O mês de
junho a Igreja o dedica ao Sagrado Coração de Jesus e comemoramos neste mês do
ano de 2023 os 80 anos da publicação da Encíclica “Mystici Corporis”, do Papa
Pio XII, datada de 29.06.1943. Nela a igreja define com precisão que Ela mesma
é a continuidade de Cristo, a Cabeça deste Corpo, denominada assim de Corpo
Místico de Cristo. Podemos destacar neste Corpo Místico seu Sagrado Coração,
podendo ser chamado de Coração Místico de Cristo. Se todo o Corpo está
representado por todos fiéis e pela Igreja, o Coração Místico se identificaria
como o conjunto daqueles que mais representam o Coração de Cristo, aqueles que
cumprem mais fielmente sua Vontade.
Origem da
definição de corpo místico
A definição a respeito de corpo
místico surgiu após a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando se manifestou
o Sagrado Corpo Místico d’Ele entre nós, que é a Santa Igreja Católica através
de seus membros como continuadores da Sua Cabeça, que é o próprio Cristo. No
Antigo Testamento não há nenhuma referência a respeito do assunto, como é
óbvio, a não ser quando se fala sobre os reinos messiânicos nas antigas
profecias. Quem primeiro falou sobre o Corpo Místico de Cristo foi o Apóstolo
São Paulo. Quando Cristo lhe apareceu interrogando “Saulo, Saulo, por que me
persegues”? (At 9. 4-5) ele deve ter tido esta dúvida: “como é que O persigo se
estás morto”? De um modo sobrenatural, posteriormente passou a entender que
estava perseguindo o Corpo Místico de Cristo. Notar
que Quem o converteu foi o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, mas quem o
encaminhou para a Igreja, batizando-o e catequizando-o, foram os membros deste
Corpo Místico, ao qual ele perseguia e tornou-se um de seus membros. Foi assim
que a definição de Corpo Místico de Cristo ficou mais patente, sendo por ele
defendida em seus escritos.
A conversão de São Paulo contada por ele mesmo
Estando em Jerusalém, já famoso por suas
pregações, São Paulo foi acusado de profanar o templo ao trazer até ali gregos,
ou seja, não judeus. Ao ser preso, fez um
discurso onde narra como ocorreu sua conversão, conforme consta nos Atos (At
21, 37-40 e 22,1-16). O fato é bastante conhecido por todos; assim narra ele: “Ora, aconteceu que, na viagem, estando já
perto de Damasco, pelo meio-dia, de repente uma grande luz que vinha do céu
brilhou ao redor de mim. Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: ‘Saulo,
Saulo, por que me persegues?’ Eu perguntei: ‘Quem és tu, Senhor?’ Ele me
respondeu: ‘Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu estás perseguindo’. Meus
companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz que me falava. Então perguntei:
‘Que devo fazer, Senhor?’ O Senhor me respondeu: ‘Levanta-te e vai para
Damasco. Ali te explicarão tudo o que deves fazer’. Como eu não podia enxergar,
por causa do brilho daquela luz, cheguei a Damasco guiado pela mão dos meus
companheiros.
Um
certo Ananias, homem piedoso e fiel à Lei, com boa reputação junto de todos os
judeus que aí moravam, veio encontrar-me e disse: ‘Saulo, meu irmão, recupera a
vista!’ No mesmo instante, recuperei a vista e pude vê-lo. Ele, então, me
disse: ‘O Deus de nossos antepassados escolheu-te para conheceres a sua
vontade, veres o Justo e ouvires a sua própria voz. Porque tu serás a sua
testemunha diante de todos os homens daquilo que viste e ouviste. E agora, o
que estás esperando? Levanta-te, recebe o batismo e purifica-te dos teus
pecados, invocando o nome dele!'”
Notemos que São Paulo é chamado de Apóstolo,
mas não era um dos doze; no entanto, adquiriu e divulgou uma doutrina tão
sólida que é tida como um quinto Evangelho, sendo leitura obrigatória nas
santas Missas. Pode-se dizer que foi o primeiro Apóstolo do Corpo Místico de
Cristo.
