Plínio
Corrêa de Oliveira
Coração de Maria, no qual foi formado o Sangue de
Jesus, preço de nossa Redenção . rogai
por nós.
Esta jaculatória, da
Ladainha do Imaculado Coração de Maria, além de sua particular unção, encerra um significado sumamente
elevado e belo, que vem muito a propósito considerarmos nesta véspera de Natal
“Caro Christi, caro Mariae”
Com efeito, pelas leis
comuns da reprodução da espécie, o homem traz consigo algo do sangue do pai e
algo do sangue da mãe. Entretanto, o preciosíssimo sangue de Nosso
Senhor Jesus Cristo, bem
como sua carne sacratíssima, foram exclusivamente formados de Nossa Senhora. E isto porque, em se
tratando de milagrosa concepção da parte de uma Virgem, nela não interveio obra de varão. Motivo pelo qual podemos
repetir o que, com inteira propriedade, afirmou Santo Agostinho: caro Christi,
caro Mariae. A carne de Cristo é, de algum
modo, a própria carne de Maria.
Em Nosso Senhor Jesus
Cristo não havia senão o sangue da Santíssima Virgem, que Ela, com amor e comprazimento indizíveis
forneceu a seu Divino Filho, o Redentor do gênero humano.
O Homem-Deus se fez escravo de Nossa Senhora
A consideração desse fato
tão singular e tão maravilhoso nos ajuda a compreender melhor o que pode ter sido o período em que
Nosso Senhor esteve em gestação no corpo de Maria.
Não há maior sujeição
nesta terra do que a de uma criança à mãe que a carrega no seio, dando-lhe
todos os elementos vitais para a constituição de sua parte física. Ora, durante nove meses consecutivos, Nosso Senhor quis
pertencer inteiramente a Nossa Senhora. Jesus, o esperado das nações, o homem
tão perfeito que não é simplesmente homem, mas é Homem-Deus . porque a Segunda
Pessoa da Santíssima Trindade se uniu hipostaticamente à sua natureza humana .
Jesus quis se fazer escravo de Maria.
E desde o instante em que
o primeiro elemento do corpo d.Ele começou a existir, como era perfeito!
Começou a pensar, começou a orar e, conhecendo perfeitamente de que mãe era
filho, deve ter dito a Ela uma palavra de amor. Pode-se calcular qual foi essa
primeira
palavra de afeto e carinho
d.Ele para a Santíssima Virgem, e qual foi a resposta d’Ela ao sentir uma
ternura que Lhe vinha do Filho-Deus?
Que terá Ela respondido a
Jesus? “Meu Deus”? Ou Lhe terá chamado meu Filho.? Ou, ainda, com maior desvelo e
solicitude, tê-Lo-á agradado dizendo “Filhinho”?
Quanta riqueza de alma é
preciso ter para responder adequadamente a esse primeiro carinho do Verbo
Encarnado! Que noção dos matizes e das situações! Que exímia e completa
disponibilidade de alma para corresponder a tudo perfeitamente, e oferecer a
Ele esta premissa incomparável: o ato de amor inicial que o gênero humano Lhe
tributava!
Crescente e insondável união
Além disso, quantas e
quão elevadas disposições de alma Nossa Senhora deve ter sentido, quando notava o Filho mexer-se dentro
d'Ela? Nesses momentos, por certo Lhe vinham pensamentos como este: “Deus se move em Mim! Aquele a quem o Céu e a
terra não puderam conter, está no meu claustro, porque Deus assim o quis. Ei-Lo
que se move em Mim delicadamente, amorosamente, nobremente, com uma
movimentação cheia de símbolos e de mistérios. Ouço, sinto e rezo, porque são
mensagens para Eu compreender, são comunicações para Eu entender”...
Oh recolhimento! Oh
oração! Oh prenúncio do que deveriam ser ao longo dos séculos as almas
eucarísticas que têm a felicidade sem nome de, a cada dia, por alguns instantes
ter no seu próprio peito a Nosso Senhor Jesus Cristo! Oh maravilha!
E assim como o Santíssimo
Sacramento comunica suas graças e se une às almas que se lhe tornam sacrários
vivos, tudo indica que, pelas leis da reciprocidade, à medida que a Santíssima
Virgem ia dando de seu próprio corpo a Nosso Senhor, Ele como que retribuía, conferindo-Lhe seu espírito. Nossa Senhora ia
crescendo, pois, em união com Ele de modo insondável. De tal modo que, quando a
obra puríssima das entranhas d’Ela chegou a seu termo e se encontrava prestes a
nascer na noite de Natal, o vínculo entre ambos havia atingido um ápice
inconcebível. Ela estava pronta para ser, em todos os sentidos da palavra, a
Mãe do Redentor.
Diálogo inimaginável
O longo período de
indizível e misterioso convívio cessa. Os Anjos se rejubilam e cantam nos Céus.
Numa gruta dos arredores de Belém, Jesus vem ao mundo.
Nosso espírito se sente
pequeno, ao procurarmos imaginar o embevecimento de Nossa Senhora ao ver a face
do Menino Jesus, e o arroubo que sentiu, quando recebeu d.Ele o primeiro agrado
externo... Quando O viu voltar-se para São José e manifestar afeto também a
ele. Quando, percebendo que Jesus sentia fome, compreendeu que Lhe competia,
com seu leite indizivelmente precioso, saciar o Filho de Deus. Quando, ao vê-Lo
passar frio e incômodo na manjedoura, se desdobrou em mil cuidados, para melhor
agasalhá-Lo e para Lhe aumentar o conforto no rude tabuleiro que lhe servia de
berço. E quando, ao sentir o bafo dos animais que O aqueciam, disse-Lhe com
inexcedível amor:
“Meu Deus, tão pouco para
Quem é tanto”!
E quando o Menino, sem
proferir palavras, respondeu-Lhe no fundo da alma: “O que é pouco para Mim,
quando tenho a Vós?” Quem pode imaginar semelhante diálogo?!
Somente por meio de Maria chegamos a seu Divino Filho
Pode-se notar, por essas
considerações, como a união de almas entre o Menino Jesus e Nossa Senhora é
estritamente insondável para a mente humana.
Entretanto, essa mesma insondabilidade
nos faz compreender melhor o papel da Santíssima Virgem como intercessora e
medianeira; deve, pois, arraigar-se ainda mais em nossas almas a convicção de
que, para nos aproximarmos do Divino Infante, é indispensável achegarmo-nos
antes a Nossa Senhora. Ficarmos junto d’Ela, amando-A de todo o coração, é a
forma mais segura e acertada de estarmos junto de Deus, porque Deus está
sumamente próximo de sua Mãe, tanto quanto Ele o possa estar de uma criatura.
Nossa Senhora é a Porta do Céu, a Arca da
Aliança. E assim como aquele Menino veio a nós por meio de Maria, assim também
somente podemos chegar a Ele por meio d’Ela.
(Extraído da revista “Dr. Plínio”, nº 21, dezembro de 1999)
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