domingo, 17 de maio de 2020

FASCÍNIO, UM DOS MEIOS EFICAZES PARA DOMÍNIO DA OPINIÃO PÚBLICA






O que é fascínio? Trata-se de uma atração. Não uma atração qualquer, mas um chamamento muito forte para determinada coisa, tão forte que se torna irresistível. Para tal atração se torna difícil resistir dado sua força de empuxe. Trata-se portanto de uma atração irresistível.
São Tomás disse que os símiles se alegram, se atraem (“Similis simili gaudet”) e em decorrência os opostos se repelem. Quer dizer que esta atração só é possível entre as pessoas que tenham alguma similaridade. Só funciona entre os bons, ou que possuam algo de bondade; ou entre os maus, ou que possuam algo de maldade. Mas o bom não fascina o mau, nem o mau fascina o bom, a não ser de uma forma imperceptível.
E toda atração supõe que haja uma inclinação preexistente. Inclinar-se é pender para determinada coisa. Como todos os homens possuem inclinações tanto para o bem quanto para o mal, o fascínio poderá exercer sua influência para um e outro a depender das inclinações recônditas da alma de cada um.
Assim, o homem se fascina pela música, pela dança, pela tecnologia, pelo gozo da vida, pela vida paradisíaca e é ao mesmo tempo atraído fortemente por todas estas coisas. a televisão, por exemplo, exerce um fascínio impressionante sobe as pessoas, a tal ponto que praticamente inebria seus espectadores. Existem pessoas que se fascinam pela sensualidade, pelo liberalismo extremado, pelo socialismo igualitário, outras pelo deboche, pela irreverência, etc. Há sempre um ponto de inclinação para onde as pessoas podem se fascinar.
Verificamos assim que as coisas revolucionárias aparentemente fascinam hoje mais fortemente do que as da Contra-Revolução. Elas adquiriram um poder de conquista no senso comum das pessoas, no modo de julgar o bom e o apetecível. De outro lado as coisas da Contra-Revolução tendem, por sua natureza, a se tornar árduas, insípidas e inapetecíveis. Para que a Contra-Revolução se defina e se propague ela terá que usar recursos pouco revolucionários, e hoje pouco fascinadores por si mesmos, como folhetos, livros, conferências, teatros, músicas clássicas, etc. Destes recursos alguns podem fascinar mais do que outros, mas eventualmente, e não todo o sempre.

O fascínio pessoal
Não há recurso de fascinação mais forte e eficiente do que as pessoas. O porte humano, a educação, a bondade, a circunspecção, o modo de falar, o modo de se vestir. Se fosse possível a um revolucionário fascinar os maus ele o faria por causa de seus cabelos desgrenhados, seu olhar sanguinolento, sua roupa esfarrapada e suja; o Contra-Revolucionário, pelo contrário, fascina os bons por causa de seu cabelo bem penteado, seu olhar casto, sua roupa limpa e decente. Se uma pessoa leva diversas outras a caminhar mais em direção da Revolução por causa de maus atributos pessoais, falta de educação, rispidez, indiscrição, etc., o Contra-Revolucionário levará para o campo oposto as pessoas que gostam de bons atributos, boa educação, finura de espírito, discrição em tudo.
Agora, se nós tivermos um grupo de pessoas que congregam as mesmas qualidades e espelham o mesmo espírito, elas conseguirão fascinar muito mais fortemente para si os demais atuando em conjunto do que agindo isoladamente. Um façanhudo revolucionário da França de 1789, ou mesmo um bolchevista de 1917, impressionavam mais pelo aspecto intimidador, causavam medo e terror, e "atraíam" mais pela força bruta. Um grupo de tais revolucionários em ação multiplica este predomínio intimidador. Esta “fascinação”  é falsa. Por isso é que a Revolução optou pela tática de fascinar pelo engodo, pelo orador labioso, pela música, pelo romantismo, pelo cinema, pela mídia encantadora e pela TV.
Para que os Contra-Revolucionários consigam fascinar eles terão que agir em grupo e fazer com que seu grupo se apresente na sociedade todo inteiro, manifestando-se com todas as suas boas qualidades e demonstrando uma coesão esplendorosa de seus atributos, de seu espírito, de sua maneira de ser. E os recursos utilizados para isto podem ser todos aqueles meios lícitos de se mostrar ao público: pela música, pela oração, pelo modo de se apresentar, pelos cerimoniais, etc.

