quinta-feira, 24 de agosto de 2017

HÁ MAIS DE 30 ANOS QUE SE PERSEGUEM CATÓLICOS NA VENEZUELA



FATOS QUE CULMINARAM COM O FECHAMENTO DA TFP DA VENEZUELA em 1984

Os fatos narrados a seguir, extraídos de uma obra da TFP publicada na época em que os mesmos ocorreram, mostram os antecedentes da nuvem negra comunista que começou a baixar sobre a Venezuela já desde os anos 80 do século passado. Ao mesmo tempo prenuncia que tipo de perseguições poderão estar ocorrendo neste momento contra as entidades cívicas ou religiosas naquele país que combatem ou pelo menos não concordem com a ideologia marxista.

A história de Nossa Senhora de Coromoto, Padroeira da Venezuela, relata o fato de que o índio jogou uma pedra na imagem da Virgem Santíssima quando esta lhe apareceu para lhe transmitir uma mensagem divina. A imagem permaneceu milagrosa e indelevelmente gravada na pedra, fato que motivou a conversão do índio. A perseguição aos filhos e devotos de Nossa Senhora ocorrida em 1984 pode significar atitude semelhante à do índio que atirou a pedra na mensageira divina. Esperamos que algo possa acontecer nos dias de hoje, de uma forma ou de outra, que possa converter a Venezuela e a faça voltar aos braços da Virgem Maria. Só desta forma a tirania comunista poderá um dia ser definitivamente banida daquele país.

Eis o relato do que ocorreu naquele ano:

1984

Lei iníqua, campanha de Resistência

JUNHO – Ante a possível aprovação de projetos de lei submetidos à consideração do Congresso, e que poderiam afetar a fundo o futuro do País, a Associação Civil Resistência julga seu dever fazer ouvir sua voz no campo dos princípios. Publica então o manifesto O socialismo gerou a maior crise sócio-econômica das últimas décadas – e a lei de Custos, Preços e Salários vai agravá-la (29). O documento mostra que a Venezuela foi sendo conduzida gradualmente para onde não queria nem devia ir: rumo ao Estado socialista. O semanário "Tribuna Popular", do Partido Comunista, ataca violentamente, em primeira página, a campanha de Resistência.

36 dias depois...

AGOSTO – Trinta e seis dias depois da campanha de Resistencia a respeito da lei de Custos, preços e salários, o governo socialista do Presidente Lusinchi começa a desencadear contra a entidade o mais violento "estrondo publicitário" da história do País, dando origem a verdadeira perseguição ideológico-religiosa.

A polícia caraquenha invade o imóvel da sede social da entidade, alegando ter recebido denúncia (anônima) de que ali havia menores seqüestrados. Procede ela à vistoria, obviamente nada encontrando.

Depois de um pequeno hiato, a campanha publicitária toma no mês de outubro proporções gigantescas. Em poucas semanas, 600 notícias de jornais contra Resistência são publicadas tão-só em Caracas (das quais 100 em apenas dois dias...), sendo levadas ao ar nada menos que 20 horas de programação de TV. As acusações estapafúrdias se repetem sem cessar, como, por exemplo, a de que todos os anos, no mesmo dia, um membro de Resistência pratica o suicídio ritual. À longa lista de absurdos não podia faltar a calúnia, já desmentida e desprestigiada no Brasil, de que a TFP deste País havia promovido exercícios de tiro, utilizando como alvo uma foto de João Paulo II (*).

(*) Em muitas das acusações então veiculadas contra Resistência pode-se reconhecer o estilo do norte-americano Lyndon La Rouche, mentor de uma rede de organizações cívicas, culturais, financeiras e políticas, e de uma cadeia de agências de notícias, a qual, segundo foi possível comprovar, alimentou de inverdades delirantes o "estrondo" venezuelano em toda a duração dele (cfr. "Ultimas Noticias", Caracas, 13-10-84 e "2001", Caracas, 14-2-85). Posteriormente, Lyndon La Rouche foi condenado a 15 anos de prisão pela Justiça norte-americana, por estelionato ("Folha de S. Paulo", 28-1-89).

