Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face foi declarada Doutora da
Igreja no dia 19 de outubro de 1997 pelo Papa João Paulo II. Na oportunidade, o
Vaticano informou que a Igreja concedeu a honraria à Santa Teresinha porque,
apesar de ter morrido jovem e de não ter cursos superiores, ela mostrou a todos
os fiéis a importância do exemplo de sua vida no ensino teológico.
Das Doutoras da Igreja ela é, portanto, a única que tem uma doutrina que
foi sua própria vida. Evidentemente, Santa Teresinha não escreveu nenhuma obra
doutrinária ou ascética a não ser sua autobiografia. Nela, a Santa expõe a doutrina
de santificação que denominou de “Pequena Via”, e o faz apenas contando como
procurou viver e praticar tal caminho de perfeição. Dir-se-ia que não há muito
o que contar de uma vida passada entre as paredes de um convento de clausura,
onde impera apenas a oração e o silêncio. A superficialidade de quem assim pensa
o impede de ver quanto de sofrimento e de trabalho pode passar por quem ama,
especialmente se este amor se eleva até o mais alto, até Deus.
A vocação de Santa Terezinha, pode-se dizer, foi uma vocação que abrange
todas as outras, pois nela se insere todas as aspirações de perfeição em busca
da santidade. O Papa São Pio X declarou, ao assinar o decreto de introdução da
causa de sua canonização em 1914, que até aquele momento Santa Terezinha era a
maior santa dos tempos modernos. Resumindo sua grande Vocação, declarou ela em
um de seus manuscritos autobiográficos:
“Ser tua esposa, ó Jesus, ser carmelita, ser mãe das almas pela união contigo,
deveria ser bastante para mim... Mas,
assim não acontece... Sem dúvida, as
três prerrogativas constituem exatamente minha vocação: Carmelita, Esposa e
Mãe. Contudo, sinto em mim outras
vocações. Sinto em mim a vocação de GUERREIRO, de SACERDOTE, de APÓSTOLO, de
DOUTOR, e de MARTIR. Sinto, afinal, a necessidade, o desejo de realizar por ti,
Jesus, todas as obras, as mais heróicas...
Sinto na alma o arrojo de Cruzado, de Zuavo Pontifício[1].
Desejaria morrer no campo de batalha pela defesa da Igreja..
“Sinto em mim a vocação de
SACERDOTE. Com que amor, ó meu Jesus, não te carregaria nas mãos, quando à
minha voz descesses do Céu... Com que amor te não daria às almas!... Mas, que fazer? Com todo o desejo de ser sacerdote,
admiro e invejo a humildade de São Francisco de Assis, e sinto a vocação de
imitá-lo, quando recusou a sublime dignidade do sacerdócio.
“Oh! apesar de minha pequenez, quisera esclarecer as almas, como os Profetas,
os Doutores. Tenho vocação de ser Apóstola... Quisera percorrer a terra,
apregoar teu nome, e chantar em terras de infiéis tua gloriosa Cruz. Mas, ó meu
Bem-Amado, uma única missão não me seria bastante. Quisera anunciar, ao mesmo
tempo, o Evangelho pelas cinco partes do mundo até as ilhas mais remotas...
Quisera ser missionária não só por alguns anos, mas quisera sê-lo desde a
criação do mundo, e sê-lo até a consumação dos séculos... Mas, acima de tudo, quisera, ó meu amado
Salvador, por ti quisera derramar meu sangue até a última gota...
“Martírio! Eis o sonho de minha juventude! O sonho que cresceu comigo à
sombra dos claustros do Carmelo... Aí, também, percebo que meu sonho é loucura,
pois não conseguiria limitar-me a apreciar um só gênero de martírio... Para me
satisfazer, precisaria de todos eles...
Quisera como tu, meu adorado Esposo, ser flagelada e crucificada... Como São Bartolomeu, quisera morrer
esfolada... Como São João, quisera ser
escaldada em azeite a ferver. Quisera submeter-me a todos os tormentos que se
infligiam aos mártires... “
Finalmente, Santa Terezinha encontrou a resposta para suas indagações:
“...A caridade deu-me a chave de minha vocação. Compreendi que, se a
Igreja tinha corpo, composto de vários membros, não lhe faltava o mais necessário,
o mais nobre de todos. Compreendi que a Igreja tinha coração, e que o coração
da Igreja, e que o coração era ARDENTE DE AMOR. Compreendi que só o amor fazia
os membros da Igreja atuarem, e que se o amor se extinguisse, os Apóstolos já
não anunciariam o Evangelho e os Mártires se recusariam a derramar seu
sangue... Compreendi que o AMOR ABRANGE TODAS AS VOCAÇÕES, ALCANÇANDO TODOS OS
TEMPOS E TODOS OS LUGARES... NUMA PALAVRA, É ETERNO...
“Então, no transporte de minha
delirante alegria, pus-me a exclamar: Ó Jesus, meu amor, minha vocação,
encontrei-a afinal: MINHA VOCAÇÃO, É O AMOR!...” [2]
Eis abaixo um resumo brilhante
sobre a vida de Santa Terezinha:
“Em 2 de janeiro de 1873, nasceu
Maria Francisca Teresa Martin, em Alençon, França. De seus santos pais – Louis
e Zélie Martin, que foram proclamados veneráveis em 1994 e estão a ponto de
serem beatificados – aprendeu a amar a Jesus e a Maria. Ficou órfã de mãe aos 4
anos. Mas, nesse pouco tempo de convívio,
recebeu muito carinho materno.
“Aos dois anos, ouviu dizer que
sua irmã Paulina seria religiosa. Nessa idade, ela não sabia bem de que se
tratava, mas decidiu: “Também eu serei religiosa”. E acrescentou em suas memórias: “Depois
disto, nunca mudei de resolução”. Pouco adiante, afirma: “Desde a idade de três
anos, comecei a não recusar nada que o bom Deus me pedisse”.
“Depois da morte da mãe, escolheu
sua irmã Paulina para ser sua “mãezinha”.
Esta – juntamente com o pai e as outras três irmãs – cuidou da caçulinha
com extremado desvelo, dando-lhe uma educação afetuosa e firme.
“A família mudou-se para Lisieux,
estabelecendo-se numa casa chamada “Buissonnets” (moitinhas).
Perto, residia um tio de Santa Teresinha, o sr. Guérin, cuja virtuosa
esposa se encarregou de dar assistência às sobrinhas órfãs da mãe.
Uma cura milagrosa
“Alguns anos após, Paulina entrou
para o Carmelo. Isso significou nova perda para Teresinha, então com nove anos
de idade, mas fortaleceu sua convicção de que também ela seria carmelita. Nesta
época, acometeu-a uma estranha enfermidade que, além dos incômodos físicos,
causava-lhe terríveis sofrimentos psíquicos.
“Eu dizia e fazia coisas que eu não pensava. Quase sempre eu parecia
delirar, dizendo palavras sem sentido’, narra ela. Segundo os diagnósticos médicos,
essa doença poderia deixá-la louca se não a levasse à morte.
“Nossa Senhora a curou, como ela
própria relata:
“Não encontrando socorro algum na terra, voltei-me para minha Mãe do Céu e Lhe supliquei com todo ardor que Ela tivesse enfim piedade de mim. De repente, a Santíssima Virgem pareceu-me bela, tão bela que nunca eu tinha visto nada tão formoso. Sua face irradiava inefável bondade e ternura, mas o que me penetrou fundo na alma foi seu sorriso arrebatador. Então, dissiparam-se todos os meus sofrimentos. (...) Oh! – pensei comigo – a Santíssima Virgem sorriu-me! Como sou feliz”
Santa decidida e audaciosa
“Em lugar de brincar como as
outras crianças, Teresinha preferia ter sua alma posta nos panoramas da
contemplação. Gostava muito de ler, sobretudo certas histórias de cavalaria.
Lendo a narração dos feitos heróicos de Santa Joana D’Arc[3],
sentia em si mesma inspiração celestial, com um forte desejo de imitá-la. Com
essas leituras, recebeu uma graça que considerou uma das maiores de sua vida: a
compreensão de que nasceu para a glória dos Céus, nascera para ser santa!
Decidiu então entrar logo no
Carmelo de Lisieux, onde já se encontravam suas irmãs Paulina e Maria. Falou com seu bondoso pai que, apesar de
sofrer com essa separação, consentiu, considerando-se privilegiado pelo fato de
Jesus tomar por esposa mais uma de suas filhas.
