“Consciente
de sua própria respeitabilidade e da dignidade dos outros, em seu apostolado
Dr. Plínio incutia temor naqueles que desejassem afrontar a ordem estabelecida
por Deus e estimulava, por sua mera presença, o bom comportamento dos filhos da
luz, que se sentiam sustentados , encorajados e benquistos por ele. Assim,
movido pelo enlevo em relação à sua pessoa, certo dia o Autor perguntou-lhe:
-
O senhor poderia explicar como se harmonizam as virtudes na alma do senhor?
Vê-se que, por ser batizado, o senhor possui a fé, a esperança, a caridade, a
fortaleza, a temperança, a prudência e a justiça. Entretanto, no senhor essas
virtudes apresentam um matiz diferente dos demais, que não sei definir.
Dr.
Plínio então respondeu:
-
Meu filho, para me compreender bem é preciso levar em consideração o seguinte.
Você, que gosta de música, sabe que existe no piano um pedal que abafa o som e
outro que o amplia. Em minha alma, Deus quis que houvesse um ampliador de todas
as virtudes, em função do qual elas devem ser analisadas. E esse pedal se chama
grandeza.
Ele
continuou:
-
Como você mesmo diz, eu tenho fé, mas minha fé possui uma nota diferente: uma ênfase
na certeza absoluta, cristalina e categórica da existência de Deus, de sua
Unidade e Trindade de Pessoas, da Encarnação do Verbo e da veracidade de todos
os outros dogmas da Santa Igreja. Isso é crer com grandeza, sobretudo numa
época relativista e cética, que julga ser moderno pôr em dúvidas todas as
coisas. Quanto à esperança, ela consiste, como a de todo católico, em almejar
minha salvação, não por méritos próprios, mas pelos de Nosso Senhor Jesus
Cristo. No meu caso, porém, essa esperança comporta o desejo ardente de, pela
misericórdia de Nossa Senhora, tornar-se mais semelhante possível a Ela, a fim
de brilhar pela integridade neste mundo de trevas e conquistar no Céu o mais
alto trono de glória a mim reservado. E o mesmo se dá com as outras virtudes.
Após
ouvir tal afirmação, o Autor concluiu: assim como São Bento era para os monges
o modelo de contemplação divina, São João Bosco encarnava a figura do apóstolo
da juventude e São João Batista Vianney se distinguia como perfeito espelho do
sacerdócio de Cristo, assim também existia um homem chamado a personificar
nesta terra a grandeza de Maria.
A
descrição do dinamismo das virtudes na alma de Dr. Plínio, à luz da grandeza,
abria para o Autor um novo horizonte:
Nossa Senhora Se mostrava a ele habitando de forma misteriosa e
espiritual naquele varão que tinha diante de si. No fundo, poder-se-ia dizer
que já não era Plínio que vivia, mas a Santíssima Virgem e, por meio d’Ela, o
próprio Jesus que viviam nele.
Em
Dr. Plínio a grandeza tendia a comunicar-se constantemente. Ao discorrer
durante suas conferências e conversas sobre os mistérios da Fé Católica, a
Santa Igreja e a Civilização Cristã, ele descortinava ante seu auditório a magnificência
dos frutos saídos do costado divino transpassado pela lança no Calvário. E, no
seu dia a dia, dedicava-se aos outros com impressionante generosidade, mantendo
inalteradas sua boa disposição, inesgotável paciência e a delicadeza de trato.
Seu exemplo era uma eloquente ratificação do que ele mesmo ensinara a respeito
da grandeza de Maria: tratava-se de uma grandeza soberana, sacrificada e
dadivosa.
Com
efeito, a superioridade da Mãe de Deus na ordem da graça, que ultrapassa em
muito a virtude e os méritos de todos os Bem-Aventurados, não A distancia dos
pecadores, como certas tendências igualitárias gostariam de fazer crer. Ao
contrário, Maria é a mais terna e misericordiosa das mães, sempre pronta a perdoar,
curar e elevar a almas. Não poderia ser diferente, pois Ela mesma Se declarou
escrava de Deus nosso Senhor, o qual quis Se encarnar em seu seio para assumir
nossas culpas e repará-las no altar da Cruz.
De
modo análogo, Dr. Plínio vivia sua vocação à grandeza em contínuo estado de
holocausto. Ele mantinha com seus discípulos, pela união de almas que a
Providência estabelecera entre o fundador e aqueles que militavam em sua obra,
uma solidariedade incondicional, como poucas vezes houve na História, e levava
seu afeto e capacidade de perdoar até as últimas consequências, fazendo cada um
dos que necessitavam de seu auxílio paterno sentir-se filho único. Em síntese,
à imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo, ele conservou durante toda a sua vida
a atitude do bom pastor junto às ovelhas que lhe foram confiadas.” (14)
(14) - Conforme nos explica o Doutor Angélico, quem
possui verdadeira grandeza de alma sabe-se devedor de Deus, reconhecendo a
própria dignidade, mas levando em consideração
que todos os seus dons são uma dádiva divina. Por essa razão, ele nunca
menospreza os inferiores, mas com humildade procura horar e servir os demais,
descobrindo neles reflexos do Criador (cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica,
II-II, q. 129, a.3, ad 4). Humildade e
grandeza andam juntas, como dois arcos medievais ao formar uma ogiva. Desse
sublime entrelaçamento deu-nos exemplo máximo o Redentor, o qual, nos momentos
mais humilhantes da Paixão ou de maior intimidade com os discípulos, manteve
inalteráveis sua grandeza e dignidade, sua humildade e benquerença (cf. Jo 13, 13; 18, 37; 19,11). Assim, a grandeza de espírito tão viva e
reluzente na alma de Dr. Plínio está intimamente ligada à humildade de coração
e encontra sua fonte, em grau iminente, na Pessoa Sacrossanta de Nosso Senhor
Jesus Cristo.
(“Maria Santíssima! O Paraíso de Deus revelado aos homens
– I – Minhas relações com Maria Santíssima” – de Mons. João Scognamíglio Clá
Dias, EP – Associação Brasileira Arautos do Evangelho, 2019 – págs. 74-78)
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