domingo, 4 de outubro de 2020

A VOCAÇÃO PARA A GRANDEZA

 




“Consciente de sua própria respeitabilidade e da dignidade dos outros, em seu apostolado Dr. Plínio incutia temor naqueles que desejassem afrontar a ordem estabelecida por Deus e estimulava, por sua mera presença, o bom comportamento dos filhos da luz, que se sentiam sustentados , encorajados e benquistos por ele. Assim, movido pelo enlevo em relação à sua pessoa, certo dia o Autor perguntou-lhe:

- O senhor poderia explicar como se harmonizam as virtudes na alma do senhor? Vê-se que, por ser batizado, o senhor possui a fé, a esperança, a caridade, a fortaleza, a temperança, a prudência e a justiça. Entretanto, no senhor essas virtudes apresentam um matiz diferente dos demais, que não sei definir.

Dr. Plínio então respondeu:

- Meu filho, para me compreender bem é preciso levar em consideração o seguinte. Você, que gosta de música, sabe que existe no piano um pedal que abafa o som e outro que o amplia. Em minha alma, Deus quis que houvesse um ampliador de todas as virtudes, em função do qual elas devem ser analisadas. E esse pedal se chama grandeza.

Ele continuou:

- Como você mesmo diz, eu tenho fé, mas minha fé possui uma nota diferente: uma ênfase na certeza absoluta, cristalina e categórica da existência de Deus, de sua Unidade e Trindade de Pessoas, da Encarnação do Verbo e da veracidade de todos os outros dogmas da Santa Igreja. Isso é crer com grandeza, sobretudo numa época relativista e cética, que julga ser moderno pôr em dúvidas todas as coisas. Quanto à esperança, ela consiste, como a de todo católico, em almejar minha salvação, não por méritos próprios, mas pelos de Nosso Senhor Jesus Cristo. No meu caso, porém, essa esperança comporta o desejo ardente de, pela misericórdia de Nossa Senhora, tornar-se mais semelhante possível a Ela, a fim de brilhar pela integridade neste mundo de trevas e conquistar no Céu o mais alto trono de glória a mim reservado. E o mesmo se dá com as outras virtudes.

Após ouvir tal afirmação, o Autor concluiu: assim como São Bento era para os monges o modelo de contemplação divina, São João Bosco encarnava a figura do apóstolo da juventude e São João Batista Vianney se distinguia como perfeito espelho do sacerdócio de Cristo, assim também existia um homem chamado a personificar nesta terra a grandeza de Maria.

A descrição do dinamismo das virtudes na alma de Dr. Plínio, à luz da grandeza, abria para o Autor um novo horizonte:  Nossa Senhora Se mostrava a ele habitando de forma misteriosa e espiritual naquele varão que tinha diante de si. No fundo, poder-se-ia dizer que já não era Plínio que vivia, mas a Santíssima Virgem e, por meio d’Ela, o próprio Jesus que viviam nele.

Em Dr. Plínio a grandeza tendia a comunicar-se constantemente. Ao discorrer durante suas conferências e conversas sobre os mistérios da Fé Católica, a Santa Igreja e a Civilização Cristã, ele descortinava ante seu auditório a magnificência dos frutos saídos do costado divino transpassado pela lança no Calvário. E, no seu dia a dia, dedicava-se aos outros com impressionante generosidade, mantendo inalteradas sua boa disposição, inesgotável paciência e a delicadeza de trato. Seu exemplo era uma eloquente ratificação do que ele mesmo ensinara a respeito da grandeza de Maria: tratava-se de uma grandeza soberana, sacrificada e dadivosa.

Com efeito, a superioridade da Mãe de Deus na ordem da graça, que ultrapassa em muito a virtude e os méritos de todos os Bem-Aventurados, não A distancia dos pecadores, como certas tendências igualitárias gostariam de fazer crer. Ao contrário, Maria é a mais terna e misericordiosa das mães, sempre pronta a perdoar, curar e elevar a almas. Não poderia ser diferente, pois Ela mesma Se declarou escrava de Deus nosso Senhor, o qual quis Se encarnar em seu seio para assumir nossas culpas e repará-las no altar da Cruz.

De modo análogo, Dr. Plínio vivia sua vocação à grandeza em contínuo estado de holocausto. Ele mantinha com seus discípulos, pela união de almas que a Providência estabelecera entre o fundador e aqueles que militavam em sua obra, uma solidariedade incondicional, como poucas vezes houve na História, e levava seu afeto e capacidade de perdoar até as últimas consequências, fazendo cada um dos que necessitavam de seu auxílio paterno sentir-se filho único. Em síntese, à imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo, ele conservou durante toda a sua vida a atitude do bom pastor junto às ovelhas que lhe foram confiadas.”  (14)

 

(14) - Conforme nos explica o Doutor Angélico, quem possui verdadeira grandeza de alma sabe-se devedor de Deus, reconhecendo a própria dignidade, mas levando em consideração  que todos os seus dons são uma dádiva divina. Por essa razão, ele nunca menospreza os inferiores, mas com humildade procura horar e servir os demais, descobrindo neles reflexos do Criador (cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica, II-II, q. 129, a.3, ad 4).  Humildade e grandeza andam juntas, como dois arcos medievais ao formar uma ogiva. Desse sublime entrelaçamento deu-nos exemplo máximo o Redentor, o qual, nos momentos mais humilhantes da Paixão ou de maior intimidade com os discípulos, manteve inalteráveis sua grandeza e dignidade, sua humildade e benquerença  (cf. Jo 13, 13; 18, 37; 19,11).  Assim, a grandeza de espírito tão viva e reluzente na alma de Dr. Plínio está intimamente ligada à humildade de coração e encontra sua fonte, em grau iminente, na Pessoa Sacrossanta de Nosso Senhor Jesus Cristo.

 

 

(“Maria Santíssima! O Paraíso de Deus revelado aos homens – I – Minhas relações com Maria Santíssima” – de Mons. João Scognamíglio Clá Dias, EP – Associação Brasileira Arautos do Evangelho, 2019 – págs. 74-78)

 

 


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