(COMENTÁRIOS DE DR. PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA SOBRE A SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA)
O que a Santa Igreja faz é imensamente sábio, pleno de
tato. Considerem, por exemplo, o seguinte: o culto de latria ou adoração, a
Igreja presta somente a Deus, portanto a Nosso Senhor Jesus Cristo, que é o
Verbo Encarnado. O culto de dulia, de veneração, de mediação, a Igreja presta
aos santos. Mas a Nossa Senhora Ela presta um culto que nem é simplesmente o de
dulia, nem é de nenhum modo o de latria, mas é o culto de hiperdulia, que é uma
veneração como a nenhum outro santo se presta, sem nenhum paralelo, sem nenhum
termo de comparação, de tal maneira Nossa Senhora está acima de todas as
criaturas.
Excluindo a festa do Santo Natal de Nosso Senhor Jesus
Cristo e o nascimento de São João Batista, a Natividade que a Igreja celebra em
seu calendário litúrgico é a de Nossa Senhora. E, além disto, há inúmeras
outras festas a Ela dedicadas, enquanto que para cada santo existe – em via de
regra – uma festa no calendário e mais nada. Como também, em uma outra ordem de
coisas, a Igreja permite e até estimula imagens dos santos, mas não permite que
haja no mesmo altar mais de uma imagem do mesmo santo. Entretanto para Nossa Senhora,
Ela permite que haja tanto no altar central como nos nichos ou alterais
laterais das igrejas outra imagem de Nossa Senhora.
Isto tudo para dar a entender que Nossa Senhora não tem
termo de comparação nenhum, e introduzir este princípio teológico em mil
realidades do calendário, da liturgia, da vida de piedade, com um tato e senso
de proporções, que indica bem o espírito sapiencial da Igreja Católica e o
oceano de sabedoria que nEla há.
Por que a Igreja festeja especialmente o santo natal de
Nossa Senhora? Porque a Mãe de Deus foi tão grande que a data em que Ela entra
no mundo, marca uma nova era na história do povo eleito.
Nós podemos dizer que a história do Antigo Testamento se
divide – sob este ponto de vista – em duas partes: antes e depois de
Nossa Senhora. Porque se a história do Antigo Testamento é uma longa espera do
Messias, esta espera tem dois aspectos: 1) o momento exato que não tinha
chegado para a vinda do Messias, a Divina Providência estava portanto
permitindo que esta espera se prolongasse pelos séculos dos séculos; 2) e
depois o momento abençoado em que a Providência faz nascer Aquela que
conseguirá que o Messias venha: Nossa Senhora.
Então, Sua vinda ao mundo é a chegada da criatura
perfeita, da criatura que encontra plena graça diante de Deus, da única
criatura cujas orações têm o mérito suficiente para acabar com esta espera, e
fazer que, por fim, os rogos de toda a Humanidade, os sofrimentos de toda
Humanidade, os padecimentos de todos os justos e a fidelidade de todos aqueles
que tinham sido fiéis, consiga aquilo que sem Nossa Senhora não se teria
obtido.
Houve os Patriarcas, os Profetas, houve inúmeras almas
fiéis do povo eleito; deverá ter havido uma ou outra alma fiel em meio à
gentilidade; houve sofrimentos ao longo dos séculos de espera do Messias. Mas
nada disso foi suficiente para atrair a misericórdia divina e fazer chegar o
momento da Redenção. Entretanto quando Deus quis, Ele fez nascer a criatura
perfeita que haveria de conseguir isto. Então a entrada desta criatura perfeita
no mundo dos vivos é o começo de Sua trajetória que durante todo o tempo atraiu
bênçãos, atraiu graças, produziu santificação.
Já então todas as relações dos homens com Deus se modificaram,
e começou então na porta do Céu, que estava trancada, como que a filtrar luzes
e deixar filtrar esperanças de que ela seria aberta pelo Salvador que deveria
vir. Isto tudo se deu desde o primeiro momento do nascimento de Nossa
Senhora...
A presença d’Ela na terra era ocasião de graças insignes
porque era a criatura mais contemplativa de todos os tempos, em relação a qual
nenhuma outra contemplativa nem teve, tem ou terá paralelo. Ela possuía uma
irradiação pessoal e uma ação de presença tão rica em bênção que era o
prenúncio da vinda de Nosso Senhor.
E então a entrada desta bênção, a entrada desta graça,
desta ação direta e pessoal na história do mundo é incomparável! E por causa
disso, a Natividade de Nossa Senhora é uma festa que nos deve ser caríssima, é
uma festa que nos deve falar muito, pois é a festa do início da derrubada do
paganismo.
Nós poderíamos dizer que há alguma relação disto com a
situação do mundo contemporâneo? Existe.
Na época presente há como que uma nova interferência de
Nossa Senhora na história do mundo que atua nas trevas do neo-paganismo.
O fato de Nossa Senhora suscitar almas que já anseiam
pelo Reino de Maria, que pedem a vinda do Reino de Maria, lutam para que o
Reino de Maria venha, estas almas são – “mutatis mutandis”, ou seja, com todas
as devidas adaptações e reservas – como que Nossa Senhora no Antigo Testamento.
Ainda não veio o triunfo do Imaculado Coração de Maria, mas sim algo que é o
prenúncio desse triunfo e que já começa a difundir as suas graças, começa
a determinar também movimentos entusiásticos de adesão. Isto é algo como uma
Natividade que se repete e que prepara o Reino de Maria, profetizado por
Ela em Fátima.
Os senhores vêm, portanto, que esta data é da maior
significação. Oremos a Ela pedindo, pondo como fundamento na Sua
Natividade, e assim como Ela veio à terra e imediatamente começou a pedir o
advento do Messias e que acabasse aquele estado de coisas envolto pelo pecado,
Ela nos dê um desejo ardente do Reino de Maria. Um desejo que nos arrebate por
inteiro, um desejo sapiencial, refletido, ponderado, sério, profundo que não
deixe em nossa alma apego a mais nada.
Esta seria, então, a nossa oração na noite de hoje.
(Santo do Dia, 8 de setembro de 1966)
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