Resistência e o Bureau Tradicão, Família, Propriedade (também atingido pelo "estrondo") se defendem serenamente, refutando uma a uma, sem exceção, todas as acusações concernentes a seus respectivos âmbitos. As portas das redações dos jornais se fecham para suas respostas, mas elas são publicadas como anúncios pagos. Não há tréplicas. Os promotores do "estrondo publicitário" retomam as mesmas acusações, como se nada tivesse sido dito pela TFP em sua defesa.

De seu lado, Ministros do Governo Lusinchi se associam ao coro, comparecendo diversas vezes à televisão para atacar Resistência.

Dramática atuação

Cinco ou seis famílias – os jovens de Resistência eram cinqüenta – se mostram inconformes com o fato de seus filhos colaborarem com Resistência. De início, começam a molestá-los. Depois se põem a difamar publicamente o conjunto dos jovens de Resistência, entre os quais seus próprios filhos, pela imprensa e televisão, fato inconcebível, e até do qual o público venezuelano não conhece precedentes. Pouco depois, pedem à Procuradoria Geral da República e à Polícia Política (DISIP) que coarctem a liberdade de movimento dos jovens de Resistência, proibindo-os – a eles que são, todos, maiores de idade – de ausentar-se do País, e ao mesmo tempo solicitam aos corpos de segurança do Estado que os interroguem em presença de psicólogos, para estabelecer se sofreram "lavagem cerebral" em Resistência ou na TFP brasileira, que haviam visitado durante as férias.

Os órgãos policiais do Governo socialista Lusinchi, que pareciam não esperar senão exatamente pela desconcertante iniciativa dos pais inconformes, no dia seguinte ao pedido se colocam em ação, começando imediatamente os interrogatórios e prolongando-os por oito dias. Alguns dos jovens têm que permanecer até onze horas consecutivas na polícia, sem que lhes seja permitido comer e, em muitos casos, nem beber. A ferocidade policial é alternada com provocações e diversos processos de pressão moral e psíquica (*).

(*) Tudo lhes foi perguntado, desde qual era a influência da cor vermelha em sua vida, até assuntos íntimos. Ou relativos à liturgia! Ao mesmo tempo, mulheres da polícia os ultrajavam, com convites lascivos, narrações obscenas, e caçoadas. Alguns tiveram que se submeter a exames toxicológicos, testes psiquiátricos e neurológicos e "avaliações" antropométricas.

A sede de Resistência volta a ser vistoriada (e o é quatro vezes em poucas semanas...), sem que seja possível impugnar de forma documentada a associação no que quer que seja. Diante da nítida perseguição policialesca, esses jovens (o mais velho mal chegava aos 30 anos) professam sua fé católica e se mantêm firmes na sua adesão aos princípios da organização que integram. Seria, portanto, de esperar que da parte da Hierarquia da Igreja da Venezuela lhes chegasse alguma palavra de conforto. Em vez disto, Resistência é atacada publicamente por um Bispo e vários Sacerdotes. O Cardeal José Ali Lebrun, Arcebispo de Caracas (que recebera em seu Palácio, abençoara e desejara sorte ao candidato presidencial marxista, o ex-guerrilheiro comunista Teodoro Petkoff), nega-se a receber os membros de Resistência quando estes lhe solicitam uma entrevista, e até quando a ele recorrem pelo telefone, o Prelado corta a ligação depois de lhes fazer uma áspera invectiva. Nos mesmos dias, recebe demoradamente em audiência o grupinho de pais hostis. Nenhum dos membros do Episcopado venezuelano responde, nem sequer nos limites mínimos de cortesia prescritos pelas boas praxes, a uma filial e respeitosa circular, em que Resistencia pede alguns esclarecimentos e se põe à disposição para qualquer elucidação.

Uma Comissão Parlamentar de Inquérito

Na segunda semana de novembro, o "estrondo publicitário" é marcado, sobretudo, por uma tumultuosa sessão da Comissão de Política Interior do Congresso para interpelar os dirigentes de Resistência. Nela, os discursos anti-Resistência se sucedem, e os dirigentes da entidade têm poucas oportunidades para se fazerem ouvir. O discurso inicial, do deputado David Morales Bello, Presidente da Comissão, já prejulga Resistência, pois afir­ma tratar-se de uma associação legal apenas na aparência, mas ilegal nos fatos, por violar a Constituição. O deputado não aduz qual­quer prova a suas acusações. Os outros dis­cursos são do mesmo gênero: a Comissão con­dena Resistência antes mesmo de começar a ouvi-la...

Em sentido contrário, o Dr. José Rodri­guez Iturbe, democrata-cristão, atual Presi­dente da Câmara de Deputados, levanta-se pa­ra pedir que seja examinado, antes de mais nada, se há provas dos fatos alegados, e quais deles são ilegais. Sua proposta é acolhida agressivamente pela mesa, originando-se daí até um incidente.

A suspensão das atividades por decreto

O fechamento de Resistência e do Bu­reau pelo governo socialista sobrevém no dia 13 de novembro de 1984, em meio a uma sucessão frenética de acontecimentos.

No dia anterior, o Comitê Executi­vo da Ação Democrática, partido integran­te da Internacional Socialista, ao qual es­tá filiado o Presidente Lusinchi, pedira formalmente que Resistência fosse fecha­da, e que não se permitisse sua atuação no País.

Pela manhã do dia 13, realiza-se um de­bate na TV, de quase três horas, ao qual com­parecem os jovens de Resistência, tendo ter­minado com nítida vantagem para estes, co­mo prova o fato de o Governo ter proibido a reprise do programa, já anunciada pela emissora de televisão.

Estranhamente, como "adivinhando" que algo de sensacional estava por suceder, um batalhão de jornalistas e fotógrafos apre­senta-se nos portões da sede, acompanhados pelos pais inconformes. Surge também uma chusma de agitadores (alguns dos quais por­tando paus e facões) liderados por dois depu­tados socialistas dos que mais se destacaram na luta contra Resistência.

A polícia é prevenida com insistência pe­la entidade visada, entretanto não compare­ce. Seguem-se brados de slogans, o arromba­mento do grande portão, a invasão dos jar­dins e o apedrejamento da sede. Tudo com transmissão simultânea pela TV.

No começo da noite, quando o show re­volucionário chega a seu climax, comparece diante das câmaras de televisão o Ministro da Justiça, Manzo Gonzales, e lê o decreto da suspensão das atividades de Resistência e do Bureau, decreto esse assinado por ele e pe­lo Ministro do Interior, Octavio Lepage, em nome do Presidente Lusinchi.

Até adversários estranham

Nos dias seguintes, conhecidas persona­lidades do mundo político, jurídico e jornalís­tico venezuelano – inclusive o ex-presidente Rafael Caldera – saem a público para mani­festar sua estranheza ante a medida ditatorial do Governo Lusinchi. A maioria delas diz não concordar com Resistência, mas verbera com vigor esse atentado contra o regime de li­berdade, juridicamente vigente no País (cfr. "Catolicismo", n° 410, fevereiro de 1985). O Cardeal Lebrun, contudo, declara que "as autoridades competentes do País atuaram con­forme as leis do Estado proibindo o funciona­mento da organização" (30).

A TFP brasileira fez publicar comunica­do intitulado Perseguição ideológico-religio­sa na Venezuela – Nuvem negra baixa sobre o País irmão, o qual põe em realce a inocên­cia de Resistência e o inequívoco caráter per­secutório da atitude governamental (31). Es­se comunicado foi publicado pelas diversas TFPs um pouco por toda parte, em toda a América do Sul.

