Não é sem tristeza que sentimos
aproximar-se o fim deste mês de Maria! Com efeito, durante o mês de maio
sentimos uma proteção especial de Nossa Senhora estender-se sobre todos os
fiéis, e a alegria que brilha em nossos templos e ilumina nossos corações
exprime a universal certeza dos católicos de que o indispensável patrocínio de
nossa Mãe celestial se torna, durante o mês de maio, ainda mais solícito, mais
amoroso, mais cheio de visível misericórdia e exorável condescendência.
Entretanto, depois de cada mês de
maio, alguma coisa fica, se tivermos sabido viver convenientemente estes trinta
dias especialmente consagrados a Nossa Senhora. O que nos fica é uma devoção
maior, uma confiança mais especial, e, por assim dizer, uma intimidade tão mais
acentuada com Nossa Senhora, que em todas as vicissitudes da vida saberemos
pedir com mais respeitosa insistência, esperar com mais invencível confiança, e
agradecer com mais humilde carinho todo o bem que Ela nos faça.
Nossa Senhora é a Rainha do Céu e da
Terra, e, ao mesmo tempo, nossa Mãe. É esta a convicção com que entramos sempre
no mês de maio, e tal convicção se radica cada vez mais em nós, lança
claridades e fortaleza sempre maior, quando o mês de maio se encerra. Maio nos
ensina a amar a Maria Santíssima por sua própria glória, por tudo quanto Ela
representa nos planos da Providência. E nos ensina também a viver de modo mais
constante nossa vida de união filial a Maria.
Os filhos nunca são mais seguros da
vigilância amorosa de suas mães do que quando sofrem. A humanidade inteira
sofre hoje em dia. E
não só todos os povos sofrem, mas quase poderia dizer-se que sofrem de todos os
modos por que podem sofrer. As inteligências são varridas pelo vendaval da
impiedade e do ceticismo. Tufões loucos de messianismos de toda ordem devastam
os espíritos. Idéias nebulosas, confusas, audaciosas, esgueiram-se em todos os
ambientes, e arrastam consigo, não só os maus e os tíbios, mas até por vezes
aqueles de quem se esperaria maior constância na Fé. Sofrem as vontades
obstinadamente apegadas ao cumprimento do dever, com todas as contrariedades
que lhes vem de sua fidelidade à lei de Cristo. Sofrem os que transgridem essa
lei, pois que longe de Cristo todo prazer não é no fundo senão amargura, e toda
a alegria uma mentira. Sofrem os corações, dilacerados pelos horrores das
guerras que se alastram, das famílias que se dissolvem, das lutas que armam por
toda parte irmãos contra irmãos. Sofrem os corpos, dizimados pela metralhadora,
depauperados pelo trabalho, minados pela moléstia, acabrunhados pelas
necessidades de toda ordem. Pode-se dizer que o mundo contemporâneo, semelhante
ao que vivia no tempo em que Nosso Senhor nasceu em Belém, enche os ares de um
grande e clamoroso gemido, que é o gemido dos maus que vivem longe de Deus, e
dos justos que vivem atormentados pelos maus.
Quanto mais sombrias se tornarem as
circunstâncias, quanto mais lancinante as dores de toda ordem, tanto mais
devemos pedir a Nossa Senhora que ponha termo a tanto sofrimento, não só para
fazer cessar assim nossa dor, mas para maior proveito de nossa alma. Diz a
Sagrada Teologia que a oração de Nossa Senhora antecipou o momento em que o
mundo deveria ser redimido pelo Messias. Neste momento cheios de angústias,
volvamos confiantes nossos olhos a Nossa Senhora, pedindo-Lhe que abrevie o
grande momento em que todos esperamos, em que uma nova Pentecostes abra clarões
de luz e de esperanças nestas trevas, e restaure por toda a parte o Reinado de
Nosso Senhor Jesus Cristo.
Devemos ser como Daniel, de quem diz a
Escritura que era desideriorum vir,
isto é, homem que desejava grandes e muitas coisas. Para a glória de Deus,
desejemos grandes e muitas coisas. Peçamos a Nossa Senhora muito, e sempre. E o
que sobretudo Lhe devemos pedir é aquilo que a Sagrada Liturgia suplica a Deus:
Emitte Spiritum tuum et creabuntur, et
renovabis faciem terrae. Devemos pedir pelo intermédio de Nossa Senhora que
Deus nos envie novamente em abundância o Espírito Santo, para que as coisas
sejam novamente criadas, e purificada por uma renovação a face da terra.
Diz Dante na Divina Comédia que rezar
sem o patrocínio de Nossa Senhora é a mesma coisa que querer voar sem asas.
Confiemos a Nossa Senhora este anelo em que vai todo o nosso coração. As mãos
de Maria serão para nossa prece um par de asas puríssimas por meio das quais
chegará certamente ao trono de Deus.
Como conclusão deste mês de Maria,
façamos nossas duas súplicas da ladainha das Rogações, referentes às
necessidades mundiais da Santa Madre Igreja:
"Para que vos digneis humilhar os
inimigos da Santa Igreja, vos rogamos, Senhor!
Para que vos digneis exaltar a Santa
Igreja, vos rogamos, Senhor!"
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