Não se pode dizer que a Divina
Providência reservou para a mulher um papel secundário em Seus planos. Basta
verIficarmos que, em muitos casos, a mulher sempre foi a preferida. Foi uma
Mulher, a Virgem Santíssima, escolhida para ser quem gerasse a Segunda Pessoa
da Santíssima Trindade em sua humanidade.
Nosso Senhor Jesus Cristo, em sua vida, sempre concedeu às mulheres uma
atenção e um lugar especial
Foram elas que O acompanharam em toda a
Sua dolorosa Paixão; enquanto os homens, seus mais fiéis apóstolos, fugiam;
foram elas que providenciaram o Seu enterro e a preparação de Seu Sagrado
Corpo, levando-O até à sepultura. Todos
os doze apóstolos e os 72 discípulos inicialmente escolhidos por Jesus Cristo
eram homens. No entanto, onde estava este grupo de 84 homens no momento de Sua
Paixão e morte? Fugiram todos. Havia muitas mulheres que os acompanhavam em
suas pregações públicas, e a maioria delas foi mais fiel naquele terrível
momento do que os próprios homens.
Apesar de ter os homens como seus
discípulos e apóstolos, porém foi às mulheres que Nosso Senhor Jesus Cristo
primeiro se manifestou após a Ressurreição. Sobre este assunto, vejamos abaixo
os comentários De Monsenhor João Clá, extraídos
da revista “Arautos do Evangelho” :
“Por
que motivo teria escolhido as mulheres para Se manifestar, antes dos próprios
Apóstolos?
Voltemos
nossa atenção para uma passagem do Evangelho muito pouco analisada:
“Passado
o sábado, Maria madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para
ungir a Jesus. E no primeiro dia da semana, foram muito cedo ao sepulcro, mal o
sol havia despontado. E diziam entre si: Quem há de remover a pedra da entrada
do sepulcro?” (Mc 16, 1-3).
Agiam
impensadamente, ou seja, de modo substancialmente imperfeito, por várias
razões. Sabiam que o cadáver havia sido ungido dois dias antes. Por que fazê-lo de novo? Ademais, tratava-se
do corpo de uma pessoa falecida havia quarenta e oito horas. Por fim, é de bom senso que não se deve
violar uma sepultura, qualquer que seja, e as leis romanas não toleravam uma
transgressão desse tipo.
Havia
dificuldades adicionais, como elas mesmas confessam: “Quem
nos há de remover a pedra?” Naquela hora era improvável que encontrassem
homens aos quais pudessem pedir tal serviço. E na hipótese de lá haver alguns,
prestar-se-iam a realizar tarefa tão perigosa?
O
sepulcro havia sido lacrado com todos os cuidados dos odientos adversários de
Jesus, como sabiam os discípulos. Os príncipes dos sacerdotes e os fariseus
“asseguraram o sepulcro, selando a pedra colocando guardas’ (Mt 27, 62-66). Como iriam elas convencer a lhes permitirem abrir o túmulo e retirar o
cadáver?
E
nada indica que elas tenham exposto seus planos a São Pedro e aos outros
Apóstolos. É mais uma nota de imperfeição. Agiam por conta própria num assunto
que poderia comprometer toda a Igreja nascente. Qualquer violação da sepultura
deixaria a incipiente comunidade cristã em complicada situação diante das
autoridades judaicas e romanas. O simples fato de chegarem a fazer aos vigias
alguma proposta quanto ao cadáver daria razão aos príncipes dos sacerdotes e
escribas, que haviam solicitado ao governador romano uma guarda diante do túmulo
de Jesus, pois “seus discípulos poderiam vir roubar o corpo
e dizer ao povo: Ressuscitou dos mortos”... (Mt 27, 64).
Outra
questão de grande peso para a avaliação dos fatos é esta: por que Nossa Senhora
não se juntou a elas? Terão perguntado à Mãe de Jesus se estava correto aquele
modo de proceder?
Além
do mais, elas mesmas não criam na Ressurreição. Do contrário, teriam preferido
ficar nas proximidades do Santo Sepulcro, para aguardar os acontecimentos. Igualmente, não lhes teria ocorrido a idéia
de embalsamar de novo o corpo, a fim de protegê-lo da agressividade do tempo e
da decomposição.
Este
juízo parece por demais severo, ainda que apoiado em autores de grande
importância. E de fato o é. Acrescente-se a isto que os próprios Apóstolos
consideravam a situação com a gravidade que estamos descrevendo. As terríveis
notícias sobre os acontecimentos da Paixão do Senhor, que se haviam propagado
por todos os lados, e o ódio que podiam sentir pairando no ar, haviam lhes
incutido terror até o fundo da alma. Por isto estavam trancados no Cenáculo.
Ora,
é precisamente em meio a esse clima de tragédia e pânico que aquele grupo de
piedosas mulheres, sem muito refletir sobre as conseqüências de seus atos,
resolve sair antes do raiar da aurora...
Apesar da sua imprudência, as mulheres não foram
repreendidas
Podemos
imaginar a enorme preocupação que tomou a todos no Cenáculo, ao darem por falta
dessas mulheres. E também o alvoroço que deve ter havido e os olhares de
reprovação, quando elas voltaram para contar o que haviam presenciado no túmulo
de Jesus. Apóstolos e discípulos não só não acreditaram na narração, como
atribuíram tudo à fértil imaginação feminina: “Mas essas notícias
pareciam-lhes como um delírio, e não lhes deram crédito” (Lc 24, 11). Ao narrar
o episódio dos discípulos de Emaús, São Lucas lhes coloca nos lábios um lamento
sobre tais mulheres, que haviam assustado a todos no cenáculo (Lc 24, 22).
Apenas
São Pedro e São João resolveram se mover para certificar-se do que ouviram, e
creram
No
fim de tudo, as próprias mulheres se deram conta do perigo a que se haviam
exposto e da imprudência cometida: “Elas saíram do sepulcro e fugiram trêmulas
e amedrontadas; e a ninguém disseram coisa alguma (pelo caminho), por causa do
medo” (Mc 16, 8). Esta é a
reação característica dos imprudentes: antes do ato, o perigo não existe; após
as primeiras configurações deste, o pânico.
Diante
desses fatos, tornam-se incompreensíveis as atitudes de Nosso Senhor para com
elas. Façamos uma breve recapitulação dos fatos:
1.
Por escolha de Jesus, a precedência na pregação do Evangelho cabia aos homens
(os doze apóstolos e 72 discípulos).
Ora, o mais importante de todos os milagres, o fundamento de nossa fé, a
Ressurreição do Senhor Jesus, não é comunicada aos homens em primeiro lugar,
mas sim às mulheres. Elas são encarregadas pelo “raboni” de transmitir a Boa
Nova para os próprios apóstolos e discípulos, a fim de que estes a anunciem
pelo mundo. Por cúmulo, eles nem sequer chegam a lhes dar crédito... (Mc
16, 11).
2.
Jesus manda dois Anjos (Lc 24, 4) para lhes comunicar o grande acontecimento
(Lc 24, 6); Mc 16, 6; Mt 28, 6). É a primeira vez que no Evangelho deparamos
com o termo “ressurreição” após a morte
do Senhor.
3.
Elas não só não recebem a menor recriminação da parte dos mensageiros celestes,
mas são tratadas com enorme bondade e deferência. Um dos Anjos as recebe com
palavras carinhosas, procurando logo de início desfazer-lhes o medo e
mostrar-lhes que conhecia perfeitamente a alta razão que as movia até ali.
4.
Como ficou visto mais atrás, Jesus apareceu a Maria, sua Mãe, logo após sair do
sepulcro. Em segundo lugar, a Madalena (Jo 20, 16), com enorme ternura,
chamando-a pelo nome. E, em terceiro, às outras mulheres, também com muita
bondade, deixando que d’Ele se aproximassem e até osculassem seus pés (Mt 28,
9-10).
O amor puro por Jesus acaba compensando as imperfeições
A
esta altura nos perguntamos por que essa diferença de atitude de Jesus, para
com elas, de um lado, e para com os Apóstolos, de outro. O trato do Senhor para
os Apóstolos é bem descrito por São Marcos: “Finalmente apareceu
aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a sua incredulidade e dureza
de coração, por não terem dado crédito aos que o viram ressuscitado” (Mc
16, 14). Sua primeira palavra, portanto,
segundo o evangelista, é de censura para com eles. Que diferença! Por quê?
Não
teria entendido nada dessa sublime lição quem afirmasse que Jesus quis dar
preeminência à mulher sobre o homem. Não é este o caso. Na verdade, tais
episódios deixam transparecer claramente a essência do Evangelho, que Nosso
Senhor havia resumido nos seguintes termos: “Dou-vos um novo mandamento:
amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também deveis amar-vos
uns aos outros” (Jo 13, 34). É no perfeito amor a Deus e ao próximo que
está a síntese do Evangelho.
Era
tão grande o amor que aquelas mulheres tinham por Jesus que até seu instinto de
conservação havia se definhado, no que significasse ir ao encontro d’Ele.
Carregavam imperfeições, mas o amor pelo Senhor era puro. E quando esse amor é
assim acrisolado, Cristo mesmo toma sobre si a tarefa de aperfeiçoar as ações
que a natureza humana decaída venha a realizar.
Com
essa afirmação, não é nossa intenção fazer uma apologia da imprudência enquanto
tal, mas ressaltar como as atitudes irrefletidas das santas mulheres do
Evangelho eram compensadas pelo puro amor de Deus – a caridade”. [1]
Nenhum comentário:
Postar um comentário