O fim último: o amor a Deus
O fim último do fascínio deve ser o amor a Deus. Deus manifesta o Seu amor às criaturas fascinando-as. Se a Revolução fascina para afastar as pessoas do amor a Deus, a Contra-Revolução deve ter como fim último levar todos à prática deste amor. Mas para isto não é suficiente fazer conferências, pregar doutrinas e princípios. Basta que as doutrinas e princípios sejam coerentemente vividos pelos Contra-Revolucionários que as pessoas se sentirão atraídas fortemente, isto é, fascinados naquela direção. É intuitivo.
Não basta somente ensinar o que é a bondade, o que é a gentileza, o que é o cavalheirismo, a ortodoxia e a coerência de princípios doutrinários. Basta que nos modos, no linguajar, no vestir, na música, em todo o nosso ser, pratiquemos a bondade, a gentileza, sejamos cavalheiros e vivamos coerentemente de acordo com a doutrina e os princípios que defendemos, de dia e de noite, a todo o momento. As pessoas vão ver e se fascinar, dizendo: que maravilhoso! que beleza! fenomenal!

Primeiro passo: o maravilhamento, uma graça externa
O fascínio atrai, como se disse, irresistivelmente, como que arrasta as pessoas em determinada direção. Mas o primeiro passo para isso é causar maravilhamento.  Um centurião romano, São Pacômio, quando ainda era pagão voltava da guerra e teve que acampar com seus soldados próximos a uma localidade de cristãos. Tal foi o seu maravilhamento vendo o procedimento dos cristãos que pediu para ser um deles, tornando-se depois não só cristão, mas mártir e santo.
São Francisco de Sales diz que esta graça externa, que nós chamamos de maravilhamento, é um impulso ou comoção provocado por Deus nos corações das pessoas para excitá-los ao bem. E desta forma “como um vento sagrado, nos impele para a atmosfera do santo amor, move a vontade, e pela impressão de um certo gozo celeste (pode ser um flash?), enternece-a, dilatando e desenvolvendo a inclinação natural que ela tem para o bem, de forma que esta mesma inclinação lhe sirva de meio para prender o nosso espírito; e tudo isto, como já disse, se faz “em nós e sem nós”, porque é a graça divina que nos precede desta maneira”.[1]  Para que se cause tal maravilhamento é necessário um desdobramento de si mesmo, um crescimento, uma ascese tal, que somente um milagre para que possamos chegar a tal ponto. Mas aquilo que não conseguimos fazer sozinhos, isolados, poderemos atingir juntos, é claro que por uma graça divina toda especial dada por Nossa Senhora. E é tal a unção, o enlevo, o ar celestial que orvalha quando os Contra-Revolucionários estão juntos que irremediavelmente os outros se maravilharão. Poderão se maravilhar por causa dos rostos, das roupas, das vozes, das etiquetas ou até mesmo por verem o quanto sofrem abnegada e desinteressadamente, ou ouvindo falar sobre a cruz e as durezas da vida.  Depois de se maravilhar, caminhar juntos.

Diferença entre fascínio e admiração ou maravilhamento
O fascínio é uma atração, é o pender para determinado objetivo ou pessoa, é o caminhar irresistível em direção ao objeto de dileção. A admiração é apenas o pasmo, a contemplação enlevada pelo mesmo objeto, pessoa, ou algo que lhe digam respeito. O maravilhamento é a admiração cheia de entusiasmo.  Assim, alguém pode admirar mas permanecer estático e não ir ao encontro do objeto que contempla. Alguém pode admirar, por exemplo, a sinceridade de um seu inimigo. Isso ocorria até entre inimigos em guerra, como se conta o caso de um muçulmano que ordenou receber bem os soldados de São Fernando em frente a seu castelo porque o admirava como homem bravo e leal.
Ocorreu também com muitos adversários do Senhor Dr. Plínio Corrêa de Oliveira, que era admirado até por seus inimigos, mas nenhum deles fascinou, ou se fascinou pelo Dr. Plinio, pôs-se logo em movimento o “anti-fascínio” para não mudar de comportamento. Fascinado, ele teria que ceder interiormente e se inclinar para o seu adversário, que é o primeiro passo para a conversão. Num segundo passo esta pessoa deve se entusiasmar e se maravilhar, mas somente o fascínio a fará acordar e caminhar em direção do objeto fascinador.   

