mais?
Chama-te
o Verbo eterno a nutrir-se em teus seios:
Cuidados
de pudor serão os teus receios?
Tanto
amor de pureza e honra de integridade,
E
tão preciosa te é a santa virgindade?
Por
que preocupas tu o puríssimo peito?
Por
que perguntas mais como isso será feito?
Que
importará à mãe, se o feitor do orbe todo
Se
quer fazer seu filho, seja qual for o modo?
Mas
engano-me, louco! O saber do carnal
Nada
sabe, afogado em teu oceano astral.
Tanto
excede tua graça os humanos costumes
Quanto
o sol refulgente ofusca os outros lumes.
Não
te deram o exemplo os pais nossos primeiros,
Para
que tu, audaz, corresses tais carreiros.
Jamais
outra mulher preveniu tuas vias
E
a estrada te mostrou que tu palmilharias.
Única,
sem exemplo, as alturas descerras,
E desprezas o pó de nossas baixas terras.
Num
dilúvio de mal nosso mundo já tomba
Sem
pouso oferecer para teus pés, ó pomba!
Não
encontrando exemplo entre os feitos da história
Dos
avós, que te fosse a digna trajetória.
Deixas
veloz o chão, transpões o éter profundo,
Para
o que o céu te dê o que te nega o mundo.
Mas
sorvendo a pureza em os céus refulgentes,
Mal
podem saciar-te angelicais torrentes.
Sobes
mais alto pois a beber no caudal
Donde
contínuo flui Deus, nosso bem total.
Com
sua mão bondosa, ele apanha-te e aninha
Em
sua arca e te dá tesouros de rainha.
Achaste
o preço aqui de tua nívea candura:
Daqui
a origem vem de tua vida pura.
Aqui
matas a sede em copiosos bicais
Do
vinho que germina os corpos virginais.
O
Deus que te previu para seres a guia
De
vida e salvação, mestra da casta via.
Quis
que do filho seu fosses mãe não inglória,
Mas
maravilha só, de luz, beleza e glória [8]
Pioneira da
virgindade consagrada
Prossegue Anchieta:
“Ele
foi o primeiro a ensinar-te a pureza:
com
tal mestre tens vida, espírito e carne ilesa,
a
fim de ao mundo encher fecunda virgindade,
e
ser honra do céu casta fecundidade.
Primeira,
em sendo oculta, és magnífica guia
Primeira
a ir ao céu por desusada via.
Primeira
entre espinhais a abrir largo caminho,
A
palmilhar locais, cheios de horror maninho.
Primeira
que por senda escabrosa se atreve
Dura
rocha a calcar com alvos pés de neve.
Primeira
a dominar, por escarpas estranhas,
Os
brancos alcantis intactos das montanhas.
Pões
no alto, qual bandeira, o pudor, que se eleve
Mais
fulgente que o sol, mais cândido que a neve.
A
senda, áspera há pouco, é suave demanda;
Aquela
que foi dura é por teus passos branda.
Já
turmas virginais seguir-te-ão as pegadas,
E
à bandeira da luz hão de correr ousadas.
Muito
homem e mulher atarão com um voto,
Seguindo
teu exemplo, o coração devoto.
Ó
tu, mestra e raiz da pureza guardada,
Da
honestidade mãe, da virgindade estrada,
Noiva,
glória da terra e fulgor das alturas,
Modelo
de virtude, ápice d’almas puras,
Agradece-te
o céu, pois na argila que a veste
A
terra, por teus pés, chega ao candor celeste.
Agradece-te
a terra: embebendo-a em costumes
Do céu, se faz capaz dos teus celestes cumes” [9]
(Extraído
de “A FELICIDADE ATRAVÉS DA CASTIDADE”, Continuação do capítulo 5, págs. 133/138.
Desejando receber o texto integral desta obra, favor enviar mensagem para o
email juracuca@gmail.com – Juraci Josino Cavalcante)
[1] Pequeno Ofício da Imaculada
Conceição Comentado – João S. Clá Dias – Arrpress, São Paulo – pág. 157
[2] idem, pág. 157
[3] idem, pág. 158
[4] idem, pág. 158
[5] “Poema da Bem-Aventurada
Virgem Maria, Mãe de Deus – tomo 1 – Ed. Loyola – pág. 215/217
[6] Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado – João S. Clá Dias p. 178
[7] idem, ib. pp. 189 e 192
[8] “Poema da Bem-Aventurada
Virgem Maria, Mãe de Deus – tomo 1 – Ed. Loyola – pág. 197/201
[9] Poema da Bem-Aventurada
Virgem Maria, Mãe de Deus – Pe. José de Anchieta – Ed. Loyola – pág. 201
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