O homem (esposo e pai) exerce, como que, a regência imperativa dentro do lar, enquanto a mulher (esposa e mãe) exerce a regência “política”, co-regida e misericordiosa. Assim como na sociedade Deus colocou estes dois tipos de regências, representados pelos poderes político e religioso, da mesma forma ambos foram introduzidos no ambiente familiar, pois já nascem com a própria natureza humana. O homem, por sua própria índole, já nasce com pendor para mandar, dirigir, reger imperativamente, enquanto que a mulher demonstra, pelo contrário, uma índole “diplomática”, afetiva e dócil, geralmente mais como auxiliar do homem. Já desde criança a natureza vai demonstrando tais pendores.
Essa dualidade de regências deve atuar em consonância
uma com a outra, sem que uma predomine inteiramente, e também de uma forma
alternada a depender das circunstâncias: pois há momentos em que há necessidade
de impor a ordem pela força e outras em que a mesma deve apenas ser regida, ou
co-regida.
Abaixo transcrevemos parte do estudo feito pelo
Cardeal Ângelo Herrera, então Bispo de Málaga, “Verbum Vitae – La Palavra de
Cristo”, publicado na obra do Dr.. Plínio Corrêa de Oliveira “Nobreza
e Elites Tradicionais Análogas” (Editora Civilização), constante de
vários esquemas de homilias sobre a aristocracia (aqui apresentada como a regência
amorosa):
“A. Por
certa analogia pode-se dizer que o poder aristocrático dentro do lar está
reservado à mulher.
a) A
autoridade corresponde ao marido.
b) Mas a
mulher dentro da família é um elemento de moderação e de conselho.
c) É um
elemento de relação entre pai e filhos.
1. Por
ela se tornam muitas vezes eficazes, junto aos filhos, as ordens do pai.
2.
Através dela chegam ao pai as necessidades e os desejos dos filhos.
B. São
Tomás diz que o pai governa os filhos com o governo “despótico”, no sentido
clássico da palavra, e a mulher com o governo “político”.
a) Porque
a mulher é conselheira e participa do governo do pai.
b) A
mulher, por outro lado, tem como que a representação da caridade dentro da
família. É como que a personificação da misericórdia no lar.
c) É a
que deve estar mais atenta às necessidades dos filhos e criados e mais pronta a
mover o pai a remedia-los.
C. No
Evangelho aparece muito claro o contraste entre a falta de misericórdia, de
caridade, de espírito aristocrático dos apóstolos na cena que comentamos e a
inefável missão aristocrática que desempenhou Maria Santíssima nas Bodas de
Caná.
a) Atenta
às necessidades dos demais, Maria aproxima-se de quem pode remedia-las para as
expor.
b) E
depois se aproxima do povo, representado pelos criados, para mostrar-lhes que
devem ser obedientes” (op. cit. pág. 246)
De algum modo a regência
da mãe num lar é superior a do pai. Vejamos as razões. Foi dada à Mãe de todas
as mães o dom dessa suprema regência já em seu próprio lar santíssimo por ser a
que gerou o Filho, o supremo regedor do Universo
Feliz o homem a quem Deus
deu uma santa mãe! Essa
expressão aparece nos lábios de vários educadores católicos. Quantas mães
imprimiram profundamente na alma dos filhos o respeito, o culto, a adoração de
Deus; desse Deus de quem elas próprias eram, pela pureza da sua vida, uma
imagem viva! A mulher cristã, como mãe, santifica o filho; como filha, edifica
o pai; como irmã, ajuda o irmão; como esposa, santifica o marido, exercendo
assim um papel eminentemente aristocrático no lar.
A aspiração da santidade deve ser sempre a maior
entre as mães. “Quero fazer do meu filho um santo”, dizia a mãe de Santo
Atanásio. “Mil vezes obrigado, meu Deus, por me terdes dado uma santa mãe”,
exclamava, quando da morte de Santa Emília, o seu filho São Basílio Magno. “Oh
meu Deus!, devo tudo à minha mãe!” , dizia Santo Agostinho.
Como reconhecimento por tê-lo marcado tão
profundamente pela doutrina de Cristo, São Gregório Magno mandou pintar a mãe
Sílvia ao seu lado, vestida de branco e com a mitra dos doutores, estendendo
dois dedos da mão direita, como para abençoar e tendo na mão esquerda o livro
dos Santos Evangelhos sob os olhos do filho.
Quem nos deu São Bernardo e o tornou tão puro, tão
forte, tão abrasado no amor de Deus? A sua mãe, Aleth, embora saibamos que tudo
nos santos depende muito mais das graças divinas. Mas as mães são como os
Santos Anjos que ajudam abrir as janelas da alma para que as graças nela
penetrem.
