Contudo,
precisamos ter em vista em tudo quanto é conferência e trabalho intelectual, a
necessidade que nosso apostolado tem de conhecer nossas doutrinas não apenas
por uma espécie de olho mágico - pegar a coisa pela rama e dizer que entendeu -
nem apenas nos basearmos em um ou dois argumentos mal conhecidos. Para nossa
própria formação, devemos conhecer nossas doutrinas explicitamente tão a fundo
quanto possível. E devemos conhecer toda a argumentação adequada por onde esta
doutrina se destila. Em primeiro lugar porque, afinal de contas, toda a
formação se baseia nisto. Em segundo lugar porque para nós que lutamos por
idéias, não há meio de combate mais precioso do que argumentos. Um argumento,
para quem luta por idéias, é da mesma importância que uma arma para o militar.
Há um exemplo bem característico.
Santo Tomás
foi uma vez jantar ou almoçar com São Luiz. E, em dado momento, durante a
conversa, ele entra em abstração e começou a pensar em algo diferente do
assunto de que se falava. De repente, ele, homem corpulento, dá um murro na
mesa, e interrompe sua abstração para dizer: “ergo concluso contra maniqueus”
(portanto, está concluído contra os maniqueus). O argumento está montado para
derrotar os maniqueus. Foi um acontecimento na mesa do Rei; mandou-se buscar gente para escrever o que Santo Tomás
havia engendrado contra os maniqueus. E foi com certeza o acontecimento do dia no
palácio, acontecimento que deve até ter sido comentado no conselho de Estado
como o mais importante do dia, ou da semana, ou do mês: Frei Tomás encontrara
um novo argumento contra os maniqueus.
Por que esta
gente dava tanta importância a um novo argumento? Porque eles compreendiam que
um argumento a mais era uma arma definitiva
a mais e que nada é mais
importante do que um argumento novo. Este é o valor de um argumento na época em
que as idéias, a lógica e as argumentações verdadeiramente tinham força.
Portanto,
para nós que somos ultramontanos e
consagramos toda a nossa vida à defesa de determinadas idéias, conhecer os argumentos em que essas
idéias se fundam e descobrir um argumento a mais para justificar essas idéias,
é uma das preocupações centrais. Não
para nós nos convencermos, mas para sabermos lutar.
Sem
argumentos e sem idéias não existe possibilidade de apostolado. Se alguém pensa
ser um membro útil para o nosso movimento
prestando-nos muitos serviços de ordem material, mas ignorando nossa
doutrina, nossos argumentos e desinteressando-se do progresso de nossas
argumentações, esteja persuadido de que está no caminho errado. O caminho
verdadeiro consiste em colocar, antes de tudo, o progresso de nossa doutrina. Colocar,
antes de tudo, de acordo com o nível intelectual de cada um, o estudo de nossa
doutrina. Conhecer os argumentos velhos e os argumentos novos nos quais a nossa
doutrina se fundamenta.
A
matéria-prima de uma guerra ideológica são as idéias e os argumentos. Querer
fazer alguma coisa sem idéias e sem
argumentos é a mesma coisa de uma pessoa que quisesse ser almirante, e tomasse
todas as providências necessárias, exceto dirigir-se a um porto de mar para
aprender a entrar na água e a capitanear um navio. Quem quiser fazer nosso
apostolado sem essas preocupações de aprender a argumentar e de conhecer bem as
nossas doutrinas, mas por miúdo; quem tiver a ilusão de que com esse olho
mágico de brasileiro “pescou” alguma coisa, comece por ter certeza que não
“pescou“ nada.
(Extraído de uma série de conferências feitas por Dr. Plínio Corrêa de
Oliveira, em 1957, sobre o tema do Igualitarismo)
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