sábado, 9 de maio de 2020

ARMA PRINCIPAL NA LUTA CONTRA OS MAUS: O ARGUMENTO





Contudo, precisamos ter em vista em tudo quanto é conferência e trabalho intelectual, a necessidade que nosso apostolado tem de conhecer nossas doutrinas não apenas por uma espécie de olho mágico - pegar a coisa pela rama e dizer que entendeu - nem apenas nos basearmos em um ou dois argumentos mal conhecidos. Para nossa própria formação, devemos conhecer nossas doutrinas explicitamente tão a fundo quanto possível. E devemos conhecer toda a argumentação adequada por onde esta doutrina se destila. Em primeiro lugar porque, afinal de contas, toda a formação se baseia nisto. Em segundo lugar porque para nós que lutamos por idéias, não há meio de combate mais precioso do que argumentos. Um argumento, para quem luta por idéias, é da mesma importância que uma arma para o militar. Há um exemplo bem característico.

Santo Tomás foi uma vez jantar ou almoçar com São Luiz. E, em dado momento, durante a conversa, ele entra em abstração e começou a pensar em algo diferente do assunto de que se falava. De repente, ele, homem corpulento, dá um murro na mesa, e interrompe sua abstração para dizer: “ergo concluso contra maniqueus” (portanto, está concluído contra os maniqueus). O argumento está montado para derrotar os maniqueus. Foi um acontecimento na mesa do Rei; mandou-se  buscar gente para escrever o que Santo Tomás havia engendrado contra os maniqueus. E foi com certeza o acontecimento do dia no palácio, acontecimento que deve até ter sido comentado no conselho de Estado como o mais importante do dia, ou da semana, ou do mês: Frei Tomás encontrara um novo argumento contra os maniqueus.
Por que esta gente dava tanta importância a um novo argumento? Porque eles compreendiam que um argumento a mais era uma arma definitiva  a mais  e que nada é mais importante do que um argumento novo. Este é o valor de um argumento na época em que as idéias, a lógica e as argumentações verdadeiramente tinham força.

Portanto, para nós que somos ultramontanos e consagramos toda a nossa vida à defesa de determinadas  idéias, conhecer os argumentos em que essas idéias se fundam e descobrir um argumento a mais para justificar essas idéias, é uma das preocupações centrais.  Não para nós nos convencermos, mas para sabermos lutar.
Sem argumentos e sem idéias não existe possibilidade de apostolado. Se alguém pensa ser um membro útil para o nosso movimento  prestando-nos muitos serviços de ordem material, mas ignorando nossa doutrina, nossos argumentos e desinteressando-se do progresso de nossas argumentações, esteja persuadido de que está no caminho errado. O caminho verdadeiro consiste em colocar, antes de tudo, o progresso de nossa doutrina. Colocar, antes de tudo, de acordo com o nível intelectual de cada um, o estudo de nossa doutrina. Conhecer os argumentos velhos e os argumentos novos nos quais a nossa doutrina se fundamenta.
A matéria-prima de uma guerra ideológica são as idéias e os argumentos. Querer fazer alguma coisa sem  idéias e sem argumentos é a mesma coisa de uma pessoa que quisesse ser almirante, e tomasse todas as providências necessárias, exceto dirigir-se a um porto de mar para aprender a entrar na água e a capitanear um navio. Quem quiser fazer nosso apostolado sem essas preocupações de aprender a argumentar e de conhecer bem as nossas doutrinas, mas por miúdo; quem tiver a ilusão de que com esse olho mágico de brasileiro “pescou” alguma coisa, comece por ter certeza que não “pescou“ nada.


(Extraído de uma série de conferências feitas por Dr. Plínio Corrêa de Oliveira, em 1957, sobre o tema do Igualitarismo)

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