A doutrina de São Paulo sobre o Corpo Místico de Cristo
Quando Nosso
Senhor Jesus Cristo apareceu a São Paulo e lhe disse: “Saulo, por que me
persegues?” – deixou implícito que era Seu Corpo Místico que estava sendo
perseguido. É claro que Saulo não entendeu, no momento, o que queriam dizer
estas palavras, mas só algum tempo depois com as inspirações interiores
recebidas do Espírito Santo. E compreendeu tão bem seus significados que procurou
explicitá-los, deixando esparsa em algumas epístolas a sua doutrina sobre o
Corpo Místico de Cristo, como os exemplos a seguir:
“Porventura não sabeis que os vossos membros
são templo do Espírito Santo, que habita em vós, que vos foi dado por Deus e que
não pertenceis a vós mesmos?” (I Cor 6,
19). “[Cristo] É a cabeça da Igreja, que
é seu Corpo” (Col 1, 18). “O que falta
às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a
Igreja” (Cl 1, 24); “O constituiu chefe supremo da Igreja, que é o seu corpo”
(Ef 1, 22-23); “A uns ele constituiu apóstolos; a outros, profetas; a outros,
evangelistas, pastores, doutores, para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o
desempenho da tarefa que visa à construção do corpo de Cristo” (Ef 4, 11-12); “Cristo
é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador (Ef 5, 23); “como
Cristo faz à sua Igreja, porque somos membros de seu corpo” (Ef 5, 29).
"Pois, assim como num só corpo, temos muitos membros e os membros não têm
a mesma função, de modo análogo, nós somos muitos e formamos um só corpo em
Cristo, e todos e cada um membros uns dos outros" (Rm 12, 4-5).
“Ora, vós sois o Corpo de Cristo e sois
os seus membros, cada um por sua parte. E aqueles que Deus estabeleceu na
Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em
terceiro lugar, doutores... Vêm a seguir os dons dos milagres, das curas, da
assistência, do governo e o de falar diversas línguas " (l Cor 12, 12-28).
Em outro oportunidade, o Apóstolo chega a afirmar que um membro pode também contribuir para a formação de outros membros do Corpo Místico de Cristo, como ele próprio o fazia: “Quos iterum parturio, donec formetur Christus in vobis” (Gal 4, 19): Dou à luz todos os dias os filhos de Deus, até que Jesus Cristo seja nele formado em toda a plenitude de sua idade. Portanto como na verdadeira sociedade dos fiéis há um só corpo, um só Espírito, um só Senhor, um só batismo, assim não pode haver senão uma só fé: “Há um só Corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados; há um só Senhor, uma só Fé, um só batismo; há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, por meio de todos e em todos” (Ef 4, 5-6),
Todo cristão é um “outro Cristo”
Essa afirmação foi feita pelos antigos Padres da Igreja,
“Christianus alter Christus”, isto é, o cristão é um outro Cristo. Isso
corrobora a afirmação de São Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, é
Cristo que vive em mim” (Gál. 2, 20). Quer dizer, enquanto fiéis cristãos nós
nada mais somos do que o próprio Cristo através de seu Corpo Místico, que é a
Igreja.
Santo Agostinho se referia a Ele como
o “Christus totus”, o “Cristo total”, a Igreja una com Cristo. E dizia: “Alegremo-nos, portanto, e
demos graças por nos termos tornado não somente cristãos, mas o próprio Cristo.
