Como não há ficha para hoje de Conferência, a Comissão pede para eu
dizer algo sobre como se aproveitar esse mês, todo ele dedicado a Nossa
Senhora, principalmente na linha da reparação como tenho insistido.
É realmente uma muito boa idéia e
eu poderia indicar o modo seguinte: este mês é dedicado a Nossa Senhora e é um
mês de festas. E naturalmente pelo hábito e pela propriedade do assunto, nosso
espírito se volta para festejar Nossa Senhora durante esse mês. Acontece que há
um princípio de bom senso, pelo qual não se festeja uma pessoa que está
passando por um pesar muito grande. Por exemplo, a uma mãe que está com seu
filho muito doente, não se vai, durante a doença do filho, fazer para ela uma
festa de aniversário. Porque o ânimo d’Ela não dá para isso.
Então é a ocasião de se
testemunhar a ela veneração, carinho etc., mas testemunhar por outra forma,
quer dizer, solidarizando-se com a dor d’Ela. Dizer duas coisas: eu me lembro
que é o seu aniversário, compreendo que boas disposições essa data evoca em mim,
mas considerando seu estado, sua situação, eu queria lhe dizer também quanto me
pesa vê-la passar por essa provação, e faço votos para a melhora de seu filho.
É o que qualquer pessoa sensata diria.
Bem, é o que nós também devemos
dizer a Nossa Senhora. Devemos dizer que nos lembramos de todas as razões
perenes de alegria que Ela é para todos os católicos, em todas as
circunstâncias. Nossa Senhora é de tal maneira causa nostrae laetitiae,
como se diz na ladainha Lauretana, que Ela foi razão de alegria para nós, até
mesmo na mais triste das situações, que foi quando Nosso Senhor Jesus Cristo
morreu. Até nessa ocasião, a presença d’Ela era um elemento de alegria e de
satisfação para nós.
De outro lado, por causa disso,
compreender que uma atitude de mera comemoração festiva não tem propósito, e
que nós devemos, à rememoração de toda alegria que Ela nos dá, juntar a
consideração de toda a tristeza que Ela tem nas circunstâncias atuais, e
vivermos nessa tristeza. Ter essa tristeza em vista. Ter essa tristeza em vista
não é apenas comparecer ao Conferência,
ou a uma cerimônia e compungir-se com aquilo naquele momento. Mas é saber na
ponta da língua as razões da tristeza d’Ela. E a qualquer momento podermos
rememorar isso.
E isto é tão fácil de lembrar:
uma conjuração que tenta perpetrar o pior dos crimes, depois do deicídio, que é
de fazer cair em erro e, portanto, tentar aniquilar a Igreja Católica
Apostólica Romana. Isso é um crime terrível, porque contra a glória de Deus
nada se pode planejar de mais nefando, contra a salvação das almas não se pode
fazer nada de mais eficaz; para realizar o tentame
do demônio não se pode fazer nada que mais lhe convenha porque essa é a
substância do tentame do demônio.
Liquidar a Igreja Católica é claro que ele não poderá, porque a Igreja é
imortal. Mas pode, pelo menos, levar as coisas tão longe quanto nessa linha ir
possam. E é preciso dizer que elas são susceptíveis de ir mais longe do que nós
imaginávamos.
Ora, esse crime enunciado por
essa forma deve nos causar uma indignação sem nome, deve nos causar um protesto
de todo nosso ser. Porque nós amaremos a Deus na medida em que odiarmos esse
crime. Nós podemos fazer o teste de nosso amor de Deus através da atitude da
reação de nossa alma diante desse crime. Se na hora em que tentam matar o Corpo
Místico de Cristo minha indignação é pequena, não tem dúvida que o meu amor é
pequeno.
Imaginem que uma pessoa vem me
matar e eu tenho um amigo que olha: “Ahhn, coitado do Dr. Plínio! Mau
bocado que está passando agora! Enfim, vamos ver como é que ele se sairá disso.
Eu agora preciso fazer minha barba”. Eu saro, vem ele de encontro a mim: “Oh!
amigo, como eu o estimo!” - Tenha a santa paciência! Eu há pouco estive no pior
dos apuros, você foi fazer sua barba. Você teve uma babugem de comiseração a
meu respeito e você vem dizer que é meu amigo? Onde é que está a coerência
disso? Essa sua amizade que você ostenta a mim, essa amizade é uma caçoada, é
um escárnio. Saia com essa sua amizade, não a quero para mim. Amizade de
fariseu!
