Nome que vem do
hebraico, “mika’el”, quer dizer, “Quem como Deus”. Quando Deus revelou
aos Anjos no Céu os Planos da Encarnação do Verbo e da Redenção, houve a grande
revolta comandada pelo Anjo mais brilhante e bonito que havia, Lúcifer. O brado
de revolta foi este: “non servian!” , quer dizer, “Não servirei!”. “Mas como?
Logo eu, um Anjo tão formoso, tão poderoso e brilhante, ter que servir a seres
humanos, mesmo na pessoa do Filho?” Assim deve ter imaginado Lúcifer em seu
estado de revolta. Mas um outro Anjo logo bradou: “Quis ut Deus?”, isto é, quem
como Deus? Este Anjo foi São Miguel, logo assumindo a função de Chefe da Milícia
Celeste porque passou a comandar os Anjos bons para expulsar Lúcifer do céu. Travou-se então grande batalha,
vencendo-a os Anjos fiéis a Deus que logo foram premiados com a Graça da
presença divina e a posse da eterna Bem-aventurança. Os gregos, por causa
disso, o chamam de “Archistrátegus”, isto
é Generalíssimo.
São Tomás de Aquino
acha que São Miguel será o Anjo que no fim do mundo há de combater o
Anticristo, como fez com Lúcifer. Foi ele desde o início o protetor e defensor
do povo eleito, tendo acompanhado-o desde a saída do Egito até a terra
prometida. Foi São Miguel quem abençoou a herança de Abraão (Gên 22, 17),
contendo o cutelo que ia cair sobre Isaac (Gen 22, 11-14); apareceu a Moisés na
sarça ardente (Ex 3, 2); levou a Jesus o cálice que O confortou no Horto das
Oliveiras (Lc 22, 43) e foi também quem por algumas vezes libertou São Pedro da
prisão.
É ele o Protetor da
Igreja e de todos os fiéis, a quem protege de modo especial contra os ataque
dos demônios. São Miguel é invocado especialmente na hora da morte, pois neste
momento é dado a Lúcifer empreender todos os esforços para perder a alma. Se a
pessoa morre na graça de Deus, São Miguel é o Anjo encarregado por Deus de
levar a alma para o céu. Por isto ele é chamado, na Igreja, por “Praepositus paradisi”, quer dizer,
guarda do Paraíso, acrescido da sentença: “Constitui
te Principem super omnes animas suscipiendas” – Eu te constituí Príncipe de
todas as almas a serem redimidas. Antigamente, na Missa de encomendação dos
defuntos se rezava: “Signifer Sanctus
Michael representet eas in lucem sanctam” – Ó Porta-estandarte São Miguel,
conduzi-as à luz santa.
São Miguel era também
o protetor do povo eleito, conforme fala claramente Daniel (Dan 12, 1). Uma das
mais antigas referências ao “Príncipe do exército do Senhor” como protetor do
povo eleito encontra-se no Livro de Josué:
“Ora, estando Josué nos arredores da cidade de Jericó,
levantou os olhos, e viu diante de si um
homem em pé, que tinha uma espada desembainhada, e foi ter com ele e
disse-lhe: Tu és dos nossos, ou dos inimigos? E ele respondeu: Não; mas sou o
príncipe do exército do Senhor, e agora venho. Josué prostrou-se com o rosto
por terra. E, adorando-o, disse: Que diz o meu Senhor ao seu servo? Tira, lhe
disse ele, o calçado de teus pés, porque o lugar em que estás, é Sant.o. E Josué fez como lhe tinha sido mandado”
(Josué 5, 13-16).
A partir daquele momento, sentiu-se
vivamente a intervenção de São Miguel nos episódios em que os hebreus ganhavam
milagrosamente as guerras, inclusive o cerco feito logo depois contra a cidade
de Jericó.
Porém, com a apostasia dos judeus São Miguel passou
a ser o Anjo Custódio da Igreja e de toda a Cristandade. Como citamos acima, no
livro de Daniel aparece a disputa entre
São Miguel, Anjo Custódio de Israel, e o Anjo protetor dos persas.
Segundo São Jerônimo, este último desejava que os judeus permanecessem na
Pérsia para mais dilatarem o conhecimento de Deus, enquanto que São Miguel
defendia perante Deus a volta dos judeus para a Palestina a fim de que o templo
do Senhor fosse restaurado mais depressa. Esta disputa espiritual entre os dois
Anjos durou vinte e um dias.
São Pio X, sabedor do
poder que tem São Miguel, ordenou que se rezasse a oração abaixo sempre ao
final da Missa:
“São Miguel, Arcanjo, protegei-nos no
combate; cobri-nos com vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio.
Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos, e vós, Príncipe da Milícia Celeste,
pelo divino poder, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos
que andam pelo mundo para perder as almas”.