Compreendeis, irmãos, a graça que Deus nos concedeu ao dar-nos Cristo como
Cabeça? Admirai e rejubilai, nós nos tornamos Cristo. Com efeito, uma vez que
Ele é a Cabeça e nós somos os membros, o homem inteiro é constituído por Ele e
por nós. A plenitude de Cristo é, portanto, a Cabeça e os membros; que
significa isto: a Cabeça e os membros? Cristo e a Igreja”.[1]
O Sagrado
Coração de Jesus, parte importante de Seu Corpo Místico
Dr. Plínio Corrêa
de Oliveira, líder católico brasileiro de grande destaque no século passado que
fundou uma grande família de almas católicas[2], escreveu o seguinte sobre
a devoção ao Sagrado Coração de Jesus:
“...O que é,
propriamente, a devoção ao Sagrado Coração? É a devoção ao órgão de Nosso
Senhor, que é o Coração. Mas na Escritura, o coração não tem o significado
sentimental que tomou no fim do século XVIII, mais ou menos, e certamente no
século XIX. Não exprime o sentimento. Quando diz a Escritura: “A ti disse o meu
coração: eu te procurei”, o coração aí é a vontade humana, é o propósito humano,
é propriamente, a santidade humana. Aí quando Nosso Senhor diz isso, diz:
"na minha vontade santíssima, Eu quero". O Evangelho diz: “Nossa
Senhora guardou todas as coisas em seu coração e as meditava”. Os senhores
percebem que não é o coração sentimental, mas a vontade d’Ela, a alma d’Ela que
guardava aquelas coisas e pensava sobre elas. O coração é a vontade da pessoa,
o seu elemento dinâmico que considera e pondera as coisas. O Sagrado Coração de
Jesus é a consideração disso em Nosso Senhor, simbolizado pelo coração, porque
todos os movimentos da vontade do homem podem ter no coração uma repercussão.
Nesse sentido, então, é o órgão adequado para exprimir isso. E é nesse sentido,
então, que se adora o Santíssimo Coração de Jesus.
Por correlação, por
conexão, existe a devoção imensamente significativa, do Imaculado Coração de
Maria. O Imaculado Coração de Maria é um escrínio dentro do qual encontramos o
Sacratíssimo Coração de Jesus”. [3]
Sagrado Coração de
Jesus, troca de afetos entre Deus e os homens
No decorrer de várias aparições à Santa
Margarida Maria de Alacoque (século XVII), Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu
a devoção ao Seu Sagrado Coração. Uma devoção eminentemente reparadora,
buscando no coração humano uma profunda empatia com Deus para que juntos (Jesus
Cristo e o homem) possam reparar os pecados cometidos contra a Santíssima
Trindade. Uma devoção que se espalhou rapidamente a partir do século XVII, mas
que teve seu início quando o Apóstolo São João recostou sua cabeça ao Coração
de Jesus durante a Santa Ceia, véspera da Paixão.
A intenção de Nosso Senhor ao instituir
esta devoção foi de fomentar uma afetividade maior entre Ele e os homens, pois
é através de Seu Sagrado Coração que podemos manifestar todos os nossos afetos
para com Cristo, Senhor Nosso e Salvador de nossas almas.
O que se deve entender por “coração”
É Dr. Plínio quem o explica de uma
forma claríssima:
“Tomo os elementos que me parecem
fundamentais nesse grande e misterioso assunto que é a devoção ao Sagrado
Coração de Jesus.
“Por “coração” os antigos entendiam
não precisamente o que se entende hoje, mas algo que é ao mesmo tempo vasto e,
em certo sentido, diferente.
“Em nossos dias, o coração é quase o
símbolo do sentimento desacompanhado da razão. Diz-se que o coração de uma
pessoa vibra quando ela sente um certo enternecimento, quando é alvo de um ato
de bondade, ou quando tem uma condescendência com algo.
“Mas coração é só isso?
“Para os antigos, não era assim.
Eles tomavam o coração como o órgão que nós conhecemos, que pulsa, que tem
aurículas, ventrículas, faz sístoles e diástoles, e em razão de cujo
funcionamento – uns mais solidamente na sua jovem idade, outros mais
precariamente nas idades avançadas – todos estamos vivos. Mas coração significa
para eles algo mais. Era o conjunto das coisas que o homem vê, ama e guarda
na sua mente, por assim dizer, como se fossem “slides”, porque lhe falaram
mais.
