Mesmo no Purgatório os Anjos não deixam de se preocupar com as almas que eles eram protetores na terra. Vez por outra eles vão ao Purgatório para consolá-las, e chegada a hora delas saírem e irem para o Céu, eles vêm alegremente acompanhados de São Miguel para cumprir tal tarefa. Alguns santos admitem até que os Anjos da Guarda não abandonam os seus protegidos sequer quando as almas vão para o Purgatório, continuando a velar lá por eles.
Além disso, procuram inspirar as pessoas na terra
para que rezem e mandem celebrar missas por seus protegidos que estão no
Purgatório. Um exemplo marcante da atuação angélica em prol de uma alma que
sofre no Purgatório temos na vida de Santa Lidwina de Scheedam, que viveu no
século XV. Certa feita a santa procurou saber de seu Anjo o destino de uma
pessoa que ela tinha muito em conta porque rezara por ela na hora da morte. O
Anjo lhe respondeu que aquela alma, a muito custo, salvou-se mas sofria horrivelmente
no Purgatório. A santa aceitou a proposta para sofrer mais por aquela alma e o
Anjo a levou a um lugar espantoso, parecendo as muralhas do inferno;
aproximaram-se de um poço, em cujas bordas estava sentado e triste um Anjo.
Perguntando que Anjo era aquele, o seu guia disse que era o Anjo da Guarda
daquela pessoa que ela aceitou sofrer para livrar do Purgatório, cuja alma
estava encerrada naquele poço.
Suplicou a santa que lhe fosse permitido ver o
estado daquela alma. O Anjo descobriu então a tampa do poço, de onde saiu um
medonho vulto humano, todo incandescente, que gemia: “Ó Lidwina, serva de Deus,
quem me dera contemplar a face do Altíssimo!”. A santa não pôde agüentar a
visão, saindo do êxtase.
Algum tempo depois apareceu-lhe o Anjo da Guarda
daquela alma, desta vez menos triste e dizendo que ela havia saído daquele
Purgatório mais profundo para um menos terrível, o chamado “Purgatório
ordinário”, de onde as almas já saíam direto para o Céu.
Santa Francisca Romana dizia que quando morre uma
pessoa, o Anjo da Guarda, conhecedor dos seus méritos, conduz sua alma para as
regiões inferiores do Purgatório e coloca-se ao lado dela. O Anjo fica assim a
seu lado para apresentar a Deus as orações feitas em favor daquela alma e
intercede para que lhe seja abreviada a
pena. Isto é confirmado por Santa Maria
Madalena de Pazzi e Santa Margarida de Alacoque, que também foram levadas até o
Purgatório e viram que cada alma tinha um anjo tutelar a seu lado. É evidente
que o Anjo nada sofria das penas que ali se passa, pois sua presença é apenas
quanto ao seu poder de ação.
Uma vidente polonesa, Santa Faustina Kowalska, teve
a seguinte visão do purgatório:
"Vi o Anjo da Guarda que me mandou acompanhá-lo. Imediatamente encontrei-me num lugar enevoado, cheio de fogo, e dentro deste uma grande quantidade de almas sofredoras. Essas almas rezam com muito fervor, mas sem resultado para si mesmas; apenas nós podemos ajudá-las. As chamas que as queimavam não me tocavam. O meu Anjo da Guarda não se afastava de mim nem por um momento. E perguntei a essas almas qual era o maior sofrimento delas. Responderam-me que o maior sofrimento delas é a saudade de Deus. Vi Nossa Senhora que visitava as almas no purgatório. As almas chamam Maria de "Estrela do Mar". Ela lhes traz alívio. Queria conversar mais com elas, mas o meu Anjo da Guarda fez-me sinal para sair. Saímos pela porta dessa prisão de sofrimento. (Ouvi uma voz interior) que me disse: "a Misericórdia de Deus não deseja isso, mas a Justiça manda". Desde esse momento me encontro mais unida às almas sofredoras". ("Diário da Serva de Deus Irmã Faustina Kowalska..." - pág. 328.)
A respeito da presença do Arcanjo São Miguel no
Purgatório, o manuscrito diz:
“Nós vemos São Miguel como se vêem os Anjos, eles não têm corpo. São
Miguel vem ao Purgatório buscar todas as almas que já estão purificadas porque
é ele quem as conduz ao céu. Sim, é verdade, ele está entre os Serafins, como
me disse Monsenhor. É o primeiro Anjo do Céu. Nossos Anjos da Guarda vêm também
nos ver, mas São Miguel é muito mais belo do que todos eles! Quanto à Santíssima
Virgem, nós a vemos com o seu corpo. Ela vem ao Purgatório nas suas festas e
volta para o céu com muitas almas. Enquanto Ela está conosco, não sofremos. São
Miguel a acompanha, mas enquanto São Miguel está só, nós sofremos”.
“O meio mais eficaz de o glorificar no céu e na terra é recomendar
quanto possível a devoção às almas do Purgatório e fazer conhecer a grande missão
que ele tem junto das almas sofredoras. Ele é o encarregado de levá-las do
lugar de expiação e introduzi-las depois da satisfação, no céu, morada eterna.