O próprio Napoleão teve de reconhecer: “O futuro de
uma criança é obra da sua mãe”. Quando se é alguém, é muito difícil que isso
não se deva, além das graças de Deus, à mãe. “Oh meu pai e minha mãe!, que
vivestes tão modestamente – disse Pasteur – é a vós que tudo devo! Oh minha
valorosa mãe, comunicaste-me o vosso entusiasmo. Se sempre associei a grandeza
da ciência à grandeza da pátria, é porque estava cheio dos sentimentos que me
inspirastes”. A alguém que o felicitava
por ter desde a infância o amor à vida de piedade, o Santo Cura d’Ars disse:
“Depois de Deus, isso deve-se à minha mãe”.
Quase todos os santos receberam das mães as bases
da sua santidade.
Pode-se dizer igualmente que os grandes homens
foram formados pelas mães. O Bispo Cartulfo, numa carta dirigida a Carlos Magno,
faz-lhe recordar a sua mãe Berta e diz: “Oh Rei!, se Deus Todo-Poderoso vos
elevou em honra e glória acima dos vossos contemporâneos e de todos os vossos
predecessores, ficastes a devê-lo sobretudo às virtudes da vossa mãe!”
Duas mães piedosas e santas tiveram papel
importante na formação de dois grandes reis santos, São Luís, rei de França, e
São Fernando, rei de Castela e de Leão. Dizem os cronistas que D. Branca, mãe
de São Luís, foi tudo para ele e o Reino. A mãe de São Fernando chorava de
emoção ao descobrir que tinha um filho santo, fato que não se dava pelo fato do
mesmo ser rei.
A mãe é no lar aquela chama resplandecente de que
fala o Evangelho, a irradiar sobre todos a luz da fé e o fogo da caridade
divina. Compete-lhe alimentar na família o pensamento da soberania de Deus,
nosso primeiro princípio e nosso último fim, o amor e reconhecimento que
devemos ter pela sua infinita bondade, o temor da sua justiça, o espírito de
religião que nos une a ele, a pureza dos costumes, a honestidade dos atos e a
sinceridade das palavras, o devotamento e ajuda mútua, o trabalho e a
temperança. Mas, há momentos em que, na falta do poder paterno, se exige dela
um agir mais forte, mais decidida, ou, até mesmo, com o uso da força, como se
fora o próprio homem.
Vejamos um
discurso de Pio XII sobre o papel da esposa dentro do lar, pronunciado a 11 de
março de 1942, ressaltando ser ela “o sol da família”:
“Sim, a esposa e mãe é o sol da família. É o sol com sua generosidade e
abnegação, com sua constante prontidão, com sua delicadeza vigilante e
previdente em tudo quanto pode alegrar a vida de seu marido e de seus filhos.
Ela difunde em torno de si a luz e o calor; e, se ocorre dizer-se de um
matrimônio que é feliz quando cada um dos cônjuges, ao contrário, se consagra a
fazer feliz não a si mesmo, mas ao outro, este nobre sentimento e intenção,
ainda que obrigue a ambos, é, sem embargo, virtude principal da mulher, que lhe
nasce com as palpitações de mãe e com a maturidade do coração; maturidade que,
se recebe amarguras, não quer dar senão alegrias; se recebe humilhações, não
quer devolver senão dignidade e respeito, semelhante ao sol que, com seus
albores, alegra a nebulosa manhã e doura as nuvens com os raios de seu ocaso.
“A esposa é o sol da família com a claridade de seu olhar e com o fogo
de sua palavra; olhar e palavra que penetram docemente na alma, a vencem e
enternecem e se elevam fora do tumulto das paixões, arrastando o homem para a
alegria do bem e da convivência familiar, depois de uma larga jornada de
continuado e muitas vezes fatigante trabalho no escritório ou no campo, ou nas
exigentes atividades do comércio e da indústria.
“A esposa é o sol da família com sua ingênua natureza, com sua digna
sensibilidade e com sua majestade cristã e honesta, tanto no recolhimento e na
retidão do espírito quanto na sutil harmonia de seu porte e de seu vestir, de
seu adorno e de sua modéstia, reservada a par de afetuosa. Sentimentos
delicados, graciosos gestos do rosto, ingênuos silêncios e sorrisos, um
condescendente sinal de cabeça, lhe dão a graça de uma flor seleta e sem
embargo singela que abre sua corola para receber e refletir as cores do sol.
“Oh, se soubésseis quão profundos sentimentos de amor e de gratidão
suscita e imprime no coração do pai de família e dos filhos semelhante imagem
de esposa e de mãe!”
No Livro dos Provérbios se destaca o papel da esposa dentro do lar, como
fiel adjutório do marido, especialmente este versículo “Seu marido será ilustre
na assembléia dos juízes, quando
estiver assentado com os anciãos da terra (Prov 31-10-23)”. Aí está explicitado
o papel da esposa auxiliando seu marido na regência da sociedade, pois a
“assembleia dos juízes” nada mais é do que a reunião entre aqueles que regem o
povo. E se a esposa torna o marido “ilustre” entre os demais é claro que obterá
mais influência para bom desempenho de seu papel.
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