“A palavra coração representa esse
conjunto de coisas enquanto amadas pelo homem com um amor que não é apenas uma
conaturalidade ou uma simpatia, mas é um ato racional. As coisas que foram
julgadas segundo certa doutrina verdadeira – que é o ponto de referência de
tudo – e foram encontradas conformes a essa doutrina, e, por isso mesmo,
amadas.
O coração do católico. O Coração de Jesus
Continua Dr.
Plínio:
“O coração do católico representa nesse sentido, a mentalidade dele,
que inclui a sua sensibilidade, mas indica sobretudo aquilo que – estando de
acordo com a doutrina católica, apostólica, romana – ele conhece pela Fé como
verdadeiro. Aquilo que ele ama acima de tudo e toma como uma linha “rectrix” de
todas as outras coisas, porque é conforme à verdade verdadeiríssima, à verdade
soberana, à verdade padrão, segundo a qual todas as outras verdades são de fato
verdades, e contra a qual todas as aparências de verdade não são senão erros
enganosos.[4]
Definição
mística do Sagrado Coração de Jesus, segundo Santa Margarida Maria Alacoque
Santa Margarida Maria Alacoque depois de procurar fazer conhecer o
Sagrado Coração de Jesus por meio de numerosos símbolos, compreende que essas
comparações são insuficientes, e dá-nos, então, do Coração de Jesus o que se
pode chamar uma definição mística: “Nosso Senhor, diz ela, fez-me conhecer
que o seu Sagrado Coração é o Santo dos Santos, o Santo do amor”.
“Qual é o
duplo elemento constitutivo da perfeição do Sagrado Coração e da perfeição das
almas?
“A
Bem-aventurada tem em todos os seus escritos principalmente dois fins em vista:
1º. mostrar como o Sagrado Coração é santidade e amor; 2º. exortar com
instância os servos deste divino Coração a reproduzirem em si mesmos esta
santidade e este amor. Com efeito, este é o duplo elemento essencial da
perfeição de todo o coração humano, especialmente do Coração de Jesus: a
santidade que repele o mal e procura destruí-lo: o amor que atrai para o bem,
principalmente para Deus, o soberano bem, e procura fazê-lo triunfar em toda a
parte. .
Que
diferença entre esta doutrina e a maneira como tantos cristãos encaram a
devoção ao Sagrado Coração! Parece que esqueceram que, sendo este Sagrado
Coração a própria santidade, a primeira qualidade que devem ter os seus servos
é a santidade, e uma santidade perfeita, a que se não chega sem grandes
esforços. A todos os que querem ser servos dedicados do seu Coração diz Nosso
Senhor: “Sancti eritis” - quoniam ego sanctus sum; sede santos, porque eu sou
santo. (I Ped 1, 16)”
Pelo fato do coração simbolicamente ser tido como o centro das
cogitações da pessoa, onde reside a vontade humana e todas as nossas principais
atenções, poderíamos imaginar que somente isso estaria representando o Sagrado
Coração de Jesus. No entanto, Santa Margarida Maria Alacoque vai mais longe e
nos diz que o Coração de Jesus, em seu sentido místico, representa Suas
perfeições, Sua santidade.
“Em
que consiste a santidade do Coração de Jesus?
“A
santidade adorável deste divino Coração consiste no horror que tem ao pecado, e
no zelo que emprega para o destruir”.
A seguir, a Santa define uma dupla santidade do Coração de Jesus: uma
de amor e outra de justiça. A do amor é exercida através da virtude da
caridade, que é o próprio amor. Diz ela: “A santidade de amor abrasa o
Coração de Jesus num zelo infinito pela gloria de seu Pai, e pela santificação
das almas. Era ela que inspirava a Nosso Senhor Jesus Cristo um desejo
ardentíssimo de se oferecer como vítima no Calvário, e o leva a tratar com
santo rigor os seus maiores amigos, para os purificar das suas menores faltas,
e torná-los assim mais perfeitos. É também esta santidade que alimenta o fogo
do purgatório”.