Declaração de inocência

A batalha prosseguiu, entretanto, jun­to ao Poder Judiciário, onde tramitavam vá­rios processos de caráter penal, civil e admi­nistrativo em que Resistência e o Bureau ora eram autores, ora réus. Os mais importantes eram duas averiguações penais, que termina­ram, ambas, inocentando completamente Resistência. A primeira dessas vitórias se concre­tizou em 19 de dezembro de 1984, quando a Procuradoria (Fiscalía) Geral da Nação desis­tiu de formalizar recurso à Corte Suprema de Justiça contra a sentença absolutória das instâncias inferiores, com o que foi encerrada a investigação originada da primeira vis­toria na sede da entidade – em agosto de 1984 – por não existir nada que indicasse a prática de qualquer delito por parte dos mem­bros da associação.

No segundo processo penal houve mui­tas delongas e vicissitudes; finalmente, no dia 30 de dezembro de 1985, o Juiz do 14° Juiza­do Criminal de Primeira Instância do Distri­to Federal, Dr. Saúl Ron Braasch, declarou terminada a averiguação judicial "por não se revestirem de caráter penal os fatos denuncia­dos". E no dia 15 de maio de 1986 o Juiz do 10° Juizado Superior Criminal proferiu senten­ça definitiva, que confirmou a decisão de pri­meira instância, declarando que a ação penal estava extinta por se tratar de coisa julgada.

Era o veredito inapelável da Justiça, mostrando que a atroz perseguição movida pelo Governo Lusinchi carecia de qualquer fundamento.

Exílio

Mas, como se compreenderá facilmente à vista dos fatos acima narrados, considerando o procedimento violento e arbitrário do go­verno, os militantes de Resistência se sentiram privados do benefício das garantias legais con­feridas aos cidadãos venezuelanos pela consti­tuição. E entenderam ser preferível deixar sua Pátria querida, à espera de dias melhores em que pudessem retornar para servir nela a cau­sa da civilização cristã. Em conseqüência, estão eles hoje colaborando, em sua grande maioria, com as TFPs de outros países.

Asociación Civil Resistencia

Presidente: Francisco Dorronsoro Basterrica

Vice-Presidente: Francisco Berrisbeitia Hernandez

Notas (neste excerto só foram consideradas as notas de número 29 em diante)

(29) Publicado em "Resistencia en 30 dias"; "El Universal" e "El Mundo", 26-6-84, e difundido em campanhas de rua.

(30) "El Universal", Caracas, 17-11-84.

(31) "Folha de S. Paulo", 14-11-84; e "A Tribuna", São Carlos (SP), 25-11-84. Resumo do comunicado foi divulgado pe­la France Press em despacho de 16-11-84; "Folha de S. Pau­lo", 16-11-84; "Jornal da Ba­hia", Salvador, "Última Hora", Rio e "Jornal do Brasil", Rio, todos em 17-11-84; "Diário de Pernambuco", 18-11-84; "O Es­tado do Paraná", 20-11-84; "O Dia", Rio, "Tribuna do Cea­rá", Fortaleza, "Correio Bra­ziliense", todos em 21-11-84; "A Tarde", Salvador, 24-11-84; "Jornal do Comércio", Recife, 25-11-84; "Diário do Povo", Campinas (SP), 28-11-84; "O Jornal", Uruguaiana (RS), 29-11-84.

(UM HOMEM, UMA OBRA, UMA GESTA – Homenagem das TFPs a Plinio Corrêa de Oliveira – Edições Brasil de Amanhã – São Paulo – págs. 389/391





Um comentário:

Unknown disse...

O que acontece hoje com a Venezuela é com certeza um castigo de Nossa Senhora,principalmente com relação ao Clero que agiu como se fosse um consiliabulo rabínico!