Então, a atitude que nós temos em
relação aos inimigos da Igreja é o termômetro de nosso amor à Igreja. E o ódio
que nós temos ao crime que se está praticando é o termômetro de nosso amor a
Nossa Senhora.
Pedirmos a Nossa Senhora que não se percam -
por nossa culpa - graças que Ela nos conceda
Já passamos da idéia da reparação
para uma outra idéia. Essa consideração certamente mostra quanto a reparação é
necessária. Mas ela também pode ser que nos mostre que nosso amor é débil, que
nosso amor é fraco. Então deveríamos fazer o seguinte pedido a Nossa Senhora -
alguém no Grupo fez esse pedido e eu achei muito bonito; eu não vou dar o
pedido exatamente como foi formulado, mas eu vou dar em linhas gerais.
E o pedido é esse, nas linhas que
eu quero apresentar: Nossa Senhora está continuamente fazendo chover sobre o
Grupo graças de amor a Ela; mas também de ódio e combatividade à obra que as
forças das trevas fazem contra Ela. Bem, essas graças não são recolhidas tão
amplamente como deveriam ser. Muitas delas caem no chão.
Então devemos - os que sejamos
sensíveis ao apelo que estou aqui fazendo - dirigir a Nossa Senhora a seguinte
súplica: que Ela nos dê todas as graças que os outros não aproveitam; que Ela
encha nossas almas com todas as graças dadas e que os outros não aceitam, para
reparar assim a tristeza que há nesse caudal de graças que fica sem
aproveitamento; e para que ao menos em nós resplandeça o dom feito ao Grupo.
E essa é uma linda súplica que eu
recomendo aos que se sentirem movidos interiormente a isso, que façam todos os
dias do mês de Maio. Por exemplo, por ocasião da Comunhão. Dizer a Nosso
Senhor, por meio de Nossa Senhora, que essas graças se ponham em nossa alma, que
nós sejamos o receptáculo de toda combatividade, de todo espírito de
intransigência, de toda incompatibilidade com o mal que deve caracterizar o
verdadeiro membro do Grupo de "Catolicismo". Os senhores vêem que
essa é uma súplica esplêndida e que nós poderíamos, portanto, tomar para nós,
fazer nossa.
Parece-me também que seria
interessante mudar essa devoção ao longo dos dias. Quer dizer, conservar essa
intenção, mas em cada dia do mês de Maio consagrar esse dia a alguma reflexão
sobre Nossa Senhora. Como aqui vamos dar, em cada dia, uma reflexão sobre
Nossa Senhora, uma notícia sobre uma devoção a Nossa Senhora; podia se tirar
daí, se me lembrarem, diariamente, uma reflexão válida para o dia seguinte, que
alimente nosso Rosário, nossa piedade, nesse resto de dia ou no dia seguinte, e
que seria um modo de aproveitarmos utilmente o mês de Maio, numa visão
verdadeiramente ultramontana.
Em cada dia desse mês eu
autorizei que por ocasião do alardo se colocasse, se expusesse à veneração
especial de todos uma imagem ou um quadro de Nossa Senhora, dos existentes em
nossas sedes. Hoje vai começar pela mais venerável das nossas imagens, que é a
imagem de Nossa Senhora Auxiliadora que vem acompanhando o Grupo, de algum modo
desde as suas nascentes. É uma imagem de minha propriedade particular, mas que
eu pus na sala da Junta Arquidiocesana da Ação Católica, quando tínhamos a
direção da Ação Católica. Quando nós nos retiramos, retirei a imagem que era de
nossa propriedade e que passou para o altar de nossa capela e de lá para cá nós
a vimos acompanhando até o dia de hoje. Então, essa vai ser a primeira imagem a
ser venerada especialmente durante o mês de Maria.
Imagem da Virgem que pediu - milagrosamente -
que a levassem do local ante o perigo de profanação
Restar-me-ia, antes de passar aos
avisos, fazer um comentário a respeito de uma manifestação de Nossa Senhora, na
cidade de Kiev, na Rússia. Estando a cidade assaltada pelos Tártaros e não
podendo mais resistir, todos fugiam abandonando tudo. São Jacinto de Cracóvia,
digno filho de São Domingos, ardentíssimo devoto de Nossa Senhora, foi
despedir-se da imagem antes d’Ele mesmo fugir. Quando se recomendava a Ela,
ouviu distintamente a imagem de alabastro murmurar: "E eu? Tu me
abandonas? Leva-me". O santo não sabia o que fazer por ser a imagem
pesadíssima e ele não poder carregá-la sozinho. Mas apenas a tomou em seus
braços, a sente leve como uma pena. A imagem perde todo o seu peso, por um
milagre da poderosíssima Mãe de Deus. E naturalmente ele fugiu com ela .