Sobre a santidade de justiça, assim comenta:
“Esta santidade inspira ao Coração de Jesus um ódio irreconciliável
ao pecado, que deseja ardentemente destruir, e um afastamento absoluto do
pecador impenitente, que, apesar de tudo, deseja salvar”.
“Tal
santidade produz neste Coração Sagrado um combate misterioso entre o amor
divino, que chama o pecador, e o ódio, que repele o impenitente endurecido. Foi
esta justiça que, oprimindo dolorosamente o Coração de Jesus, o fez entrar em
agonia, e derramar o seu sangue em suor copioso no jardim de Gethsemani . Há de
ser diante desta terrível santidade que os réprobos hão de aparecer; à sua
vista encher-se-ão de terror, exclamando: Montanhas caí sobre nós”.
Neste sentido, trata-se de uma santidade eminentemente reparadora, pois
um dos principais objetivos da justiça é reparar o mal cometido.
Se formamos um Corpo Místico de Cristo, também
poderemos nos constituir num Coração Místico d’Ele
Assim, vimos que o Coração Místico de Cristo se forma por duas
santidades, a do amor e a da justiça. Mas, assim como Seu Corpo Místico, podem
os cristãos também formar um Coração Místico ao participarmos desta dupla
santidade? Ela responde que sim:
“As almas justas são chamadas a ter parte durante a vida nesta dupla
santidade do Coração de Jesus, e a sofrer os seus salutares rigores, não só
para santificação própria, mas também para destruir o pecado no mundo, para
salvação dos pecadores, e para livramento das almas do Purgatório. Esta
participação é a origem das satisfações superabundantes da Santíssima Virgem e
dos santos.
“O meu
divino mestre, diz a Bem-aventurada, mostrou-me que estas duas santidades se
exerceriam continuamente em mim“.
Em seguida ela fala sobre os efeitos que a santidade de justiça
produzirá nos pecadores:
“A
santidade de justiça, diz a Bem-aventurada, é terrível e medonha: esmaga os
pecadores impenitentes que desprezaram todos os meios de salvação que Deus lhes
ofereceu. Esta santidade de justiça lança-os fora do Coração de Jesus para os
entregar a si próprios e torná-los insensíveis à sua própria desgraça. Esta
santidade não pode sofrer a mais pequena mancha numa alma que trata com Deus, e
mil vezes aniquilaria o pecador, se a misericórdia se não opusesse. Um dia
disse-me o meu divino Mestre: “Esta santidade de justiça mete-se de permeio
entre o pecado e a minha misericórdia. E, uma vez que a minha santidade caia
sobre o pecador, é impossível que se reconheça; a sua consciência fica privada
do remorso, o entendimento sem luz, o coração sem contrição; por fim morre na
sua cegueira”
E, depois, sobre os efeitos desta santidade de justiça sobre os justos,
almas reparadoras, estes, nesse caso, aqueles que verdadeiramente refletem aqui
na terra o Coração Místico de Cristo:
“Nosso
Senhor, diz a Bem-aventurada, deu-me a conhecer, que a santidade de justiça me
faria sentir o peso dos seus justos castigos, fazendo-me sofrer pelos
pecadores. Na verdade, coisa alguma me custava tanto como esta santidade de
Nosso Senhor, sobretudo quando Ele queria abandonar alguma alma que lhe era
consagrada. Fazia-me então sofrer tão dolorosamente, que não há suplicio nesta
vida que se lhe possa comparar; para o evitar, ter-me-ia lançado sem
dificuldades numa fornalha ardente”.
