A TRANSFIGURAÇÃO DE NOSSO SENHOR
Os senhores todos
conhecem o episódio narrado pelo Evangelho: Nosso Senhor que sobe com dois
discípulos ao alto do monte Tabor e em determinado momento Ele se manifesta em
toda a Sua glória. Com Moisés de um lado e Elias, nosso pai espiritual, de
outro lado. Os discípulos ficam empolgados pela glória d’Ele que manifestam o
desejo de se conservar lá. Aos poucos esta glória externa, extrínseca vai
diminuindo, os discípulos começam a ver as coisas mais ou menos como eram antes
da Transfiguração e depois caem inteiramente na normalidade; algum tempo mais e
Nosso Senhor desce do Monte Tabor. Então, a majestade que revelava era tanto,
que as pessoas gritavam de medo diante d’Ele, de tal maneira era majestoso.
Estes fatos nos
levam a algumas considerações: como é a majestade de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Os pintores que costumam apresentar a Transfiguração, não dão esse aspecto, mas
apresentam-No com uma fisionomia muito plácida e muito serena, os dois
Apóstolos que olham para Ele numa grande atitude de admiração. É verdade que
Nosso Senhor está cercado de uma grande glória, mas Ele é a própria placidez, a
própria serenidade, a própria afabilidade. Isto certamente estava presente no aspecto
de Cristo transfigurado e este modo de representar não é de nenhum modo falso.
Mas Nosso Senhor –
na infinita riqueza de Sua santidade e de Sua Pessoa – tinha os atos de todas
as virtudes ao mesmo tempo, levadas ao último extremo. A perfeição mais sublime
conjugada, ao mesmo tempo, com toda esta afabilidade, com uma tal majestade e
uma tal superioridade que não tinha nenhuma proporção com nenhum conceito
humano. Por causa disto exatamente e porque legitimamente a superioridade
incute ao mesmo tempo respeito, afeto e medo, que é o temor do Senhor.
Então, por causa de
todas estas razões juntas, Nosso Senhor também representava ali uma face de uma
sublimidade, de uma nobreza régia, de um poder, de uma seriedade, de uma
gravidade e de uma força que deixava assim estupefatos e tremendo de medo os
que viam.
Eu gostaria que
houvesse pintores que fossem capazes de pintar também este aspecto da
Transfiguração de Nosso Senhor, para: 1) se compreendesse bem o fato como foi e
2) apagar a idéia de um Jesus Cristo que não fez outra coisa durante a vida
senão ter atitudes benévolas; compreender que estas atitudes benévolas são
adoráveis, maravilhosas, devem encher a alma, sob condição que se compreenda
que elas importavam também no contrário, porque as virtudes extremas e
contrárias constituem a perfeição da santidade.
Não creio que possa
haver um pintor que tenha suficientemente talento para retratar ambos aspectos
da Transfiguração ao mesmo tempo. Porque é preciso ter uma mente não sei como e
um talento não sei como, para poder pintar as duas coisas simultaneamente.
Então, que se pinte uma e outra, de tal modo que estes dois aspectos
aparecessem juntos. Aí teríamos, então, uma visão do que foi esse episódio
adorável.
Uma outra
observação: os discípulos que Nosso Senhor chamou para o Tabor, foram os que
quis mais perto de Si no Horto das Oliveiras. E isto porque precisamente os que
mais haviam presenciado Sua glória, deviam também mais intimamente participar
de Sua dor, deviam ter mais fé em Sua divindade no momento em que ela parecia
negada flagrantemente pelas humilhações nas quais Ele devia entrar.
A tal propósito há
uma consideração para se fazer: quantas e quantas vezes vejo coisas realmente
maravilhosas que Nossa Senhora opera em nosso apostolado que enchem de alegria
as almas. Tenho vontade de dizer às vezes a certas pessoas: Meu caro você está
tão alegre, alegre-se ainda mais! Porém peça como compensação a graça de ser
fiel na hora da dor!
Porque momento
poderá haver em que todas essas glórias pareçam canceladas. Momento poderá
haver em que todas as humilhações baixem sobre nós. Momento poderá haver em que
todas as esperanças pareçam pisadas aos pés. Você que agora está vendo em tal
episódio o “dedo” de Nossa Senhora, compreenda que Ela nunca põe Seu “dedo” de
Rainha e de Sede da Sabedoria numa coisa em vão, sem que aquilo tenha um
prosseguimento! E nas piores horas lembre-se das melhores, para poder confiar
no dia de amanhã.
É uma consideração
que vem bem a propósito na festa da Transfiguração de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
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