Hoje é festa da Exaltação da Santíssima Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Os comentários comuns na festa da
exaltação da Santa Cruz muito condignamente falam da cruz. E um pouco
paradoxalmente eu vou falar da exaltação da cruz, mais do que propriamente da
cruz, para indicar bem qual é o sentido desta festa.
Os senhores sabem que a cruz é um
instrumento de suplício, usado em toda a antiguidade, que representava uma
ignomínia para a pessoa que fosse crucificada; uma vergonha para a pessoa e uma
vergonha para a família.
São Paulo reclamou de não ser objeto
de crucifixão ou outro tipo qualquer de morte, mas de ser decapitado, porque
ele era cidadão romano e, sendo cidadão romano, tinha as honras de cidadão
romano, não era sujeito a crucifixão.
Nosso Senhor Jesus Cristo portanto,
sendo crucificado, recebeu uma humilhação tremenda. Esta humilhação equivalia a
matá-Lo dizendo que era um bandido, que era um ladrão, que era do mesmo gênero
que os dois outros facínoras com os quais foi crucificado.
Neste sentido a cruz não era apenas
uma humilhação, mas o auge de todas as outras humilhações que Ele sofreu
durante a sua existência terrena.
O povo judaico foi enchendo Nosso
Senhor de humilhações durante sua vida terrena. E essas humilhações, que
correspondiam a um ódio crescente, desfecharam na maior de todas as humilhações
possíveis que foi o sacrifício da Cruz. Este desejo de infligir a Nosso Senhor
um martírio moral, humilhando-O ao longo de toda a sua ação é muito evidente.
Em toda a Paixão nota-se o desejo de
humilhar a Nosso Senhor. Assim, por exemplo, a coroa de espinhos, a túnica de
bobo, uma cana na mão à guisa de cetro, as pessoas que batiam n’Ele, etc.,
exprimem o desejo de O atormentar na sua Alma Santíssima, e não apenas no seu
Corpo Santíssimo.
A Cruz de Nosso Senhor representa,
portanto, todas as humilhações que Ele sofreu durante a vida. E ela é o começo
de todas as humilhações que até o fim do mundo todos os católicos haveriam de
sofrer por causa de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Porque a impiedade não desarma. Ela
visa sempre humilhar, ela visa sempre quebrar a moral. Não há aqui nesta sala
um só que não tenha sido humilhado por causa de sua fidelidade a Nosso Senhor
Jesus Cristo. É uma honra para nós, é exatamente uma das bem-aventuranças ser
perseguido por amor a Jesus Cristo.
Nós todos sofremos estas humilhações,
e havemos de sofrer até o fim do mundo, exatamente por causa disto, por causa
do contínuo ultraje que a impiedade faz contra Deus.
Mas, paralelamente, a
honra de Deus, a honra de Nosso Senhor Jesus Cristo é reivindicada pela Igreja.
E por causa disto os católicos tomaram a Cruz como sinal de honra, como o que
há de mais sagrado, o símbolo de quanto há de mais santo, e aí os senhores vêem
três manifestações características dos tempos de Fé: a Cruz colocada no alto
das coroas; a Cruz como sinal heráldico dos mais nobres galardões das famílias
da alta aristocracia; a Cruz colocada como insígnia das condecorações.
Tudo isto provando que o
católico, para exaltar a Cruz em face desta humilhação, para revidar esta
humilhação, e revidar com ufania cavalheiresca e sobrenatural, faz a exaltação
da Santa Cruz.
O que representa isto?
Antes de tudo, tomar a
Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo e glorificá-la.
O aparecimento da Cruz a
Constantino na Ponte Milvia, dizendo: "Com este sinal vencerás!",
significava isto. A Cruz se levantava no céu e ia ficar definitivamente no
horizonte do mundo, humilhando por sua vez os maus, humilhando por sua vez os
demônios.
E a Cruz por sua vez ia ser
o sinal de nossa honra, como as nossas cruzes iam ser sinal de nossa honra. E a
nossa honra não consiste em nós não sermos humilhados, mas consiste em receber
a humilhação com ufania. E receber gabando-se da humilhação.
E mais ainda, num espírito de desafio.
Em face daquele que nos humilha, nós revidamos como cavalheiros e nós
proclamamos com ufania ainda maior a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Esta idéia da exaltação exatamente é
isto: é a proclamação da glória da Cruz, com uma ufania que esmague as
humilhações que o adversário procura impor a Cristo.
Daí vem a palavra exaltar. Exaltare,
altere in alto, levar para o alto. Quer dizer, levar para o alto aquilo que
estava humilhado, que estava abaixado. É esta então a glorificação da Cruz de
Nosso Senhor Jesus Cristo.
É exatamente o que falta ao
“heresia-branca”. O “heresia-branca” quando vê qualquer humilhação, faz uma
cara preguiçosa, baba e foge. Enche de vergonha a causa que deveria defender.
A Causa Católica precisa ser defendida
com espírito de Cavalaria e, portanto, se alguém injuria a Cruz diante de nós,
devemos redargüir incisivamente. Mas não como se defende a nossa honra, porque
a nossa honra é uma coisinha muito insignificante, mas como quem defende a
honra de Nosso Senhor Jesus Cristo, a honra de Nossa Senhora.
Ter, portanto, esta espécie de sentido
da contínua exaltação da Cruz, esta espécie de espírito de cavaleiro, de
guerreiro, que está lutando pela glória da Cruz continuamente, é a graça que
nós devemos pedir na festa da Exaltação da Santa Cruz.
(Plinio Corrêa de Oliveira - "Santo
do Dia", 14 de setembro de 1965)
Nenhum comentário:
Postar um comentário