“Por mais
que dissesse, nunca poderia dar uma idéia sequer do que sofri por causa desta
santidade de justiça. Um dia o meu Salvador fez-me ouvir estas palavras: “A
minha justiça está irritada e disposta a castigar os pecadores, se eles não
fizerem penitência. Quero dar-te um sinal que te faça conhecer, quando a minha
justiça estiver resolvida a dar os seus golpes sobre essas cabeças criminosas:
sabê-lo-ás, quando te sentires esmagada pela minha santidade.
Será
apenas uma pequena amostra de como as almas justas a suportam, com medo de que
ela caia sobre os pecadores”.
Os justos devem ser especialmente almas reparadoras:
“A
santidade de amor não é menos dolorosa que a santidade de justiça, diz a
Bem-aventurada; mas os seus sofrimentos são para reparar de algum modo a
ingratidão de tantos corações, que não pagam com amor o amor ardentíssimo do
Coração de Jesus no Santíssimo Sacramento. Um dos sofrimentos que causa é não
se poder sofrer mais; inspira desejos tão veementes de amar a Deus e de o ver
amado, que para o conseguir não há tormento que a alma deixe de aceitar de boa
vontade. Esta santidade de amor excitou quatro desejos no meu coração; desejo
de amar, desejo de comungar, desejo de sofrer e desejo de morrer. Desta forma
sentia eu sempre novas consolações no meio dos açoites e dos espinhos, com que
o meu divino Salvador me tinha presa á cruz. Quanto mais eu sofria, maior era a
satisfação que dava a esta santidade de amor.
“Nosso
Senhor deu-me também a conhecer que: para aliviar as almas santas, que estão
detidas no purgatório esta santidade de amor me faria sofrer uma espécie de
purgatório mui doloroso”.[5]
O Coração Místico de
Cristo, parte importante de seu Corpo Místico
Como vimos, o Corpo Místico de Cristo é
composto pelos fiéis da Santa Igreja Católica, composto pelos Cristãos
verdadeiros, isto é, quem é batizado, crê e professa a doutrina de Cristo
conforme diz o Catecismo. Como é um Corpo, há membros que se sobressaem neste
organismo, destacando-se assim o Coração Místico de Cristo, composto por
aqueles que são mais fiéis e cumprem rigorosamente a vontade de Deus. Segundo
Santa Margarida Maria Alacoque, trata-se daqueles que seguem fielmente a
santidade do Sagrado Coração de Jesus, que ela divide entre “santidade de amor
e santidade de justiça”, conforme exposto acima.
Peçamos, pois, a Deus a graça de pertencer não somente ao Corpo Místico de Cristo, mas de Seu Coração Místico, imitando-o em Sua santidade. Escrevendo para o jornal “Legionário” Dr. Plínio Corrêa de Oliveira assim se exprimiu sucintamente sobre o significado de coração: “Quando diz a Escritura: “A ti disse o meu coração: eu te procurei”, o coração aí é a vontade humana, é o propósito humano, é propriamente, a santidade humana. Aí quando Nosso Senhor diz isso, diz: "na minha vontade santíssima, Eu quero".[6]
[1]
Comentário
aos Salmos, 85,5
[2]
É preciso notar que Dr. Plínio fundou e dirigiu não somente grupos e instituições
católicas, mas o que ele chamava de “família de almas”, isto é, uma instituição
de família espiritual superior às instituições burocráticas.
[3]
"Legionário" de 21-7-1940 e intitulado NOSSA SENHORA
DO SAGRADO CORAÇÃO
[4] Revista
“Dr. Plínio”, junho de 2003, págs. 16/21.
[5]
Extraído
de “O Coração de Jesus Segundo a Doutrina da Beata Margarida Maria Alacoque” –
Por um Oblato de Maria Imaculada, Capelão de Montmarfe – Introdução do Pe.
Joaquim dos Santos Abranches - Editor Manuel Pedro dos Santos, 1907,
Lisboa –págs. 41/51
[6]
"Legionário" de 21-7-1940 e intitulado NOSSA SENHORA
DO SAGRADO CORAÇÃO
Nenhum comentário:
Postar um comentário