O Arcanjo São Miguel
por diversas vezes tem aparecido para socorrer os seus devotos. Um dos mais
notáveis exemplos foi o que prestou à França, através de Santa Joana D’Arc, a
quem São Miguel transmitiu a sublime missão de defender a Filha Primogênita da
Igreja contra a invasão inglesa. O Arcanjo fazia-se ouvir à jovem donzela e
para ela transmitia suas instruções de como proceder, terminando por convencer
os nobres e o rei e, finalmente, vencer os inimigos externos.
A própria santa conta
como foram as aparições do Anjo:
“Quando eu tinha mais
ou menos 13 anos, ouvi a voz de Deus que veio para ajudar-me a me governar. Na
primeira vez, tive medo. E veio essa voz, no verão, no jardim de meu pai, por
volta do meio-dia (...). (...) Depois
que eu ouvi essa voz três vezes, percebi que era a voz de um Anjo (...). “...Na
primeira vez, tive dúvidas se era São Miguel que vinha a mim, e nessa primeira
vez tive muito medo. E eu o vi, depois, muitas vezes, até saber que era São
Miguel... Antes de tudo, ele me dizia que era uma boa menina e que Deus me
ajudaria. Entre outras coisas, disse-me para eu vir em socorro do rei da
França... O Anjo me falava da piedade que existia no reino da França”.( “Joana
D’Arc a Mulher Forte” – de Régine Pernoud, Ed.Paulinas, pp. 21/22.)
O estandarte dos
exércitos de Carlos Magno trazia a imagem de São Miguel, com a divisa: “Ecce
Michael, Princeps Magnus. Venit in adjutorium mihi”, que quer dizer: “Eis que
Miguel, o Grande Príncipe, acode em meu socorro”. Esta divisa e a imagem
comemoravam uma vitória alcançada pelos saxões graças ao Arcanjo: o rei da
Gália tendo-o invocado, apareceu-lhe São Miguel durante a batalha montado num
cavalo branco e sustentando um estandarte azul florido de lírios de ouro.
Durante a Idade Média, São Miguel era sempre escolhido como padroeiro das
Ordens de Cavalaria.
Com o mesmo aspecto
de guerreiro terrível e esplendente, apareceu São Miguel ao lado de Santo
Antonio de Lisboa, quando este enfrentou o tirano Ezzelino da Romano a fim de o
repreender pelas atrocidades e crimes que perpetrava. Também foi São Miguel que
apareceu sobre o castelo de Sant’ Angelo cantando o “regina coeli”, cujo
episódio, que contamos acima, foi narrado pelo próprio Papa São Gregório Magno.
Um outro prodígio operado por São Miguel nos
remonta ao século V, quando o Arcanjo apareceu por três vezes no monte Gargano.
Um rico senhor da cidade de Siponte, na Itália, perdera um de seus touros e
passou a procurá-lo pelo monte Gargano. Indo com seus homens até o pico do
monte encontram o animal ajoelhado numa caverna inacessível aos homens.
Tentando tirar o animal da caverna e não o conseguindo, o exasperado fazendeiro
resolveu matar o touro e começou e desferir-lhe flechadas. Mas as flechas
voltam-se, antes de atingir o alvo, e ferem o arqueiro. A notícia do fato foi logo se espalhada pela
cidade, indo chegar aos ouvidos do bispo, São Lourenço Maiorano.
Era necessário
esclarecer o misterioso caso. Assim, o santo bispo ordenou que se fizessem
penitências e orações públicas. Ao terceiro dia, aparece ao mesmo bispo o vulto
de um nobre cavaleiro todo envolto em clarões celestes. Dizendo-se ser São
Miguel, assim falou: “Sou eu o autor do prodígio da caverna. De futuro ela será
o meu santuário na terra”.
Decorrido algum
tempo, Siponte foi assediada por um exército invasor. A cidade já estava para
se render, mas o bispo São Lourenço Maiorano pede e obtém uma trégua de três
dias. Neste período, pediu à população para fazer preces públicas e
penitências. Ao terceiro dia, o Arcanjo São Miguel lhes aparece reanimando-os a
coragem e assegurando-lhes brilhante vitória sobre os inimigos. No outro dia,
os sitiados fizeram uma surtida para tentar furar o cerco, quando subitamente
viram o mar enfurecido e o ar escurecer-se e encher-se de raios que eram
fuzilados contra o exército inimigo. Os invasores de Siponte, que eram pagãos,
fugiram apavorados e foram dizimados pelos cristãos.
Logo após, São
Lourenço organizou brilhante procissão em direção da gruta de São Miguel,
acompanhada por mais sete bispos, pelo clero e por todo o povo da localidade. O
objetivo era consagrar a gruta, mas São Miguel já o havia advertido antes que
ela já havia sido consagrada pelo próprio Arcanjo.