O fascínio maravilha e arrasta
Por que? Porque o fascínio tem o condão de fazer caminhar, de atrair em direção dos fascinadores, fazendo com que os outros desejem ser semelhantes a eles.  Quando nasce o desejo vem depois a vontade e os passos seguintes em direção da conversão. São vários passos, mas aí tudo passa a depender da própria pessoa. Primeiro, desejar ser igual, ou pelo menos parecer com os Contra-Revolucionários; depois, desejar ser um deles e caminhar juntos na mesma Causa.
O fascínio faz-nos ter um comprazimento interior em contemplar espelhado em outrem o bem que amamos, uma espécie de gozo interior, uma alegria, um entusiasmo por ver aquele bem sendo posto em prática. 
É como se alguém estivesse dormindo e sonhasse com algo de fantástico e maravilhoso. Acorda e vê que aquele algo existe e está bem na sua frente. Mas para desfrutá-lo tem que sair de sua modorra sonolenta, levantar-se e ir em busca do bem que encontrou. Mas se achar alguém que lhe ajude a levantar-se pegando em sua mão, sua vontade será mais fortalecida e mais decidida.
Vejamos como São Francisco de Sales nos conta o exemplo da conversão de São Pacômio:
“São Pacômio, quando era ainda soldado muito jovem, e sem conhecimento de Deus, alistado sob a bandeira do exército que Constâncio levantara contra o tirano Maxêncio, veio com o regimento a que pertencia aquartelar-se perto duma pequena cidade, não muito distante de Tebas, onde não somente ele, mas todo o exército se achou em extrema penúria de víveres.
Tendo isto chegado ao conhecimento dos habitantes da pequena cidade, que por um feliz acaso eram fiéis a Jesus Cristo, e por conseqüência amigos e caritativos para com o próximo, imediatamente forneceram aos soldados tudo o que precisavam, mas com tanta solicitude, urbanidade e desvelo, que Pacômio, transportado de admiração, perguntou que nação era aquela, tão benévola, afável e generosa. Disseram-lhe que eram Cristãos, e inquirindo novamente sobre a lei e maneira de viver deles, soube que acreditavam em Jesus Cristo, Filho único de Deus, e que faziam bem a toda sorte de pessoas, com a firme esperança de receber uma ampla recompensa no Céu. Ah! Teotimo, o pobre Pacômio, apesar de sua boa índole, dormia ainda nesse tempo no leito da infidelidade; e eis que de repente, Deus bate à porta do seu coração, e pelo bom exemplo daqueles cristãos, como por uma doce voz, chama-o, acorda-o, e dá-lhe a primeira impressão do calor vital do seu amor.  Apenas ouviu falar, como acabo de dizer, da amantíssima lei do Salvador, cheio duma nova luz e consolação, retirou-se à parte, e refletindo algum tempo em si mesmo, levantou as mãos ao céu, e com um profundo suspiro, exclamou:  Ó Senhor Deus, que fizestes o céu e a terra, se vos dignardes lançar os vossos olhos sobre a minha baixeza, e sobre a minha aflição, para me dardes o conhecimento da vossa Divindade, prometo servir-vos, e obedecer toda a minha vida aos vossos mandamentos”.  Depois desta súplica e promessa, o amor do verdadeiro bem e da piedade tomou um tal aumento nele, que nunca mais cessou de praticar mil e mil exercícios de virtude”.[2]
Mais adiante São Francisco de Sales comenta: “Por certo aquele transporte de admiração que ele teve, outra coisa não foi, senão o seu acordar, pelo qual Deus tocou, como o sol toca a terra, com um raio de luz, que o encheu dum grande sentimento de gozo espiritual”...[3] 
Quer dizer, São Pacônio fascinado, maravilhou-se; maravilhado encheu-se de entusiasmo, isto é, de Deus, da graça divina; cheio de entusiasmo, converteu-se; convertido, tornou-se santo.

Autor; Juraci Josino Cavalcante
(espero com este texto contribuir para que se possa entender como age a opinião pública e  até como  conquista-la)


[1]Tratado do Amor de Deus”, de São Francisco de Sales”,  Liv. Apostolado da Imprensa, págs.. 104/105.


[2] Op. Cit.

[3] Tratado do Amor de Deus”,  Liv. Apostolado da Imprensa, págs. 104/105.



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