“Mas não era comum receber uma noviça
de apenas 15 anos... Teresinha não desanimou face á negação do padre superior
do Carmelo. Manifestou-se decidida a recorrer ao bispo e mesmo ao Papa, se
fosse preciso.
“E assim o fez! Após um
infrutífero recurso ao bispo, ela foi a Roma e, ajoelhada aos pés de Leão XIII,
com os olhos marejados de lágrimas, expôs seu desejo:
- Santíssimo Padre, venho
pedir-vos uma grande graça!
“Surpreso, este inclinou-se para
escuta bem, sorriu ao ouvir seu pedido e respondeu-lhe que os superiores
decidiriam. Ela contra-argumentou que, com uma palavra dele, todos
consentiriam.
- Vamos ver... Entrareis se o bom
Deus quiser!... – disse o Papa.
“E o bom Deus quis. Três meses
depois, aquela valente jovem transpôs os umbrais do Carmelo, adotando o nome de
Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, porque lhe calavam na alma a
infância e a Paixão do Salvador.
“Na confissão geral que fez antes
de receber o hábito de noviça, ouviu do confessor, Padre Pichon, essa
consoladora afirmação: “Na presença do bom Deus, da Santíssima Virgem e de
todos os Santos, declaro que jamais cometeste um só pecado mortal”.
“Mas, como tantas vezes ocorre
com os Santos, as outras freiras não se davam conta da grandeza de alma daquela
carmelita que se fazia tão pequena. Toda a sua vida religiosa, deu sempre bons
exemplos e aceitou com agrado todas as humilhações. Sem nunca desanimar,
procurava fazer a vontade de Deus prestando serviço às demais, e tinha sempre
um sorriso para todas”.
“Travou incessante luta para
vencer-se a si mesma, sobretudo nos problemas próprios à vida comunitária. Por
exemplo, no recreio, procurava conversar com aquelas que eram de convívio mais
difícil; suportava pacientemente o irritante ruído que fazia uma freira, quando
entravam no coro; não se queixava quando uma irmã de hábito lhe respingava água
suja na hora de lavar a roupa. Sem cessar, oferecia a Deus esses inumeráveis
pequenos sacrifícios, como oração e oblação.
“Iniciou ela, assim, uma nova via
espiritual: a “pequena via”, a via do abandono nas mãos de Deus, a via da
infância espiritual, que todas as almas, até mesmo as mais fracas, podem
percorrer e, assim, santificar-se. Tudo fazia por amor a Deus. E sabia que só
com auxílio da graça venceria as dificuldades. Gostava de dizer: “Tudo é
graça”.[4]
Assim, com apenas 24 anos de
idade, Santa Teresinha terminou sua vida, entregando sua alma ao Criador após
um alto grau de santidade. Faleceu no dia 30 de setembro de 1897. Decorrido
apenas um ano após sua morte, em 1898, foi publicada a primeira edição de sua
autobiografia, com dois mil exemplares, logo esgotada em pouco tempo. 30 anos
após sua morte, em 1927, o Papa Pio XI a proclamava Padroeira das Missões,
juntamente com São Francisco Xavier. Em 1944, Pio XII nomeia Santa Teresinha
padroeira secundária da França, ao lado de Santa Joana D’Arc.
A “Pequena Via”, exposta por
Santa Teresinha do Menino Jesus em seus “Manuscritos autobiográficos”,
denominado por ela mesma de “História de uma alma”, de tal forma fez grande bem
às almas, concorrendo para santificação de muitas, que a Igreja a considerou
como a explicitação de uma viva doutrina
espiritual, de uma ascese mística de grande vulto, a ponto do Papa tê-la
proclamado de Doutora da Igreja.
[2] “História
de uma Alma – Manuscritos autobiográficos” – Ed. Paulus – págs. 199/201
[4] In “Arautos do Evangelho” de outubro de 2003, artigo
de Juliane Campos “Quero passar meu céu fazendo bem na terra”
Um comentário:
Extraordinária Santidade de Santa Terezinha, um resumo da Santidade dos Contrrevolucionarios e de seus ideais.!!!
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