Foi construído um
Santuário no cimo do monte Gargano, sendo instituída inicialmente a festa de
São Miguel no dia 8 de maio, dia da primeira aparição. Numerosas foram as
peregrinações ao Monte Gargano. Papas, imperadores, príncipes, cavaleiros e
santos visitaram o Santuário do Arcanjo. Os Cruzados, a caminho da Terra Santa,
faziam do Santuário lugar de passagem habitual e quase obrigatória. Lá iam,
entoando salmos para implorar do Príncipe das Milícias celestes a audácia e a
coragem de que necessitavam. Reboavam pelo vale seus brados guerreiros: “São
Miguel! São Miguel! Deus o quer!”
O Santuário tornou-se
um dos locais mais venerados do mundo católico, dando ocasião a que se
divulgasse em todo o orbe a devoção ao Arcanjo. Assim, foram construídas
igrejas dedicadas a São Miguel em várias partes do mundo, como ao longo do
Bósforo, na França (o famoso Monte São Miguel), na Alemanha e na Inglaterra. A
bandeira do Império, na Alemanha, a que se levava na frente das batalhas, tinha
estampada a imagem de São Miguel.
Lemos no “Livro das
Semelhanças”, de Santo Anselmo, que, estando a morrer um religioso do seu
Mosteiro, foi este terrivelmente assaltado pelo demônio, o qual o argüia
primeiro pelos pecados que ele cometera antes do batismo, sacramento que o
monge recebera já em idade avançada. O pobre homem não sabia o que responder,
e, quando estava muito perturbado, apareceu São Miguel em seu auxílio respondendo
que todos os pecados cometidos antes do batismo haviam sido perdoados por
ocasião daquele sacramento.
O espírito mau acusou
então o monge de vários pecados cometidos depois do batismo. O Arcanjo
novamente responde que essas faltas tinham sido apagadas na confissão geral
feita por ocasião da profissão religiosa do moribundo, e que este devia confiar
na misericórdia divina. Satanás alegou por fim contra ele as muitas faltas e
negligências da sua vida subseqüentes à profissão religiosa. São Miguel declarou
que todos os pecados lhe haviam sido perdoados, porque os confessara e
satisfizera por eles com boas obras e, especialmente, com a obediência, e que,
se algum resto tinha ficado, estava agora expiando por meio do sofrimento
naquela doença.
Depois desta última
resposta o demônio partiu dali cheio de confusão e o bom religioso, cheio de
esperança e confiança, rendeu suavemente a alma a Deus.
Alguns
títulos com que é invocado São Miguel
Por tudo o que é
perante Deus, e pelo que fez e faz por Sua maior glória, São Miguel é invocado
com os seguintes títulos na Ladainha que se reza pedindo seus auxílios:
poderosíssimo Príncipe dos exércitos do Senhor; Porta-Estandarte da Santíssima
Trindade; Guardião do Paraíso; Guia e consolador do povo israelita; Esplendor e
fortaleza da Igreja Militante; Honra e alegria da Igreja Triunfante; Luz dos
Anjos; Baluarte dos ortodoxos; Força dos que combatem sob o estandarte da cruz;
Luz e confiança das almas no último momento da vida; Socorro certíssimo; Nosso
auxílio em todas as adversidades; Arauto da sentença eterna; Consolador das
almas que estão no Purgatório; A Quem o Senhor incumbiu de receber as almas
depois da morte; Nosso Príncipe e Advogado por ocasião do Juízo, e muitos
outros títulos com que os cristãos O invocam.
O Arcanjo São Miguel
é também invocado como Profeta, Guerreiro e Exorcista. Como Profeta porque foi
o primeiro dos que recebeu luzes divinas para prever os acontecimentos futuros
e prevenir os demais Anjos, conclamando-os para expulsar os anjos rebeldes. Como
Guerreiro porque foi o primeiro a empunhar o gládio contra a revolta dos
demônios, cheio de ímpeto, de força juguladora
e de santa tenacidade, o mais forte no choque, o decisivo no vergar o
adversário, o supremamente tenaz no resistir a todas as seduções, furores e
ciladas de Lúcifer. E, finalmente, como Exorcista porque foi o primeiro a
conseguir graças suficientes de Deus para expulsar os demônios onde quer que
esteja ou exerça a sua ação. Dotou-o Deus daquele poder invencível que aniquila
as investidas e ardis do demônio, tornando-o tão impotente e tão desprezível,
quanto é infame e odioso.
Embora tendo sido
criado como Arcanjo, São Miguel ascendeu aos tronos dos Serafins e Querubins,
sendo um dos Sete Espíritos supremos que assistem sempre na presença do
Altíssimo (Apoc. 4, 5).
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