Cada vez que uma alma vem aumentar o número dos eleitos, Deus é glorificado por
ela e esta glória de certo modo reflete sobre o glorioso ministro do céu. É uma
honra para ele apresentar ao Senhor das almas que irão cantar as infinitas
misericórdias e unir seu reconhecimento aos dos eleitos por toda eternidade. Eu
não posso vos fazer compreender todo o amor que o celeste Arcanjo tem por seu
divino Mestre e o amor que por sua vez Deus tem por São Miguel e bem como a
grande piedade que São Miguel tem por nós. Ele nos dá coragem no sofrimento
quando nos fala do céu. Dizei ao Padre que se ele quiser dar um grande prazer a
São Miguel, recomende muito a devoção às almas do Purgatório. Não se pensa
muito nisto neste mundo! Quando se perdem os parentes e amigos, fazem algumas
orações, choram durante alguns dias, depois... tudo se acaba! As almas ficam
abandonadas! É verdade que elas merecem muito porque não rezaram pelos mortos
quando na terra, e o divino Juiz só nos dá no outro mundo o que fazemos neste.
As pessoas que deixaram esquecidas as almas do Purgatório, serão esquecidas
também, mas se lhes tivessem dado a inspiração de rezar pelos defuntos, e lhes
feito conhecer o que é o Purgatório,
talvez elas tivessem procedido de oura maneira, de modo muito diferente...
Quando o permite, podemos nos comunicar diretamente com o Arcanjo, à
maneira dos espíritos e como as almas se comunicam entre si.”
“No dia de sua festa, São Miguel vem ao Purgatório
e volta para o céu com muitas almas, principalmente as almas que lhe tiveram devoção
na terra.”
“Quando se faz a festa de um santo na terra, ele recebe no céu uma
glória acidental. Ainda mesmo que não o festejem na terra, em memória de alguma
ação especial heróica que praticou neste mundo, ou da glória que deu a Deus em
alguma ocasião, nesta época, recebe no céu uma recompensa especial que consiste
numa maior glória acidental, junta com a que lhe dão na terra.
“A glória acidental que recebe o Arcanjo São Miguel é superior a de todos os outros santos, porque esta glória de que vos falo, é proporcionada à grandeza do mérito daquele que a recebe, como também o valor a ação que mereceu esta recompensa”. (“O Manuscrito do Purgatório” – Ed. Paulinas . Págs. 42/43)
- As
promessas feitas em favor daqueles que rezam o terço de São Miguel são
verdadeiras?
“As promessas são reais, mas não se deve acreditar que as pessoas que
rezam o terço por rotina e sem o procurar fazer com perfeição, sejam logo
tiradas do Purgatório. Seria um erro. São Miguel faz muito mais ainda do que
promete, mas os que estão condenados a um longo Purgatório, não os retira assim
tão depressa! É verdade que a lembrança da devoção ao Santo Arcanjo alivia
muito as almas, mas que sejam de todo libertadas do Purgatório, não. Eu que o
diga, eu posso bem servir de exemplo!... A libertação imediata só a terão as
pessoas que trabalharam para a sua perfeição, e que tiveram pouca coisa a
expiar no Purgatório.
“A França é bem culpada, infelizmente ela não está só! Neste momento não há um reino cristão que não procure aberta ou surdamente expulsar Deus do seu seio. As sociedades secretas e o diabo fomentam estas revoltas. É agora a hora do príncipe das trevas. Deus há de mostrar que só Ele é o Senhor único! Talvez não seja feito isto com doçura, e fará sentir o seu poder, mas nos próprios castigos Jesus é misericordioso. São Miguel há de intervir na luta pessoal da Igreja. Ele é o chefe desta Igreja tão perseguida, mas que não será aniquilada como pensam os maus. Quando há de intervir São Miguel, eu não o sei. É preciso rezar muito nesta intenção, invocar o Arcanjo lembrando-lhe os títulos que tem, pedir-lhe a intercessão junto daquele sobre o qual tem tanto poder! “Que não se esqueçam da Santíssima Virgem! A França é o seu reino privilegiado. Ela o salvará”. (“O Manuscrito do Purgatório” – Ed. Paulinas . Págs. 64/65)
A Bem-aventurada
Emília Bicchieri costumava recomendar às suas religiosas que não bebessem
água entre as refeições, e oferecessem esta pequena mortificação pelas almas do
Purgatório, em união com a sêde de Nosso Senhor na cruz. Dizia ela: “Colocai estas gotas nas mãos do vosso Anjo
da Guarda, para ele diminuir com elas o ardor das chamas do Purgatório”. A
irmã Cecília, que fazia esta mortificação como recomendada, um dia faleceu e,
passados alguns dias, apareceu à Bem-aventurada Emília, dizendo:
- Ainda vos lembrais, Madre, daquele copo de água
que tanto me custou a sacrificar? Pois
bem, pouco tempo depois da minha morte, o meu Anjo apareceu no Purgatório
trazendo o copo na mão e, em recompensa dessa leve mortificação, feita por obediência,
apagou com a água as chamas que me atormentavam e agora estou feliz por toda a
eternidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário