domingo, 18 de abril de 2021

A VERDADEIRA BONDADE NÃO PODE SER SEGUNDO A NATUREZA

 



A verdadeira bondade provém de Deus, pois só Ele é Bom e dissemina essa bondade entre os homens. Ser bom é ser erfeito. Mas, os revolucionários querem que os homens pratiquem uma certa bondade, uma certa perfeição, que eles dizem ser a “bondade natural”, quer dizer, proveniente da própria Natureza.

São Luís Grignion de Montfort define o possuidor de tal “bondade” como aquele que é “sábio segundo o mundo”:

“Sábio segundo o mundo é quem sabe desenvolver-se em seus negócios e consegue tirar vantagem de tudo, sem dar a  impressão de buscá-la; quem domina a arte de fingir e enganar astutamente, sem que ninguém se dê conta; quem conhece perfeitamente os gostos e delicadezas do mundo; quem sabe amoldar-se a todos para conseguir seus propósitos, sem preocupar-se nem pouco nem muito com a honra e a glória de Deus; quem harmoniza secreta porém funestamente a verdade com a mentira, o Evangelho com o mundo, a virtude com o pecado e Jesus Cristo com Belial; quem deseja passar por honesto, porém não por devoto; quem despreza, interpreta torcidamente ou condena com facilidade as práticas piedosas que não se acomodem às suas.  Finalmente, sábio segundo o mundo é quem, guiando-se somente pela luz dos sentidos e da razão humana, trata unicamente de salvar as aparências de cristão e homem de bem, sem preocupar-se o mínimo possível de agradar a Deus e expiar, pela penitência, os pecados cometidos contra a divina Majestade”[1]

O burguês mercantilista foi um desta espécie de “sábio segundo o mundo” ou “homem de bem” forjada pelo espírito renascentista. Segundo a escritora Regine Pernoud este “homem de bem” era um tipo muito comum entre os grandes negociantes, altos magistrados, juristas e funcionários públicos. Trabalhava e poupava para sua família, levando uma vida bem ordenada, até mesmo um pouco austera do ponto de vista moral. “A sua conduta sempre exata e comedida fá-lo atingir uma felicidade honesta, desconhecida dos grandes e dos pobres, felicidade que não exclui as incongruências da fortuna, mas a reduz e afasta o mais possível. Pela capacidade de previdência, elimina da sua vida o desconhecido e deixa pouco lugar ao mistério.  O nobre gasta e dá esmolas, mais talvez por prodigalidade, por gosto do fausto, do que por verdadeira caridade; o burguês, esse acumula..”.[2]  

Está descrito acima o que se costumou chamar de “homem de bem”, para outros o “homem securitário” dos tempos modernos, sucessor em grau e medida do renascentista.  As relações sociais criadas por estes burgueses mercantilistas, estes “homens de bem”, terminam por gerar um “direito natural’ baseado na felicidade pessoal terrena, feita de previdência, de cálculo, de habilidade, de esperteza, com o fim único de se aproveitar do gozo da vida. Imperceptivelmente, esta mentalidade formou uma corrente de opinião, segundo a qual Deus teria que ser afastado de suas vidas e com Ele os conceitos morais. A palavra de ordem é “regressar à natureza” e lhe dar rédeas soltas.

No entanto, o que fizeram os homens formados por tal mentalidade? Promoviam piratarias, assaltos, roubos, escravizavam nativos, possuíam grande avareza e cobiça.  O “homem de bem”, sem Deus, tornou-se o homem do mal, embora por vezes ele pudesse praticar alguma bondade interesseira e passageira, talvez para satisfazer algum capricho pessoal. Hoje, seu herdeiro moderno pratica atos muito mais vis, pois o “homem de negócios” dos dias atuais tem uma mentalidade de verdadeiro crápula, desonesto e vil, ardendo de desejos do gozo da vida e de suprema avareza.

 



[1] San Luis Maria Grigênion de Montfort – Obras – BAC – pág. 152

[2] As Origens da Burguesia” – Régine Pernoud – Editora Europa-América – págs. 114/115


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