As manifestações de Nossa Senhora através de
suas imagens e seu simbolismo
Os senhores vêem aqui neste fato,
como Nossa Senhora preza suas imagens, como Ela se sente representada
dignamente por suas imagens, e como Ela não deseja que se façam com suas
imagens o que não é nem digno nem correto fazer-se a Ela. Ela obrou um prodígio
para que sua imagem fosse levada embora de um local onde provavelmente seria
profanada etc., por hereges ou outros quaisquer que estariam ameaçando o lugar.
De outro lado, entretanto, os
senhores vejam como Nossa Senhora gosta de nos acompanhar presente nas suas
imagens, e quer que as imagens d’Ela nos acompanhem. E assim operou um verdadeiro
milagre para que essa imagem acompanhasse seus filhos ao longo do êxodo que iam
fazer. Uma imagem de alabastro, pesadíssima, fala e é possível facilmente
carregá-la... É um modo de dar a entender como Nossa Senhora quer estar
presente no meio de seus filhos.
Há alguma aplicação para isso em
nossa vida? Se as imagens de Nossa Senhora, se Nossa Senhora de tal maneira
quer que suas imagens sejam de seus filhos, é para fazer notar quanto Ela nos
acompanha em todas as vicissitudes, em todas as circunstâncias. A imagem d’Ela
não nos abandona; muito mais, Ela não nos abandona. Quer dizer, em todas as
situações em que nós estejamos, em todas as latitudes, em todas as longitudes,
nas maiores elevações da vida espiritual, como nas situações também mais
tristes da vida espiritual, há um olhar de Nossa Senhora que nos acompanha; há
uma proteção, há uma providência de Nossa Senhora que nos acompanha e que nunca
nos abandona. E isso nos deve dar exatamente uma sensação de tranqüilidade em
relação às vicissitudes dessa vida.
O pensamento ao longo de todo o
dia de amanhã: Nossa Senhora é minha Mãe e não me abandonará; e não me abandona
inclusive na situação atual em que eu tanto preciso das graças d’Ela ou para
progredir; ou para não regredir ou para qualquer outro fato. Ela não me
abandona porque se uma imagem de alabastro, que afinal de contas não é senão
alabastro, vai ao encalço dos filhos d’Ela, quanto mais a providência d’Ela,
que é simbolizada pela imagem, quanto mais essa providência vai ao encalço dos
filhos d’Ela. Nossa Senhora irá ao meu encalço como um bom pastor. E eu posso
ter, portanto, essa tranqüilidade ao longo de minha vida: eu tenho a proteção e
o olhar de Minha Mãe. Está aí um pensamento para o dia de amanhã, sugerido por
essa devoção de Nossa Senhora de Kiev.
Nota ;
São Jacinto é conhecido por ter realizado numerosos milagres. O
milagre que tem sido associado muito com ele era o resultado do cerco Tártaro
da cidade de Kiev. Jacinto Ganhou uma devoção infantil e concurso para a Mãe de
Deus de S. Domingos. Quando Jacinto estava em Kiev, os tártaros saquearam a
cidade. Ele estava celebrando a missa e não sabia do ataque e do perigo até que
a missa acabou. Sem esperar tomou o cibório em suas mãos e estava fugindo da
Igreja. Isso é registrado quando ele passou pela estátua de Maria Ouviu uma voz
dizer: "Jacinto, meu filho, porque tu me deixas para trás? Leva-Me contigo
e não me deixa para os meus inimigos." Apesar da estátua ser de alabastro
e muito pesada, Jacinto tomou-a nos braços e levou-a com o cibório Junto com a
Santíssima Eucaristia. É para este tempo Milagroso São Jacinto que é mais
freqüentemente representado. A história continuou. Após isso, Jacinto e sua
comunidade que o acompanhou seguiram ao rio Dnieper. Lá, ele pediu a eles para
segui-lo a atravessar o rio. Ele liderou o caminho, e andaram todos sobre as
águas do rio profundo, que os deixou então protegidos da fúria dos tártaros.
Historiadores poloneses estão de acordo com tão Maravilhoso fato. A
circunstância, que é gravado em conexão com este milagre, o torna ainda mais
notável: as pegadas do santo permaneceram na água, mesmo depois de ter
atravessado o rio, e que, quando o fluxo foi tranqüilo, elas poderiam ser
vistos ao longo de séculos depois.
("Conferência", 1 de Maio de 1967)
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