Só a boa vontade constrói as moradas de Deus
em nossa alma
Os Santos Anjos anunciaram com suas trombetas no
primeiro Natal da História: “paz na
terra aos homens de boa vontade”, e isto se deu logo após o “glória a Deus
no mais alto dos céus”. Enquanto estamos na terra, todos nós precisamos daquela
paz anunciada naquele grandioso dia.
Lembremo-nos, porém, de que esta paz é exclusiva aos
homens de boa vontade.
Por que a paz é exclusivamente dada aos “homens de
boa vontade?” Por que os homens de má vontade não a possuirão? Porque estes são
aqueles, que, estando contra a vontade divina, estão em estado de revolta
contra Deus. São aqueles chamados também de ímpios e, segundo o Profeta Isaías,
“não há paz para os ímpios”.
O que quer dizer “homens de boa vontade”?
Quer dizer aqueles homens cujas vontades estejam em completa consonância com a
vontade de Deus, aqueles que digam “seja feita a vossa vontade” não só na hora
de rezar o Pai-Nosso, mas em todos os atos de sua vida presente, fazendo com
que a vontade de Deus seja feita “aqui na terra como no céu”.
Ó homens de boa vontade! Contemplai o
Menino Jesus, nascido abandonado num mísero presépio, e fazei-O nascer também
em vosso coração! Bem sabeis que vosso coração é tão pobre ou mais do que
aquela gruta; tão sujo ou mais do que aquela manjedoura; tão árido e esquecido
quanto aquele ermo onde a Sagrada Família procurou abrigo. Mas ao introduzir nele o Menino Jesus o
tornai o lugar mais rico, mais asseado e limpo, mais concorrido do mundo.
E como acolher Jesus Cristo em teu
interior? Olhai bem e pensai: é necessário antes de tudo fazer a vontade d’Ele
aqui na terra, da mesma forma como os Santos Anjos a fazem no céu, para que
possamos estar possuídos de uma boa vontade e obtenhamos a Sua Paz. Fazendo-O nosso Hóspede, acolhendo-O em nosso
coração, transformamos nosso interior em sua morada.
Como poderá o cristão fazer uma morada
para Deus em seu interior? Fazendo com que nele reine a vontade de Deus.
Lembrem-se disto: toda vez que
acolhemos bem em nossa casa um parente, um amigo ou simplesmente um visitante,
dando-lhe toda a atenção, todo o conforto de que carece, fazemos de nossa casa
a sua morada. Assim também, toda vez que recebemos com afeto nosso irmão, mesmo
que ele seja defeituoso, seja incômodo ou chato, ou até mesmo mal cheiroso, não
está sendo ele nosso irmão apenas pelo sangue ou pela fé, mas muitas vezes
porque tem os mesmos defeitos que nós também carregamos. E, neste caso, a sua
morada não será apenas a nossa casa, com tudo o que possamos lhe oferecer de
conforto, mas o nosso próprio coração, também com tudo o que podemos oferecer
de bom para ele. Podemos ir mais longe: toda vez que perdoamos as ofensas que
nos são dirigidas, mesmo que os ofensores não se humilhem e nos peçam perdão,
estamos fazendo o papel de Deus que a tudo é capaz de perdoar por nosso amor.
Esta atitude, refletindo o desejo de Deus para o bom convívio dos cristãos,
revela o império de sua vontade em nós.
Agindo assim, irmãos, fazemos também o
papel de anjos que são os mensageiros e intercessores de Deus perante os homens. Por que? Porque os Santos Anjos não são donos
dos dons que vêm de Deus para nós e nem daqueles que levam até Deus
provenientes de nossas boas obras. Mas mesmo assim eles levam e trazem tais
dons sem desfrutá-los. Da mesma forma, quando agimos com paciência suportando e
perdoando os defeitos dos semelhantes; quando levamos conforto ou consolo a um
necessitado; quando procuramos espelhar em nossas almas as boas virtudes para
que os outros as copiem – não é o nosso perdão que levamos ao nosso semelhante,
nem é nossa a fortaleza que lhe damos ao consolá-lo e confortá-lo, nem tampouco
são nossas aquelas virtudes que espelhamos como exemplo de vida, mas tudo
provém de Deus em benefício dos homens. Assim como os Santos Anjos, somos
apenas intercessores daqueles dons.
Eis aqui uma receita para sermos bons
cristãos: exercitar a nossa boa vontade, unindo-a à de Deus, consolando,
confortando, perdoando, suportando incômodos e defeitos, pois foi assim que
Jesus Cristo fez ao Se submeter à vontade do Pai celeste desde o nascimento até
àquela morte tão cruel. Sempre trazendo esperança aos homens, sempre
confortando, consolando, perdoando,
mesmo às custas de tanto sofrimento. Somente vivendo assim, agindo
assim, teremos aquela paz cantada pelos Santos Anjos no nascimento de Jesus,
que é fruto da glória de Deus mas é também ela mesma parte daquela glória. A
morada de Deus dentro de nós é construída principalmente pela Sua vontade:
comecemos a cumpri-La neste Natal, pedindo ao Menino Jesus que tome conta de
nosso coração!
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